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FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS DO MEIO AMBIENTE E PRINCÍPIOS

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CAPÍTULO II – PENTECOSTALISMO(S) – PRÁTICAS RELIGIOSAS, IMPACTOS

3.1. FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS DO MEIO AMBIENTE E PRINCÍPIOS

A vida social de todos nós seres humanos é “governada por regras e normas. Nossas vidas seriam caóticas se não aderíssemos às regras que definem tipos de comportamento adequados em contextos particulares e outros como inadequados” (GIDDENS, 2008, p. 172).

Para além do animismo, podemos aventar em paralelo, que existem leis da natureza que também influenciam os nossos comportamentos, disto deve advir à importância do respeito aos ecossistemas naturais e de suas regras “impostas” a cada um de nós. Pois, disso depende a manutenção da vida evitando o caos e as relações que implicam nos princípios da precaução e prevenção consagrados no Direito Ambiental Brasileiro e Internacional (SIRVINSKAS, 2002; FIORILLO, 2011; MILARÉ, 2011).

É preciso ressaltar que o Direito Ambiental Brasileiro, está atrelado a um conjunto de tratados internacionais do qual nosso país é signatário, v.g.: Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB), Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (CQNUMC), Protocolo145 de Kyoto, entre outros. Porém, não trataremos aqui sobre o Direito

Ambiental Internacional, embora, o mesmo esteja imbricado, permeando por todo o Direito Ambiental Brasileiro.

Então, vemos nisto que campo científico e campo político se interagem constantemente já que a Política absorve e se beneficia dos conceitos produzidos pelas Ciências Ambientais para a produção de um arcabouço legislacional, pressupondo e visando garantir o bem-estar e harmonia no convívio individual e coletivo, quer em âmbito público ou em âmbito privado.

A Constituição Federal de 88 recepcionou em seu art. 225 e as definições científicas convencionadas sobre o Meio Ambiente, resignificou-as e o descreve esse como sendo: um bem comum de uso público, essencial à saúde e qualidade de vida, sendo dever do Poder Público e da Coletividade Pública a sua defesa e proteção para as presente geração e futuras, afinal todos temos o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

145 Tratado internacional que passou a vigorar em 2005 e que tinha como seu principal objetivo reduzir a emissão de gases de efeito estufa em 5,2% até 2012, referente aos índices apresentados no ano de 1990. Porém, a política de redução na emissão de gases ainda continua em desenvolvimento, mas, o tratado está sendo reformulado em outras convenções na atualidade.

Nesse artigo constitucional já observamos a importância legal de defesa e proteção do meio ambiente para as gerações neste presente e no futuro, independente de nossos status sociais ou credos religiosos, afinal, todos somos convocados a cuidar desse ambiente em suas diversas facetas tendo como meta a ser atingida a conservação e preservação da vida, “vida das espécies”, não somente a humana como muitos enfatizam como a prioritária. “É preciso reconhecer que todos os seres são interdependentes e cada forma de vida tem o seu valor, independentemente de sua ‘utilidade’ para os seres humanos e, portanto, precisamos cuidar da comunidade viva com compreensão, compaixão e amor”146.

Dessa forma a CF/88, torna-se a base e o ápice do Direito Ambiental Brasileiro, o dito direito de 3ª geração, direitos difusos, transindividuais que irão permear a constituição estadual e a lei orgânica municipal, além de outras legislações complementares. Observe a tabela abaixo:

Tabela 8. Correlação de dispositivos jurídicos na Legislação para Proteção e Defesa Ambiental Tipificação das leis e artigos Preconização/Determinação

Constituição Federal de 1988

artigo 225 Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo, e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder

Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Constituição Estadual de 1989

artigo 191 O Estado e os Municípios providenciarão, com a participação da coletividade, a preservação, conservação, defesa, recuperação e melhoria do Meio Ambiente

natural, artificial e do trabalho, atendida as peculiaridades regionais e locais e, em harmonia com o desenvolvimento social e econômico.

Lei Orgânica Municipal de 1990

artigo 154 Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder

Público Municipal e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Nota-se uma reprodução formal do conteúdo do art. 225, bem como, de suas diretrizes nas leis estaduais e municipais, para que exista a promoção de defesa e proteção ambiental de maneira compartilhada, com considerável simetria, evitando dessa forma conflitos legislacionais. Contudo, nota-se também uma flexibilidade para a atuação dos entes federados no que tange as questões ambientais, pelo não engessamento da lei que procura servir de baliza para essas tais ações. Afinal, realidades locais diferentes, exigem a elaboração de planejamentos socioambientais bem direcionados e diferenciados, mais assertivos para a resolução de problemas e conflitos socioambientais.

146 Princípios da Carta da Terra, respeitar a Terra e a vida em toda a sua diversidade disponível no site: www.cartadelatierra.org.

3.1.1. Legislação Ambiental na Contemporaneidade

Aproveitando o pensamento Durkheimiano para refletirmos sobre a nossa sociedade, podemos afirmar que a sociedade contemporânea em que vivemos é uma sociedade pautada na solidariedade147 orgânica, estruturada nas “relações que regulam o direito cooperativo com

sanções restitutivas e a solidariedade que elas exprimem, resultantes da divisão do trabalho social” (RODRIGUES, 2000, p. 80).

Por isso, trata-se de uma sociedade capitalista, cujo desenvolvimento se baseia nessa divisão de trabalho complexa e diferenciada, correspondendo dessa maneira a uma sociedade de classes (MICELI, 2007, p. XIV).

Na interpretação Durkheimiana, em virtude de uma complexidade da divisão de trabalho, emergiriam as “funções administrativas e governamentais em que certas relações são reguladas pelo direito repressivo, em razão do caráter particular que se reveste o órgão da consciência comum” (RODRIGUES, 2000, p.81), pela necessidade de agir frente aos comportamentos desviantes, descritos por Giddens (2008, p.173) como “comportamentos inadequados”, ou até mesmo pelas as regras convencionadas ou pactos sociais.

Destarte, o Direito em sentido mais amplo está posto como instrumento regulatório para a manutenção da sociedade, assim como estaria à religião, educação e tantas outras representações sociais e entidades constituídas. Então, as leis ambientais como parte de um conjunto de regras de organização da polis, portanto, elemento constitutivo de políticas públicas, necessariamente se presta a execução positiva da gestão ambiental urbana, cujo resultado, quer imediato, quer não, deverá ir ao encontro dos interesses e necessidades dos membros da sociedade [contemporânea] (PHILIPPI JR.; BRUNA, 2004, p.685).

Porém, o que se encontra nas periferias urbanas de uma maneira geral, é uma flexibilidade das regras político-jurídicas, (seja pelo desconhecimento, descumprimento ou inoperância dos órgãos públicos em agir de maneira mais assertiva) resultando em interesses de pequenos grupos que se beneficiam em grande parte dessa flexibilidade.

147 Para Durkheim a solidariedade orgânica é totalmente diferente da solidariedade mecânica existente nos grupos das sociedades arcaicas. É uma solidariedade fraca na medida em que vai ocorrendo à divisão de trabalho e consequentemente a diversificação do trabalho. Na solidariedade mecânica, a implicação está nas ações e outros comportamentos individuais semelhantes no grupo, o que faz a todos agirem sob uma consciência coletiva pré-determinada enquanto que na solidariedade orgânica supõe que eles diferem um dos outros nesses aspectos (RODRIGUES, 2000, p. 83).

Para Maricato (2009, p.02), essa administração flexível, torna-se passível de críticas, pois, constitui-se em um “patrimonialismo148”, uma vez que a maior parcela da sociedade

civil socializa os prejuízos socioambientais, as mazelas resultantes desse processo e ainda, a necessidade de lutar cada vez mais pela promoção das benesses que o poder público deve prover de maneira igualitária a todos, visando o atendimento das demandas sociopolíticas locais.

Encontramos no Direito Ambiental Brasileiro um conjunto de leis direcionadas as questões ambientais que devem seguir um feixe de princípios, que conforme Mirra (1996) permite a integração direta de políticas públicas e interação dos atores com essas, já que tais princípios, quando aprendidos, instrumentaliza os indivíduos e permite uma permanente reflexão sobre as ações antrópicas no ambiente. Dentre esses princípios estão:

a) participação popular na proteção do meio ambiente; b) função social e

ambiental da propriedade; c) avaliação prévia dos impactos ambientais das

atividades de qualquer natureza; d) prevenção de danos e degradações ambientais; e) responsabilização das condutas e atividades lesivas ao meio ambiente; f) respeito à identidade, cultura e interesses das comunidades tradicionais e grupos formadores da sociedade; g) garantia do desenvolvimento

econômico e social ecologicamente sustentado; h) da indisponibilidade do interesse público na proteção do meio ambiente; entre outros (MIRRA, 1996, grifo nosso).

Como visto os princípios estabelecem ou preveem (ainda que de maneira desafiadora) a inclusão, participação de todos na defesa e proteção ambiental como um exercício de cidadania, o que permite a integração dos vários atores sociais, inclusive os religiosos pentecostais, pois, as lutas sociais não podem estar restritas as reivindicações de segmentos sociais específicos, mas, é preciso a integração de todos os atores para o alcance das melhorias almejadas pela sociedade.

3.2. AS POLÍTICAS PÚBLICAS E A PARTICIPAÇÃO SOCIAL - UM EXERCÍCIO

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