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ESPAÇOS-TEMPO DA ESCOLA PARA TODOS

No documento CONTRIBUIÇÕ S ARA A P T CA DO NT (páginas 44-50)

reflexões a partir de cenas do cotidiano escolar

ESPAÇOS-TEMPO DA ESCOLA PARA TODOS

A condição para que a escola possa ter possibilidades de enfrentar e favorecer processos de ensino-aprendizagem para todos, necessita rever sua forma de pensar, seus tempos e espaços, compreender seu alunado, caracterizar o que é ensinar e aprender, assim como rever as responsabilidades e concepções dos envolvidos, principalmente dos professores que estão na ponta dessa linha.

Diante de alguns alunos que correm risco de fracassar, professores se veem em situação de que “é preciso fazer alguma coisa”. Daí, fica evidente o caráter coletivo da profissão docente, da rede de relações e interações que pode (e deve) se formar, ou se desvelar, já que existe. Construir novas práticas, buscar saídas pedagógicas que favoreçam e atendam a todas as demandas de sala de aula, tanto de professores quanto de alunos, é um caminho a ser construído na reflexão sobre a ação, na dialogia e na interlocução.

As propostas pensadas para esse “novo roteiro” de como ensinar, podem começar por mudanças na configuração, uma vez que as atividades são propostas em

9 III Congresso Nacional do Ensino Fundamental CONEF outubro/2009.

Cena 1

Cena 2

O que percebemos é que com o advento das discussões no âmbito internacional e nacional sobre escolas inclusivas, a definição da escola sobre como lidar com alunos com necessidades educacionais especiais se tornou mais urgente, já que se viu em um cenário de impasses, ainda hoje, com muitos entraves e dúvidas.

10 Esclarecemos que todas as cenas apresentadas neste texto são recortes do cotidiano de salas de aula de

uma escola regular de ensino fundamental, que tem em seu contexto alunos com necessidades educacionais especiais e que os nomes apresentados são fictícios.

espaços e formas que propiciem ao aluno participar individualmente e coletivamente do que acontece na sala. Para exemplificar o que aqui propomos, lançamos algumas questões: por que a sala de aula é organizada durante um ano letivo, de uma única forma em relação ao seu aproveitamento de espaço-fisico? Por que os alunos precisam ter uma única forma, ao mesmo tempo, de se organizarem? Há a possibilidade dos alunos realizarem a mesma atividade, com êxito, estando organizados em espaços e atividades de forma diferenciada pela sala de aula? Algumas cenas que revelam o envolvimento de alunos em espaços e tempos diferentes podem ser observadas nas

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Nesse contexto, os professores, como interlocutores de dianteira nesse processo, têm questionado incansavelmente as determinações sobre a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais, seja por desconhecerem esses alunos e suas especificidades, ou como proceder, ou por ainda defenderem que a melhor resposta para esse aluno seria o ensino especializado, exclusivamente

É relevante dizer que, esse entendimento, não é unicamente do professor. É um sentimento abarcado pela sociedade em geral que, em suas análises, ainda percebe a diferença, como uma falha ou como a falta de condições, como uma característica que se desvia de um padrão e que precisa de um distanciamento para “melhor atendimento”. Pretendemos confirmar que a revisão da escola, de sua organização e funções é condição para que seus espaços e tempos se tornem para todos. Sem professores (em atividade ou em formação inicial) que se confrontem com os desafios da inclusão de pessoas com necessidades educacionais específicas, pouco se pode avançar. As especificidades e as diversidades sempre foram próprias da sala de aula; é preciso percebê-las, valorizá-las, falar sobre elas, pensar junto no que fazer quando uma necessidade educacional exige resposta educativa diferenciada para que a aprendizagem ocorra. Sobre essa reflexão, outras duas cenas servem de exemplo para ilustrar a que nos referimos. Nas cenas 3 e 4, a seguir apresentadas, podemos observar a possibilidade do aluno se colocar no espaço de quem passa a informação, espaço habitualmente ocupado pelo professor. Diante dessa possibilidade, há inúmeras vantagens que poderíamos elencar como, por exemplo: para o professor a compreensão do processo de pensamento do aluno; já que para esse aluno e seus colegas ocorre outra forma de interlocução, com uma linguagem mais próxima de sua compreensão. Muitas falas exclamativas de alunos nesses momentos como: “puxa, professora, agora quando o Felipe falou, eu entendi melhor!”, são comuns diante dessa dinâmica adotada.

Vale lembrar que acesso à escola para todos não significa igualar as condições de ensino, mas torná-las mais efetivas, pois as diferenças inerentes a cada um que compõe o “todos” exigem estruturas adequadas que possam, lidar, literalmente com, o quantitativo de alunos que hoje têm o direito de estar e usufruir dos processos escolares. Para tanto, são necessários “recursos e modos de acção suficientes para gerir os anseios de uma escola para todos, com todos e de todos” (BARROSO, 2003; STOER & MAGALHÃES, 2003). Se igualarmos, novamente massificamos, desconsiderando as demandas que cada aluno pode apresentar e, por consequência, acabamos como agentes diretos da exclusão.

Há demandas específicas para alunos que exigem estratégias diferenciadas, como mais tempo de ensino e experiência escolar, intervenções pedagógicas

11 individualizadas, entre outros. Por isso há a necessidade de mais mão de obra na execução de propostas de inclusão, como professores de apoio, por exemplo.

11 Aqui nos referimos à rede de apoios de recursos humanos prevista em diversos documentos, os quais

proferem a necessidade de um professor de apoio e de especialistas que ajudem a escola e o professor, no dia -a -dia da sala de aula, no que se refere à elaboração e adaptação de atividades, do currículo e avaliação.

Cena 3

Atividade de compreensão sobre leitura feita

Cena 4

Atividade de produção escrita para um projeto de ciências

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Finalizando, ainda que cientes de que as condições econômicas e políticas nem sempre possam ser favoráveis às mudanças, confirmamos a necessidade de reorganização da escola, da constituição de novos saberes e a assimilação de novas práticas, com ações pedagógicas que favoreçam as diversas demandas de sala de aula, tanto de professores quanto de alunos. Há necessidade de contínua reflexão dos envolvidos nesse processo sobre as ações implementadas para o aluno na escola, diante da prática educativa no cotidiano; sempre refletindo sobre o que se faz, questionando, principalmente, para que se tente fazer melhor, sempre.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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No documento CONTRIBUIÇÕ S ARA A P T CA DO NT (páginas 44-50)