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AS TEORIAS RACISTAS DIFUNDIDAS NA EUROPA E A QUESTÃO DA CORPOREIDADE DOS SUJEITOS NEGROS

No documento CONTRIBUIÇÕ S ARA A P T CA DO NT (páginas 106-110)

a possível compreensão de histórias e culturas africanas e afro-brasileiras bordadas em tapetes contadores de histórias,

AS TEORIAS RACISTAS DIFUNDIDAS NA EUROPA E A QUESTÃO DA CORPOREIDADE DOS SUJEITOS NEGROS

As teorias racistas se propagaram na Europa. Tinham como objetivo justificar e valorizar cada vez mais a “cultura padrão” e diminuir cada vez mais o ser negro. Tais teorias nos levam a refletir sobre o que algumas meninas negras do coral em questão narram a respeito de suas insatisfações, provocadas pela cor da pele, cabelo, corpo.

Munanga (1986) nos diz que ser branco, na época colonialista, era uma qualidade normativa de humanidade; porém ser negro necessitava de uma explicação. As teorias racistas visavam justificar e fortalecer a inferioridade do negro forjada pelos europeus. Neste sentido, para justificar o escravismo, tudo o que pertencia aos povos de origem africana era inferiorizado. Estávamos, então, diante de uma nova invenção: o racismo cientifico que se fundamenta em relacionar os aspectos físicos com os culturais, intelectuais e morais para que o negro seja deixado no degrau mais baixo da pirâmide social.

O negro, para ter algum reconhecimento assimila os valores culturais do branco, visto que quanto maior o afastamento de sua cultura maior a sua brancura, e ser branco significa ser humano. Entretanto no quadro social não deixa de ser negro e, portanto, excluído. Tal situação leva o negro a recusar a assimilação se envolvendo em movimento de volta às origens que ficou conhecido como negritude, que quer dizer a personalidade negra, a consciência negra.

A cultura negra assim como todas as culturas é uma criação. Pensar a situação do negro frente à colonização é poder perceber que muito além de privação de liberdade, o negro perdeu seu direito à humanidade. Assim sendo, a negritude enquanto movimento de oposição à assimilação cultural, não é só um protesto contra a ordem

colonial, e sim, o reencontro com um passado africano ancestral.

A educadora Nilma Lino Gomes, nesse processo de se pensar e refletir sobre histórias, identidades, memórias e principalmente culturas, nos chama atenção para questões ligadas às populações afro-brasileiras, e ressalta que a relação entre gênero, corpo e identidade negra podem contribuir para melhoria das relações raciais nas escolas, levando nossos alunos a outras interpretações, principalmente quando a principal causa dos conflitos entre os alunos brancos e negros é a questão da corporeidade (corpo, cabelo, traços físicos dos negros), que trazem a tona estereótipos e xingamentos que, na maioria das vezes, fazem com que os negros se vejam como são vistos pelos outros.

No processo de classificação dos grupos étnico-raciais, a materialidade do corpo recebe uma leitura cultural e, no caso dos negros brasileiros, essa leitura é atravessada pela forma como as relações raciais se construíram no Brasil, ou seja, num contexto marcado pela escravidão, pelo racismo ambíguo, pelo mito da democracia racial e pela desigualdade social e racial. Ao mesmo tempo, o corpo e o cabelo são marcados também por uma história de luta, de transgressão, de busca de expressão e de construção da identidade advinda dos próprios negros. Esses fatores todos estão presentes na sociedade quando lidamos, classificamos, interagimos e vivenciamos o “ser negro” na sociedade brasileira. Por isso a dupla cabelo e cor da pele pode ser entendida como um dos fatores primordiais para se compreender a maneira como o negro se vê e é visto pelo outro. Não se pode pensar a corporeidade negra dissociada desses fatores.

Este texto inclui as teorias racistas explicadas por Munanga (1986) e a questão da corporeidade abordada por Gomes (2008), tendo em vista que, no decorrer da pesquisa, por várias vezes, fatores como a negação da negritude, a teoria do embranquecimento, a busca e desejo de padrões de beleza europeus, a busca de práticas burguesas surgiram. Uma constante nas narrativas das meninas negras que participam das oficinas, demonstrando insatisfação com o corpo, com o cabelo. Todos esses fatores têm implicações diferentes na vida dos sujeitos quando articulamos gênero, raça, idade e classe. Nilma Lino acrescenta ainda que “o simbolismo do corpo assume uma tal importância na cultura que, através do estudo dos corpos, podemos compreender vários aspectos da vida social e da individualidade das pessoas”.

Segundo a educadora (já salientada), o cabelo ganha importância na constituição da corporeidade nas diversas culturas por ser um veículo capaz de transmitir diferentes mensagens. Por isso possibilita as mais diferentes leituras e interpretações. “Desse modo, para muitos, o cabelo é a moldura do rosto e um dos

primeiros sinais a serem observados no corpo humano”. Nilma acrescenta que, para se compreender o sentido social do cabelo e do corpo nas diversas culturas, precisamos aprofundar um pouco mais o estudo sobre as técnicas corporais e sua relação com os fatores fisio-psico-sociológicos que as acompanham. Isso nos ajudará a entender os conflitos em torno da corporeidade.

Atualmente, há tentativas de inserir esse processo educativo desde a educação básica. Temos, hoje, a lei 10.639/03 e as diretrizes curriculares nacionais dela advindas. Por meio destas, o estudo da história da África e da cultura afro-brasileira tornou-se obrigatório nas escolas de educação básica públicas e privadas. Há um longo processo a ser realizado para que a Lei se transforme, efetivamente, em práticas pedagógicas.

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Site da Internet:

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IMAGENS E BRINCADEIRAS NOS PROCESSOS IDENTITÁRIOS

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