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roda de leitura 3º ano

No documento CONTRIBUIÇÕ S ARA A P T CA DO NT (páginas 61-65)

como estratégias de ensino e aprendizagem

Cena 1 roda de leitura 3º ano

efetiva de todos os alunos e o desenvolvimento do hábito de ler, como elemento básico para a emancipação e autonomia pessoal e social.

Leitura e educação têm uma relação evidente. Vários autores consideram o ato de ler como chave mestra para a formação de alunos críticos, como possibilidade de reconhecimento de sua cidadania, com direitos e deveres.

Dentre os teóricos que têm respaldado nossas ações nos processos de ensino e aprendizagem, citamos Paulo Freire (1997, 1999) por sua contribuição consistente e visionária, que ressalta a relevância da escola ao proporcionar aos alunos possibilidades para “lerem o mundo”, ao lerem a palavra.

Nesse sentido, concordamos com Collelo (2005, p. 6) ao afirmar que “Paulo Freire, na década de 60, foi indiscutivelmente, o primeiro a chamar a atenção dos educadores para a dimensão política do ensinar a ler e a escrever, defendendo o sentido dessa aprendizagem como emancipação do homem, vinculada à própria possibilidade de ler o mundo.”

A perspectiva de promover estratégias educativas que possibilitem ao aluno ler o mundo, nos conduz a ações coletivas, pois tal leitura não se dá a partir de percepções isoladas, mas ocorre em olhares compartilhados pelas percepções de seus pares, de professores, de informações e observações, que o ato de ler pode trazer.

Favorecer ao aluno a observação e análise de fatos por diferentes ângulos pode propiciar o desenvolvimento de sua autonomia. No entanto, vale o alerta de que não nos referimos a um aluno autônomo como aquele que faz tudo sozinho, que não faz perguntas durante as atividades, como se fosse auto-suficiente já no início de sua formação. Autonomia aqui é participação.

Sobre essa análise, Smolka (1989) nos ajuda a constatar que a escola e seu contexto social têm a tendência de compreender os processos de ensino e aprendizagem como individuais. Nessa mesma linha, Braun, Moraes, Oliveira e Almeida (2009, p. 6) se apóiam na referida autora e esclarecem que:

Essa concepção tem redundado na produção da ilusão do sujeito autônomo. Concordando com Smolka, acreditamos que é preciso problematizar e superar essa concepção de autonomia para uma idéia de solidariedade, pois ainda hoje para a escola: “Autônomo é aquele que entende o que a professora diz; aquele que realiza sozinho as tarefas; é aquele que não precisa perguntar; é aquele que não precisa dos outros. Revela-se o mito da auto-suficiência que, além de camuflar a cooperação, aponta e culpa os fracos e incompetentes” (SMOLKA, 1989, p.50).

A culpabilização daqueles que não estão dentro do “perfil” previsto pela escola é uma discussão que se une às reflexões sobre dinâmicas de ensino e aprendizagem, uma vez que, dependendo de como se efetivam, podem minimizar ou maximizar ainda mais o mito da auto-suficiência. Sob esse prisma, a organização das rodas de leitura como um espaço e tempo no qual a interlocução não é exclusiva de poucos, mas de todos, o coletivo prevalece, assim como as mais variadas formas de interpretar e compreender uma informação, uma linguagem literária ou poética.

Cena 2 : roda de leitura 3º ano

Na prática, como podem se organizar as rodas de leitura? As rodas são uma construção de espaço e tempo dedicados à aprendizagem, num contexto coletivo, onde o ato de ler é o condutor do ensino.

Os variados anos de escolaridade se ocupam de diversas rodas de leitura: literárias, poéticas, de notícias, de ciências, de apresentação de livros, de leituras em capítulos. Há contexto para cada roda.

Elas podem ter como leitor-guia o docente, alunos previamente agendados para sua apresentação, alunos que espontaneamente se dispõem a ler, convidados de outras turmas. Depende das propostas de trabalho.

Nas rodas literárias circulam textos clássicos, contos universais, autores brasileiros consagrados, literatura ligada a temas específicos (de acordo com o planejamento escolar), como cultura indígena ou africana, por exemplo. Assim acontece também com rodas de poesias, que podem privilegiar este estilo de escrita ou compor as rodas literárias.

As rodas de notícias têm o jornal (impresso ou on line) como fonte de informação, e trazem para as aulas atualidades, cenas locais, acontecimentos que não têm como ficar fora da escola. Circulando (olha a roda!) pela sala de aula e entre estudantes e docentes os mais variados temas, para os interesses mais diversos.

Rodas de ciências são as que trabalham com um foco exclusivo nas informações científicas referentes às Ciências Naturais. Elas podem ter como fonte de leitura um periódico como a revista CHC (Ciências Hoje para Crianças), a revista Superinteressante, o caderno de ciência de um jornal de grande circulação local. Tal escolha se estabelece a partir do planejamento e das propostas de trabalho. Na revista CHC, por exemplo, pode-se estabelecer que os alunos apresentem nas rodas uma seção específica da revista, como Você sabia..., ou Experiências. Tudo depende de um bom planejamento.

Docentes podem envolver seus alunos com o mundo da leitura a partir de leituras em capítulos de textos literários clássicos. Tal estratégia causa expectativas,

antecipa situações, desperta a imaginação, causa prazer. Uma experiência vivida recentemente foi a leitura de Meninos do Mangue, de Roger Mello, da Companhia das Letrinhas. As crianças de 3º ano vibraram, esperaram, riram e aplaudiram.

Cada estudante, numa escala que organize as apresentações, pode ter o compromisso de, após a leitura feita em casa, com ajuda ou sozinho, ler um trecho ou contar/explicar algo sobre a leitura feita de um livro.

Estes são alguns exemplos mais gerais de como podem acontecer rodas de leitura. Nesse contexto não há lugar para um não saber, mas para saberes diversos que podem se completar a partir das opiniões, narrativas, discussões e observações feitas por cada aluno no decorrer da leitura apresentada na roda. Dessa forma, a roda de leitura como uma ação coletiva de aprendizagem respeita a condição individual de cada aluno.

Essa é uma das grandes vantagens da estratégia didática da roda de leitura, pois favorece o aluno para apropriar-se das informações, transformando-as em conhecimentos significativos para si. A partir das percepções de cada aluno, que são constituídas pelo seu modo de pensar a vida e se relacionar com o mundo, uma rede de significações e interpretações se forma, favorecendo uma construção coletiva.

Colello (2005, p. 6-7), a partir da análise de vários referenciais teóricos que em seu discurso analisam processos de ensino e aprendizagem, como o já citado Paulo Freire na década de 60, Vygotsky (1987,1988); Ferreiro & Teberosky (1986); Cagliari (1989); Bakhtin (1992); Kleiman, (1995); Soares (2003), entre outros, diz que:

No conjunto de tantos referenciais teóricos, não se trata evidentemente de forçar um entendimento reducionista e simplificador da escrita ou do processo de alfabetização, mas de trazer parâmetros essenciais para o posicionamento crítico na revisão das tradicionais práticas pedagógicas. Se, por um lado, respeitar o tempo e a natureza da aprendizagem, estimular o processo cognitivo a partir do universo cultural do aluno e valorizar a dialogicidade da língua no ensino da escrita revolucionaram os paradigmas da prática escolar, por outro, representam um desafio na transposição didática.

A dinâmica das rodas de leitura pode oferecer essa possibilidade de quebra do paradigma de uma prática escolar formatada, que não considera os contextos de origem social e de experiências dos alunos, que não se dá conta de tornar o conhecimento algo próprio ao aluno.

Na contramão de muitas atividades que são desenvolvidas nas séries iniciais, nas rodas de leitura não há a preocupação com nenhum tipo de registro escrito formal, ou com leitura oral coletiva, ou ainda, com sequência de atividades de interpretação.

A intenção é permitir a cada um que dinamiza a leitura ou que a escuta, explorar ideias, narrar fatos, despertar a curiosidade, opinar, apresentar dúvidas, a partir do que foi lido para/com o coletivo.

Uma vez viabilizado o espaço de interação na roda, as informações passam por vários interlocutores. Uma situação comum é a “ciranda de livros” que começa a se formar, os alunos assumem o papel de informantes sobre livros, recomendam leituras ou não, apresentando análises sobre a leitura realizada.

No documento CONTRIBUIÇÕ S ARA A P T CA DO NT (páginas 61-65)