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Novos fluxos e caminhos da notícia

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CAPITULO III – CAMINHOS DO CONTEÚDO E INFORMAÇÃO

2. Novos fluxos e caminhos da notícia

No entanto, a palavra de ordem do jornalismo para este século é inovação, o jornalismo tem que se desenvolver para continuar contando história. Atualmente a produção de conteúdos digitais estão se tornando parte espinhal para se desenvolver e entregar o produto jornalístico para os públicos interessados. O jornalismo pode chegar de forma fragmentada. Como já foi explicado anteriormente, o rádio, televisão, impressos e revistas pouco a pouco vão dividindo suas forças com os novos players. No caso a internet, que vem ganhando força e conquistando o público aqui no Brasil há um pouco mais de 10 anos, levando em conta que a internet está presente no País desde o fim dos anos 1980 e começou a ser explorada comercialmente de forma vagarosa a partir dos anos 1995, vide o exemplo dos portais de conteúdo UOL, o principal portal de conteúdo de língua portuguesa no mundo, lotado em São Paulo; portal A Tribuna.com.br, da Baixada Santista, litoral de São Paulo, ambos estão no ar há 20 anos, redescobrindo seus papeis, formas de se atualizar, mas sempre tentando levar jornalismo para os públicos, tanto no âmbito regional, quanto no âmbito nacional. Agora também temos os smartphones, aplicativos, videogames, televisores digitais, smart TV, tablets, tocadores de mp3, streaming de áudio e vídeo. E para isso, o jornalista deste século terá que pensar para estes públicos, que tão pouco ou cada vez menos passam a usar as mídias tradicionais. Pois, por que vai assistir televisão, se pode descarregar um vídeo no YouTube, se pode ouvir um áudio no SoundCloud,

ou se posso ler a minha revista ou jornal ‘passando o dedo' no tablet. Mesmo assim, posso deixar o jornal de lado, o jornal não é o site? Ele não vai passar a madrugada esperando um rádio jornal começar, se depois, a emissora de rádio vai deixar disponível no podcast. Aliás, porque ouvir no podcast, se já vai ter outros jornais mais atualizados e ainda pode ouvir um podcast de um grupo de professores e especialistas que comentam as notícias que foram veiculadas em todas as rádios de notícias. Eles falam do assunto do momento. Então, ele baixa o podcast para ouvir os comentários e analises no iPod.

Temos também as redes sociais. Não precisa acessar site, as informações estão lá e podem ser compartilhadas com quem quiser. Qualquer assunto pode ser compartilhado com um clique, pode comentar e chamar os amigos para mostrar o que estão falando sobre determinado assunto. Aliás, pode buscar uma discussão usando apenas uma palavra chave em uma publicação de microblog. Mas, ao invés de escrever, é possível publicar uma foto no aplicativo de fotos ou gravar um vídeo de 30 segundos. É o suficiente para dizer o que pensa ou que quer. Pode também tirar fotos e deixar como uma galeria virtual em outra rede social voltada para fotografia. Talvez, ali, tenha fotos mais relevantes que as publicadas por jornais, portais, revistas ou agências de notícias. Porém, se deseja fazer um vídeo longo, mostrar, relatar e detalhar tudo que foi visto e depois compartilha com todos os amigos e conhecidos. Então, vai usar uma rede social. Mas, é possível enviar essa informação para uma redação de jornalistas para que eles possam avaliar o que é ou não é notícia e há alguma relevância jornalística. É necessário entender o que acontece quando a informação é publicada nos formatos jornalísticos, que é produzida com muito suor na rua, ou com muito esforço cerebral na redação, após milhares de ligações, contatos, edições, correções, retrabalhos para empacotar o conteúdo. Para onde essa informação se direciona e qual é o seu impacto direto ou indireto. Será que o produto saiu de forma adequada para o meu leitor ou para o usuário de redes sociais? São questionamentos e avaliações que devem ser feitos a todo instante por todos os jornalistas das redações. Podemos fazer um paralelo com o diagrama desenvolvido em 1964 por Paul Baran52, pesquisador da Rand Corporation, que foi usado para o

desenvolvimento da rede de comunicações usando redundância e tecnologia, rede

52 PAUL Baran and the origins of internet. Rand Corporation. Disponível em: <http://www.rand.org/

essa que contribuiu com a construção da internet. Essa comparação, que pode ser alinhada ao jornalismo, está mais conectado e precisa ampliar suas conexões e relações, para poder construir o fato de acordo com a realidade. Antes, a produção de informação ficava mais centralizada e depois era distribuída, como no caso do

gatekeeper, porém, hoje a distribuição e produção de conteúdo está mais

descentralizada devido ao uso de novos dispositivos e um novo ecossistema de cultura de consumo de informação, impulsionado pelo desenvolvimento tecnológico.

Figura 15 - Diagrama de Paul Baran: centralizado, descentralizado e distribuído

Fonte: BARAN, Paul, 1964, p. 2

Podemos imaginar o jornalismo no diagrama que Paul Baran fez em 1964, onde cada ponto corresponde a um contato. Na primeira figura (A) centralized, é a figura de uma redação que centraliza todas as informações que são recebidas de várias formas, como ligações, reportagem, conversas de redação, reuniões de pauta, produções, enfim, a partir disso, acontece o caminho da redistribuição que vai do centro para fora. Na outra figura (B) decentralized, existem pontos focais que recebem as informações, editores mais focados com determinadas demandas, essas informações mais específicas chegam a alguns grupos de editores, e assim, eles redistribuem essas informações com cada rede de interesse. E, por fim, temos o terceiro grupo (C)

distributed, é um grupo mais interligado, ou seja, é a informação que é trocada a todo

instante com todos os tipos de fontes e nessa rede são definidos os assuntos mais importantes do dia e daí são compartilhados de volta na mesma rede de forma mais espalhada e distribuída. O jornalismo precisa estruturar um novo diagrama para poder

distribuir os conteúdos de forma coerente e sem perder a relevância, público ou qualidade. Ou seja, a distribuição e troca tem que ser mais equilibrada, como acontece nas redes sociais, o jornalista e o público que acessa o conteúdo estão no mesmo nível e as trocas, ou melhor, a conversa pode acontecer.

Quando é dissertado sobre distribuição, a pesquisa expõe é que os jornalistas que estão na redação devem ser mais estrategistas na hora de disparar ou publicar o conteúdo. Hoje, eu posso ler conteúdo jornalístico e informativo nos consoles de videogame e isso era impensável por muitos há algum tempo, salvo exceções muito pontuais, pois a tecnologia para a época era caríssima e só videogames japoneses que tinham conexão a internet tinham essa função. Atualmente, com a tecnologia mais barata, é possível assistir a um telejornal no aplicativo instalado no console, chegar até a sala, onde ficam os consoles de videogame, aciona o controle, liga o console e o videogame mostra uma interface amigável com vários quadrados e imagens destacando o que é cada tipo de conteúdo. Neste exemplo, o aplicativo da ABC News disponível para o console de videogame Xbox One, da Microsoft.

Figura 16 – Interface da ABC News no videogame Xbox One

Fonte: Microsoft

Nele a tela fica com várias imagens e cada imagem corresponde a um vídeo e lá por exemplo é possível assistir um dos principais jornalísticos matutinos da emissora norte-americana, o Good Morning America, ou o jornal noturno ABC World

taxa a parte no console para acessar o aplicativo. Ele está disponível num mercado virtual, de graça. O que pode gastar no máximo é o tempo de pesquisa e alguns bytes de informação para baixar o conteúdo para o meu console. Liga-se a TV para acessar o videogame e por ele pode-se assistir um programa jornalístico. No entanto, este mesmo conteúdo pode ser assistido em um smartphone, tablets e até mesmo, a televisão. É um microcosmo entre vários exemplos de como diluir a informação e de como se aproximar do indivíduo que quer informação. Fazendo uma metáfora, ele não quer comer o macarrão lámen de copo, ele quer comer macarrão italiano, bem apresentado, com um bom molho de tomate, em um prato bonito. Ou seja, as redações podem estar servindo macarrão de copo, sendo que as pessoas querem uma massa servida num prato específico de macarrão. Além disso, cabe sempre reforçar que o jornalismo também é comunicação e a comunicação tem um caminho. Basta observar o diagrama de A Mathematical Theory of Communication, elaborado por C. E. Shannon, em 1948, que mostra o caminho de toda a informação para se fazer sabiamente a comunicação. Como mostra o gráfico a seguir.

A fonte de informação é transmitida por um transmissor, daí ele reenvia o sinal por um canal, que atravessa uma fonte de ruído, e então, por sua vez, chega ao receptor, transmitindo a mensagem necessária ao destinatário.

Figura 17 - Diagrama que mostra o sistema geral de comunicações

Fonte: SHANNON, 1948

Por meio da internet e de outras mídias, que estão conectadas em redes digitais estruturadas de telecomunicações, estas teias são comunidades virtuais que conseguem transmitem dados, informações e mensagens a todo o tempo, formando

assim a rede. A rede é um conjunto de objetos e pessoas interligados uns aos outros. Nesse tipo de rede, pode ser conectada com o uso de infraestrutura, telefonia, neurônios e a informática. Pode ser um conjunto conexões, como os humanos fazem em sua rede de relacionamentos reais em toda a sua vida, da infância, vizinhança, vida adulta e estas conexões ganharam nova roupagem com internet. A internet é uma essencial ferramenta social e de comunicação. Laços e interesses em comum podem ser estreitados e isso acontece pelos elos, pelos hubs, que se conectam.

Assim explica o pesquisador Manuel Castells, que a rede “é um conjunto de nós interconectados. Nó é o ponto no qual uma curva se entrecorta” e “Redes são estruturas abertas capazes de expandir de forma ilimitada, integrando novos nós desde que consigam comunicar-se dentro da rede, ou seja, desde que compartilhem os mesmos códigos de comunicação (por exemplo, valores ou objetivos de desempenho)” (2001, p. 566). O jornalista que entender cada demanda, pode criar estes novos nós, ou pequenas redes, conectando o público de acordo com cada dispositivo e cada necessidade. Vide o exemplo dos núcleos especiais que produzem pautas de acordo com determinado evento, como Olimpíadas, Eleições, Crise da Água, Dengue e entre outros. Eles têm uma equipe dedicada a levantar todas as informações sobre determinado tema, dados, contatos, mapas e pessoas são dedicadas para fazer esse conteúdo, que depois é distribuído para os editores dos jornais que usarão esta informação para distribuir a sua audiência.

O público acessa o conteúdo jornalístico por várias maneiras, como por exemplo, um aplicativo. Ele pode receber a informação e de acordo com essa informação, ele pode tomar uma decisão. Ele se autogoverna, conforme a premissa básica do jornalismo de Kovach e Rosenstiel. Dependendo do nível da informação, o consumidor de conteúdo vai se aprofundar, buscar mais detalhes, faz uma pesquisa até se dar por satisfeito com o que conseguiu. O usuário do aplicativo pode fazer um

feedback para a redação enviando crítica, sugestões, como uma nova pauta ou

oferecendo mais dados para a redação aprofundar o conteúdo. Fazendo assim, um caminho de duas vias. Existe a comunicação entre a redação e o indivíduo, consolidando uma rede provisória. No entanto, esta rede pode tornar-se sólida e confiável para determinadas demandas de informação. Fazendo disso, a criação de um novo fluxo informacional.

"O espaço de fluxos resultante de uma nova forma de espaço, característico da Era da Informação, mas não desprovida de lugar: conecta lugares por redes de computadores telecomuinicadas e sistemas de transporte computadorizados. Redefine distâncias, mas não cancela a geografia. Novas configurações territoriais emergem de processos simultâneos de concentração, descentralização e conexão espaciais, incessantemente elaborados pela geometria variável dos fluxos de informação global”. (CASTELLS, 2001, p. 170).

Um estudo de Russel Ackoff, chamado From Data to Wisdom, aborda a gestão do conhecimento. Como que o cérebro faz a gestão da informação, que consiste em administrar e propagar o máximo de dados para o maior número de interessados que querem informações para tomar decisões, se autogovernar.

Na Gestão da Informação, é necessário que o dado seja distribuído da melhor forma possível, para que seja um elemento fundamental para os processos de tomada de decisão. O jornalismo tem que se conhecer para definir melhor cada tipo de estratégia conforme a notícia. Então, é fundamental que toda a redação saiba do seu papel na estratégia elaborada para a construção de conteúdo coerente com a linha editorial e os anseios da opinião pública.

A informação pode ser diluída para todos que fazem parte do mesmo meio, para que seja claro os objetivos e metas definidos para o futuro. Além disso, é uma poderosa ferramenta para tomada de decisões (COELHO, 2013). A informação é um recurso importante para a vida das pessoas, neste caso, para o ambiente de negócio que é o Jornalismo.

Figura 18 – Pirâmide do Conhecimento - DIKW

O estudo de Ackoff, mostra a Gestão da Informação em um signo, a Pirâmide do Conhecimento, a Data Information Knowledge Wisdom Hierarchy – DIKW ou Hierarquia de Dados, Informação, Conhecimento e Sabedoria, que aponta o caminho da compreensão da informação. Esse caminho é necessário para se ter consciência do conteúdo, que mais bem elaborado, para as redações de jornalismo, que terão certeza que a publicação é verossímil e com qualidade.

Figura 19 – Fluxo do conhecimento DIKW

Fonte: “From Data to Wisdom”, in Journal of Applies Systems Analysis, in 1989

A estrutura é formada por Dados (Data), o que converte em um todo significativo (símbolos); Informação (Information), dados que são processados para serem úteis ajudando na tomada de decisão; Conhecimento (Knowledge), aplicação de dados e informações, ajudando nas escolhas certas, lidando com valores; Entendimento ou inteligência para lidar com valores e entender o porquê, para no fim chegarmos a Sabedoria (Wisdom), onde a compreensão é avaliada, rumo a aprendizagem (BELLINGER; CASTRO MILLS apud ACKOFF, 1989).

Essa estrutura faz sentido para o jornalismo, para um caminho informacional. Pois, os jornalistas lidam com dados, significados, informações e a partir destes dados, uma decisão é tomada, o valor-notícia é adicionado e assim, o conteúdo é produzido pelas redações, distribuido ao público fazendo a transmissão da sabedoria, onde os valores e os significados são compreendidos e uma nova aprendizagem acontece entre jornalismo e o público.

No documento Download/Open (páginas 108-116)