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O(s) PENTECOSTALISMO(s) EM SÃO PAULO RELIGIÃO URBANA E

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CAPÍTULO II – PENTECOSTALISMO(S) – PRÁTICAS RELIGIOSAS, IMPACTOS

2.2. O(s) PENTECOSTALISMO(s) EM SÃO PAULO RELIGIÃO URBANA E

A religião está presente tanto no rural quanto urbano. Porém, é na cidade que a religião irá adquirir contornos mais dinâmicos já que nos sistemas urbanos, há uma pluralidade de alternativas, que possibilitam a mistura de deuses e, sobretudo, a realização de múltiplas escolhas (RIVERA, 2010b, p. 131).

Como já visto, é na metade do século XX que o movimento de cura divina se instalou de maneira patente em São Paulo e se espalhou pelo Brasil afora. É no pós-segunda guerra mundial, no período desenvolvimentista, com a industrialização no sudeste e sob o intenso processo de urbanização, que esse movimento religioso avançou por quase todos os estados do país. As instituições pentecostais encontraram condições mais favoráveis para seu estabelecimento na cidade por sua ousadia, autonomia, criatividade e competitividade religiosa, fatores que garantiram sua fixação não só nos centros de algumas cidades, mas, também em áreas mais periféricas.

As grandes cidades ditas metrópoles, foram (e continuam sendo) incapazes de absorver de maneira adequada os imigrantes ou migrantes, então, é dessa incapacidade que começaram a surgir os espaços urbanos “alternativos”, com grande precariedade, extremamente segregários, principalmente nas áreas mais periféricas de São Paulo, onde os “maiores grupos pentecostais construíram suas sedes nacionais, com o desenvolvimento de congregações (pequenas e médias igrejas)” (CAMPOS Jr., 1995, p.87). E seria nesses espaços, em meio a uma cultura da pobreza que teria medrado o movimento de cura divina (MENDONÇA, 2008, p. 135).

De acordo com Mendonça (1990, p. 52) como um rastilho de pólvora rapidamente se expandiu o pentecostalismo trazido por Harold Willians em 1953, para o Brasil, oriundo das atividades da Igreja do Evangelho Quadrangular estadudinense, fixado em São Paulo pelas intensas campanhas em tendas de lona com o nome genérico de Cruzada Nacional de Evangelização.

Além do falar em línguas estranhas, a salvação da alma, o batismo com o Espírito Santo, a cura divina e a segunda vinda de Cristo, eram as crenças que compunham os fundamentos desse pentecostalismo emergente, e também outras inovações foram sendo incluídas, segundo (CAMPOS, 2004) um conjunto de parafernálias eletrônicas e comunicações radiofônicas tanto em reuniões cúlticas em templo quanto em reuniões em espaços ao ar livre.

Essas instituições são interpretadas por Giddens (2008, p. 451) como as “igrejas eletrônicas que operariam por mídia e não [só] por reuniões da congregação local”, demonstrando as consequências de uma modernidade, que se diferencia, avança, constituindo uma modernidade que inova com as rupturas dos paradigmas modernos.

Esse pentecostalismo dinâmico teria o seu ápice até o início da década 60 quando surgiriam novas instituições religiosas - Igreja Pentecostal Deus é Amor - que se apropriaria de outra estratégia para atingir o maior número de pessoas, um discurso difuso por meio do “rádio que desempenhou um importante papel na formação de uma rede de sustentação mútua, um autêntico círculo vicioso envolvendo a mídia, o líder carismático e os milagres a ele atribuídos” (CAMPOS, 2004, p.155).

Como nova estratégia de difusão da IPDA, foi feita a apropriação de um antigo armazém industrial para ocupação do maior número de pessoas que transitavam na região uma vez que, ali a pregação se inseriria no mundo do trabalho, no cotidiano das pessoas e não mais somente aos finais de semana (FRESTON, 1996, p. 35). A Voz da Libertação, programa de rádio muito difundido em São Paulo e em outros estados brasileiros e até mesmo em países estrangeiros, durando mais de cinco décadas e perdurando até os nossos dias atuais, se mantendo por apresentar: conversões, testemunhos de curas e libertações e outros milagres.

É fato inegável que a televisão foi e continua sendo um instrumento importante de comunicação em massa muito utilizado por evangelistas norte-americanos. Pois, esses pregadores com seus discursos ao penetrarem nos lares, podem influenciar comportamentos pela sutileza com que introjetam regras, dogmas no inconsciente coletivo, contribuindo de maneira pragmática, cultural, econômica, social no cotidiano dos indivíduos em toda a sociedade contemporânea. Dessa forma, os interesses de uma classe dominante “tomam partido do consenso, acordo fundamental sobre o sentido do mundo social” (BOURDIEU, 1998, p. 121).

Não nos aprofundaremos em ilustrar como o pentecostalismo tornou-se urbano e tecnológico, mas, podemos afirmar que existiram programas consagrados como Fé para Hoje (1950) importado dos Estados Unidos e a Voz da Profecia (1962), programas que contribuíram para a explosão do televangelismo e as igrejas eletrônicas nos anos 60 e 70 (CAMPOS, 2004, p. 157).

No final da década de 80 com a Pr. Valnice Milhomes, novamente esse pentecostalismo iria inovar com a presença de uma liderança feminina, por meio de seu programa “A Palavra da Fé”. Atualmente, vemos uma grande diversidade de programas evangélicos televisivos, em redes sociais virtuais, para todos os públicos, gostos, e por que não arriscar em dizer para todos os bolsos?

Dessa maneira, a transmissão do discurso religioso por essas redes midiáticas, atinge a homens e mulheres, crianças, jovens e adultos sem distinção de raça, enfrentando, sobrepujando as barreiras que outras religiões porventura criam no imaginário de fiéis desta ou daquela instituição, que passam a escolher, transitar por uma ou outra, com certa autonomia. Por isso, Mendonça (2008, p. 136), afirmou que os ministérios e pregadores das Igrejas no Brasil distorceram e desmembraram os fundamentos doutrinários da Igreja ao darem excessivo valor à cura divina e à expulsão de demônios, o que sem dúvida alguma, gera instabilidade institucional entre os fiéis.

Mas, não é de se admirar tamanha metamorfose, uma religião é também uma cultura, e uma cultura ao penetrar em outra, tem de fazer concessões (MENDONÇA, 2008, p. 138) daí decorrem as adaptações, já que especialmente em nosso país, com grande pluralidade de povos imigrantes, negros e os indígenas que (aqui um dia) reinavam absolutos, com suas religiões próprias e culturas, e que ao se interpenetrarem, num turbilhão de memórias, tradições e costumes, que irá surgir esses “pentecostalismos metamórficos”.

Atualmente, segundo Fajardo (2012, p. 209) a “diversidade e pluralidade impedem que sejam criadas classificações que consigam abarcar as semelhanças e diferenças de cultos, normas, costumes, ritos e ênfases doutrinárias [...]”.

2.3. O(s) PENTECOSTALISMO(s) NA PERIFERIA URBANA – RIO GRANDE DA

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