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roda de leitura 2º ano

No documento CONTRIBUIÇÕ S ARA A P T CA DO NT (páginas 65-68)

como estratégias de ensino e aprendizagem

Cena 3 roda de leitura 2º ano

Uma rede de conexões entre opiniões e informações se forma no grupo de alunos, a tal ponto que, em alguns momentos, a proposta da roda de leitura ultrapassa as paredes da sala de aula. Referimos-nos a momentos em que alunos, em suas casas, começam a solicitar aos seus pais a compra de determinados livros eleitos pelo grupo como muito interessantes, ou quando outros começam a trazer livros de seu acervo pessoal para apresentar e emprestar no grupo, ou ainda quando alguns pais chegam perguntando sobre onde conseguir um determinado livro que foi lido na roda e que o filho também quer tê-lo em casa, para ler outras vezes.

Trazemos como exemplo a experiência com as rodas, numa turma de 2º ano, com crianças de 7 e 8 anos, num projeto didático, com duração de 1 ano, sobre a formação do povo brasileiro. O trabalho pedagógico é organizado por meio de diferentes projetos didáticos.

Para Hernàndez e Monteserrat (1998), uma concepção atual de projeto trata o estudante como protagonista de seu processo de aprendizagem, dando importância à comunicação interpessoal, à criatividade, à formulação e resolução de problemas.

O projeto nasce de uma situação real, aspecto fundamental para que os conhecimentos circulem na escola. Numa perspectiva de inclusão, não se pode deixar de tratar todos os conhecimentos como bens culturais, isso pode possibilitar a participação efetiva de estudantes na sociedade em que vivem.

Partindo desta concepção, as salas de aula transformam-se em espaços de permanentes diálogos. Diálogos com os saberes trazidos pelas crianças, com os saberes e conhecimentos docentes e com os que vão sendo construídos cotidianamente. A sala de aula, portanto, caracteriza-se como um espaço/tempo desafiador, de ação, criação, movimento, pesquisa e reflexão.

Na tentativa de promover um enfrentamento e um (re)conhecimento da igualdade entre culturas africanas e afro-descendentes e brancas (eurocêntricas), introduziu-se, nos planos de curso, uma discussão mais ampla sobre as diferenças, com o intento de mostrar uma outra África como berço de culturas milenares com todas as suas belezas, seus reinos, seus conhecimentos sobre navegação, agricultura, matemática, sistemas políticos, meio ambiente etc. Então se desenvolveu um projeto que pudesse apresentar os valores das culturas africanas e de outros povos.

descortinando para todos (estudantes e docentes) caminhos desconhecidos, e transformam-se modos de fazer e pensar (n)a sala de aula e para além da escola. São leituras produzidas e leitores em formação.

Para a realização deste projeto didático, circulou variada literatura: grandes navegadores, aventuras no mar, contos e lendas dos índios brasileiros e dos povos da África, tradições, culturas, crenças, diferenças e semelhanças entre variadas gentes. Nessa circulação (novamente o movimento da roda...), docentes se deleitaram lendo,

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contando, encantando com palavras, sendo, como nas culturas africanas, os griôs para os seus alunos.

Segundo Firmino (2007, p. 1), “ensinar os alunos a ler os mais diferentes gêneros textuais, adquirindo o gosto pela leitura, pode garantir o seu sucesso ao longo de toda sua trajetória escolar, além de ampliar sua compreensão de mundo.”

O ato de ler, por si só, é uma ação que se dá em diferentes contextos e a partir de diferentes meios. A escola é somente mais um contexto o qual, a partir de dinâmicas como a roda de leitura, pode valorizar e enriquecer as mais diversas formas de leitura. (FIRMINO, 2007) A leitura, “além de ser uma questão de técnica, é também de status, de estatuto de leitor” (idem, p. 4).

As rodas com suas leituras convidam a conhecer e a pensar sobre o mundo em que nos encontramos inseridos. Nelas, vemos alunos, com pouca idade, emitindo suas opiniões, indagando sobre o que ouvem, repetindo e fazendo uso, em outras situações, das expressões usadas pelos autores e apreciando o valor estético do arranjo das palavras. Esta circularidade como espaço/tempo é, e pode ser, proveitosa para a formação de leitores, informados, curiosos, instigados, apaixonados pelas histórias, pelos lugares, e pelas diferentes culturas.

Por isso as rodas de leitura cotidianas são cuidadosamente planejadas, procuram cobrir a variedade textual e de interesse dos alunos, mas acima de tudo, buscam despertar o prazer de ler.

Nesse movimento da roda, os alunos aprendem a estabelecer diferenças entre o que é falado e o que é escrito, desenvolvem o prazer em ler, conhecem os diferentes gêneros textuais, apreciam a beleza da linguagem, aprendem e compreendem metáforas, ampliam vocabulário, descobrem os diferentes ilustradores e seus estilos, percebem diferentes tempos e espaços do mundo, tiram conclusões, relacionam idéias; enfim, realizam inúmeras aprendizagens e constroem variados conhecimentos.

As rodas de leitura têm se tornado uma expressão de cultura escolar na nossa realidade. Quase um rito de preservação de memória, um espaço da palavra que é lida, ouvida, retida, guardada, re-elaborada, transformada.

15 “Griô, explica Konte, surge porque, como a escrita não era usada em certas regiões da África, confiavam a

um grupo social a tarefa de narrar a história e, assim, de desempenhar o papel de memória do povo africano. Cabia, portanto à comunidade griô transmitir oralmente a história” (ALVES &GARCIA, 1999, p.8).

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Disponível na internet em <http://www.hottopos.com/videtur30/silvia.pdf> Acesso em 18 de nov de 2009.

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GARCIA, Pedro Bandeira. Oralidade, escrita e memória: experiências com rodas de leitura e “conversas de rua”. [on line] Disponível em:

http://www.tvebrasil.com.br/salto. Acesso em: abril/2010.

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No documento CONTRIBUIÇÕ S ARA A P T CA DO NT (páginas 65-68)