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Colaboração: o leitor mais participativo

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CAPITULO I MUTAÇÃO DA COMUNICAÇÃO: JORNALISMO EM TRANSFORMAÇÃO

1. O processo jornalístico

1.3. Colaboração: o leitor mais participativo

A circulação de conteúdos – por meio de diferentes sistemas de mídia, sistemas administrativos de mídias concorrentes e fronteiras nacionais – depende fortemente da participação ativa dos consumidores (JENKINS, 2009, p. 29).

A internet foi massificada, liberada para o uso comercial no Brasil pela Embratel em 1995, os celulares ficaram mais inteligentes, tornaram-se verdadeiros supercomputadores de bolso. A mídia ficou mais alternativa, mais diversificada e os meios de comunicações corporativos foram pegos desprevenidos contra essa ‘avalanche criativa’. Afinal, a informação não tem mais ‘dono’, se é que pode ser dito ou escrito. O meio informacional deixa de ser unidirecional e passa a ser multidirecional, com retorno e resposta. Isso quer dizer que a audiência não apenas recebe a informação que é transmitida pela mídia corporativa tradicional, como pode

também dar seu feedback quase que de forma instantânea. O público pode responder a sua audiência se gostou do que foi transmitido e também pode colaborar agregando informações que não foram conseguidas por meio dos esforços da estrutura da mídia tradicional. O público passou a ter voz ativa na produção de conteúdo. Como contextualiza o autor Henry Jenkins, isso provocou uma mudança no habito de consumo dos consumidores. Antes, eles eram mais passivos, previsíveis, isolados e silenciosos, agora, os novos consumidores são ativos, migratórios, conectados e barulhentos. Eles podem opinar, sugerir alterações no produto, melhorias, continuação na história (2009). No jornalismo, a audiência pode corrigir a rota os jornalistas profissionais e auxiliar o trabalho da redação com busca por novos fatos, detalhes, e incrementos que podem ditar os rumos da história.

Ou seja, se antes o leitor, ouvinte ou telespectador que assistia, lia ou ouvia nos respectivos canais midiáticos a informação, tinha apenas como canais diretos o telefone, orelhão, carta, SMS (mensagem por celular), serviço de atendimento ao cliente (que era por telefone ou carta) balcão de classificados ou se dirigindo pessoalmente a empresa jornalística, emissora de rádio ou TV para dirigir suas reclamações, elogios ou sugestões, para que depois, uma equipe, geralmente a expedição e depois produção fizesse o levantamento de cartas direcionadas para o jornalismo, para fazer a leitura das cartas e depois responder ou não a devida demanda para o público. Era um processo muito moroso e custoso para a própria empresa jornalística ou para o setor de jornalismo de rádio ou televisão sentirem as demandas da sociedade, audiência ou público.

O serviço de correio era o maior aliado das redações, em parceria com os entregadores privados e os motoboys que pegavam as encomendas mais urgentes. Claro, mais recentemente, entre 10 e 15 anos, o telex, que foi o sucessor do telégrafo, e o telegrama também faziam parte da agilidade do ‘fazer jornalismo’. O fax ainda sobrevive em poucas redações. Mas, claro que aos poucos, a internet foi se acomodando como um dos canais de comunicação entre público e as redações.

Com a autorização de uso da internet comercial no Brasil, meados dos anos 1990, houve maior investimento na melhoria dos serviços de banda larga pelo País, e principalmente, nos centros urbanos, o e-mail começou a ocupar seu espaço. A partir disso, a porta escancarou: E-mails, SMS, MMS (mensagens multimídia por celular). Com a ascendência da aceitação de informações vindas por redes sociais, como

Orkut, e atualmente Facebook e também micro blogs, como o Twitter, tornaram-se

canais eficientes de comunicação com a redação, novos aplicativos e com a aplicação de estratégias de convergência de conteúdo, o público pode se tornar um repórter. Neste momento, as empresas de mídia profissionais perderam o monopólio de controle da informação e neste instante qualquer pessoa detinha uma pequena central de mídia e propagadora de conteúdo. A partir disso, as empresas de comunicação começaram aos poucos a contar com o público, para ajudar a fazer a cobertura jornalística. Começa a se estabelecer uma nova relação entre mídia e público.

Agora com a web, o profissional de jornalismo viu-se ameaçado pelos produtores de conteúdo “amadores”, como os blogueiros, que têm páginas pessoais acessíveis, simples, que disputam ou dão mais audiência que as grandes empresas jornalísticas, com seus portais informativos densos, e até mesmo, em alguns casos, confusos para o público. (COELHO, 2013). Além disso, as empresas de comunicação passaram a investir na combinação das mídias tradicionais com as novas mídias, como a internet, o streaming, transmissão via aplicativos, como o Periscope, ao mesmo tempo, as atribuições jornalísticas foram transformadas com o tempo. Como nos Estados Unidos e Inglaterra, nos jornais The New York Times e The Guardian que criaram do cargo do editor de Mídias Sociais no começo de 2009; e no Brasil, no mesmo ano, o jornal O Estado de S. Paulo, também criou o cargo de editor de Mídias Sociais que ajuda no engajamento do público com o jornal por meio das redes sociais Twitter e Facebook e entre outras mídias25. Praticamente todas as redações possuem um editor ou um

departamento voltado para mídias sociais. Em julho de 2015, o impresso paulistano Folha de S. Paulo criou a editoria de Audiência e Dados, que agrega o núcleo de Mídias Sociais, fomenta a audiência, centraliza as métricas, faz a interlocução com os leitores e auxilia a redação nos trabalhos com os dados e engaja a redação no uso de redes sociais26. Essas práticas são uma construção de uma ponte entre veículo de

comunicação e público, criando uma via rápida para troca de informações. Além disso, o uso de aplicativos estimula a audiência a mandar suas ‘reportagens’, vídeos, fotos sobre os fatos que estão ocorrendo e onde os jornalistas ainda não conseguiram

25 DORIA, Tiago. Estadão cria cargo de “editor de mídias sociais” e lista no Twitter. Blog do Tiago

Dória. Disponível em: <http://www.tiagodoria.com.br/coluna/2009/11/08/estadao-cria-cargo-de-editor- de-midias-sociais-e-lista-no-twitter/>. Acesso em: 22 mar. 2016.

26 FOLHA cria editoria de Audiência e Dados. Portal dos Jornalistas. Disponível em: <http://portaldos

alcançar. Como a especialista em mídias sociais, pesquisadora e jornalista Ana Brambilla explica que a mídia estimula a audiência para que colabore com conteúdo, que ajude a contribuir com a história sendo um repórter colaborador.

Tem como exemplo o incêndio da Boate Kiss, que matou 242 pessoas e feriu 680, na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em janeiro de 2013. No momento do fato, várias pessoas que estavam na casa de espetáculos começaram a narrar o terror no local e os jornalistas usaram estas informações para atualizar o público sobre a situação em tempo real e para contar o perfil das vítimas fatais. As informações publicadas em redes sociais como Facebook e Twitter foram utilizadas por empresas de mídia no Brasil e pelo mundo. O incêndio foi a segunda maior tragédia brasileira e o terceiro maior desastre em casas noturnas no mundo27.

Figura 6 – Página no portal Estadão.com.br do serviço FotoRepórter

Fonte: estadão.com.br

27 UCHOA, Pablo. Tragédia em boate de Santa Maria é ‘terceira mais fatal da história’. BBC Brasil.

Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/01/130127_tragedia_boate_historia_ pu.shtml>. Acesso em: 22 mar. 2016.

Em 2005, a publicação paulista O Estado de S. Paulo criou para a sua audiência o serviço colaborativo FotoRepórter28. A empresa jornalística justificou que a iniciativa

foi estimulada pelos atentados terroristas que aconteceram em Londres, no dia 7 de julho de 2005, quando vários populares enviaram fotos ou vídeos para sites e revistas da Europa complementando a cobertura feita pelos jornalistas profissionais.

O site tentava engajar os leitores com a frase “se você tem um celular com máquina fotográfica embutida, ou vive com uma câmera digital a tiracolo, abra os olhos e fique esperto. A partir de agora suas fotos podem ser publicadas no Estadão, no Jornal da Tarde, no portal www.estadao.com.br ou vendidas pela Agência Estado para jornais e revistas de todo o planeta. E você pode até ganhar por isso, como se fosse um repórter fotográfico profissional” (O ESTADO DE S. PAULO, 2005).

Além disso, no portal do Estadão tinha instruções sobre como escolher uma boa câmera digital e a melhor forma para se tirar uma foto. Se as fotos fossem publicadas no jornal impresso O Estado de S. Paulo ou Jornal da Tarde, o fotógrafo amador recebia uma remuneração igual ao dos fotógrafos profissionais. Já o portal Terra foi criou um espaço para que o leitor internauta pudesse escrever, fotografar e gravar sua própria reportagem, o ‘Vc Repórter’29, que foi criado em fevereiro de 2006.

Neste espaço há dicas sobre como enviar o conteúdo, dicas básicas de jornalismo, enquadramento de foto, vídeo, qualidade do texto e credibilidade. No entanto, o serviço foi encerrado em 2015, quando o Grupo Telefónica decidiu fechar a redação e fazer apenas serviço de curadoria de notícias com parceiros e agências informativas30.

É uma forma de reduzir as distâncias com o público e ao mesmo tempo consegue reduzir custos para conseguir algumas informações e ao mesmo tempo dá- se o início para começo de apuração de factual.

A ideia de fazer cada cidadão um repórter foi adotado em inúmeras partes do mundo, despertando no público um olhar seletivo diante da realidade. Essa consciência de registrar fatos e de submeter esse material aos canais de conteúdo colaborativo de sites jornalísticos foi amadurecida com a popularização das

28 FOTOREPÓRTER. Estadão.com.br. Disponível em: <http://sites.estadao.com.br/ext/fotoreporter/

index.htm>. Acesso em: 22 mar. 2016.

29 Vc Repórter. Terra. Disponível em: <http://vcreporter.terra.com.br/>. Acesso em: 22 mar. 2016. 30 GONÇALVES V., OLIVEIRA, J e FERIGATO, G. Terra reestrutura negócio com corte de 80% da

redação e fechamento de sucursais. Portal Imprensa. São Paulo, 06 ago.2015. Disponível

em:<http://portalimprensa.com.br/noticias/ultimas_noticias/73667/terra+reestrutura+negocio+com+cor te+de+80+da+redacao+e+fechamento+de+sucursais>. Acesso em: 22 abr. 2016.

iniciativas dos veículos em tornarem-se abertos às contribuições do público. (BRAMBILLA, 2011, p. 98).

Figura 7 – Home do canal ‘Vc Repórter’ no Portal Terra, em 2012

Fonte: Terra

Com o aumento do uso das redes sociais, todos têm o fácil acesso a informação. O cidadão detém a informação e cabe a ele a decisão de transformar isso em conteúdo relevante ou jornalístico. É uma porta que não se fecha mais. As informações são acessíveis e compartilhadas por todos e as empresas de comunicação têm de aceitar este novo universo no mundo da mídia. Cabe a audiência dizer se a informação que a mídia dá é importante, se o público pode complementar ou se pode negar ou ignorar a informação.

1.4. Da agenda do dia para a curadoria: uma transição?

O jornalismo sempre trabalhou por conta própria em toda a sua cadeia de produção. É a informação que chega para a Apuração, que formada por jornalistas que passam o dia fazendo contatos com órgãos públicos, recebem denúncias e atendem demandas informacionais da redação. É departamento que, principalmente,

checa a informação com fontes oficiais ou testemunhas que estão no local do fato. Após a fase de checagem e apuração, essa informação vai posteriormente para a Chefia de Reportagem, que é o outro departamento responsável por coordenar as equipes de reportagem, definindo qual equipe que vai ao local fazer a matéria, ou qual equipe está mais próxima do factual para fazer a estratégia de manobra de equipe, para chegar mais rápido até o local do fato que está em andamento e ajuda a levar aos editores qual é a melhor notícia para determinado tipo de demanda ou necessidade editorial.

Durante essa manobra da Apuração e da Chefia de Reportagem, outros jornalistas na redação, como editor-chefe, editores, editores-assistentes, editores- executivos, outros chefes de reportagem e produtores estão nas salas de reuniões para definirem qual serão os assuntos do dia. Cada jornalista vem com ideias e propostas na cabeça, leem jornais, sites, ouvem rádios e de vez em quando no trajeto de casa para as redações conseguem achar alguma notícia pelo caminho. Por meio dessas impressões iniciais, os jornalistas definem o que pode ser assunto para os jornais, rádios jornais, telejornais ou para o portal de conteúdo. Além disso, a produção, no caso de rádio e televisão, e as editorias especializadas no caso de internet e jornal impresso, já vem com suas sugestões de pautas ou reportagens prontas para serem usadas conforme as necessidades dos editores ou da demanda dos jornais, tempo, espaço e entre outros critérios.

Enquanto a reunião acontece, a equipe de reportagem em movimento recebe as orientações da Chefia de Reportagem, que já tem em mãos primeiras informações checadas e confirmadas pela equipe de Apuração. No caso de determinadas mídias (TV, rádio, impresso, web), a equipe de reportagem tem distintas configurações. No impresso ou internet, o repórter vai até o local com seu caderno de anotações e um smartphone com várias funções para tirar fotos ou gravar a entrevista e dependendo da gravidade da informação ou de sua relevância um fotógrafo acompanha o repórter; no rádio vai um repórter de rádio munido de um smartphone que já tem múltiplas funções, além de gravar e fazer ligações telefônicas; na televisão geralmente vai uma equipe de reportagem formada pelo técnico, repórter cinematográfico e o repórter, no entanto, quando o fato é de muita relevância, uma equipe técnica também acaba acompanhando a reportagem para eventuais entradas ao vivo durante o telejornal da emissora ou na programação.

Com o mínimo ou rastro de informação estas equipes de reportagem são deslocadas para o local do fato para dar andamento na história. A história é destrinchada pela equipe de reportagem que volta para a redação com o material gravado em áudio, vídeo, foto ou manuscrito e começa a construir a reportagem ou entrega ao editor que faz a verificação do conteúdo, ou seja, a edição faz os ajustes do conteúdo jornalístico de acordo com política editorial da empresa, ajusta aos padrões e estilo e, após todas as dúvidas esclarecidas com o repórter e o material faz a sua publicação na televisão, rádio ou internet.

Essas práticas de gatekeeping podem ser distinguidas em três etapas distintas do processo jornalístico: a entrada, a produção e a resposta (BRUNS, 2005, 2011).

Antes do rápido desenvolvimento da internet e das redes sociais, o jornalismo já trabalhava desta maneira e contava com uma equipe de jornalistas muito maior para dar conta da demanda. A mídia já colhia as informações do fato, trabalhava o material jornalístico e publicava para o seu público no papel ou irradiava pelas ondas eletromagnéticas. O público tinha o acesso ao material, mas não podia dar o feedback na mesma velocidade. Como citado no começo deste capítulo, o público teria que ir até a empresa de comunicação ou enviar uma carta para, quem sabe, ter uma reposta no minúsculo espaço dedicado ao leitor de jornal, uma rápida ‘lembrança’, como uma citação durante a transmissão de um programa de rádio, em que o âncora avisa que recebeu o feedback do público ou na televisão, a produção entra em contato com a audiência e explica o que houve. Então, editor faz os ajustes do conteúdo, define o que é relevante ou não para a população. Assim, existe a comparação do porteiro, o

gatekeeper, os jornalistas têm de ter os textos aprovados por estes profissionais, que

geralmente são da equipe de edição, são eles que vão definir o que é fato ou não. Mas, com o maior acesso à internet e as ferramentas digitais como blogs, que por sua vez, aperfeiçoaram suas ferramentas de Content Management System ou Plataforma de Gerenciamento de Conteúdo (CMS), como por exemplo, as CMS do

WordPress e Blogger, da Google ou ferramentas de vídeo e foto como YouTube, Vimeo, Flickr e Instagram dão ao leitor a oportunidade de mostrar um outro lado que

a mídia profissional não mostrou e as vezes mostra o que foi publicado ou irradiado não é uma verdade completa ou é uma mentira.

A informação social passa a ganhar contorno, torna-se coletiva e começa a ter peso relevante na propagação de informação. Mas, nem sempre a mídia tradicional vai trazer a totalidade da informação do fato ou factual, por questões literais de tempo (quando é rádio e TV) e espaço (nas páginas dos jornais). Por isso, agora passa a contar com o cidadão que rotineiramente faz suas publicações nas redes sociais. Para, desta forma, contribuir com o trabalho da mídia tradicional ou até mesmo vários cidadãos que tenham contas de redes sociais possam complementar e contar totalmente a história. Pois, é possível que alguém que vá procurar ou garimpar uma história via redes sociais, usa de recursos que agregam publicações por temas, como as hashtags, que são palavras ou termos associados a uma informação, discussão ou tópico que é discutido, que rastreia a conversa daquele momento e consiga levantar novas informações.

Depois, esse conteúdo extra pode ser transmitido nos canais de conteúdo tradicionais ou profissionais como rádio, televisão, impresso e na web. A mídia popular pode conseguir ou ampliar o espectro de informações que foram levantadas ou trabalhadas inicialmente pela grande mídia, a partir daí temos o trabalho do

gatewatching, que aponta o dedo e analisa as ações do gatekeeping, aquilo que pode

ser relevante para o editor não é relevante para a audiência ou público.

O jornalismo profissional também pode, e deve contar, com a ajuda do público. Ainda mais em um momento em que a informação é compartilhada entre o gatekeeper e o prosumer. O gatekeeper – que é a pessoa que define o que pode ou não ser noticiado, conforme o valor-notícia, linha editorial e outros fatores. O termo também é uma metáfora para o porteiro, que libera o acesso de quem quiser. Neste caso, ‘porteiro da redação’, aquele que filtra a informação, se determinados conteúdos podem ser noticiados. Já o prosumer – termo cunhado pelo escritor e futurista estadunidense Alvin Toffler, em sua obra A Terceira Onda, cujo sua definição vem da fusão das palavras producer (produtor) + consumer (consumidor) ou professional (profissional) + consumer (consumidor). O consumidor pode também produzir, com o livro 'A Cauda Longa', de Chris Anderson, destaca esse novo comportamento da sociedade contemporânea em uma só frase. "Nunca subestime o poder de um milhão de amadores com as chaves da fábrica" (ANDERSON, 2006, p. 56). Ou seja, o jornalista que está na redação recebe do seu leitor a notícia. Cabe ao jornalista dar valor ao que chega na redação. O consumidor de conteúdo pode rechaçar a

informação produzida pelas redações e pode alterar o curso da informação apresentando um dado que não foi informado ou um personagem que não teve sua história revelada pela imprensa por falta de apuração da reportagem ou do repórter no local do fato.

Como explica o pesquisador Axel Bruns em seu artigo Gatekeeping,

Gatewatching, Realimentação em tempo real: novos desafios para o Jornalismo. Ele

explica que em 2009, a publicação The Guardian, da Inglaterra, convidou o seu público a ajudar a investigar, explorar e interpretar os quatro anos de despesas de 646 membros do parlamento britânico (equivalente ao Congresso Nacional do Brasil), nos 700 mil documentos, em 5,5 mil arquivos no formato pdf31. A audiência retornou e

colaborou com os jornalistas da redação a fazer uma leitura minuciosa dos documentos e em menos de 80 horas, um terço de toda a documentação foi verificada.

Com isso, o público pode em trabalho compartilhado com os jornalistas verificar de forma minuciosa a história dos custos da instituição política daquele País, o que rendeu várias pautas e impactou a opinião pública nacional. Foram encontrados nos custos execução de hipotecas, compras de casas de pato, serviços de decoração de residências, despesas falsas e outros custos considerados incompatíveis com o cargo público. Agora o jornal inglês mantém uma página dedicada (MPs´expenses) que acompanha os custos dos políticos e lá a população pode saber dos desdobramentos do escândalo e as últimas notícias32.

Uma iniciativa importante de uma destacada organização noticiosa internacional, a plataforma das Despesas dos Membros do Parlamento e outros projetos semelhantes marcam uma nova fase no relacionamento em evolução entre os jornalistas e as suas audiências [...] (BRUNS, 2011, p. 120).

Um exemplo mais recente foi o que aconteceu na TV Globo de São Paulo, na madrugada do dia 12 de junho de 2015. Um incêndio atingiu a fábrica da Bridgestone-

Firestone, em Santo André, cidade da região industrial conhecida por ABC paulista,

no Estado de São Paulo33. O incêndio aconteceu em uma subestação de energia da

31 MPS´EXPENSES: The Guardian launches major crouwsourcing experiment. The Guardian.

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