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3 Procedimentos metodológicos

3.4 Coleta dos dados

Visando ao alcance do aprofundamento e do detalhamento inerentes às estratégias de pesquisa adotadas, considera-se habitual a utilização de múltiplas fontes de coleta de dados. Dessa forma, este estudo adotou entrevistas semiestruturadas como principal técnica de coleta, tendo observações não participantes e análise documental como fontes de informações complementares. Tais escolhas se ampararam na orientação de Creswell (2007) sobre a utilização de múltiplas fontes e em Merriam (2009, p.86), que defende que o embasamento teórico aplicado pelo pesquisador irá fazer aflorar as técnicas a serem empregadas na coleta de dados da pesquisa. Outro objetivo dessa escolha foi o de promover a validade dos resultados pelo mecanismo da triangulação.

Com base no construtivismo, vale salientar que os métodos selecionados devem dar voz aos participantes. Nessa linha, o tipo de entrevista eleito parte do pressuposto de que os respondentes constroem seus mundos de forma singular. De acordo com Merriam (2009), esse tipo de entrevista abarca a utilização de um acervo de questões, sem contudo, tornar a entrevista inflexível a alterações na ordem das perguntas ou nos termos exatos a serem utilizados. Assim, essa configuração permitiu à pesquisadora reagir às situações que emergiram das visões de mundo dos pesquisados e às novas ideias sobre o tema. Ainda, esse tipo de entrevista tem sido fortemente utilizado em razão de que se considera mais provável que as posições dos entrevistados sejam proferidas em uma entrevista com flexibilidade do que com uma totalmente padronizada ou questionário (FLICK, 2009).

Diante disso, com base nos objetivos e na fundamentação teórica desta pesquisa, foi elaborado o roteiro de entrevista semiestruturada. Esse documento contemplou aspectos do histórico profissional dos participantes, suas responsabilidades na organização bem como perguntas com vistas a responder às questões de pesquisa. A concepção de Blumer (1969) no tocante aos conceitos sensibilizadores foi bastante relevante nessa construção, uma vez que esses conceitos ensejam ideias iniciais a serem perseguidas, e assim, sensibilizam o pesquisador na elaboração de perguntas acerca do seu tema específico. Os conceitos sensibilizadores desse estudo foram aprendizagem, experiência e reflexão. E, segundo Charmaz (2009, p.34), os conceitos sensibilizadores são os “pontos de partida” na concepção das questões de pesquisa, na realização das observações e busca pelos dados, sem contudo atuarem como limitadores. Ou seja, os conceitos sensibilizadores são um ponto de início e não necessariamente pontos de conclusão.

Assim, o roteiro de entrevista construído foi submetido à apreciação de dois acadêmicos que possuíam experiência na elaboração de pesquisas qualitativas em organizações. O primeiro deles foi o doutor Eduardo Lucena, orientador desta pesquisa e professor do PROPAD/UFPE; e a segunda, Daiana Ferreira, doutoranda pelo PROPAD/UFPE. Dessa forma, uma cópia do roteiro foi apresentado a eles e a pesquisadora solicitou que os mesmos avaliassem as perguntas quanto à sua clareza e pertinência no tocante aos objetivos de pesquisa. Então, os avaliadores compartilharam seus comentários e sugestões, que foram considerados pela pesquisadora.

Em seguida, realizou-se um estudo piloto com o objetivo de validar o roteiro de entrevista por meio de sua realização com um gestor que atuasse no mesmo ramo e possuísse escolaridade e responsabilidades semelhantes aos gestores pesquisados. Assim, Anderson Mendes, 44 anos; administrador; com MBA em Marketing; 22 anos de experiência em gestão e diretor da DUPLA Construtora LTDA (empresa de pequeno porte que atua na região metropolitana de Recife, no município de Olinda) foi selecionado para participar dessa entrevista piloto. A entrevista durou cerca de 50 minutos, e durante sua aplicação, percebeu-se que as perguntas contribuíram para o alcance dos objetivos propostos e o respondente as compreendeu de forma clara. Além disso, a pesquisadora teve a oportunidade de exercer previamente o papel de entrevistadora obtendo experiências preciosas para a condução das entrevistas com os participantes dessa pesquisa.

Quanto ao convite realizado aos gestores para participarem deste estudo, vale salientar alguns aspectos. Primeiramente, com o apoio da coordenadora de departamento pessoal da V&M, Janaína Fernandes, a pesquisadora identificou os gestores que atendiam aos critérios de pesquisa. Em seguida, a coordenadora de gestão estratégica de pessoas (GEP), Rafaela

Monteiro, por solicitação do diretor presidente, entrou em contato com todos eles para consultar sobre seu interesse e disponibilidade em participar da pesquisa. Diante disso, todos responderam positivamente ao convite, totalizando seis respondentes.

A partir desse momento, iniciaram-se os contatos e visitas à V&M. Ou seja, realizaram- se as entrevistas, observações e análises documentais. Os dados foram coletados no próprio ambiente de trabalho dos pesquisados, durante os meses de agosto a outubro de 2014, intervalo no qual a pesquisadora realizou 9 visitas à organização, totalizando 20 horas de convivência. Parte dessas horas foram dedicadas às entrevistas, e o tempo restante se constituiu de observações e coleta de documentos para análise. Além disso, a pesquisadora teve a oportunidade de participar de uma reunião entre um dos diretores e uma de suas lideradas para tratar da satisfação da colaboradora com a organização e traçarem juntos planos de melhoria.

Em virtude da adoção de procedimentos da Grounded Theory (GT), que serão detalhados na seção de análise dos dados, as entrevistas aconteceram em duas fases. Ou seja, cerca de dois meses após as primeiras entrevistas com os seis gestores, a pesquisadora voltou à organização para realizar a segunda rodada de entrevistas com cada um deles. Assim, em cada etapa, foram realizadas seis entrevistas, totalizando 12 depoimentos gravados, com duração média de 50 minutos cada. A utilização do gravador de áudio permitiu que a pesquisadora concedesse total atenção aos entrevistados, incluindo contato visual constante.

No roteiro de entrevistas da primeira fase (ver apêndice C), foram propostas perguntas mais gerais e abertas; e foi entregue aos participantes um formulário para construção do seu perfil profissional (ver apêndice D) e ao diretor, além desse, outro formulário para compilação de dados gerais sobre a empresa (ver apêndice E). Na segunda fase, foram abordadas questões mais particulares, focadas nos dois eventos principais de aprendizagem (ver apêndice F), com vistas a avaliar e validar com os entrevistados os construtos já elaborados. Enquanto os gestores compartilhavam suas experiências, outras perguntas eram feitas no intuito de estimular o relato de detalhes ricos e descrições robustas acerca dos temas de interesse, bem como para certificar a correta interpretação dos relatos. Assim, apesar do roteiro de entrevistas ser idêntico para todos os entrevistados, a pesquisadora explorou áreas de relevância na perspectiva de cada um em profundidade visando à construção de uma descrição rica dos achados. Além de tudo, nessa segunda fase, foi realizada a verificação de membros, que será detalhada nas seções de análise de dados e validade e confiabilidade.

De forma complementar, os dados também foram provenientes das anotações da pesquisadora advindos das observações in loco. O tipo de observação estabelecido foi o de não participante, que é o modo de observação que se priva de intervenções no campo (FLICK,

2009). A relevância da escolha pela realização de observações reside no fato de que elas se efetuaram no cenário onde o fenômeno acontece naturalmente. Ou seja, como tal fenômeno conserva uma inerente relação com o ambiente em que ocorre, as observações contribuíram para a contextualização das situações e dos relatos dos entrevistados. Nessa linha, conforme Merriam (2009, p.136), a combinação de observações com entrevista e análise de documentos promove uma interpretação holística do fenômeno que está sendo estudado.

Assim, alguns aspectos foram selecionados de antemão, conforme orientação de Merriam (2009, p.120-121) para se constituírem o foco das observações (ver apêndice G). Durante suas visitas, a pesquisadora observou a) atividades e interações b) ambiente físico c) participantes d) ações e suas significações e) impressões gerais sobre a organização e seus membros. Assim, mediante a observação de tais pontos, buscou-se o foco na identificação de fatos que contribuíssem para o alcance dos objetivos de pesquisa. Ou seja, durante as visitas, a pesquisadora observava, registrava, refletia e posteriormente comparava os conteúdos de suas notas de campo com os dados obtidos por meio das entrevistas e documentos, no intuito de enriquecer as descrições.

Quanto à última estratégia de coleta, foi selecionada a análise documental. Tal escolha é considerada a terceira maior fonte de dados na pesquisa qualitativa (MERRIAM, 2009, p. 162). Ademais, Flick (2009) indica que os documentos devem ser contemplados como uma contextualização da informação, uma forma de esclarecer ou ampliar os indícios já coletados ao invés de serem percebidos como mais contêineres de informações. Além disso, Merriam (2009) aponta que uma das vantagens da utilização de documentos é que muitos deles são de fácil obtenção, não têm custo e abrangem informações que, se fossem coletadas por outra técnica, seriam inviáveis ou extremamente custosas. Assim, neste estudo, o uso dos documentos foi focado em contribuir e ampliar as evidências levantadas pelas outras fontes.

Por conseguinte, houve um processo seguido e critérios utilizados para viabilizar o melhor aproveitamento da análise documental, conforme orientação de Merriam (2009). Assim, identificar documentos substanciais foi o primeiro passo. Com o apoio do supervisor de gestão da qualidade da V&M, Hugo Lima, foram coletados os documentos cujos conteúdos apresentavam contribuições para a resposta às questões de pesquisa. Em seguida, prosseguiu- se uma análise da autenticidade desses documentos. Todos os documentos selecionados continham o nome de quem os elaborou, o nome de quem os aprovou, a data e o local de elaboração, bem como o número da revisão daquele documento. Assim, após esses cuidados iniciais, alguns desses documentos, que serão mencionados logo a seguir, foram eleitos para utilização nesta pesquisa.

Primeiramente, o Manual da Qualidade contribuiu para a coleta de dados referentes à cultura da empresa como crença, missão, valores, bem como o organograma da empresa. As Descrições de Cargos e Funções contribuíram para a triangulação dos dados referentes às responsabilidades e atribuições de cada um dos gestores pesquisados. A Política de Incentivo à Capacitação do Colaborador, a Política de Treinamentos e o Procedimento de Gestão do Desenvolvimento Humano ampararam o conteúdo descritivo das categorias responsivas às questões de pesquisa. Ainda, o site institucional da empresa (vianaemoura.com.br) também forneceu dados que contribuíram para a descrição da organização. Os documentos mencionados, apesar de não terem sido disponibilizados para publicação, constam no acervo de dados coletados pela pesquisadora.

Por fim, alguns aspectos gerais quanto à coleta de dados devem ser enfatizados. No caso da pesquisa qualitativa de caso único o próprio pesquisador é considerado como instrumento de coleta. Além disso, tanto as perguntas das entrevistas, quanto as observações e a análise documental foram direcionadas pelo referencial teórico e realizadas com foco na busca por respostas às questões de pesquisa. Ademais, de acordo com a abordagem metodológica na qual este estudo se ampara, enfatiza-se que os dados não são percebidos como “descobertos”, mas as análises são tecidas como construções únicas. No entanto, assegura-se o rigor científico por meio da descrição detalhada e da utilização sistemática dos procedimentos metodológicos (MERRIAM, 2009).