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COMUNIDADES E REDES SOCIAIS ASSOCIATIVISMO

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CAPÍTULO II – PENTECOSTALISMO(S) – PRÁTICAS RELIGIOSAS, IMPACTOS

2.4. COMUNIDADES E REDES SOCIAIS ASSOCIATIVISMO

As igrejas pentecostais podem ser consideradas como espaços de organização social e de sociabilidade (RIVERA, 2012, p. 25), o que pudemos confirmar na pesquisa. Logo são ambientes culturais que compõe em sentido mais amplo o meio ambiente cultural.

Partindo dessas premissas, a religião institucionalizada constrói laços fortes entre familiares, entre amigos, quando inseridos nos grupos religiosos e dessa forma geram comunidades que ao transitarem por uma ou outra igreja vão compondo outras “redes sociais” (NORONHA, 2012). Nessas redes sociais, moradores-fiéis e suas lideranças religiosas interagem de maneira inclusiva, sendo que, em muitas delas criam-se estruturas de oportunidades em trabalhos e estudos, além de criarem lideranças que podem também ter posições de destaque, como v.g.: presidente da associação de moradores, representantes políticos, etc., gerando assim, uma cultura de atuação para um determinado coletivo.

Para Souza (2013, p. 181) esse “associativismo religioso [...] propiciador da produção de capital social problematiza a suposta existência de fronteiras rígidas entre o religioso e a política, explicitando a porosidade ou, talvez, a artificialidade de tais fronteiras”.

Em uma das instituições pesquisadas tivemos a oportunidade de presenciar a participação de trabalhos assistenciais coordenados por pastores e demais membros que ao trabalharem ou estudarem uma determinada profissão, prestam um serviço comunitário de maneira voluntária, v.g.: verificação de pressão e índice glicêmico, corte de cabelo, orientação jurídica, etc. Todavia, não encontramos representantes dessa instituição propriamente dita, atualmente envolvida em outras redes sociais como descrito anteriormente em outra pesquisa129 no bairro.

Foto 12. Anúncio da Ação Social promovida pela Sociedade Beneficente Shekinah em Igreja Pentecostal.

Créditos: Marcos Scarpioni, 2014

129 Dissertação apresentada por NORONHA (2010, p.83), na qual está descrito a participação da Assembleia de Deus Ministério de Madureira (Vila Niwa) especificamente em redes sociais em outros bairros, como é o caso da “REDE SOCIAL” com sede no bairro Jd. Santa Tereza.

Constantemente é anunciado em outras duas instituições obras de caridade, sendo que em uma dessas, existe uma fundação que cuida de pessoas idosas, carentes, além de crianças abandonadas, sem moradia, porém, não na vila, mas na região central de São Paulo. Na outra, embora não se tenha a participação em outras redes, segundo os ensinamentos internos da instituição, tem-se o desenvolvimento de um trabalho específico para com os próprios membros, especialmente aqueles desempregados, em situações econômicas precárias, com carências de vestuário, alimentação, conhecido como “obras de piedade”.

Entretanto, não foi possível testemunhar nessas duas últimas instituições parcerias com outras instituições seculares, como v.g.: associações amigos de bairro. Só tivemos contato com suas obras assistências de maneira informal, por meio dos discursos das lideranças em reuniões cúlticas e testemunhos informais de um ou de outro membro, além das informações disponíveis e consultadas via internet, como é o caso da Fundação Reviver.

Curiosamente, esse associativismo e assistencialismo que são desenvolvidos nessas instituições, surgem à margem da Política130de Assistência Social, ao não se posicionarem de

maneira mais efetiva para o cumprimento dessa legislação sobre assistência social existente desde 1993, exigindo dos governantes, uma atuação mais concreta em sentido de garantir os “mínimos sociais” (proteção social, a família, a maternidade, etc.).

Se por um lado, essas prestam auxílio aos mais desfavorecidos social e economicamente, colocando-se na brecha ou até mesmo na ausência de atuação do poder pública, por outro contribui de maneira antagônica para aumentar ainda mais o fosso da prestação de assistência social efetivada pelo Estado, o que é direito do cidadão e dever do Estado como preconizado no primeiro artigo da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS). Também não apuramos um incentivo por parte da administração municipal em fazer parcerias com as instituições religiosas pentecostais visando a maior participação desses na gestão da cidade e consequentemente na melhoria da qualidade de vida local.

Temos então uma atuação religiosa frente às ausências de atuação do poder público, afinal, esse assistencialismo, de acordo com as lideranças seria desenvolvido de maneira autônoma e mantido, exclusivamente pelas doações de fiéis e, em algumas situações pela aceitação de recursos vindos de uma ou outra instituição privada que se sensibilizam com tais questões e aderem aos seus trabalhos.

130 Leio Orgânica de Assistência Social (LOAS) Lei de nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, a qual está previsto as diretrizes e procedimentos que as entidades que prestam serviços assistenciais a população possam formar parcerias junto aos governos e ter subvenção para a realização de seus os projetos.

Diferente do que observamos no bairro Vila Niwa, onde não encontramos nenhuma rede social do tipo, Associação de Moradores (amigos de bairro), ou grupos sindicalizados que se reúnem e discutem os problemas sociais, políticos, culturais, ambientais locais, no Parque América pudemos registrar outras associações.

Se na Vila Niwa, somente as igrejas constituem as redes de discussões dos problemas sociais, e mesmo assim, enfatizando mais as questões comportamentais do indivíduo inseridas em seu grupo para que os mesmos reproduzam a conduta religiosa da mesma maneira em sociedade, no Parque América, as outras instituições sociais aparentam possuir um potencial maior em discutir as questões sociais do bairro.

No bairro, existe uma Associação de Moradores do Parque América, onde são feitas reuniões aos finais de semana, com a participação dos moradores em geral, independente de sua pertença, para discutirem e buscarem alternativas para a redução dos problemas sociais, como: a falta de lazer, complemento no ensino básico, combate e controle as drogas lícitas e ilícitas. Há também, o grupo Uneafro, o qual promove na associação atividades educativas,

v.g.: reforço escolar, ensino de artes - música, dança, teatro, etc.

Entretanto, pudemos constatar que nem todas as instituições pentecostais no bairro se envolvem diretamente nessas redes sociais, ou em associações que discutem políticas, como é o caso da Congregação Cristã no Brasil. A CCB orienta e faz exigências para seus membros ministeriais, quanto ao afastamento da direção de sindicatos, associações de classe ou associações de moradores. Pois, segundo alguns de seus tópicos131 de ensinamentos, o

exercício dessa liderança sindical, classista, geraria divergências sociorreligiosas, sendo atividades incompatíveis com as atividades desenvolvidas na instituição religiosa, como pode ser observado:

SINDICATOS E ASSOCIAÇÕES DE CLASSE: Irmãos de ministério não devem participar da direção de sindicatos e associações de classe (tópicos de ensinamentos 35/2001).

SINDICATOS, ASSOCIAÇÕES DE CLASSE E ASSOCIAÇÕES DE MORADORES: Aconselhamos a irmandade a não participar da direção de

sindicatos, associações de classe ou associações de moradores. A Congregação não se envolve em assuntos estranhos à doutrina. Se um irmão tiver que pertencer

a um sindicato, poderá fazê-lo, porém, não deverá ocupar cargos de direção, uma vez que tais cargos são sempre partidários, gerando divergências incompatíveis com o nosso sentimento de paz. Da mesma forma, não devemos nos envolver em movimentos de protestos ou invasão de terras, quer na área urbana, pretendendo a posse de imóveis na cidade, quer na área rural, invadindo glebas de terras.

Porém, se em alguma localidade o Governo fizer distribuição de imóveis e um irmão quiser se cadastrar para receber essa doação, não há inconveniente (tópicos de ensinamento 04/2004, grifo nosso).

131 São considerados os ensinamentos doutrinários da CCB, disponíveis para consulta em o sítio: www.ccbhinos.com.br.

Dessa maneira, embora constatado em outros trabalhos que os pentecostais se aproximam de outras redes sociais, em outros bairros na cidade (NORONHA, 2010), não podemos afirmar que os religiosos nesses bairros participem dessas ou de outras redes sociais em outros bairros, pois, não encontramos nenhum indício de participação desses pentecostais nessas outras redes, o que seria muito enriquecedor em trocas de experiências e ganho de capital social, simbólico (SCARPIONI; NORONHA, 2013).

Para Gohn (2010, p. 279) essas redes são importantes, interessantes ao criarem outros vínculos com agentes externos, que podem ser subdivididos em duas categorias: aqueles que desenvolvem ações sociais de diferentes tipos [...] [nas comunidades] e os que apoiam financeiramente os projetos sociais ou a mídia ([...], fundações empresariais e outros agentes do terceiro setor). Dessa maneira, a aproximação entre instituições religiosas e seculares contribuiria deveras para a difusão de todo o trabalho que os pentecostais porventura tenham realizado ou venham realizando no enfrentamento dos problemas e conflitos socioambientais.

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