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DESENVOLVIMENTO: O CINEMA COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA NA ATUAÇÃO DOCENTE FRENTE ÀS DIMENSÕES QUE ENVOLVEM A INCLUSÃO

No documento CONTRIBUIÇÕ S ARA A P T CA DO NT (páginas 78-80)

uma análise do filme “vermelho como o céu”

DESENVOLVIMENTO: O CINEMA COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA NA ATUAÇÃO DOCENTE FRENTE ÀS DIMENSÕES QUE ENVOLVEM A INCLUSÃO

ESCOLAR

Diante dessas questões, propomos a oficina com base no “Vermelho como o céu”. O filme que desencadeia a discussão é do Diretor Cristiano Bortone (Itália 2006) e, passado na década de 1970, conta a história de Mirco, um menino de 10 anos de idade que após sofrer um acidente doméstico, perde gradativamente sua visão. Rejeitado pela própria escola, Mirco é obrigado a freqüentar uma instituição destinada a crianças com deficiência visual, em Gênova. Após dias de internato, o menino descobre um gravador e com a ajuda de seus amigos monta uma peça teatral sonora. Com o auxilio de seu professor, os meninos, apresentam a peça para os familiares dos alunos da instituição, dando um exemplo de superação frente aos preconceitos da sociedade dos anos 70.

A oficina segue então com a exibição do filme que serve como instrumento norteador para as discussões em grupo. Buscou-se nestas discussões alcançar os seguintes objetivos: discutir as políticas de inclusão na atualidade; analisar a formação docente; a possibilidade de inclusão e as diferentes dimensões, inclusive de exclusão, que se fazem presentes na escolarização de pessoas com alguma deficiência.

As políticas de inclusão no Brasil partem de um discurso muito aceito pela sociedade, no sentido de acolher a todas as crianças no sistema regular de ensino. No entanto, em diferentes momentos, a realidade das escolas públicas não é levada em consideração. Durante o debate também foi discutido o papel da Educação Especial no contexto da política de educação inclusiva. Para tal, usamos a atual Política de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008) para defini-la como:

Uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, realiza o atendimento educacional especializado, disponibiliza os serviços e recursos próprios desse atendimento e orienta os alunos e seus professores quanto a sua utilização nas turmas comuns do ensino regular (p.16).

Nessa direção, discutimos também a função do atendimento educacional especializado, instituído por meio das Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial:

O Atendimento Educacional Especializado tem como função complementar e suplementar a formação do aluno por meio da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que eliminem as barreiras para sua plena participação na sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem (BRASIL, 2009, p. 1).

Em seguida, continuamos as discussões, a partir dos apontamentos colocados pelos participantes da oficina. Muitos afirmaram que a forma como esta inclusão tem se dado é preocupante, já que os jargões relativos a este processo circulam livremente no meio educacional, muitas vezes, sem qualquer reflexão relacionada às políticas que a implementam e a prática no cotidiano escolar e as demandas do processo de ensino- aprendizagem desses alunos. Alguns participantes comentaram que “a inclusão virou moda”. Outros afirmaram que a presença de alunos com necessidades educacionais especiais numa classe regular, não pode ser vista apenas como um local para a convivência com outras crianças. Mas para terem o direito de acessar os conteúdos socialmente valorizados para sua faixa etária.

Nessa direção, os alunos dos cursos de licenciatura participantes da oficina (futuros professores), alegaram que em suas formações recebem pouca ou nenhuma formação para atuar com a diversidade presente na escola da atualidade, especialmente no que se refere às crianças com alguma necessidade educacional especial em decorrência de deficiências ou transtornos do desenvolvimento. Esse aspecto é preocupante uma vez que desde 1994 e 1999 já temos dispositivos legais (§

o

2º do artigo 24 do Decreto nº 3298, de 20 de dezembro de 1999 e a Portaria n 1793/94), que recomendam a inclusão da disciplina “Aspectos ético-político-educacionais da Normalização e Integração da Pessoa Portadora de Necessidades Especiais” prioritariamente em todos os cursos de licenciatura. A inclusão de conhecimentos sobre as especificidades dos alunos com necessidades especiais no currículo dos cursos de formação docente, foi reforçada pela Resolução nº 1 de 2002, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica (BRASIL, 2002).

Por essa razão, segundo os participantes da oficina, geralmente os professores entram em sala de aula despreparados para lidar com seu alunado com necessidades educacionais especiais. Fora isso, aqueles que já lecionam há anos, e que são “impactados” pela política de inclusão, dificilmente tem uma formação continuada, capaz de prepará-los para o novo contexto quando recebem em sua sala de aula uma criança com necessidades educacionais especiais. Nesse sentido, a Universidade deve favorecer a aproximação dos alunos das licenciaturas (futuros professores) com as dimensões que envolvem o processo ensino-aprendizagem de alunos “incluídos”. Padilha argumenta que muitas vezes o preparo dado ao profissional docente é superficial:

A formação dos professores, tanto a inicial quanto em serviço, porque os cursos, as palestras, as oficinas, os projetos municipais, estaduais ou federais que se apresentam como meios para melhorar as condições da população e afirmam que tudo é 'pelo social' não têm sido analisados com a profundidade necessária e tem sido formados educadores com 'consciência ingênua' como disse Paulo Freire (PADILHA, 2009, p. 4).

Que dizer, na maioria das vezes, o processo é de exclusão dentro da inclusão. Os alunos com necessidades educacionais especiais deixam de ter o apoio ou suporte necessário ao aprendizado, uma vez que falta ao professor a formação necessária para lidar com este aluno, e também faltam as condições físicas e estruturais no âmbito das escolas, conforme já discutimos anteriormente. Além disso, segundo a legislação oficial, os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizar- se para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação de qualidade para todos

(BRASIL, 2008) No entanto, estas condições não são asseguradas e ocorre na prática uma transferência de responsabilidades do Estado para a unidade escolar que, tendo suas limitações, passa o problema para o professor resolver em sala de aula. Esta sala geralmente continua com um número excessivo de alunos, escassez de material didático e agora recebe um aluno com necessidades especiais em seu meio.

Esse debate é interessante e deve ser fomentado, visto que o número de pessoas com necessidades educacionais especiais incluídas no ensino regular tem crescido gradativamente a cada ano. E certamente os futuros professores terão em suas classes crianças passando pelo processo de inclusão. Dados oficiais recentes mostram que, desde 2003, com a implementação do Programa Federal Educação Inclusiva: direito à diversidade em diferentes municípios do país, o número de alunos com necessidades educacionais especiais matriculados em classes comuns da rede regular tem aumentado ano após ano, chegando a crescer 640% entre os anos de 1998 e 2006, conforme ilustra o gráfico abaixo.

Gráfico 1. Evolução das matrículas em escolas regulares/classes comuns (inclusão) de

1998 a 2006: . 195.370 262.243 325.136 145.141 110.704 81.344 81.695 63.345 43.923 375.488 378.074 371.383 358.896 337.897 323.399 300.520 311.354 293.403 700.624 640.317 566.753 504.039

448.601

404.743

382.215

337.326

374.699

0 100.000 200.000 300.000 400.000 500.000 600.000 700.000 800.000 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Matrículas em Escolas Regulares/ Classes Comuns Matrículas em Escolas Especializadas e Classes Especiais Total de matrículas

No documento CONTRIBUIÇÕ S ARA A P T CA DO NT (páginas 78-80)