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Notas sobre as transformações sociais e ambientais em Rio Grande da Serra

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CAPÍTULO I – ECOSSISTEMAS NATURAIS E SISTEMAS URBANOS: ESPAÇOS

1.4. A IMPORTÂNCIA SOCIOAMBIENTAL DE RIO GRANDE DA SERRA NO

1.4.3. Notas sobre as transformações sociais e ambientais em Rio Grande da Serra

A presença dos povos indígenas e de estrangeiros africanos marcou e continua a fazer parte de todo o processo de construção social anteriores ou em desenvolvimento da cidade de Rio Grande da Serra na atualidade. Porém, a história difusa na cidade, dita “oficial”, ainda encobre toda uma riqueza histórico-cultural que embora imbricada a todas outras histórias, continua por ser descoberta, sendo necessário o resgate histórico contado sob outro enfoque daqueles que protagonizaram essa história, deixando dessa forma, a posição de coadjuvantes ou meros participantes especiais e de maneira geral, quase sempre, pejorativamente interpretada.

Mas, procuramos tratar da história difusa na cidade, já que esse resgate histórico não seria possível nessa pesquisa. Ressaltamos nossa opção por tratar dessa história da cidade em um breve recorte, uma vez que, já existe uma gama de bibliografias que documentam a história do Brasil, do Estado de São Paulo, além da própria região do Grande ABC.

Por conseguinte, a história da cidade de Rio Grande da Serra se confunde com toda história da região do Grande ABC, que se desenvolveu imbricada na história de São Paulo e esta, consecutivamente à História do Brasil. No século XVI, as terras de Santa Cruz, como foram nominadas na época, serviram de passagem, de descanso e abrigo para os tropeiros, arregimentados pela colônia portuguesa para fazerem o transporte de mercadorias64 que

aportavam ou que eram despachadas no porto de Santos. Logo, o transpor a Serra do Mar se dava pelo caminho conhecido como Zanzala.

Nessas terras teria ocorrido a morte de um dos tropeiros da coroa portuguesa bem as margens de um rio (Rio Grande). O local no qual esse foi enterrado teve fincada uma cruz de madeira demarcando a área dos fatos e logo em seguida a construção de uma pequena orada - capela de Santa Cruz no ano 1611. Esse fato histórico e os elementos simbólicos ali fixados sacralizaram o local, e de certa maneira, deram início formatação daquilo que viria a ser considerado o marco zero da cidade de Rio Grande da Serra. De acordo com a Dra. Gisela Leonor Saar65 historiadora e moradora a mais de cinco décadas em Rio Grande da Serra:

O marco da civilização de Rio Grande da Serra esta assentado em acervo, representado pela Capela de Santa Cruz ou São Sebastião [...] Seu primeiro povoamento foi numa colina, fazendo frente para o Caminho velho de Santos à Mogi das Cruzes. Pelo lado direito de quem vê da Capela, olha para esse caminho

que é a antiga trilha dos índios e dos tropeiros, e ainda, pelo lado direito, o rio grande, rio notoriamente importante pela sua navegabilidade. [...] a construção (capela), foi por volta de 1611, quando as tropas que transportavam sal e outros gêneros vindos através do porto de Santos e São Vicente, para o povoado de Mogi das Cruzes. O local preferido para paradas das tropas era as margens do rio

grande, local de boas pastagens para o gado, e, ainda oferecia certa segurança, já

que o percurso de subida da Serra até Paranapiacaba em região agreste onde além dos animais, eram frequentes os ataques dos indígenas e salteadores, razão pela

qual era normal a pernoite dos tropeiros, dentro do “campo” e próximo ao rio grande. Em uma dessas paradas das tropas em Rio Grande, veio a falecer um desses tropeiros que foi sepultado, num alcantil, local esse marcado por uma cruz de madeira e depois, construída uma orada, e mais tarde substituída pela

Capela de Santa Cruz (SAAR, 2006a, p. 01, grifo nosso).

Essas atividades de transporte de mercadorias feitas pelos tropeiros foram perdendo sua força já no último quartel do século XIX, sendo lentamente substituídas, de maneira progressiva com a chegada da ferrovia e mão de obra dos imigrantes que buscavam novas oportunidades como veremos mais adiante.

64 As que vinham do porto eram as especiarias, móveis, roupas, sal, produtos manufaturados e as que iam eram café, pau-brasil, cana de açúcar, entre outras riquezas minerais (matérias-primas) para serem manufaturadas. 65 Com formação em História e Direito, além de doutorado em Direito pela Universidade de São Paulo.

A religião católica, sendo hegemônica nesse período, acompanhava todo o processo de desenvolvimento da região66, e participou diretamente nas relações socioespaciais do local

onde se fixava. A ordem dos católicos beneditinos criavam cabras para obtenção de leite e coordenavam o cultivo de pequenas plantações para subsistência de algumas de suas comunidades locais.

O catolicismo foi à religião de matriz cristã trazida pelos portugueses para catequização dos indígenas, tornando-se a religião oficial do Brasil pela Constituição Federal de 1824 e politicamente imposta a todos, sem considerar que os indígenas tupiniquins na região já possuíam sua religiosidade e religião67, o que também ocorreu com as religiosidades

e religiões de origem africanas, sendo essas totalmente ignoradas, até Constituição Federal de 189168.

Nessa constituição ocorrera à separação entre Estado-Igreja, quiçá a laicidade tão almejada pelos ideais liberais franceses e ingleses que aportaram aqui e foram recepcionados, mas, ainda tão contestada até os dias atuais por diversos grupos religiosos, em meio um processo de secularização contínuo pelo embate do poder religioso versus poder político.

Embora não se tenha registros de um protestantismo na cidade nessa época, tem-se registro de um protestantismo de missão iniciada no segundo quartel do século XIX, com a abertura dos portos que se espalhou por São Paulo. Aportaram nas terras brasilis, anglicanos, episcopais, luteranos, congregacionais, presbiterianos, metodistas, batistas, esses últimos no interior de São Paulo. Esse foi o protestantismo que se espalhou por todo o Brasil (MENDONÇA; VELASQUES FILHO, 1990).

E mais, segundo esses autores, embora muitos não queiram admitir é de um dos segmentos desse protestantismo que em meio a um longo processo de racionalização e adaptação cultural, teria surgido o pentecostalismo moderno.

66 A vasta extensão territorial que ligava Santos a São Paulo conhecida como a Vila de Santo André da Borda do Campo, que passou a ser Freguesia de São Bernardo em 1889, vindo a sofrer desmembramentos. Nesse território existem relatos de que padres beneditinos cultivavam plantas e criavam animais, além dos próprios moradores já fixados na região.

67 O xamanismo praticado nas diversas tribos indígenas pela existência dos seus pajés e caciques.

Algumas pistas da presença de protestantes na cidade se dão ainda na primeira década do século XX, com a construção do primeiro cemitério secular na/da cidade, atrás e muito próximo à capela Santa Cruz (CÂMARA, 2012) sob os direitos previstos na constituição69 de 1891. Esse evento evoca que nesse período já havia um crescimento do

número de óbitos dos moradores e a necessidade em atender essa demanda na própria cidade. É preciso ressaltar que em todo território brasileiro existia uma forte resistência em reconhecer o sepultamento de indivíduos protestantes, casamentos e batismos desses (MENDONÇA, 1990, p. 77; ALENCAR, 2005, p. 40). Dessa maneira, todos aqueles que não eram católicos, sofriam constrangimentos para enterrar seus familiares em outras regiões que já possuíam cemitérios, precisando negar suas crenças ou ainda se submeter a contragosto aos ritos católicos, já que a cidade estava sob o domínio administrativo da Freguesia São Bernardo.

Essa construção por um lado reforçou ainda mais o marco inicial da cidade e por outro, acentuou a perda hegemônica da religião católica na cidade, sobretudo, permitindo o sepultamento dos moradores na cidade independente da religião que professavam, ou nacionalidade, (entretanto, as sepulturas deveriam retratar ainda assim, as simbologias do catolicismo).

Dessa maneira, a construção do cemitério reafirmou o marco de ruptura com o catolicismo imposto existente até o final do século XIX, o que formalmente viria a ser destituído pelo art. 72, §5º da CF/1891, garantindo assim o direito de liberdade de crença a todos.

Nesse mesmo período, a singela capela Santa Cruz passa a ser conhecida como Capela de São Sebastião, em reverência a um dos santos católicos - São Sebastião. Essa manifestação honrosa se dá em virtude de que, uma imagem do santo teria sido esculpida em uma madeira nativa por um escultor da cidade em uma das muitas serrarias existentes na região, a qual viria ser entregue aos cuidados da família Pandolfi, a qual, posteriormente teria sido doada a capela (FÉLIX, 2013, p. 40).

69 Na CF 1891, em seu art. 72, §5º os cemitérios serão seculares, administrados pelo poder municipal, com liberdade de cultos e credos religiosos desde que não ofendam a moral pública e as leis [constitucionais].

Assim, a população de Rio Grande da Serra foi sendo estruturada não só por processo migratório que ocorrera por todo país, mas, pelos deslocamentos na própria Região Metropolitana de São Paulo e ainda pela vinda dos imigrantes sob as muitas ingerências religiosas. Conforme Félix (2013, p. 57) as famílias70 italianas e alemãs teriam chegado à

cidade no final do século XIX e os japoneses ainda na primeira metade do século XX (VAISMAN, 2006, p. 16) logo após desembarcarem em Santos.

Essas famílias traziam consigo as técnicas originárias de seus países, como as de construção civil, confecção de móveis, cultivo de plantas, entre outras, as quais ao serem empregadas aqui, permitiram a geração de casas, lavouras de hortaliças, cultivo de flores, e demais atividades comerciais como foi, por exemplo, a criação de muitas serrarias e consecutivamente a produção de móveis desenvolvida na região (SAAR, 2006b; NORONHA, 2010, FÉLIX, 2013). Tais práticas e técnicas se mesclaram com aquelas técnicas originadas em culturas indígenas e também de africanos contribuíram em todo esse processo de construção social.

Além das técnicas, trouxeram consigo seus costumes culturais, seus valores morais, suas crenças e religiões, essa última, sendo fator importante para o convívio social entre indivíduos e os grupos de uma mesma nacionalidade. A religião como elemento de coesão social coletiva, cooperou para o enfrentamento e superação das dificuldades71 encontradas

uma vez que, os mesmos não se enquadravam nas regras sociais já estabelecidas nessa “outra sociedade e cultura” bastante influenciada pelo catolicismo popular que também sofria influências de outras religiosidades de matrizes indígena e africana, fatores que os impeliam a vivenciar uma “anomia social” (ALMEIDA, 2004, p. 21).

Conforme (Saar, 1998, p. 39; Félix, 2013, p. 32) surgiram assim às primeiras empresas que se beneficiavam da extração de madeira e lenha que eram vendidas para a confecção de móveis na região e para fábrica de Papel Klabin Irmãos & Companhia. Nesse contexto, as paisagens foram rapidamente modificadas pelo cultivo de terras, processo demasiadamente intensificado no início do século XX. Dessa maneira, o plantar, fazer colheitas, fabricar bens de consumo, era a meta a ser atingida.

Em contrapartida, campos, matas, florestas nativas inteiras iam sendo devastadas perdendo suas características de status quo ante, e solos em algumas áreas foram depauperando pelo revolver constante de terra para plantio e pela compactação do solo.

70 Famílias italianas (Orlando, Castelucci, Dotta, Midolli, Pandolfi, Bracialli, Orsini e outras) e famílias alemãs (Streiff, Breithaupt, Richers, Saar). E no período pós-primeira guerra mundial, nas primeiras décadas do século XX, chegaram asiáticos, sobretudo os japoneses de acordo com (FÉLIX, p. 60).

Dessa maneira, muitas melhorias foram sendo feitas em caminhos e estradas já existentes e também, a abertura de novas ruas, construções de casas, eventos que foram consolidando as vilas.

O solo argiloso também foi muito explorado pelas suas propriedades minerais, o que garantia “matéria-prima farta para as olarias produzirem tijolos e telhas” (VAISMAN, 2006, p. 16), e cerâmicas, além de terem sido explorados pelas práticas do garimpo em períodos anteriores. A descoberta da grafita e de água mineral e consecutivamente o processo de extração destes minerais, deram a José Dotta, a oportunidade de criar uma indústria, com reconhecimento nacional de suas atividades (SAAR, 1998, p. 40).

De uma pedreira, próxima a vila Niwa foram extraídas rochas graníticas, que ao serem beneficiadas, geravam pedra britada e paralelepípedos, produtos que foram fornecidos para calçamento e pavimentação da Avenida Paulista (EMPLASA, 2011, p. 39). Dessa forma, foram sendo estabelecidas outras redes econômicas locais da cidade mesmo dependentes de um extrativismo inserido numa economia liberal72.

A chegada da Ferrovia no terceiro quartel do século XIX, construída por investidores ingleses, que tinha Irineu Evangelista de Souza - Barão de Mauá - como um de seus maiores acionistas e um dos maiores produtores de café no Brasil - trouxe inúmeros benefícios socioeconômicos para a região. Irineu ao ver a expansão do comércio de seu produto no exterior tratou de investir na logística para escoamento da produção do café e de outras

commodities73, transpondo essas de norte a sul do Estado de São Paulo.

Segundo Saar (1998, p. 51) já “em 1889 existiam aproximadamente quinze habitações e o aumento dessas ocorria muito lentamente. Em 1914, o número de habitações se aproximava de trinta, sendo construções muito próximas ao ribeirão Araçauva, logo, em área de várzea”. A estação ferroviária de Icatuaçu74 foi também construída em local deserto na

época, era uma estação intermediária para alimentação de água das locomotivas e cruzamentos de trens (GIESBRECHT, 2014), e posteriormente foi passando a ser utilizada como transporte público.

72 Um sistema de economia cunhado na liberdade de produção de bens materiais e imateriais em virtude das demandas que o mercado apresenta, sem interferências governamentais diretas, somente em casos excepcionais, quando se pratica uma economia distorcida com prejuízos socioeconômicos para mercado e sociedade.

73 Commodities entendida aqui como sendo os produtos iniciais que podem gerar economia interna e externa, além de, em muitos casos, esses serem transformados em subprodutos com maior valor agregado.

74 Nome da estação ferroviária e também da cidade de Rio Grande da Serra, desde 1938 quando ainda integrava Santo André, em 1953 passando a integrar Ribeirão Pires e finalmente em 1964 passando ao nome atual.

Figura 5. A Estação Ferroviárias no final do Figura 6. A Estação Ferroviárias nas primeiras

século XIX e o transporte público da região. décadas do século XX.

Fonte: Extraída (GIESBRECHT, 2014) Fonte: Extraída (FÉLIX, 2013, p. 45)

A ferrovia Railway - SPR & Co. trouxe, inúmeros avanços tecnológicos e socioeconômicos, progresso na época, pois, contribuía para a sociedade moderna especificamente para aqueles mais abastados. Porém, é inegável que a classe trabalhadora, operária também se beneficiara dessa como um meio de transporte para idas e vindas do trabalho por toda a Freguesia de São Bernardo e São Paulo.

Também teria sido no final da penúltima década do século XIX, que teriam sido iniciados os processos de criação dos distritos nessa vasta região. Com a fixação crescente de pessoas no local e o crescente consumo de água, foi desenvolvida a construção do reservatório - a represa Billings - para captação desse recurso em meados da década de 20 visando abastecimento de água potável para grande parte da população da RMSP e fornecimento de água para os processos industriais, além do uso inicial em caldeiras das locomotivas como já visto. A aquisição de propriedades (terrenos) teria sido outro fator de influencia em todas essas mudanças da região.

Como sucessão de todos esses fatos, já no final da década de 30 viria ocorrer à criação de distritos municipais, desmembramentos e o início da emancipação das cidades sequencialmente em décadas posteriores, como é possível observar no diagrama (figura 7). Também, é nessa década que energia elétrica uma tecnologia já implantada em outras localidades na redondeza, chegaria a Rio Grande da Serra (SAAR, 1998, p. 44).

Vila de Santo André da Borda do Campo 1560

Freguesiade São Bernardo passa a ser Município em 1889

Santo André 1938

São Bernardo do Campo 1944

Diadema 1958

São Caetano do Sul 1948

Mauá 1953/1954

Ribeirão Pires 1953

Rio Grande da Serra 1963/1964

Dessa maneira, pode-se constatar que muitas das transformações socioambientais que observamos na atualidade vêm ocorrendo de longas datas, sob a ausência de legislação ambiental específica, ou pelo descumprimento das poucas que já existiam na década de 30,

v.g.: o código das águas (1934), além do mais, o território de Rio Grande da Serra nessa

época, integrava e estava sob a enevoada autonomia da Freguesia de São Bernardo75.

Em 1937, por meio do Decreto-lei de nº 57, teriam ocorrido eventos importantes por toda a região. O parcelamento do solo em forma de lotes por toda a Freguesia de São Bernardo (FÉLIX, 2013, p. 52), surgimento de vários distritos e a fixação da indústria química Solvay do Brasil já no início da década de 40 no território de Santo André com as áreas limítrofes da cidade de Rio Grande da Serra.

Figura 7. Desmembramento da antiga Vila de Santo André da Borda do Campo em municípios e emancipação

Fonte: Adaptado (FÉLIX, 2013, p. 35)

Esses fatos ocorreram quase que concomitantemente com o processo de instalação das primeiras indústrias automobilísticas na região (atual região do grande ABC), propiciando consecutivamente o surgimento dos subúrbios industriais ao longo das áreas de várzea do

Tamanduateí (VAISMAN, 2006, p. 9), e ainda, o adensamento urbano que consequentemente

acentuou ainda mais com aumento da oferta e procura de trabalho e a intensificação das melhorias de infraestrutura urbana na região.

75 Vasta área territorial composta pela região do Grande ABC (atual) no período colonial, passando a ser tendo autonomia em 1889, e que perduraria até o final da década de 30 no século XX, quando iniciam-se os processos de desmembramento do território em distritos e posteriormente em municípios.

Rio Grande da Serra, ainda sob a autonomia administrativa de Ribeirão Pires em 1953, teve suas terras fracionadas e surgiria assim o distrito de Rio Grande da Serra. Período importante para toda a região do Grande ABC, em virtude da consolidação da produção de veículos, pelos grandes investimentos nas indústrias76 automobilísticas as quais se tornaram

atrativas para o trabalho recrutando mão-de-obra de toda região e a produção de bens comercializáveis (automóveis e peças). As rodovias77 estaduais foram de grande importância

em todo esse processo socioeconômico e também político, o qual influenciaria em novas atividades na cidade de Rio Grande da Serra.

Paralelamente, foi nesse período que novos movimentos religiosos especialmente aqueles derivados de um pentecostalismo clássico despontaria em São Paulo. Os novos pentecostalismos buscavam se adaptarem aos processos culturais e migratórios que vigoravam por todo o estado de São Paulo, e assim, esses foram se espalhando por todas as periferias urbanas, inclusive pela região do Grande ABC. De acordo com Mendonça:

foi no início da década de 1950 que o movimento de cura divina se instalou de modo claro no Brasil. Foi nesse período, após a Segunda Guerra Mundial e o fim

da Era Vargas, que a industrialização tomou conta do Centro-Sul do país,

provocando a expansão das grandes cidades por causa da intensa migração campo-cidade e principalmente, do Norte-Nordeste para ali. As grandes cidades

nunca foram capazes de absorver de maneira adequada as sucessivas ondas de imigrantes. Na época, em lugar dos cortiços de imigrantes europeus, começaram a surgir às favelas. É nessa cultura da pobreza que vai medrar o movimento de

cura divina (MENDONÇA, 2008, p. 136, grifo nosso).

Além do pentecostalismo clássico o qual pressupomos que já era difuso por toda essa região, esse outro pentecostalismo de cura divina, também aportara em Rio Grande da Serra e é sobre esses pentecostalismos que procuramos tratar na sequência, ao longo deste trabalho.

76 Volkswagen, Ford, Mercedes-Benz, Toyota, Scania e General Motors, essa última, instalada nessa região já na década de 30.

77 SP 31 Rodovia Índio Tibiriçá, SP 121 Rodovia Deputado Antônio Adib Chammas, e SP 150 Rodovia Anchieta que interligam-se com outras vias coletoras municipais que permitem o acesso intra e intermunicípios do Grande ABC, Suzano, Mogi das Cruzes e Santos, bem como, ao acesso a outras rodovias estaduais e até em alguns casos, a algumas rodovias federais.

0 12.500 25.000 37.500 50.000 1960 1980 2000 2014 Evolução Demográfica Número de Habitantes

1.4.4. A Emancipação de Icatuaçu nos anos 60 - Medra Rio Grande da Serra

A década de 60 é importante por demais para a cidade de Rio Grande da Serra pelo conjunto de eventos que marcaram sua emancipação. Anteriormente esta conhecida por

Icatuaçu, até então distrito e sob a administração política do município de Ribeirão Pires,

viria a emancipar-se através da lei estadual de nº 8.092 de 28-02-1964 (CÂMARA, 2012). Tal fato se deu em continuidade aos processos concomitantes de urbanização e industrialização iniciados em décadas anteriores na região do Grande ABC, contribuindo assim para o descerramento da última cidade intitulada “Rio Grande da Serra”.

É nessa década que se intensifica o crescimento populacional que vinha ocorrendo já nas décadas anteriores, com a chegada de novos migrantes de outras regiões do país que

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