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1 INTRODUÇÃO

4.2 Um olhar sobre os usos sociais da língua na construção de diálogo entre

4.2.6 Tecnologias digitais no PL

As rápidas inovações tecnológicas das últimas décadas transformaram nossas práticas de linguagens e as relações sociais. Fru to dessas mudanças, as Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC) se tornaram instrumentos indispensáveis para atender às demandas complexas da contemporaneidade, inclusive da escola. Tamanho é seu impacto na vida humana que é impossível para um sistema de ensino inclusivo e democrático ficar alheio a essa nova dinâmica da globalização.

Por meio de dispositivos tecnológicos (conectados à internet) como o celular ou computadores, por exemplo, podemos nos comunicar com o mundo inteiro em tempo real e resolver problemas triviais do dia a dia sem sair de casa. Por meio desses artefatos, realizamos transações bancárias, verificamos saldo/estrato,

efetuamos pagamentos diversos, respondemos nossos e-mails, assistimos a videoaulas, pesquisamos conteúdos diversos na web, jogamos, participamos das redes sociais, fazemos ch amadas de vídeo/voz, editamos textos e imagens, compramos produtos, interagimos com os alunos, proferimos videoconferências, aulas etc.

Em virtude disso, entendemos que fazer uso das TDIC não é uma opção, mas sim uma necessidade para dar respostas às sofisticadas exigências sociais. Observamos isso, claramente, ao aplicarmos o projeto de letramento Boi-Surubim: desafios da cultura popular em Madalena, pois só conseguimos amenizar o descaso com a cultura local e ressignificar nossas práticas de leitura e escrita, porque fizemos usos de aparatos tecnológicos disponíveis. Desse modo, celulares e computares se tornaram ferramentas essenciais nesse processo de desenvolvimento do PL, ainda que o uso de dispositivos móveis fosse proibido na Escola de Ensino Fundamental Paula Queiroz.

Por se tratar de um projeto de natureza prática que intenta amenizar dilemas sociais da comunidade, mergulhamos no contexto real que n os propusemos modificar, razão pela qual nos aproximamos das práticas comunicativas da turma – o celular, já na primeira oficina, ao acartarmos a sugestão dos alunos de utilizarmos as redes sociais (WhatsApp) com intuito de viabilizar a comunicação entre os colaboradores e otimizar as ações previstas.

Ainda que as normas da escola proibissem o uso de celu lares pelos alunos, compreendemos que foi uma oportunidade ímpar para darmos voz aos alunos e lançarmos um novo olhar sobre as contribuições das mídias digitais no processo de ensino e aprendizado. Em decorrência de tal proibição, realizamos diálogos com a direção escolar, debatendo as eventuais contribuições desses aparatos para viabilizar o projeto.

Fazer isso ampliou as possibilidades de a escola repensar o uso do celular na escola, mesmo depois da aplicação da pesquisa, pois a situação didática trabalhada evidenciou que os dispositivos móveis assumiram um papel relevan te n o PL. Eles possibilitaram um diálogo entre os colaboradores para além do tempo regular das aulas. Mesmo morando em lugares distantes, o debate se fez constante nas redes sociais por meio de um grupo no WhatsApp que os próprios alunos criaram e intitularam de Projeto Boi-Surubim.

Com esses dispositivos a nosso dispor, novos letramentos fizeram parte da rotina das oficinas, de modo que usamos o aplicativo de WhatsApp com diversas finalidades: debater as ações planejadas, sanar dúvidas, pesquisar sobre questões relativas à problemática tratada, compartilhar informações históricas sobre a Fazenda Teotônio, fazer registro fotográfico/audiovisual e socializar cada etapa do PL. Em virtude da acessibilidade desse aplicativo e do fácil manuseio, de acordo com Rodrigues (2015, p. 6), podemos acreditar:

no potencial do WhatsApp como f erramenta de ensino. Além de já estar inserido no dia a dia de grande parte de prof essores e alunos que estão em atividade escolar hoje, na esf era nacional e internacional, o aplicativo é acessível, democrático, de f ácil compreensão, manuseio simples e é normalmente usado também para f ins que não prof issionais, como conversas entre amigos e f amiliares – e isto induz à imersão ao universo do mesmo [...] (RODRIGUES, 2015, p. 6).

Pudemos observar que o uso das redes sociais nos revelou apuradas habilidades digitais dos alunos e intensificou o entrosamento entre a turma bem como sua participação nas atividades, tornando assim um forte aliado no processo de ensino e aprendizagem, durante a pesquisa.

Consoante Pagamunci (2011, p. 5), a inserção das mídias digitais na escola é fator relevante, pois:

Pensar no processo de desenvolvimento cognitivo do indivíduo, nos dias atuais pressupõe a necessidad e de considerarmos a presença das tecnologias inf ormáticas no contexto o qual o mesmo está inserido. Desta f orma, é necessário compreender a f unção que este tipo de instrumento exerce no respectivo processo (PAGAMUNCI, 2011, p. 5).

Isso nos levou a questionar ainda mais nossa prática docente, atentando para velhos discursos de que a escola precisa inserir os alunos no mundo digital, sendo que, muitas vezes, é a própria rede de ensino e o professor, desprovidos de formação, que estão alheios à rede tecnológica.

Os dados apontam também contribuições profícuas oriundas de outros dispositivos, como os computadores que nos impuseram novos desafios de manuseio, uma vez que, para a produção dos convites, comen das, biografias, entrevista, entre outros, a turma se utilizou de vários aparatos técnicos como processadores de textos que dispõem de recursos técnicos e semióticos diversos (Word), programas de exibição e edição (PowerPoint) e aplicativo de edição de

imagens mais complexos, como o (PicsArt), o qual os alunos nos ensinaram a manuseá-lo.

Quanto ao processo de leitura e escrita do PL, chama à atenção a maneira como a turma socializou seus conhecimentos informais do mundo digital para confeccionar textos multissemióticos por meio desses acessórios inovadores. O trabalho com as mídias digitais proporcionou mais autonomia e agência aos alunos, alargando as possibilidades criativas com a linguagem devido à riqueza das ferramentas disponibilizadas pelos dispositivos tecnológicos em questão.

À luz dos dados, podemos inferir que a inclusão dos recursos tecnológicos associados a ações mais práticas e significativas para os colaboradores favoreceu a criação de ambientes que estimu laram a pesquisa, o diálogo, a criatividade e o engajamento, uma vez que “a aprendizagem por questionamento e experimentação é mais relevante para uma compreensão mais ampla e profunda” (BACICH; MORAN, 2018, p. 2).

Postos no centro do processo de ensino e aprendizagem, os alunos se sentiram mais à vontade e mais próximos de sua realidade social e linguística, o qu e garantiu o protagonismo discente nas oficinas, ao fazerem uso das mídias digitais de modo mais inovador, responsável e crítico. Foi uma experiên cia na qual professor e alunos aprenderam, ensinaram e repensaram, conjuntamente, os usos da tecnologia, dando uma resposta concreta aos problemas do meio no qual estão inseridos.

Inovar é preciso, pois. Acreditamos ser inviável a escola continuar indiferente às ferramentas digitais, parte orgânica das relações sociais. Em virtude disso, elas “não podem continuar sendo vistas apenas através das janelas das instituições, elas devem integrar o ambiente educacional e a atividade pedagógico”, como bem reitera Pagamunci (2011, p. 11).

O que a escola Paula Queiroz tanto negou (dispositivos móveis), hoje, em tempos de pandemia, parece ser a “salvação”, visto que o WhatsApp tem sido um dos instrumentos de ensino adotados. Assim como os alunos, a equipe docente tem enfrentado vários desafios de manuseio das TDIC com intuito de se adaptar ao modelo de ensino a distância (EAD).

A atual crise mundial de saúde, motivada pela Covid-19, acelerou o debate sobre as TDIC em vários segmentos sociais no país. A utilização dos recursos tecnológicos tornou-se, de fato, uma questão vital para tentar garantir a manutenção

das atividades básicas da escola e da sociedade, em termos de sobrevivência, principalmente, da classe menos favorecida que depende de auxílio imediato do Estado cujo acesso se dá por meio de aplicativos, por exemplo.

Os problemas advindos com a pandemia instigaram a disseminação dos letramentos digitais. Com receio de serem contaminadas pela Covid-19, ao saírem de casa, as escolas adotaram o sistema de ensino a distância. Professores e alunos aderiram a plataformas de ensino, ressignificaram os usos das mídias digitais; as pessoas baixaram aplicativos de compras e pagamentos diversos, intensificaram o diálogo entre amigos e familiares pelas redes sociais etc., ou seja, clicarmos para nos informar, estudar, ensinar, pagar contas, comprar alimentos e acessórios diversos, falar com as pessoas, pesquisar, trabalhar e entreter.

A pandemia nos mostrou a relevância dos aparatos tecnológicos e a imensa desigualdade social n o país, pois milhões de crianças e jovens ainda não têm acesso à internet. A milhões de alunos ainda são negligenciados direitos básicos que são disponibilizados pelas mídias digitais na atual conjuntura. São estudantes excluídos do sistema EAD.

No pós-pandemia, tanto a forma de promover o ensino quanto o modo de abordar as mídias digitais, provavelmente, não serão os mesmos, porém, entendemos que o uso da tecnologia deve vir acompanhado de um pensamento mais crítico em prol da construção de um pensamento educacional mais humano, desafiador, engajado e que não se renda à lógica de um sistema econômico tão opressor. As invenções humanas devem servir para diminuir as desigualdades socais e não para ampliá-las.

Assim, como afirma Pagamunci (2011, p. 11), compreendemos que:

A utilização das tecnologias inf ormáticas como instrumento auxiliar a prátic a pedagógica, além de f avorecer o aprendizado e o desenvolvimento do indivíduo por meio da internalização de novos sistemas simbólicos pode, também, contribuir para intensif icar e f ortalecer a interação prof essor-aluno e a relação aluno-aluno (PAGAMUNCI, 2011, p. 11).

Porém não adianta termos tecnologia, falarmos em inovação pedagógica e não questionamos a ganância, a luxúria, a apatia e a miséria promovidas pela selvageria do livre mercado conforme a qual o próximo e a natureza são tratados como conveniências, sendo qualquer pensamento contrário imediatamente rechaçado em nome da divina tragédia humana na qual nada é de graça.