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Emoções dos participantes: Solucionando o problema (Evento 1)

OBJETIVAS EXPERIÊNCIA CONDIÇÕES INTERNAS

5.3 Emoções e aprendizagem

Vince (2001, 2002, 2011) aponta que as emoções no ambiente organizacional são vistas como um tema desconfortável, em alguns casos tornando esse assunto ignorado e até evitado nesse contexto. Contudo, diversos autores tem buscado pontuar aspectos da relação entre emoções e aprendizagem como Schön (1983); Fenwick (2003); Antonacoupoulou et al (2005); Woerkom (2010) e Jordi (2011). Além disso, outros autores como Vince (2002); Boud (1985; 2006); Simpson e Marshall (2010); e Shipton e Sillince (2012) destacam que a emoção é essencial para que a aprendizagem ocorra. E que ela é o gatilho emocional que não somente desperta a reflexão como permeia todo o processo reflexivo (ELKJAER, 2004, 2013; DEWEY, 1916, 1934, 1959). Nesse sentido, Boud (2006) é enfático ao declarar que a aprendizagem é carregada de fortes emoções.

Assim, apesar de algumas organizações, ainda que implicitamente, orientarem que as emoções devem ser evitadas ou ignoradas, a literatura concernente ao tema indica o contrário. Dewey (1934) relata que, apesar de dolorosos, grande esforço e conflito devem ser desfrutados, pois essa é a maneira de desenvolver uma experiência. Ainda, Vince (2002) realça que há um momento estratégico com que cada indivíduo ou grupo se depara onde ele(s) tem o poder de escolher se a ansiedade gerada pela incerteza vai ser encarada e trabalhada, gerando novos conhecimentos, ou se ela vai ser ignorada ou evitada gerando uma ignorância consentida. Dewey (1959), de forma semelhante, também relata que o pensamento inicia em uma bifurcação de caminhos.

Isto posto, apesar de as emoções estarem presente em todas as fases do pensamento reflexivo, nesta pesquisa o foco foi dado às emoções presentes em dois momentos específicos, denominados por Shipton e Sillince (2012) de validação e invalidação. Os momentos de validação são aqueles em que as ações dos indivíduos e da organização estão em alinhamento com as expectativas que se tem deles, denotando uma situação de relativo conforto. Por outro

lado, as situações de invalidação se configuram por seu caráter de desalinhamento entre o que é esperado e o que está de fato acontecendo, sinaliza que mudanças podem ser necessárias.

Shipton e Sillince (2012) defendem que em situações de invalidação, há a margem para o surgimento de emoções como ansiedade e frustração, enquanto que em momentos de validação, conforto e excitação são evocados devido ao alcance de objetivos e à redução de desafios. Diante disso, os achados da presente pesquisa reforçam a proposição destes autores. Neste estudo, as situações de invalidação foram os momentos da vivência dos problemas (Evento 1 e 2), pois o próprio fato da existência de um problema denota que as expectativas não estavam sendo atendidas. E os momentos de validação foram aqueles nos quais os gestores solucionaram os problemas os quais estavam vivenciando. Conforme o Quadro 8 (5) abaixo, as emoções relatadas pelos participantes, apesar de diversas, puderam ser classificadas nessas quatro categorias propostas por Shipton e Sillince (2012), devido às suas semelhanças.

Quadro 8 (5) – Classificação das emoções dos gestores da V&M nas categorias de Shipton e Sillince (2012)

Situações Categorias de

Emoções Emoções dos gestores da V&M (Evento 1) Emoções dos gestores da V&M (Evento 2) Validação Excitação Felicidade; Alegria;

Inspiração; Animação; Empolgação; Entusiasmo; Curiosidade. Felicidade; Alegria; Flexibilidade; Otimismo; Motivação; Capacidade; Expectativa. Validação Conforto Confiança; Tranquilidade;

Aceitação; Segurança; Alívio; Orgulho; Satisfação;

Conforto; Convicção; Esperança.

Confiança; Tranquilidade; Aceitação; Segurança; Alívio; Orgulho; Calma; Paz.

Invalidação Ansiedade Medo; Dúvidas; Insegurança; Confusão; Preocupação;

Ansiedade.

Medo; Dúvidas; Insegurança; Apreensão; Pressão. Invalidação Frustração Frustração; Tristeza;

Resistência; Exaustão; Culpa;

Frustração; Tristeza; Vergonha; Decepção;

Constrangimento; Desesperança;

Abatimento; Desapontamento. Fonte: Elaborado pela autora

Contudo, apesar da grande maioria das emoções puderem ser classificadas nas categorias propostas por Shipton e Sillince (2012), algumas ficaram de fora. Não pelo fato de não se encaixarem nas classificações, mas por surgirem em momentos diferentes do esperado. Um exemplo deste ocorrido é o relato das emoções de dúvida, apreensão, confusão, tensão, estresse e preocupação mesmo no momento de validação do Evento 1. O mesmo ocorreu no momento de validação do Evento 2, onde as emoções de arrependimento, ansiedade e dúvidas

foram relatadas. Esses momentos pressupõem emoções “positivas”. Ainda assim, neste aspecto, os achados dessa pesquisa se alinham com outra proposição de Shipton e Sillince (2012) que aponta que ao menos duas emoções fortes podem ser coexistentes. E que o fato de experienciar emoções ambivalentes pode capacitar as pessoas a lidar com emoções intensas.

Este ponto também reforça os achados de Simpson e Marshall (2010) que enfatizam que emoções “positivas” e “negativas” podem coexistir. Acerca deste ponto, não somente os momentos de validação tiveram emoções ambivalentes, mas também os momentos de invalidação. No momento de invalidação do Evento 1, em paralelo às emoções “negativas” os gestores relataram motivação, entusiasmo, esperança e alívio. Já no Evento 2, eles relataram afirmação, calma e segurança ao mesmo tempo que vivenciavam emoções “ruins”.

Além disso, Boud (2006), Simpson e Marshall (2010), dentre outros, apontam que é quase inevitável que situações de aprendizagem não gerem ansiedade. Acerca deste ponto, a presente pesquisa, como já mostrado no Quadro 8 (5)encontrou emoções decorrentes da ansiedade tanto no Evento 1 quanto no Evento 2, confirmando assim, os conceitos propostos. Considera-se que este fato é consistente uma vez que a ansiedade por uma situação futura diferente e melhor pode direcioná-los ao alcance dos objetivos almejados, gerando assim resolução de problemas e aprendizado.

Vince (2011), em seu estudo realizado com gestores no contexto de uma sala de aula, identificou que eles apresentaram ansiedade, ambivalência, ânsia por descobertas, postura defensiva, preocupação, boas ideias, competitividade, conhecimentos úteis e não úteis. O presente estudo também confirma a maioria das emoções identificadas pelo autor – ainda que expressas com outras palavras – com exceção da competitividade, que não ficou evidente nos relatos dos gestores. Acredita-se que essa divergência tenha se dado pelo fato de que os problemas vivenciados pelos gestores da V&M estavam afetando a todos, e uma postura de cooperação em contraposição à uma de competição tinha mais chances de contribuir para o resultado comum positivo. Além disso, o fato da crença norteadora da empresa incluir o tema da cooperação entre seus membros pode ter interferido em sua postura diante do problema.

Por fim, Shipton e Sillince (2012) também acentuam que por meio de seus achados encontraram diferenças sutis nas emoções de acordo com as posições hierárquicas ocupadas pelos indivíduos. Este aspecto não ficou evidenciado na presente pesquisa, uma vez que boa parte das emoções relatadas pelos diretores também foram de certa forma experienciadas pelos demais gestores. Por outro lado, o que pôde ser inferido foi que independentemente do nível hierárquico, houve uma sutil diferença de emoções entre as pessoas mais envolvidas na fonte do problema e as pessoas mais distantes desse aspecto. Acredita-se que as pessoas mais

próximas, por terem mais informações e também mais participação na origem do problema relataram emoções mais intensas e mais relacionadas com a situação específica (vergonha, culpa, arrependimento, abatimento), e os que tinham menos informação, relataram emoções mais conectadas com o futuro da empresa em si, pois possivelmente não sentiam que a solução dos problemas estavam sob seu controle.

Diante do exposto com este capítulo, intencionou-se a realização de uma discussão entre os resultados encontrados neste estudo com os de outros já realizados, assim como com as teorias apresentadas. Grande parte dos resultados desta pesquisa confirmaram os estudos prévios realizados, havendo algumas ampliações e divergências. De forma geral, todos esses aspectos são considerados como avanços nos estudos concernentes aos temas discutidos.