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1 INTRODUÇÃO

2.5 Colaboradores

Os colaboradores desta pesquisa foram os alunos do 9º ano da Escola Paula Queiroz (turma composta por 31 alunos, com idades entre 13 a 16 anos, que estudam à tarde), Seu Luís Rodrigues da Silva, que é o realizador dos festejos do Boi-Surubim na Fazenda Teotônio, e Francisco Valdevan Alves Dias (escritor, compositor, poeta, escultor, cordelista, cantor), responsável pela realização do Boi- Surubim na sede do município.

Seu Luís nasceu em 1952, na Fazenda Teotônio. Ele é o caçula de 11 irmãos filhos de Marcelino Rodrigues da Silva e de Cristina Martins da Silva. O responsável pelas práticas culturais do Boi-Surubim hodierno ainda vive no lugar onde nasceu e é casado com Vanusa Alves da Silva, com quem constituiu uma família de dez filhos (quatro homens e seis mulheres).

De origem familiar desprovida de riquezas materiais, sua vida é marcada pela intensa luta contra as adversidades socioeconômicas e geográficas. Começa a trabalhar ainda criança para ajudar seus pais a garantir a sobrevivência familiar. Os pais de Luís moravam na Fazenda Teotônio, a qual pertencia ao Senhor Plínio Câmara.

As inúmeras dificuldades pelas quais passou, ora advindas do próprio clima típico do semiárido, ora nutridas pela in operância do Estado, afastaram o Senhor Luís da pequena sala dedicada ao ensino na Teotônio. De acordo com o líder do s Caretas, estudar era inviável, dadas as contingências do cotidiano em que vivia.

Inserido nesse ambiente, sabendo apenas assinar o próprio nome, seu Luís tem contato com os folguedos populares dos Caretas, os quais normalmente eram realizados nos terreiros de sua avó paterna pelo seu pai. Seu Marcelino promovia também esses festejos em outras regiões vizinhas. Ele iniciava em dezembro as apresentações e findava no dia de reis, em janeiro do ano seguinte.

As manifestações culturais realizadas pela família Rodrigues simbolizavam o protagonismo do saber local, dos trabalhadores, dos qu e moravam em casas de taipas, dos pobres e excluídos socialmente. Muitas pessoas já participaram das apresentações, mas a família Rodrigues é a grande responsável pela brincadeira dos Caretas existir na comunidade.

Com a morte de Seu Marcelino, seu filho Simão manteve a tradição viva. Com o falecimento deste, Seu Luís assume a liderança das apresentações que

realiza até os dias correntes. Assim, foi assistindo e depois participando desses folguedos que Seu Luís e seus irmãos aprenderam a realizar o ritual do Boi-Surubim, de modo que ainda hoje Mestre Luís traz consigo a alegria desses rituais para sobrepor o cansaço do trabalho e as angústias da pós-modernidade. Ele, com seus filhos, irmãos e amigos ressuscitam o Boi-Surubim e transformam restos fúnebres de animais em personagens que encantam e dão contentamento a quem assiste.

Também como colaborador, temos o décimo primeiro filho de uma família de 14 membros, Francisco Valdevan Alves Dias. Filho de Francisco Osvaldo Dias e de Antonieta Alves Dias. Natural de Madalena e um amante da cultura local, ele é artista possuidor de múltiplos talentos. Ainda na infância, revela sua paixão pela literatura de cordel e pelas tradições populares, como os festejos do Bumba-meu- boi. Valdevan vive lutando contra a intensa desvalorização da cultura local. Ele, além de ser cordelista, é escritor, compositor, escultor, cantor e funcionário público.

Atento à cultura local, ele encabeçou, em 2005, um projeto de resgate cultural do Boi-Surubim. Entrevistou o grande percursor do auto do Boi na Fazenda Teotônio, Senhor Marcelino, e outros envolvidos nos festejos locais, para entender como se dava sua realização: personagens, figurino, música, enredo etc.

Com essas informações e muita sensibilidade artística, o poeta ressuscita o Boi-Surubim, dançando-o pelas ruas de Madalena e apresenta essa cultura para uma nova geração que nunca h avia visto essas apresentações.

Além disso, iniciou um projeto de criação de cultura de raiz Madalenense em que dois cordéis foram transformados em danças folclóricas: Barrão do Monteiro e a Cobra encantada da serra da Lagoa, histórias de Madalena que vêm sendo contada de geração em geração.

O cordelista é um grande responsável por esses festejos voltarem ao calendário cultural na região. Seus escritos são u m registro cultural que reverbera o saber popular.

Quanto à turma escolhida para participar da pesquisa, mais da metade dos alunos do 9º ano da Escola Paula Queiroz são filhos de agricultores beneficiados com programas sociais, segundo o registro de matrícula da referida escola, e apresentam uma faixa etária entre 13 e 16 anos. Alunos esses que atuaram como verdadeiros pesquisadores de cultura no projeto de letramento “Boi-Surubim: desafios da cultura popular em Madalena”, uma vez que os alunos foram capazes de desempenhar pesquisas etnográficas em sua própria comunidade que enriqueceram

o processo de ensino e aprendizagem (EGAN-ROBERTSON; WILLET, 1997) e contribuíram para a preservação da cultura local.

Gráf ico 3 - Distribuição dos alunos de acordo com a idade

Fonte: Elaborado pelo autor (2019).

Este perfil de faixa etária apresentado no gráfico 3 revela uma turma praticamente sem distorção série/idade. Isso é u ma realidade completamente diferente de anos anteriores na escola. Outrora, tínhamos turmas de 9º ano com idades entre 13 a 18 anos, em uma mesma sala. Foram vários anos com distorções dessa natureza. Os alunos com idades de 15 e 16 anos, mostrados no gráf ico anterior, são remanescentes de turmas multisseriadas e são um dos que mais apresentam dificuldades de leitura e escrita.

Gráf ico 4 - Distribuição dos alunos de acordo com a região onde moram

Como citado anteriormente, a escola conseguiu mudar sua realidade física e pedagógica, atraindo alunos principalmente da sede do município. Consoante mostra o gráfico 4, a turma do 9º ano é um retrato da realidade de todas as turmas da escola, alunos de diversas comunidades e sede em numa mesma sala. Em uma turma de 31 educandos, mais da metade é oriunda da sede. Vale observar que a escola hoje não consegue atender ao número de pedidos de matrícula. A procura aumentou, exponencialmente, devido ao bom desempenho nas avaliações extern as e olimpíadas e à baixa taxa de evasão e repetência.

Vários alunos se destacaram nas olímpiadas de matemática, inclusive recebendo medalhas de ouro. Devido a esse bom desempenho, muitos ganharam bolsas para continuar os estudos na capital (Fortaleza) e transformar suas vidas através da educação.

2.6 Constituição do corpus, procedimentos e instrumentos de geração de