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OS IMPACTOS SOCIAIS E AMBIENTAIS – É PRECISO VER PARA CRER!

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CAPÍTULO II – PENTECOSTALISMO(S) – PRÁTICAS RELIGIOSAS, IMPACTOS

2.9. OS IMPACTOS SOCIAIS E AMBIENTAIS – É PRECISO VER PARA CRER!

A precariedade é um atributo próprio do ambiente urbano, pois no ambiente natural, tudo está regido pelas leis naturais e se mantém em harmonia, já que toda cadeia alimentar, relações intra e interespecíficas, teia da vida, estão interconectadas com os seres vivos. Todos os fenômenos naturais ocorrem de maneira espontânea por meio de fluxos de energia, ciclos hidrológicos, ciclos biogeoquímicos, variações climáticas, entre outras relações ecológicas.

Portanto, precariedade está pautada na relação das necessidades humanas (individuais e coletivas) frente ao meio ambiente artificial construído. Logo, “as mudanças sociais e ecológicas são marcadas por rupturas num contínuo, provocando uma desestruturação e uma reestruturação que deverá ser afetada por novas mudanças” (COELHO, 2011, p. 24). E mais para a autora, é a relação entre a sociedade e natureza que se transforma diferencial e dinamicamente que geram aquilo que se constitui nos impactos ambientais.

Os aspectos e impactos ambientais estão condicionados um ao outro. Portanto, pode- se compreender o aspecto ambiental como os fatores antropogênicos que podem gerar ou causar, danos ao meio ambiente, resultando assim em um impacto ambiental. Nisto, observamos que os aspectos ambientais são as causas resultantes das ações humanas frente às necessidades de uso dos recursos ambientais que podem induzir ou produzir um efeito no meio ambiente natural, ainda que de maneira controlada - o impacto.

É inegável que qualquer ação humana no meio ambiente implica em um aspecto ambiental e consequentemente gera um impacto ambiental no qual estão atreladas as dimensões de abrangência, intensidade, período, etc.

Ainda precisam ser considerados de acordo com Coelho (2011, p. 35) “os pesos diferenciados de: Localização, opção urbanística, topografia, rede de drenagem, composição geológica do terreno, uso de solo e traçado de ruas”.

No caso de impacto ambiental é possível nos apropriarmos da definição legal elaborada pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), o qual expõe em seu primeiro artigo da Resolução142 001/86, que:

[...] para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental qualquer

alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I - a saúde, a segurança e o bem-

estar da população; II - as atividades sociais e econômicas; III - a biota; IV - as

condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V - a qualidade dos recursos ambientais (CONAMA, 2012, grifo nosso).

No caso das religiões pesquisadas, de maneira geral, temos os sons e ruídos como um aspecto ambiental importante a ser considerado, já que muitos estudos demonstram que sons e ruídos podem interferir em atividades normais do ser humano, como ler, concentrar, comunicar e descansar (DIAS, 2000, p. 316).

A resolução nº. 001/90 do CONAMA dispõe diretrizes sobre os sons e ruído e as NBR 10.151/87 e NBR 10.152/87, tratam respeito da avaliação do ruído em áreas habitadas e aos níveis de ruído para conforto acústico respectivamente, bem como, os índices permitidos visando ao conforto da comunidade.

Tecnicamente, o som é qualquer variação de pressão (no ar, na água...) que o ouvido humano possa captar, enquanto ruído é o som ou conjunto de sons indesejáveis, desagradáveis, perturbadores. Para Fiorillo (2011, p. 311), “o critério de distinção é o agente perturbador, que pode ser variável, envolvendo o fator psicológico de tolerância de cada indivíduo”.

142 Vemos que embora a resolução use o termo impacto ambiental, observamos que essa não trata somente das questões relativas aos fatores abióticos, mas, integram as questões sociais, econômicas, políticas. Por isso, entendemos que existe uma flexibilidade para utilizarmos o termo “impactos socioambientais”.

Quadro 13. Parâmetros de sons e ruídos padronizados (controle da poluição sonora)

LOCAIS (compartimentos testados e padronizados) DECIBÉIS dB(A)

Auditórios Salas de concertos e teatros 30-40

Hospitais Apartamentos, berçários, enfermarias 35-45

Escolas Biblioteca, salas de desenho 35-45

RESIDÊNCIAS Salas de estar Dormitórios 35-45 40-50

IGREJAS E/OU TEMPLOS 40-50

Fonte: Adaptado - NBR 10.152/87 e (FIORILLO, 2011, p. 314)

A Organização Mundial de Saúde (OMS) coloca como um padrão de tolerância de 70 decibéis para ruídos ou sons, para que não haja danos à saúde humana (individual ou coletiva). Embora, esta não discuta o mérito das implicações dos sons e ruídos acima dos padrões permitidos como elementos geradores de impactos sociais e ambientais, a mesma tem em seu foco o controle do som, pois esse, em determinadas situações se converte em um poluente sonoro.

Nas instituições pesquisadas, pudemos observar que o uso de microfones e caixas de sons que amplificam o volume dos discursos e cânticos carregados de forte carga emocional, e por não existir uma acústica de proteção e/ou retenção dos sons e ruídos produzidos para fora do ambiente cúltico (em nenhuma delas), geram impactos socioambientais.

Se comparados com os outros parâmetros de hospitais, escolas e teatros, os sons das igrejas seguramente ultrapassam esses limites em algumas das instituições pesquisadas, se aproximando, em muitos casos, aos sons e ruídos de veículos e demais sons urbanos “ditos profanos” pelos insiders143. Além disso, internamente, os membros dependendo de alguns

fatores como: tempo de exposição, frequência e intensidade dos sons, pode sim adquirir deficiências na acuidade auditiva.

Aliás, encontramos em rede midiática muitas orientações direcionadas as lideranças de uma dessas pertenças pentecostais pesquisadas que nos dá suporte para uma reflexão e preocupação com essa questão bem específica, talvez, um indicativo do por que de seus cultos serem um pouco mais regrados na questão volume de sons, entoação de cânticos e orações, mantendo uma sequência de ritos e certa ordem no culto.

143 São os indivíduos que frequentam uma religião ou outra religião possuem uma visão própria, particular dos fenômenos religiosos, e assim interpretam o fenômeno como alguém de fora do grupo.

Selecionamos uma série de pequenos trechos retirados dos vários tópicos144 de

ensinamentos difundidos em assembleias administrativas que são realizadas periodicamente na sede dessa instituição em São Paulo.

pulos, gritaria, batidas na tribuna ou na perna durante a pregação devem ser eliminados, [...] (tópicos de ensinamentos 01/1984). Quanto às orações, a

irmandade deve ser ensinada a evitar gritaria, [...] Temos a unção do alto. O

Espírito Santo nos guiará em tudo (tópicos de ensinamentos 15/1985; 20/1993 e 01/1994).

Quanto às orações, a irmandade deve ser ensinada a evitar gritaria, para que se

possa ouvir quem está orando. Temos a unção do alto. Os irmãos do ministério da

Palavra devem ter muita prudência com o que pregam diante do povo,

deixando-se guiar inteiramente pele Espírito de Deus. Palavras de libertação,

promessas, marcando datas, dando prazos, incitando a irmandade à gritaria e atraindo-a para si, estão roubando a glória de Deus. Alguns repetem várias vezes: Deus me manda falar, Deus me mostra, etc. Devemos nos ater a pregar a

doutrina, a fé e o temor de Deus. Assim, estaremos conduzindo o povo a Cristo e à salvação da alma, (tópicos de ensinamentos 22/1995, grifo nosso).

Não obstante, do outro lado das instituições religiosas está uma vizinhança com uma pluralidade religiosa, que em muitos casos, alegam que as igrejas pentecostais mais próximas de suas residências, os impedem de exercerem, de fato, o seu direito de sossego. O direito ao sossego no seio familiar é determinado na Lei das Contravenções Penais (Decreto-Lei n. 3.688/41), o qual preconiza em seu art. 42. Perturbar alguém, o trabalho ou o sossego alheio;

especificando em seu inc. III, abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos; é uma

contravenção penal. Dessa maneira, tipifica os seus geradores de sons acima dos parâmetros permitidos por lei como contraventores penais.

E se considerarmos os prejuízos que esse aspecto ambiental pode causar na fauna silvestre existente em áreas mais periféricas, observamos que os impactos ambientais que geram a redução da biodiversidade, estão diretamente ligados a esse, uma vez que, determinados sons e ruídos, espanta, expulsa as espécies de um determinado local, além de, perturbar e desequilibrar os criadouros de animais silvestres contidos em determinadas áreas verdes.

Embora, existam críticas quanto à ação eficaz ou eficiência das leis, podemos observar que a lei em muitos casos, é um mecanismo que produz seu efeito, contribuindo para o estabelecimento de certas regras para o convívio social, como é observado nos trechos de ensinamentos descritos.

144 Esses tópicos de ensinamentos são elementos doutrinários da CCB, que estão disponíveis para consulta no sítio: www.ccbhinos.com.br, embora a própria instituição utilizando outro sítio dito “oficial” afirme que as informações nesse sítio não são oficiais, todavia, esse sítio foi nos apresentado por um dos entrevistados em sua própria residência.

INTIMAÇÕES SOBRE RUÍDOS. Têm chegado intimações para congregações

onde o ruído do microfone e da orquestra ultrapassou o limite dos decibéis permitido. Decibel é a unidade da escala que mede a intensidade dos ruídos.

Casas de diversão e templos são submetidos à medição. Após algumas

advertências é aplicada a punição para os reincidentes, com o fechamento das portas. Igrejas evangélicas têm sido fechadas, por não observarem essa determinação. As congregações devem controlar o volume do som do microfone nos testemunhos e na Palavra. Deve cessar a gritaria nos cultos e as pregações em alta voz. Também o horário para o término dos cultos deve ser rigorosamente observado, para não infringir a lei do silêncio à noite (tópicos de

ensinamentos 31/1996, grifo nosso).

Em obediência a esta regra doutrinal a irmandade não deve manifestar línguas em voz alta e nem glorificar em alta voz no andamento dos cultos,

principalmente quando alguém estiver orando, pois, muitas vezes nem se ouvem as palavras da oração devido às manifestações em alta voz. Isso é falta de ordem no

culto. E Deus é Deus de ordem. Convém que nos mantenhamos em respeitoso

silêncio. (tópicos de ensinamentos 7/2000, grifo nosso).

EVITAR CULTOS BARULHENTOS. Devemos observar a lei do silêncio. O

volume de som produzido pelos cultos pode ser medido e quantificado por decibéis. Ultrapassando o limite legal, a Congregação causadora estará sujeita a ser multada e até fechada, em caso de reincidência. Por isso temos que levar em consideração essa realidade e evitar cultos barulhentos ou que se estendam além

do horário previsto (tópicos de ensinamentos 22/2000, grifo nosso).

Entretanto, é verossímil que a lei seja insuficiente para a resolução de toda a problemática ambiental, mas, é na lei que buscamos amparo legal para a manutenção das estruturas sociais. Os cultos religiosos constituem um direito fundamental do indivíduo, como preconiza a CF/88 em seu art. 315, 5º, VI. Entretanto, essa garantia das práticas cúlticas, não autoriza a poluição sonora, nem exime a responsabilidade jurídica de quem a produz. Para Fiorillo (2011, p. 315) “o dispositivo é claro ao assegurar o livre exercício dos cultos religiosos e garantir, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias [...] [mas] deve-se conciliar essa liberdade com o princípio da preservação do meio ambiente”.

Em relação aos resíduos sólidos (lixo) descartados indiscriminadamente no entorno dos templos, não temos como afirmar em nenhuma hipótese que são produzidos somente pelos religiosos pentecostais, embora tenhamos visualizado o uso de copos descartáveis sendo utilizados e descartados aleatoriamente em meio às reuniões de uma das instituições pesquisadas.

No bairro vila Niwa, segundo as informações dos participantes, vem ocorrendo um aumento de deposição de resíduos sólidos indiscriminadamente em calçadas e nas sarjetas por parte da população, já que ao consumir produtos de qualquer gênero: alimentício, têxtil, elétricos ou eletrônicos - as embalagens - material resultante de um pós-consumo de produtos e mercadorias, acabam sendo descartadas nas vias.

Embora se tenha “coleta de lixo”, e seja necessário o serviço de varrição e a limpeza de vias públicas, v.g.: poda de vegetação, essa última não é feita com frequência, ou quando efetivada, é insuficiente, estando dessa maneira em desacordo com as legislações que tratam dessas questões socioambientais: Lei 12.300/2006 Política Estadual de Resíduos Sólidos, a Lei 11.445/2007 de Política Nacional de Saneamento Ambiental e Lei 12.305/2010 Política Nacional de Resíduos Sólidos, que por sua vez preconiza em seu art. 3º, inc. VII que:

a destinação final ambientalmente adequada: destinação de resíduos que inclui a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético ou outras destinações admitidas pelos órgãos competentes do Sisnama, do SNVS e do Suasa, entre elas a disposição final, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos (BRASIL, 2010).

No bairro Parque América, o descarte de resíduos sólidos é proporcionalmente maior em relação ao bairro visitado anteriormente. As lixeiras são improvisadas e mesmo tendo coleta de lixo, o serviço de varrição ou limpeza de vias públicas com frequência inexistente praticamente, ou seja, é a mesma situação constatada na Vila Niwa. Observamos que em alguns lugares além da grande concentração de resíduos há também os entulhos de construção civil e de indústrias misturados presentes em vários lugares no bairro.

No caso dos resíduos sólidos misturados, isso vem ocorrendo de maneira criminosa por se tratar na verdade de crime ambiental pela lei 9.605/1998, não sendo exclusividade dos bairros pesquisados.

Esses resíduos são trazidos de cidades vizinhas e depositados nesses locais sem nenhum tratamento prévio, fato que ocorre em muitas situações com aval de moradores locais que alegam desconhecimento desse problema, ou em outras situações, ocorrendo pela irresponsabilidade (ainda que indiretamente) da administração pública em virtude da falta de fiscalização, coibição e punição dos infratores ambientais conforme (PRADO, 2013).

Nas visitas efetivadas nos dois bairros constatamos que em alguns pontos e no entorno das residências dos participantes de nossa pesquisa, a questão do descarte de resíduos sólidos é muito similar, “tratada e aceitada” com certa naturalidade. Portanto, é na condição de moradores que podemos aventar que os sujeitos religiosos têm sido displicentes quanto aos cuidados com o descarte de materiais pós-consumo, uma vez que, na condição de geradores primários, de acordo com as políticas de resíduos sólidos (federal e estadual), devem integrar todo o ciclo da logística reversa, armazenando e dando destinação correta para o seu lixo.

O solo é impactado pelo descarte de resíduos sólidos que podem ter em sua composição geral, contaminantes ou poluentes desconhecidos que podem não ser inertes. Muito dos poluentes podem ser gerados a partir dos resíduos sólidos advindos de outras cidades, ocorrendo pela degradação lenta e formação subprodutos quando em contato direto com o solo ou água existente no local.

No Parque América, o solo tem sido impactado pela grande movimentação de veículos leves (particulares) e pesados (ônibus e caminhões) em vias locais sem nenhuma pavimentação (estradas de terra) impedindo o processo de percolação da água em solo e consequentemente impactando os recursos hídricos. Pela grande movimentação de veículos, há um revolvimento da terra constante nesse bairro e consequentemente o material particulado (poeira) que se dispersa na atmosfera. Esse material particulado está caracterizado como um poluente atmosférico dispersado por quase todo o bairro, em algumas áreas com maior concentração e menor em outras, porém, é perceptível a concentração desses no ar.

Certamente, os impactos ambientais nesse bairro estão mais diretamente relacionados contaminação de solo e da água, e com a poluição atmosférica pelo aumento da emissão de gases poluentes de origem veicular, incremento de ruídos de motores, e consequentemente a alteração do microclima local, gerando assim problemas respiratórios nos indivíduos, com redução dos serviços ecossistêmicos e impactando a saúde humana local.

Foto 13. Despejo de esgoto in natura em microbacia Foto 14. Descarte de Resíduos Sólidos

Crédito: Marcos Scarpioni, 2014 Crédito: Marcos Scarpioni, 2014

Mas, retomando a questão dos resíduos sólidos, na foto 14 registrada em Dezembro 2014, vemos um descarte sazonal desses resíduos sólidos, que acabam por se tornar em alguns casos, poluentes, além de induzirem outros impactos em outros compartimentos naturais (solo e corpos hídricos) diretamente e indiretamente, além de esteticamente depreciarem o local.

O descarte de resíduos, muito próximo aos corpos hídricos, em diversas situações, esses acabam sendo depositados em microbacias, causando danos que são irreversíveis em alguns casos, já que o ambiente natural é totalmente alterado e consequentemente a dinâmica local também.

Ainda referente aos impactos nos corpos hídricos, temos o despejo de águas servidas e de esgoto in natura em pequenos rios e córregos que já estão em acelerado processo de eutrofização.

O esgotamento sanitário no Parque América é aspecto relevante a ser trabalhado, já que nem todo o bairro possui coleta de esgoto e observamos muitas tubulações de esgoto interligadas em pequenos córregos, ou esgoto in natura escoando superficial nas ruas, sem nenhum tratamento. Os compostos inorgânicos além de outros agentes patogênicos presentes nessas águas residuárias geram a eutrofização dos rios e alteração nos ciclos hidrológicos e biogeoquímicos.

Na vila Niwa, embora seja possível observar que a rede coletora de esgoto já foi implantada no bairro, nem todas as casas estão interligadas nessa e igualmente ao Parque América, é possível em alguns trechos o esgotamento sanitário a céu aberto.

Outros impactos indiretos diretamente ligados à poluição e contaminação de solo e água, mas, não menos preocupante seria a redução da vegetação local. Além disso, o corte raso de vegetação (nativa e capoeira) vem criando aberturas na mata, espaços para o avanço das construções irregulares e a emissão pela queima de biomassa ou de resíduos sólidos, com consequente emissão de gases de efeito estufa, são elementos estranhos que passam a existir nesses lugares infringindo dessa maneira a Lei de Crimes Ambientais - lei 9.605/1998.

A vegetação presta de maneira totalmente gratuita aos seres vivos os serviços ambientais. Se existe a sua redução em um efeito cascata, ocorre proporcionalmente à redução na fixação e recarga de água em solo, e assim a alteração do ciclo hidrológico. Com a redução do volume de água nos corpos hídricos locais, há uma diminuição da coleta de água in natura para tratamento e fornecimento de água potável para população, isso sem considerar as alterações da paisagem natural, alterações microclimáticas in locus, perdas nas cadeias alimentares de pequenos insetos, anfíbios, répteis, mamíferos, enfim, perdas em toda teia alimentar existente nessa região.

Cabe ressaltar que nessas situações, as responsabilidades devem ser compartilhadas entre o poder público e a coletividade pública – (do primeiro) pelas deficiências na prestação do serviço público, e (da segunda) - pelo agir corretamente, fiscalizar e exigir eficiência da administração pública.

Quanto aos impactos sociais positivos gerados pelas instituições e que devem ser considerados são aqueles desenvolvidos pelas “redes evangélicas que trabalham em favor da valorização da pessoa e das relações pessoais, gerando aumento de autoestima e impulso empreendedor no indivíduo, também fomentam a ajuda mútua por meio de laços de confiança e fidelidade” (ALMEIDA; D’ANDRÉA, 2004, p.103). Além do mais, para esses autores, “nos templos há circuitos de trocas que envolvem dinheiro, alimentos, utensílios, informações, recomendações de trabalho, etc.”.

CAPÍTULO III - POLÍTICAS PÚBLICAS E ÉTICA RELIGIOSA AMBIENTAL

Bem aventurados os que observam o direito, o que pratica a justiça em todos os tempos...

Salmos 106:3

No capítulo anterior, discutimos as origens, fixação e avanço(s) do(s) pentecostalismo(s) em São Paulo e especialmente em Rio Grande da Serra, caracterizando a área de estudo e identificando as instituições religiosas, bem como as práticas religiosas e comunitárias desenvolvidas nos/pelos grupos. Neste terceiro capítulo, explanaremos os fundamentos constitucionais do meio ambiente, tendo a Constituição Federal de 1988, como a base e o ápice do Direito Ambiental Brasileiro - DAB, arcabouço de toda legislação ambiental contemporânea, sendo este um dos principais instrumentos político-jurídicos para a proteção e defesa do meio ambiente.

Este é enfático na participação dos diversos atores sociais nas fases elaboração, implementação e fiscalização de políticas públicas, especificamente nas direcionadas as questões socioambientais, através dos espaços sociais de representação, focando dessa maneira, a gestão ambiental urbana da/na cidade.

Dessa maneira, toda essa fundamentação legislacional nos permite confrontar as ações dos sujeitos religiosos pentecostais frente às questões ambientais, bem como, em relação ao que preconiza o Direito Ambiental Brasileiro. Então, temos o intuito de refletir sobre ética religiosa que possa ser, ou que já seja desenvolvida no seio dos grupos pentecostais que aqui chamaremos de ética religiosa ambiental (ERA).

3.1. FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS DO MEIO AMBIENTE E PRINCÍPIOS

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