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Efetivamente para que a coisa julgada possa cumprir a sua finalidade – que é trazer segurança jurídica às partes e à sociedade em relação à imutabilidade das questões que são decididas pelo Estado-juiz – almeja-se estabelecer o que de fato tornou-se imutável e indiscutível.

Liebman já afirmava que a questão dos limites objetivos da coisa julgada é uma das

mais controversas no direito brasileiro,260 impondo-se uma análise mais cautelosa do tema

para a sua correta compreensão no presente estudo.                                                                                                                          

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MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo curso de processo

civil. São Paulo: RT, 2015. v. 2, p. 634-635.

259

“PROCESSO CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. EXTINÇÃO. ILEGITIMIDADE PASSIVA. REPETIÇÃO DA AÇÃO. PRELIMINAR DE COISA JULGADA. REGULARIZAÇÃO DA FALTA DE CONDIÇÃO DA AÇÃO. NECESSIDADE. EXEGESE DO ART. 268, CPC. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA CONHECIDOS MAS DESACOLHIDOS. I - A coisa julgada material somente se dá quando apreciado e decidido o mérito da causa. II - A extinção do processo sem julgamento de mérito, por falta de legitimidade ad causam, não é passível de formar coisa julgada material, mas sim coisa julgada formal, que impede a discussão da questão no mesmo processo e não em outro. Isso quer dizer que não se pode excluir, prima facie, a possibilidade de o autor repropor a ação, contanto que sane a falta da condição anteriormente ausente. III - Tendo sido o processo extinto por falta de legitimidade do réu, não se permite ao autor repetir a petição inicial sem indicar a parte legítima, por força da preclusão consumativa, prevista nos arts. 471 e 473, CPC, que impede rediscutir questão já decidida.” (SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA – EREsp 160850/SP, rel. Min. Edson Vidigal, rel. para acórdão Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, j. 3 fev. 2003, DJ 29 set. 2003, p. 134, m.v.).

Aparentemente, na época de Liebman, ele não estava equivocado.261 Contudo, não se discute mais, para grande parcela da doutrina, se a coisa julgada opera-se em relação à

fundamentação ou às razões de decidir.262 Atualmente, o que se discute na doutrina diz

respeito à como se operam esses limites objetivos, notadamente em relação aos elementos que formam a ação. Atualmente, o que se discute sobretudo em face ao novo Código de Processo Civil é a ampliação ou não dos limites objetivos da coisa julgada quanto à extinção da ação declaratória incidental e à possibilidade da formação de coisa julgada sobre as questões prejudiciais, como se abordará, ainda que de forma sucinta, mais à frente neste mesmo tópico.

Quanto ao limite objetivo, a coisa julgada só alcança a parte dispositiva da sentença ou do acórdão (para o CPC/73) ou a parte dispositiva de qualquer decisão judicial (para o

CPC/15),263 não atingindo a sua fundamentação, por mais relevante que seja,264 ou a questão

prejudicial decidida incidentalmente (artigos 469 e 470 do CPC/73). Como visto alhures, o CPC/15 modificou a questão atinente à coisa julgada em relação à questão prejudicial decidida incidentalmente – possibilitando a formação da coisa julgada material – ampliando- se os limites objetivos da coisa julgada.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                           

260

LIEBMAN, 1984. p. 55.

261

"Nos dias correntes, está praticamente superado o dissídio entre os que entendem que a coisa julgada se restringe, exclusivamente, ao dispositivo da sentença, e os que - cada dia menos numerosos - entendem que ela, ao contrário, além do dispositivo, abrange os motivos, os fundamentos e as premissas necessárias, embasadores da decisão. Não nos estenderemos sobre este ponto. A nossa lei atual é expressa no sentido da primeira posição (art. 469, II)" (ALVIM, Arruda, Tratado de direito processual civil. 2. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 1990, p. 462).

262

Como afirma Liebman (1984, p. 54), apenas o comando da sentença adquire a autoridade de coisa julgada, tornando-se imutável.

263

Quanto à coisa julgada apenas sobre o decisum, esta foi a posição adotada pelo CPC/73, a qual se coaduna com o entendimento da doutrina dominante: "acolheu o Código a doutrina dominante (Chiovenda, Carnellutti, Liebman, Micheli, Buzaid, Lopes da Costa, Pontes de Miranda, Celso Neves), segundo a qual a coisa julgada material se circunscreve ao dispositivo da sentença”. (LOPES, João Baptista. Ação Declaratória. 3. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991, p. 111). Em complementação: “1. O dispositivo da sentença, comando atingido pela eficácia preclusiva da coisa julgada, deve ser interpretado de forma lógica, de acordo com as premissas que lhe conferem alicerce. Assim, o art. 469 do CPC, ao estabelecer as partes da sentença não abarcadas pela res judicata, pretendeu retirar a imutabilidade das questões que compõem os fundamentos jurídicos aduzidos pelo autor, enfrentados pelo réu e decididos pelo juiz. Porém, não retira os efeitos da coisa julgada das premissas essenciais à matriz lógica da decisão, mediante a qual se alcançou o comando normativo contido no dispositivo da sentença. 2. Há um eixo lógico que une a causa de pedir à fundamentação da decisão, e o pedido ao dispositivo. Evidentemente, recorre-se à inicial quando a própria sentença não traz em seu bojo os termos em que o pedido foi acolhido, ou seja, quando o dispositivo é do tipo ’indireto’, simplesmente acolhendo o pedido do autor” (SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, 4ª T., Resp nº 846.954/MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe de 9 fev. 2012).

264

De acordo com Eduardo Talamini, Por vezes a exata identificação do sentido e alcance do comando – e, portanto, da coisa julgada – depende da consideração dos fundamentos da decisão (por exemplo, determinar o exato alcance de um julgamento parcial de procedência quando o decisum está mal redigido). Mesmo nesse caso, os fundamentos não farão, em si mesmos, coisa julgada. (TALAMINI, 2015, p. 851)

A esse respeito, Cássio Scarpinella Bueno afirma que por limites objetivos entende-se

o que fica imunizado de ulteriores discussões tornando-se imutável ou,265 de outra forma, o

que da decisão de mérito e com cognição exauriente transita materialmente em julgado.

Contudo, essa compreensão do que fica imunizado não é tão simples como possa parecer. Posto isso, a fim de que os limites objetivos da coisa julgada possam efetivamente ser compreendidos, entende-se necessário tecer alguns aspectos, ainda que de forma sucinta, acerca do conceito de pedido e causa de pedir na ação, analisando-se o disposto nos artigos 468 e 469 do CPC/73.

Como bem salienta Sergio Gilberto Porto, “a doutrina não navega em águas calmas”266

em relação ao que se entende por limites objetivos da coisa julgada. Como se percebe, nem mesmo a mais abalizada doutrina a respeito da matéria chegou a um consenso acerca do tema, de modo que o presente estudo, portanto, abordará alguns dos aspectos que se julgam importantes para a compreensão do que sejam limites objetivos da res iudicata.

Segundo entendimento de Talamini, a coisa julgada põe-se objetivamente nos limites

do mesmo pedido e da mesma causa de pedir da ação julgada pela sentença.267

Se a coisa julgada, objetivamente, opera-se quando existem pedidos e causa de pedir idênticos, é possível afirmar que somente quando há ações com causa de pedir e pedidos iguais (idênticos) opera-se a coisa julgada material. Evidentemente, como será tratado no item relacionado aos limites subjetivos da coisa julgada, a identidade de partes também necessária se faz como condição sine qua non para essa imutabilidade.

Apesar de algumas críticas, o Código de Processo Civil vigente adotou a teoria do tria eadem ou a também conhecida teoria da tríplice identidade em relação ao conceito do que

sejam ações idênticas,268-269 uma vez que as definiu como aquelas contendo as mesmas partes,

a mesma causa de pedir e o mesmo pedido (CPC/73, artigo 301, parágrafo 2º).270

                                                                                                                         

265

BUENO, 2015, p. 362.

266

PORTO, Sergio Gilberto. Coisa julgada civil. 2 ed. Rio de Janeiro: AIDE, 1998. p. 68.

267

TALAMINI, 2005. p. 68.

268

Apesar de o atual Código de Processo Civil ter expressamente adotado o critério da tríplice identidade para a identificação de demandas, parte da doutrina entende não se poder aplicar esse critério de forma absoluta. De acordo estes doutrinadores, há situações em que a teoria das três identidades não é capaz de explicar todas as hipóteses, servindo, tão-somente, como regra geral. (CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito

processual civil, v. I, 25 ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 401). No mesmo sentido, TUCCI, José Rogério Cruz e. A causa petendi no processo civil. 2. ed. São Paulo: RT, 2001, p. 232. Por fim, citando Cândigo Rangel

Dinamarco, para o qual, a chamada teoria dos três eadem (mesmas partes, mesma causa petendi, mesmo

petitum) conquanto muito prestigiosa e realmente útil, não é suficiente em si mesma para delimitar com

precisão o âmbito de incidência do impedimento causado pela litispendência. Considerando o objetivo do instituto (evitar o bis in idem), o que importa é evitar dois processos instaurados com o fim de produzir o mesmo resultado prático. Por isso, impõe-se a extinção do segundo processo sempre que o mesmo resultado seja postulado pelos mesmos sujeitos, ainda que em posições invertidas. (DINAMARCO, Cândido Rangel.

A presença, portanto, desses três elementos é condição essencial para que duas ou

mais ações sejam idênticas.271 Ainda, segundo Chiovenda,272 os elementos que identificam a

ação dividem-se em elemento subjetivo e dois objetivos, os quais consistem na causa e no

objeto.273

É possível afirmar que pedido consiste naquilo que o autor pretende por meio da ação. É o ato pelo qual o autor formula a ação de seu direito material que o juiz efetivará, no caso de procedência, em face do réu. Ele declinará todas as consequências decorrentes do direito

material e pretendidas pelo autor.274

Segundo Moacyr Amaral dos Santos,275 pedido é a providência que o autor espera ver

atendida pelo órgão jurisdicional ou, como conceitua Pontes de Miranda,276 é o que se pede e

não o fundamento do pedido ou as razões de pedir. De ser o pedido um elemento identificador da ação decorre a importância da identificação da coisa julgada e da extensão de seus limites, in casu, objetivos.

Sem a compreensão do que seja pedido em determinada demanda judicial, bem como a extensão e alcance, torna-se inviável identificar, com a segurança necessária, como se operam os efeitos da coisa julgada, na hipótese de uma segunda demanda teoricamente idêntica, segundo o que se demonstrou. Daí a sua importância.

Contudo, o conceito de pedido, para parte da doutrina, não se limita somente ao que se

pretende. Moacyr Amaral dos Santos entende que,277 para aferição do pedido, necessário faz-

se, primeiramente, separá-lo entre aquilo que se pretende do direito material pelo autor e o

tipo de tutela jurisdicional que o autor pleiteia para o exercício do direito de ação.278

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                           

269

TUCCI, 2001. p. 62.

270

Essa teoria não se aplica às ações coletivas, já que a sua identificação se faz somente pela identidade de causa de pedir e pedido.

271

CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de direito processual civil. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1969. p. 354.

272

Ibidem, p. 355.

273

Esse entendimento, contudo, não se aplica às ações coletivas, pois, para essa modalidade de tutela, basta existi identidade de causa de pedir e pedido.

274

ASSIS, Araken de. Cumulação de ações. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 154.

275

SANTOS, Moacyr Amaral dos. Primeiras linhas de direito processual civil. v.1. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 155.

276

MIRANDA, Pontes. Comentários ao código de processo civil. Tomo v. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997. p. 32.

277

SANTOS, 2004. p. 141.

278

Cândigo Rangel Dinamarco entende que o pedido contém uma estrutura bifronte. Ao ajuizar a ação que pretende, deve o autor não só indicar o bem da vida pretendido, como também o tipo de tutela jurisdicional que pretende. (DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. v. 2. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p.118. No mesmo sentido, Luiz Guilherme Marinoni, ao afirmar que o autor deve apresentar uma causa que justifique o pedido levado ao órgão jurisdicional. (MARINONI, Luiz Guilherme. Manual do

Assim, o pedido é dividido em mediato e imediato, possuindo, portanto, dois

objetos.279 Enquanto aquele diz respeito ao bem jurídico pretendido pelo autor da ação, este

diz respeito à tutela jurisdicional utilizada para o exercício daquele direito subjetivo.

Ovídio Baptista é assaz ao afirmar que deve o autor formular seu pedido em fatos e

fundamentos jurídicos (causa petendi),280 já que o pedido deve ser certo e determinado (CPC,

art. 286). É importante que essa individualização,281 além de ser uma regra, não passe

despercebida pelas partes e pelo juiz, pois a tutela jurisdicional que deverá ser concedida deve ser clara o suficiente para atender ao fim requerido e para que traga segurança suficiente quanto aos efeitos da coisa julgada material.

Assim como o pedido, é importante que seja compreendida a causa de pedir, notadamente para a delimitação dos efeitos da coisa julgada, uma vez que uma ação ou mais só serão idênticas quando houver identidade de pedidos, partes e da causa petendi, com exceção às denominadas ações coletivas.

Em que pese tenha prevalecido no sistema jurídico brasileiro o princípio da

substanciação em relação à causa de pedir,282 há quem defenda a aplicação do princípio da

individualização.283 Ao contrário da teoria da substanciação, a teoria da individualização

dispõe que a causa de pedir corresponde à relação jurídica exposta pelo autor na petição

inicial, dentro da qual o juiz deverá julgar a lide.284

                                                                                                                         

279

Em igual sentido, ALVIM, 2003. p. 488.

280

SILVA, Ovídio Araujo Baptista da. Curso de direito processual civil. v. 1. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 224.

281

Karl Heinz Schwab foi o grande defensor da teoria que exclui a causa de pedir do objeto do processo, segundo a qual o pedido está no objeto litigioso, afastando a pretensão material. O objeto litigioso, desse modo, não constitui os fatos, mas o pedido (afirmação de um direito) decorrente da pretensão. A teoria do autor foi sujeita a críticas, pois se verificou que, para determinar a parte da decisão que se tornou imune após a coisa julgada, socorreu-se o autor à causa de pedir. O autor assevera que, após a prolação da sentença, o interesse não estará mais no objeto litigioso em si considerado, mas na decisão do judicial sobre este mesmo objeto. De fato o autor alemão adota uma teoria restritiva dos limites objetivos e, portanto, somente a parte dispositiva será assim, por dizer, atingida. Contudo, este dispositivo somente pode ser entendido por meio da motivação. No direito pátrio defendem esta teoria Cândido Rangel Dinamarco, Kazuo Watanabe, José Carlos Barbosa Moreira, Sydney Sanches e Alexandre Freitas Câmara. É, entretanto, teoria sujeita a críticas conquanto não recepcionada no direito brasileiro (CPC, art. 301, § 2º) e tampouco no direito alemão (ZPO, § 253). (MONTANS, de Sá, Renato. Eficácia preclusiva da coisa julgada. São Paulo: Saraiva, 2011).

282

O fato de prevalecer, no sistema jurídico brasileiro, o princípio da substanciação do pedido que compreende tanto a causa próxima como a causa remota actionis, corrobora o caráter restrito da limitação objetiva da coisa julgada. A definição do seu conteúdo vincula-se, portanto, ao que foi pedido na ação e constitui objeto do julgamento, de seu lado restrito ao elemento declaratório da sentença. (NEVES, Celso. Coisa julgada civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1971. p.494)

283

Segundo José Ignácio de Botelho de Mesquita, as divergências entre ambas as teorias teve inicio na Alemanha. MESQUITA, José Ignácio Botelho de. A causa petendi nas ações reivindicatórias. Revista da Ajuris, , v. 20, n. 7, p. 168, nov. 1980.

284

Segundo Calmon de Passos “para os adeptos da individuação, a causa de pedir é a relação ou estado jurídico afirmado pelo autor em apoio a sua pretensão, posto o fato em plano secundário e não relevante, salvo quando

De acordo com entendimento de José Ignacio Botelho de Mesquita,285 a teoria da individualização não impõe a necessidade da descrição dos fatos como fator integrante da causa de pedir da ação. No seu entender, bastaria a indicação precisa da relação jurídica de

direito material que sustenta o pedido do autor.286

De modo contrário, para a teoria da substanciação, predominante no ordenamento jurídico brasileiro, o autor da ação precisa delimitar sua causa petendi, expondo os fatos e fundamentando-os. Não se exige a fundamentação jurídica, mas a fundamentação fática com

que se funda o pedido inicial. Na mesma linha vai o entendimento de Araken de Assis que,287

ao estudar a teoria da substanciação, afirma que a narração dos fatos e a sua delimitação se mostram essenciais na identificação da ação.

Nesse sentido, a causa de pedir é composta por elementos que serão indispensáveis à caracterização de uma ação, os quais individualizarão determinada ação, inclusive para efeitos

de coisa julgada e seus limites.288-289 São eles as circunstâncias jurídica e fática, e a

necessidade que o autor possui de pleitear determinada tutela jurisdicional.

Sendo os limites objetivos aqueles relacionados ao comando da decisão (parte dispositiva), é essencial que esse comando guarde congruência com o pedido formulado pelo autor ou pelo réu em caso de reconvenção. Trata-se do princípio da congruência ou da adstrição da sentença ao pedido, segundo o qual o juiz fica impedido de decidir fora, além ou aquém do pedido (CPC/73, artigos 2º, 128, 460).

Na verdade, pelo CPC/15, esse princípio deve se estender, igualmente, a qualquer decisão que apreciar o mérito, pois, como já abordado, a coisa julgada material (CPC/15, art. 502) se opera sobre qualquer decisão judicial que apreciar o mérito, ainda que parcialmente, e não mais sobre a sentença como dispunha o CPC/73.

Nessa linha, o CPC/15, no caput no artigo 503, dispõe a respeito de a decisão de mérito, total ou parcial, ter força de lei nos limites da questão principal expressamente decidida (trânsito em julgado – coisa julgada material). Por julgamento total do mérito deve                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             indispensável à individualização da relação jurídica.(PASSOS, Calmon de. Comentários ao código de

processo civil. Lei n. 5869, de 11 jan. 1973, v. III).

285

MESQUITA, 1980, p. 168.

286

No mesmo sentido, vai Humberto Theodoro Junior (2004, p. 62), ao afirmar que basta ao autor indicar genericamente sua titularidade de postular em juízo.

287

ASSIS, 2002. p. 141-142.

288

PORTO, Sérgio Gilberto. Coisa julgada civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. 3. ed., p. 56.

289

“Se, por exemplo, duas pessoas são conviventes e decidem se separar, o marido não pode ingressar com duas ações, uma na vara de família sobre a partilha suscitando união estável e outra na cível com o mesmo pedido de partilha, mas alegando sociedade de fato. E isso porque o elemento preponderante da causa de pedir é o fático, logo a situação de fato de ambas as causas é a mesma, mesmo que a qualificação jurídica seja diversa. Neste caso existe litispendência, pois as ações “são mutuamente excludentes [...] uma ação exclui a outra, quando somente é possível o resultado de uma delas” (WAMBIER, 2005, p. 113).

ser compreendido aquele que enfrenta de uma só vez o(s) pedido(s) do autor e/ou do réu reconvinte. A coisa julgada recairá, independentemente de ter sido acolhido inteira ou parcialmente os pedidos formulados, na exata medida de como ocorreu o julgamento. O julgamento parcial, por sua vez, admite a prolação de decisões que acolham em momentos que não sejam, necessariamente, o término da fase cognitiva (com a análise de todos os

pedidos de uma só vez), havendo cisão de julgamentos.290

Não é por acaso que o artigo 356, § 3 admite a possibilidade de a decisão interlocutória que julga antecipada ou parcialmente o mérito transitar materialmente em julgado, se não houver contra ela interposição do recurso cabível (agravo de instrumento – CPC/15, art. 356, § 5).

E no tocante às questões prejudiciais? O artigo 503 do CPC/15 dispõe que a decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos limites da questão principal expressamente decidida. O § 1 do referido dispositivo legal dispõe que o caput do artigo 503 se aplica à resolução de questão prejudicial, decidida expressamente e incidentemente no processo. Estariam ampliados os limites objetivos da coisa julgada?

No tocante à discussão quanto à suposta ampliação ou não dos limites objetivos da coisa julgada, colhe-se entendimento de Eduardo Arruda Alvim e Daniel Granado no sentido

de que,291 de fato, o CPC/15 ampliou os limites objetivos da coisa julgada material, já que a

autoridade da coisa julgada material, segundo os autores, poderá recair sobre as questões prejudiciais que tenham sido decididas, desde que preenchidos os requisitos previstos nos §§ 1 e 2 do artigo 503 do CPC/15. Para o CPC/73, as questões prejudiciais não transitavam em julgado, exceto se o autor ou o réu apresentassem a denominada ação declaratória

incidental.292 Atualmente, ao que tudo indica, o CPC/15 eliminou a ação declaratória

incidental, já que as partes poderão discutir as questões prejudiciais no processo principal,

desde que observadas, como afirmado, algumas premissas.293

                                                                                                                          290 BUENO, 2015, p. 363. 291 ALVIM; GRANADO, 2015, p. 81. 292

De acordo com Luiz Guilherme Marinoni, a ação declaratória incidental tem como função “provocar o juiz a decidir tema que seria normalmente – em função da estrutura conferida à ação pelo autor na petição inicial – examinado tão somente de maneira incidental no pronunciamento judicial”. Na hipótese de uma questão prejudicial se tornar litigiosa no curso do processo, portanto, e uma das partes desejar que ela seja apreciada não somente como razão de decidir, mas como questão prejudicial autônoma, a formar coisa julgada, deve utilizar a