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Emoções dos participantes: Solucionando o problema (Evento 1)

5 Discussão dos Resultados

Neste capítulo será construída uma discussão no tocante aos achados encontrados nesta pesquisa. Considera-se que as contribuições do presente trabalho estão nas confirmações, ampliações e/ou divergências apresentadas entre os resultados desta pesquisa e as proposições dos autores clássicos e participantes dos debates atuais acerca dos conceitos sensibilizadores de experiência e reflexão. Além disso, os resultados encontrados permitiram que além das respostas aos objetivos propostos, fosse realizada uma descrição interpretativa acerca das emoções na aprendizagem por meio dos relatos dos gestores. Assim, este capítulo será dividido em três seções, nas quais os achados desta pesquisa serão contrastados com as teorias e estudos empíricos que orientaram este estudo. A primeira seção versa sobre o aspecto transacional das experiências. A segunda destaca pontos acerca das fases do pensamento reflexivo e a última, sobre as emoções na aprendizagem.

5.1 Aspecto transacional das experiências

A abordagem adotada nesta pesquisa para compreender a aprendizagem pela experiência se fundamentou em grande parte na terceira via da aprendizagem proposta por Elkjaer (2004, 2013) com base nos conceitos de Dewey de experiência e reflexão. Um dos pontos importantes propostos por esta vertente é o de que o conteúdo da aprendizagem é o desenvolvimento da experiência como parte de uma contínua transação entre indivíduos e organização. Nessa linha, Dewey (1916) aponta que quando um indivíduo tem uma experiência, ele age, atua sobre algo e experimenta as consequências conectadas a isto. Dewey (1934) também menciona que as experiências ocorrem continuamente, uma vez que as interações entre criaturas e ambientes são processos naturais da vida.

Ainda, Westbrook e Teixeira (2010) – em seu livro intitulado “John Dewey” elaborado como parte de um conjunto de livros acerca dos principais pensadores internacionais da educação – resgatam conceitos fundamentais de Dewey que são reforçados por esta pesquisa. Inicialmente, eles destacam que “tudo existe em função das relações mútuas, pelas quais os corpos agem uns sobre os outros, modificando-se reciprocamente” (WESTBROOK; TEIXEIRA, 2010, p. 33). Eles apontam que a experiência é uma forma de interação, por meio

da qual as duas partes que nela são inseridas – o contexto e o ator – se modificam por meio de uma mútua formação de ambos. Nessa linha, Fenwick (2003) destaca que o processo de aprendizagem “costura” os indivíduos às atividades, objetos e pessoas de diferentes contextos os quais eles modificam como aprendizes.

Estes dois participantes das experiências – indivíduos e contextos – também são compreendidos como sendo as condições internas e objetivas da experiência. Segundo Dewey (2011), as condições internas são formadas pelos desejos, necessidades e propósitos dos indivíduos. Sendo esses propósitos, as propostas e planos que viabilizam o alcance dos desejos e necessidades compreendidos na situação. Já as condições objetivas são os fatores ambientais, estímulos e elementos físicos que exercem influência na experiência.

De forma semelhante, Illeris (2013) aponta que a aprendizagem é constituída da interação entre indivíduo e ambiente – condições internas e externas – sendo as internas o conjunto de características do aprendiz que influenciam na aprendizagem, como disposições, idade e situação subjetiva. Já as condições externas são fatores situados fora do indivíduo que influenciam na aprendizagem como o contexto, a cultura, a sociedade e a situação objetiva em si. Nessa linha, Antonacoupoulou (2006) destaca que o contexto atuante na aprendizagem de gestores vai muito além do organizacional, chegando ao ramo de atuação bem como às pressões da sociedade como um todo. Contudo, apesar de haver esta separação didática entre fatores internos e objetivos da experiência, a perspectiva proposta por Elkjaer (2004, 2013) visa a integração entre essas duas dimensões da experiência de forma transacional, defendendo a mútua formação de ambos.

Isto posto, destaca-se que os resultados encontrados no presente estudo reafirmam as ideias de Dewey (1916, 1934, 2011), Fenwick (2003), Illeris (2013) e Antonacoupoulou (2006), chegando a ampliar de certa forma os conceitos de Elkjaer (2004, 2013), no tocante às transações entre indivíduos e ambiente no processo de aprendizagem. Primeiramente, os achados constituintes de ambos os Eventos de aprendizagem vivenciados pelos gestores da V&M evidenciam aspectos acerca da transação entre indivíduos e organização, defendida pelos mencionados autores.

Contudo, de forma mais ampla do que a proposição de Elkjaer (2004, 2013) de transação entre indivíduos e organização, foi identificada a influência de um contexto muito maior sobre o processo de aprendizagem dos gestores, transcendendo a organização e abarcando à indústria da construção civil, bem como a sociedade, de forma condizente com os achados de Antonacoupoulou (2006). Acredita-se que isso se deva ao fato de que os Eventos de aprendizagem estudados foram Eventos sistêmicos e críticos, e por consequência, tiveram

impacto em tão grande contexto intra e extraorganizacional. Acredita-se que a proposição de Elkjaer (2004, 2013) é válida para Eventos organizacionais corriqueiros e mais simples onde as interferências e impactos sejam mais reduzidos.

Diante disso, com base nos achados do presente estudo, a Figura 8 (5) abaixo ilustra os elementos que influenciaram na aprendizagem dos gestores da V&M, e que também representam os níveis em que a aprendizagem ocorreu.

Figura 8 (5) - Elementos que influenciaram na aprendizagem e níveis nos quais ela ocorreu

Fonte: Elaborado pela autora

Utilizando a experiência da mudança da modalidade de financiamento como exemplo, defende-se que os fatores internos de cada gestor exerceram influência na aprendizagem, uma vez que eles tomaram a decisão da mudança em conjunto, onde cada um expôs os seus aspectos subjetivos individuais e assim atuaram na busca por atender aos desejos, necessidades e propósitos identificados. O resultado desse conjunto de aspectos subjetivos e individuais de cada gestor se tornou algo compartilhado por todos uma vez que eles tomaram a decisão pela mudança com o consentimento e alinhamento de todos os envolvidos. Assim, após as transações que ocorreram entre suas interações com os demais gestores já houve uma mútua formação entre eles ao gerar propósitos comuns a todos.

Ainda, ao decidir pela mudança para “alocação de recursos”, os gestores sofreram influência uns dos outros, dos processos vigentes na V&M, bem como de suas estratégias,

objetivos, situação financeira, que direcionaram o rumo das decisões e consequente aprendizagem. Além disso, as pressões provenientes do aquecimento do mercado da construção civil, da CEF, a alta demanda por habitações, bem como a insatisfação dos clientes com os resultados da V&M enquanto adotava a modalidade de “apoio à produção” constituíram um conjunto de fatores objetivos que influenciaram no aprendizado dos gestores. Em consonância com Dewey (1916, 1934, 2011) e Elkjaer (2004, 2013), os achados deste estudo apontam que os fatores objetivos também foram aspectos impactados pelos gestores, por suas decisões, por sua aprendizagem e pelas mudanças empreendidas por eles.

Ou seja, reforça-se a mútua formação entre os gestores da V&M e seu amplo contexto. Em primeiro plano, os gestores estimulados por fatores objetivos como a CEF, as demandas do ramo e dos clientes e a conjuntura financeira da empresa decidiram mudar de modalidade. Tal decisão dos gestores realizou mudanças negativas na satisfação do cliente, acentuando a demanda do mercado e agravando a conjuntura financeira da empresa. Diante disso, ao serem impactados por esses fatores ambientais, os gestores ao refletirem e decidirem por uma nova mudança foram transformados pelo conjunto de seus fatores internos e objetivos e aplicaram uma nova modalidade que continuou a impactar e interferir nas condições objetivas que os cercavam. Mediante tal relato defende-se as evidências das mútuas formações que intercorreram entre indivíduos e contextos na presente pesquisa, os quais se deram de forma contínua.

Tais acontecidos reforçam de forma integral os conceitos de Dewey (1916, 1934, 2011) a respeito do aspecto transacional da experiência e da mútua formação de indivíduos e contextos. Fenwick (2003) também aponta de forma coerente que a conexão entre os indivíduos e seu contexto durante experiências de aprendizagem é tão íntima que o indivíduo aparenta estar “costurado” ao seu contexto. Advoga-se nesse caso, que uma ênfase deveria ser dada à uma “mútua costura” entre indivíduo e contexto com vistas a apresentar os dois fatores da experiência como equiparados, uma vez que não só o indivíduo modifica o contexto mas o contexto também modifica o aprendiz.

Ainda, os achados da presente pesquisa também reforçam a maioria das ideias de Illeris (2013), no tocante a quais são as influências externas e internas que atuam na aprendizagem dos indivíduos. Contudo, não foram encontrados indícios claros que reforcem a proposição de Illeris (2013) de que a idade tenha influenciado nas condições internas dos gestores. O único ponto acerca disso é que foi percebida uma maior influência de Pedro sobre os demais gestores – o qual tem maior idade – mas ao mesmo tempo, ele é quem ocupa o cargo de maior hierarquia na organização e também é o proprietário da empresa. Dessa forma, não se atribui essa

influência à sua idade apenas, mas também não se exclui a possibilidade de influência desse fator, uma vez que a sua idade também representa maior experiência em comparação com os demais gestores.

Ademais, a Figura 9 (5) aponta o caráter transacional da experiência vivenciada pelos gestores no Evento 1. Ou seja, a volta à modalidade de “alocação de recursos” foi proveniente de uma transação contínua entre os aspectos objetivos que atuaram como estímulos e a união das necessidades, desejos e propósitos dos gestores. Assim, as ações empreendidas pelos gestores ao viver essa experiência foram orientadas para o alcance de seus propósitos.

Figura 9 (5) – Aspecto transacional da experiência: Evento 1 Fonte: Elaborado pela autora

Assim, reitera-se o caráter transacional dessa experiência que foi composta pelas condições objetivas e internas que mutuamente se formaram. A Figura 9 (5) visou demonstrar que o conjunto dos estímulos, necessidades, desejos e propósitos criaram a experiência inicial de dificuldade e transtornos para os gestores ao adotarem a modalidade de “apoio à produção”. Ainda, no processo de mútua formação, esses fatores continuaram a exercer influência na aprendizagem dos gestores. E eles, após vivenciarem essa experiência, sentirem as emoções atreladas e refletirem, decidiram implantar uma nova modalidade que mudou novamente tanto as condições objetivas quanto as internas da experiência, corroborando com os conceitos dos autores mencionados. Estímulos: Insatisfação dos clientes Aquecimento do mercado Escassez de recursos financeiros Burocratização dos processos Dificuldade: Adoção da modalidade de “apoio à produção” Mudança: Adoção da modalidade “alocação de recursos” Necessidade: Satisfação de Clientes Estabilidade Financeira Desejo: Melhoria dos processos Propósito: Adoção de uma modalidade adequada à V&M CONDIÇÕES