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Citizen Setting ocupa seu espaço

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CAPITULO III – CAMINHOS DO CONTEÚDO E INFORMAÇÃO

4. Citizen Setting ocupa seu espaço

Como contextualizado nos outros capítulos deste estudo, o público não tinha tanto acesso ou comunicação com as redações pela falta de recursos para isso. O

feedback ou a resposta do público eram precários e retorno dos jornalistas seguiam

pífios, quase inexistente. Nas redações, todos os jornalistas realizam rotineiramente uma reunião de início dos trabalhos que definem o que é relevante para o dia em sua

agenda setting, teoria de comunicação definida por Maxwell McCombs e Donald Shaw

na década de 1970. Essa agenda do dia que é definida pelo jornalista, e escolhe a sua relevância para a sociedade. O agendamento acontece em três níveis: Media

Agenda ou Agenda Midiática, que levava questões discutidas na mídia; Public Agenda

ou Agenda Pública ou da Sociedade Civil, com questões que seriam realmente relevantes para o público; e Politicy Agenda ou Agenda de Políticas Públicas, que são temas importantes considerados pelos gestores públicos. Assim como, os editores que usavam o gatekeeping, que foi explicado no capítulo 1.4, para controlar a informação, onde o processo se define por entrada, produção e resposta (BRUNS, 2005, 2011, p.121). Contextualizando da melhor maneira, o gatekeeping torna-se um limitador de conversas para a sociedade. Com o citzen setting, o público define o que é importante para si, e o jornalista reverte o seu papel de gatekeeper para curadoria

55 DALSTON, Amar. Guardian´s Shoreditch embassy brews last coffee. Loving Dalston. Blog.

Disponível em: <http://lovingdalston.co.uk/2015/04/guardians-shoreditch-embassy-brews-last- coffee/>. Acesso em: 04 abr. 2016.

de conteúdo, mas não como o gatewatching, que se volta aos trabalhos de republicação, divulgação e contextualização do conteúdo enviados pelo público.

Neste caso, o cidadão se nivela ao patamar do jornalista profissional para passar a informação e torna-se ao mesmo tempo, o seu chefe. Pois, o jornalista torna- se mais curador, tem que se desdobrar com os fatos, acrescentando e aprofundando novos dados, a partir das informações recebidas pela audiência.

A propagação de conteúdo é mais compartilhada e ajuda na produção linear do jornalismo. De acordo com pesquisador português Pedro Jerónimo (2015, p.69), o especialista brasileiro em jornalismo Rosential Calmon Alves, em entrevista ao jornal espanhol El País (2010), disse que passamos de um sistema mídia-centrada para autocentrada, onde o indivíduo se transforma em um micro-organismo ao ter o poder de comunicar, de trocar informação e redistribuir. Boa parte disso acontece por causa da força e capilaridade das redes sociais das redes sociais. Jerónimo ainda comenta sobre uma pesquisa norte-americana do pesquisador Dan Blasingame (2011) que traz para o campo do jornalismo um conceito abordado por Chris Brogan e Julien Smith, em 2010, chamado por gatejumping.

Tabela 2 – Esquema do citzen setting

Foi percebido que durante o uso da rede social Twitter no compartilhamento de notícia de última hora, Blasingame evidenciou que os utilizadores poderiam saltar por cima dos portões informativos, que outrora era à guarda dos jornalistas. Ou seja, as pessoas poderiam passar por cima do gatekeeper e fazer a cobertura noticiosa ou acompanhar o fato diretamente por uma plataforma de microblog (2015, p. 71-72). Isto é, quando uma informação está sendo discutida num ambiente de compartilhamento de informação, é conversada nas redes sociais e a partir do número de pessoas comentar determinado assunto e então o tema vira uma tendência.

Então, a partir dessa discussão, o jornalista vai avaliar as conversas daquele momento nas redes sociais como Twitter, YouTube, Instagram, Google Plus e

Facebook, com o uso de ferramentas de social media como o Dataminr, Scup, TweetDeck ou Hootsuite. A partir dessa avaliação dos jornalistas profissionais fazem

uma reunião com os assuntos pré-determinados pelo público. O que a sociedade está discutindo ou conversando e a partir dessa discussão o jornalista já começa a consolidar os temas pré-definidos para fazer a rotina jornalística durante o seu dia de trabalho. No caminho inverso, antes do jornalista definir o assunto do dia, prospectava algum tema para levar a discussão até a opinião pública e tudo que a mídia publicava, a sociedade discutia. Desta vez, a sociedade leva as pautas para o jornalismo dando mais força por meio do jornalismo local, jornalismo cívico, jornalismo comunitário ou jornalismo público.

[...] é importante ressaltar que o jornalismo cívico (ou público) fez com que os profissionais de imprensa se tornassem mais comprometidos com seu público-alvo ou público-leitor. Pois, aos leitores interessa como que as questões que estão no seu entorno podem impactar e como isso afeta sua vida no dia a dia. O jornalismo tem que romper a barreira e a zona do conforto. Tem que ir mais além para se tornar sempre atraente e fundamental para a sociedade como um alimento. O leitor busca “alimento” para continuar vivendo, o jornalismo precisa ser como um elemento essencial na vida dele (COELHO, 2015, p. 7-8).

O cidadão também se sente mais envolvido nos assuntos que o impactam. O jornalista reforça o seu papel de levar informações ao público. O citzen setting é mais uma perspectiva no jornalismo para que profissionais e amadores possam fazer uma produção linear de conteúdo e informação com troca de habilidades de ambos os lados.

Tabela 3 – Comparação: Do gatekeeping ao citzen setting

Fonte: o autor

Porém, este processo começa por meio da discussão via redes sociais que traduzem parte dos anseios reais da sociedade, passando pelo processo de agendamento do jornalista e a produção de informação. Ou seja, a cadeia de informação vem de baixo, sobe para as redações e volta com mais informações de acordo com o demandante da informação, no caso a sociedade.

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