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EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E SUAS ADAPTAÇÕES

No documento CONTRIBUIÇÕ S ARA A P T CA DO NT (páginas 134-139)

42 Dhebora Sancho 43 Izabela Carvalho 44 Rodrigo Medeiros 45

Amparo Villa Cupolillo

CORPOREIDADE E OS BENEFÍCIOSDOS JOGOS POPULARES À CRIANÇA

Cabe neste momento do trabalho serem feitas algumas considerações sob o ponto de vista da corporeidade, que afeta a maneira de se relacionar com a criança nos jogos populares, ou em um desporto qualquer. A atividade não deve ser vista como repetição de movimentos somente. Segundo Freitas:

O corpo deixa de ser análise para se tornar síntese: o conceito de corporeidade situa o homem como um corpo no mundo, uma totalidade que age movida por intenções. É só por meio do corpo que a manifestação se dá, e esse corpo, aliado a essa manifestação no mundo, é o significado da corporeidade (2004, p 53).

Assim, deve-se entender os benefícios que os jogos proporcionam à criança, porém em caráter global, e não somente como movimentos mecanizados. O paradigma da corporeidade rompe com o modelo cartesiano, pois não há mais distinção entre a essência e a existência, ou a razão e o sentimento (FREITAS, 2004).

Desta maneira, pensar nos benefícios dos jogos populares para a criança é antes de qualquer coisa perceber a contribuição que o esporte propicia ao indivíduo como um referencial, como um coletivo de benefícios (saúde ao indivíduo, oportunidade de se praticar um esporte, entretenimento). Esses são alguns benefícios com um único referencial: o indivíduo.

Dentre estes benefícios podem ser destacados: aumento do potencial de coordenação motora, melhoria das noções de espaço e tempo, aumento do apetite, estimulação da resistência cárdio-respiratória e muscular, acalmar o sono e ser capaz de prevenir doenças de caráter respiratório (DAMASCENO,1992). Também por meio dos jogos populares, durante as aulas, ocorre a possibilidade de maior autonomia e maior facilidade de movimentos.

A proposta torna-se mais atrativa, proporcionando aos professores alternativas de aproveitamento geral da aula, levando a um melhor aprendizado de movimentos pelas crianças.

Um fator importante dos benefícios angariados pela criança no âmbito dos jogos populares é o exercício maciço que se realiza com os pais e responsáveis, porque

42 Graduando em Educação Física da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. 43 Graduando em Educação Física da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. 44 Graduando em Educação Física da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

45 Doutora em Educação pela Universidade Federal Fluminense. Professora Adjunta da Universidade Federal

Rural do Rio de Janeiro.

através destes, é proporcionada a aproximação entre a criança, amigos e o professor, além do que já se estabelece no ambiente doméstico (GONÇALVES, 1997).

Ainda dialogando sobre os benefícios dos jogos populares, percebe-se que as crianças começam a identificar os seus limites em relação aos direitos do próximo (socialização), atravessando desafios de superação, inclusive, e descobrindo-se em situações novas. Para Gonçalves:

O poder agir, o poder sobre o próprio corpo, e a descoberta deste poder agir associado ao poder sentir é o que traz uma nova dimensão ao prazer de ação, de vivenciar as coisas simples e complexas. O qual o prazer de viver o próprio corpo é experimentar o prazer do movimento em si mesmo (1997, p 92). Essas descobertas são consideradas muito significativas para o desenvolvimento afetivo da criança, tendo conhecimento que o controle emocional é constituído aos dois anos de idade (VELLASCO, 1994).

O CONTEXTO DA CRIANÇA NA ESCOLA

Freire (1989) destaca que a criança, a partir do surgimento da linguagem, já faz uso do símbolo, representações mentais, sendo função da escola promover o fazer juntamente com o compreender. Fundamentando-se em Piaget, Freire (1989) afirma que a atividade corporal é o elemento de ligação entre as representações mentais e o mundo concreto, real, com o qual se relaciona o sujeito .

Da mesma maneira, buscando a superação do dualismo corpo e mente presente na escola, Freire(1989) expõe a sua maneira de compreender o que seja uma criança e evidencia sua opinião com relação ao sistema escolar, educação institucionalizada, traduzindo-a em duas críticas:

A escola submete a criança à uma imobilidade excessiva, que desrespeita sua 'marca característica', qual seja, a intensidade da atividade motora; a escola não deve apenas mobilizar a mente, mas também o corpo, pois corpo e mente devem ser entendidos como componentes que integram um único organismo. Ambos devem ter assento na escola (1989, p.13).

Nessa perspectiva, coloca-se que a criança precisa, primeiramente, encontrar na escola um espaço para agir com liberdade, podendo viver concretamente e corporalmente todas as relações e interações de seu corpo com outros corpos e objetos no espaço e no tempo. Entende-se também que as experiências corporais que a criança necessita vivenciar para compreender o mundo, precisam estar presentes na escola e serem significativas para ela, ou seja, devem ser experiências que façam parte da sua realidade. É possível transformar o mundo da escola em um mundo concreto de coisas que têm significado para a criança, resgatando a "cultura infantil", brincadeiras e jogos destas, e introduzindo esses elementos na escola como conteúdo, com o devido tratamento pedagógico. Para Freire:

Uma vez que o significado das coisas, nessa primeira fase da vida da criança, depende, acima de tudo, da ação corporal, o jogo e a atividade física tornam-se um importante recurso pedagógico para ser utilizado pela escola (1989,p.35).

É a partir daí que elege-se a Educação Física como a disciplina do currículo escolar que tem a responsabilidade de trabalhar pedagogicamente a cultura infantil, aproximando a realidade da escola com a realidade da criança (NANNI,1998).

Segundo Freire (1989), o fazer pedagógico, que leva em consideração o conhecimento que a criança já possui, garante o seu interesse e a sua motivação para aprender. Observa-se ainda em Freire (1989) que também são discutidos e apresentadas sugestões de diversas atividades para serem trabalhadas com as crianças, seguidas de uma discussão sobre como elas podem contribuir para o desenvolvimento infantil.

A EDUCAÇÃO FÍSICA E OS JOGOS POPULARES NO CONTEXTO ESCOLAR

Considera-se pertinente a preocupação de Freire (1989) com a educação nas séries iniciais e as perspectivas de um trabalho com a Educação Física. Também é relevante a sua observação quanto à distância que existe entre a realidade da criança e a realidade da escola, a qual, em sua maioria, não tem considerado o conhecimento que a criança já possui quando da elaboração do seu projeto educacional.

A partir desse diagnóstico, pode-se relatar que é possível aproximar esses dois contextos, fazendo com que a aprendizagem da criança seja significativa. A alternativa apresentada, em síntese, é a introdução da "cultura infantil", de jogos populares e brincadeiras, que têm exercido ao longo da história importante papel no desenvolvimento da criança. Em princípio, afirmamos que não cabe somente à Educação Física realizar essa necessária aproximação, sendo essa função referente à todas as áreas do conhecimento que serão promovidas na escola. Da mesma forma que não entendemos ser de responsabilidade exclusiva da Educação Física o trabalho com a cultura infantil.

Além disso, entende-se que à educação institucionalizada e à escola, compete

transmitir um conteúdo sistematizado, ao qual a criança não poderá ter acesso fora dela. Isso ocorre no âmbito de todas as disciplinas, assim, a Educação Física, detém um saber específico, além daquele que a criança já apresenta, para transmitir na escola.

A Educação Física Escolar não deve se apresentar como uma proposta pedagógica sem uma perspectiva política claramente definida, pois uma postura assim revela-se subjetiva, desprovida de conhecimento mais aprofundado da dimensão política e do fazer pedagógico .

A INFLUÊNCIA DA LUDICIDADE E

JOGOS POPULARES NA CONSTRUÇÃO DO APRENDIZADO

O vocábulo “lúdico” vem do latim ludus , que se reporta tanto ao jogar quanto ao brincar (OLIVEIRA, 1992). Quando se pensa em atividades lúdicas e nos jogos populares na construção do aprendizado, se deve compreender estes como ferramentas e possibilidades utilizadas para o processo de aprendizado, de maneira que a criança sente prazer e alegria ao vivenciar esta realidade dentro da educação.

Os jogos populares e as propostas lúdicas permitem à criança se desenvolver integralmente, pois também é através destes que a criança progride afetivo, social e mentalmente, dentro de uma ótica prazerosa, além de aprimorar por meio dessas propostas o seu aspecto motor. Segundo Mattos (1999) a proposta dos jogos e da ludicidade “se configura na integração ao grupo social, mas também constitui valioso recurso para fins educativos em todos os momentos da construção do aprendizado”. A inclusão dos jogos populares e da ludicidade nas aulas tem como objetivo a manutenção e renovação destas, por vezes consagradas ao tecnicismo, tipicamente

rígidas e repetitivas. A ludicidade nas aulas propicia momentos prazerosos, o que não significa ausência de seriedade porque, inclusive, a ludicidade fundamenta muitas propostas pedagógicas da atual conjuntura.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente capítulo elaborado a partir da oficina de jogos populares ministrada na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro no dia nove de novembro, conseguiu retratar estes jogos como valioso instrumento para o desenvolvimento da criança no contexto escolar para as licenciaturas, com funções ludoeducativas e como ferramenta de aprendizado. Destaca-se também a importância dos jogos populares na sua função social de perpetuação da cultura de um povo, sua implicação no desenvolvimento da criança e sua contribuição para a práxis do professor de educação física no processo de ensino e aprendizagem na educação.

Ao explorar os jogos populares e suas diversas possibilidades, o grupo dinamizador desta oficina considerou de imediato as vivências pertencentes ao universo da brincadeira, ou seja, na relação íntima entre as crianças, para então poder explorar e fundamentar as idéias com uma gama de alternativas pedagógicas sobre o assunto, focando o contexto escolar.

Ao brincar nos jogos populares, a criança extrapola o seu cotidiano e descobre através das ações realizadas o poder de sua criatividade, muitas vezes esquecido ao penetrar no mundo escolar. Para Gallahue e Ozmun:

O desenvolvimento motor sofre grande influência, do meio social e biológico, podendo sofrer alterações durante seu processo. Sabe-se que a escola é um dos locais de oferta de espaço adequado para o desenvolvimento motor da criança, visto que o brincar significa o meio mais importante para as aprendizagens dos pequenos (2002,p.114).

É no universo dos jogos populares que as crianças vivem simulações repletas de simbolismos. Enganam-se aqueles que pensam que elas estão somente se divertindo neste momento, especialmente porque o professor, ao elaborar e planejar sua proposta de aula sabe onde estes jogos vão auxiliá-lo.

Acredita-se que esta oficina alcançou seus objetivos, assim como as demais oficinas que foram realizadas. Contou-se com a grandiosa colaboração e apoio da professora Amparo Villa Cupolillo, responsável pela disciplina didática da educação física, à qual a atividade ficou vinculada, e de toda a equipe administrativa e acadêmica do evento Prodocência. Este evento apresentou-se como oportunidade singular na formação de futuros professores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DAMASCENO,L. G. Natação, psicomotricidade e desenvolvimento. Brasília:

secretaria dos Desportos, 1992.

FREIRE,J.B. Educação de corpo inteiro teoria e prática da educação física. São

Paulo: Scipione, 1989.

FREITAS, G.G; O esquema corporal, a imagem corporal, a consciência corporal e a corporeidade, Porto Alegre, Estudo interdisciplinar e envelhecimento Unijuí, v. 6, p.

21-39, abril 2004.

GALLAHUE, D.L.; OZMUN, J.C. Compreendendo o Desenvolvimento Motor: bebês,

crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte, 2002.

GONÇALVES, A. Saúde coletiva e urgência em Educação Física e esportes.

Campinas: Papirus, 1997

MATTOS, M.G. et al. Educação Física Infantil: construindo o movimento na escola. 2.ed. São Paulo: Phorte, 1999.

NANNI, D. Dança Educação: Pré escola à Universidade. 2.ed. Rio de Janeiro: Sprint, 1998.

OLIVEIRA, G.C. Psicomotricidade: Educação e Reeducação num enfoque

Psicopedagógico. 5.ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2001.

VELASCO, C.G. Brincar o despertar psicomotor. Rio de Janeiro: Sprint, 1996.

RECREAÇÃO COM MATERIAIS ALTERNATIVOS

No documento CONTRIBUIÇÕ S ARA A P T CA DO NT (páginas 134-139)