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1 O DIREITO AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO, O

1.6 COMPETÊNCIAS CONSTITUCIONAIS

1.6.1 Competência constitucional para proteção do meio ambiente

Na proteção do meio ambiente, a repartição de competência acompanha os mandamentos gerais de distribuição de competência estabelecidos na Constituição Federal. Competências ambientais de proteção ao meio ambiente são compreendidas como a cooperação para o exercício de atribuições juridicamente conferidas a determinado ente federativo visando o cumprimento do dever de defender e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações.

Exclusivamente, em matéria ambiental, compete à União, segundo artigo 21, da Constituição Federal: elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social81, inciso IX; planejar e promover a defesa

81Um exemplo do exercício desta competência é o Programa “Territórios da Cidadania”, lançado pelo Governo Federal em 2008 para promover o desenvolvimento econômico e universalizar programas básicos de cidadania, em parceria com Estados e Municípios, de territórios selecionados pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário. 120 territórios foram selecionados em todo Brasil. A Seleção teve como critério a ausência de programas sociais, infraestrutura e serviços assenciais nestes locais. (Portal da Cidadania. Disponível em: <http://www.territoriosdacidadania.gov.br/dotlrn/clubs/territriosrurais/one-community>. Acesso em: 25 fev. 2012).

permanente contra as calamidades públicas, especialmente as secas e inundações, inciso XVIII; instituir o sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso, inciso XIX; instituir diretrizes de desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos, inciso XX; e explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e o reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados segundo os princípios e condições dispostos neste inciso XXIII.

Nesta mesma classificação, são reservadas aos Estados, segundo artigo 25, as competências que não lhes sejam vedadas pela constituição, §1º; explorar diretamente ou mediante concessão serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação, §2º.

Aos Municípios, compete exclusivamente, segundo artigo 30, promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e a ocupação do solo urbano, inciso VII; e promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.

O exercício da competência material comum entre os entes, em matéria ambiental, encontra-se disposto no artigo 23 da Constituição Federal, especialmente para: proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos, inciso III; impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico e cultural, inciso IV; proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas, inciso VI; preservar as florestas, a fauna e a flora, inciso VII; e registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios, inciso XI. A Lei Complementar nº 140/2011 fixou normas de cooperação para referidos incisos III, IV e VII deste artigo, conforme se esperava, segundo o parágrafo único.

A Lei Complementar considera licenciamento ambiental como procedimento chave a ser utilizado pelos entes nas ações de proteção ao meio ambiente. Enquanto cooperação propriamente, a lei considera: a atuação supletiva, como a ação de um ente federativo que substitui o outro originariamente detentor das atribuições; e atuação subsidiária, como ação de auxílio de ente federativo no desempenho das atribuições de outro ente federativo. As atribuições para ambas as ações serão definidas no capítulo III da lei que trata das Ações de

Cooperação onde os artigos reúnem ações administrativas da União, artigo 7º; dos Estados, artigo 8º; dos Municípios, artigo 9º, e do Distrito Federal, artigo 10.

Também é importante citar que o capítulo II desta Lei Complementar arrola instrumentos de cooperação de que podem se utilizar os entes federativos. Dos instrumentos previstos no artigo 4º, chamam atenção as formações de Comissões Tripartites: Nacional e Estaduais, das quais participam os Municípios, e a Comissão Bipartite, da qual participam União e Distrito Federal. Inicialmente, a função destas Comissões é propor tipologias relativas às atribuições para o licenciamento ambiental, quando as ações de proteção envolverem o interesse da União e outro ente federativo considerados o critério de porte, potencial poluidor e natureza da atividade ou do empreendimento.

É importante destacar que cada ente federativo, segundo a lei, terá como atribuição a formulação, a execução e o cumprimento de sua Política de Meio Ambiente. Neste sentido a União terá sua Política Nacional do Meio Ambiente, segundo o inciso I, do artigo 7º82, o

Estado terá sua Política Estadual do Meio Ambiente, segundo o inciso III, do artigo 8º, e o Município terá sua Política Municipal de Meio Ambiente. Também se destaca a organização e manutenção do Sistema Nacional de Informação sobre o Meio Ambiente – SINIMA em cada ente federativo.

No tocante às competências legislativas, é competência privativa da União, segundo artigo 22, legislar sobre: águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão, inciso IV; jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia, inciso XII; e atividades nucleares de qualquer natureza. É competência exclusiva dos Estados, segundo artigo 25, § 3º, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões constituídas por grupos de Municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.

E compete exclusivamente aos Municípios, segundo o artigo 30, I, legislar sobre assuntos de interesse local.

Ainda na classificação de competência legislativa, na forma concorrente, compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal, segundo artigo 24 da Constituição Federal, legislar concorrentemente sobre: florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição, inciso VI; proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico e paisagístico, inciso VII; e, sobre a responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor

82Este inciso deixa no ar uma dúvida, pois a Política Nacional do Meio Ambiente já foi formulada por meio da Lei federal nº 6.938/1981.

artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, inciso VIII. Aos Municípios, conforme regra do artigo 30, II, compete suplementar a legislação federal e estadual no que couber.

Esta competência suplementar, importante sublinhar, é necessária para suprir lacunas deixadas pela legislação federal e estadual, atuando o Município, neste sentido, de forma complementar e de acordo com seu peculiar interesse. Em matéria ambiental, a competência suplementar também está disposta no artigo 6º, §§ 1º e 2º da Lei federal nº 6.938/1981, já abordada, que tratada da Política Nacional do Meio Ambiente e estabelece o Sistema Nacional do Meio Ambiente.

No conflito de normas de proteção ao meio ambiente aplica-se como exposto: a) o princípio da satisfação do interesse público; b) a análise dos limites constitucionais e complementares, uma vez que a sobreposição de competência implica na inconstitucionalidade da norma que invade competência, seja esta federal ou estadual; ou d) aplicado o princípio in dubio pro natura, podendo prevalecer a norma ampare o direito ao meio ambiente se esta busca a satisfação do interesse público, e que, por consequência, não atenta contra a dignidade da pessoa humana e nem viola direitos e garantias fundamentais.