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2.3 TUTELA JURISDICIONAL DIFERENCIADA

2.3.5 Técnicas de cognição

2.3.5.1 Cognição plena e exauriente ou parcial e exauriente

A cognição plena e exauriente é a regra no ordenamento jurídico vigente. É aquela observada no que é tido como procedimento comum e que decorre do princípio da segurança

jurídica.166 Na visão de Cássio Scarpinella Bueno,167 é a modalidade de cognição, na visão do

legislador, mais digna de justificar a liberação dos efeitos da tutela jurisdicional. Em síntese, é o procedimento no qual é exercido o mais pleno quanto à extensão do debate das partes e da cognição do juiz, sendo esta a mais profunda possível.

O procedimento de cognição plena e exauriente permite ao juiz colocar uma solução definitiva no conflito de interesses, fundada em um juízo de certeza com busca mais próxima da verdade dos fatos, procurando eliminar qualquer dúvida que eventualmente exista para a decisão. Ou seja, a decisão é proferida com maior grau de segurança. Pressupõe a existência

de tempo hábil para a formação de convicção do juiz.168

O processo comum ordinário, a que se presta a cognição integral, é considerado por Elio Fazzalari, citado por Teori Albino Zavascki, como “o arquétipo dos processos

jurisdicionais civis”, o modelo para os outros processos de cognição.169

Em outras palavras, é na cognição exauriente ou padrão que se busca a certeza e a verdade por meio da técnica de ampla produção probatória, visando à imutabilidade do provimento. Acrescenta Zavascki que a tutela jurisdicional só adquirirá caráter definitivo em relação às partes envolvidas quando formado o juízo de valor em processo nos quais teve-se a oportunidade de exercer o direito à cognição exauriente, formando uma decisão estável,

sujeita à coisa julgada material.170-171

Há máxima observância ao princípio do contraditório. O processo de cognição plena e exauriente é, portanto, mais conservador e, em alguns casos, com efeito, os fatos e provas do processo exigem essa maior profundidade na atividade cognitiva, a despeito da morosidade

                                                                                                                         

166

Ordinário ou sumário, uma vez que a sumariedade deste último diz respeito apenas ao rito processual, sendo, portanto, diverso do conceito de cognição sumária, conforme explica Kazuo Watanabe, ob. citada, p. 86. Acrescenta, ainda, sobre o procedimento sumário, Marinoni que: a sumariedade formal nada mais é do que o resultado da aceleração da prática dos atos processuais. De modo que o procedimento sumário é representante dessa espécie de sumariedade, porém não limita o juízo e respeito do objeto cognoscível. (MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela dos direitos, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004, p. 193).

167

BUENO, 2010, p. 371

168

Ibidem, p. 371.

169

ZAVASKI, Teori Albino. Antecipação de Tutela. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p.20.

170

Ibidem, p.23.

171

Apenas para fins de esclarecimento, Teori Albino Zavaski (2008, p. 23) entende que a coisa julgada material está relacionada com o juízo de certeza extraído por meio da tutela jurisdicional concedida.

envolvida, sob pena de incorrer em violação aos princípios constitucionais do cerceamento do direito de defesa, do contraditório e do devido processo legal.

Não há limitação aos tipos de pretensão e/ou defesa que podem ser apreciados pelo juiz. É a modalidade de cognição típica dos procedimentos que comumente se denomina de "ordinário" e "sumário" pelo Código de Processo Civil de 1973, já que o Novo Código de Processo Civil eliminou o procedimento sumário.

Por outro lado, como afirma Cássio Scarpinella Bueno, quando o Código de Processo Civil ou a legislação extravagante preveem os denominados "procedimentos especiais" para determinados conflitos de direito material, limitando a algumas situações específicas as pretensões, bem como as modalidades de defesa a serem apresentadas pelo réu, fala-se em

cognição parcial limitada àqueles determinados assuntos.172

Trata-se, exemplificadamente, das ações de consignação em pagamento, dos inventários e das desapropriações. Oportuno salientar, contudo, que, falar em cognição parcial não significa entender existir restrição ao contraditório ou à ampla defesa.

Como pondera Bueno,173 a limitação dos tipos de pretensão e das modalidades de

defesa, incluindo conteúdo, é legítima, porque busca bem realizar os princípios da efetividade da jurisdição, do devido processo legal e da eficiência da atuação jurisdicional, previstos no artigo 5º, incisos XXXV, LIV e LXXVIII da Constituição da República.

Entretanto, o processo de cognição plena possui uma duração necessária que, muitas vezes, não coaduna com a litigiosidade crescente da sociedade brasileira. Daí porque se fala em uma tendência de sumarização dos procedimentos, visando a atender os anseios sociais de

forma célere, justa e eficaz.174 Diante desse cenário, existe no Novo Código de Processo Civil,

inclusive, uma tendência de criar modalidades de tutelas mais céleres para a entrega do resultado útil ao jurisdicionado.

Ao tratar da ordinarização do procedimento, Ovídio Araújo Baptista da Silva faz dura

crítica na menção de que o procedimento ordinário é bom para a plebe porque o Estado,175

quando precisa valer-se da tutela jurisdicional, cria para si próprios instrumentos especiais, em geral drástica e severamente sumários. Acrescenta que as esferas de poder que gravitam em torno do poder formal, igualmente, não se utilizam do procedimento ordinário, a começar

                                                                                                                          172 BUENO, 2010, p. 369. 173 Ibidem, p. 369. 174

RIGHI, Eduardo. Tutelas de urgência e efetividade do processo. Revista Forense, Rio de Janeiro, Forense, v. 105, n. 401, p. 151-186, jan./fev. 2009.

175

SILVA, Ovídio Baptista Araújo da. Teoria da ação cautelar. In: _______, Da sentença liminar à nulidade

pelo comércio e pela indústria, que têm títulos de crédito que fazem com que seus titulares transponham o procedimento ordinário, indo diretamente ao procedimento de execução.

É certo que o processo de conhecimento é uma das conquistas alcançadas pela democracia, mas o que se tem visto é o abuso desses processos, sem a necessidade da modalidade de cognição aprofundada, típica desse procedimento, o que beneficia a parte ré. Vale salientar, por fim, que não são todas as situações jurídicas de direito material que comportam e necessitam cognição aprofundada ou processos com inúmeras fases.

Proto Pisani é contundente ao afirmar que o século XX ficará conhecido pelos

processualistas por tornar residual o processo de cognição plena,176 o que já não era tempo.