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MEIO AMBIENTE DO SENSO COMUM AO TÉCNICO-CIENTÍFICO

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CAPÍTULO I – ECOSSISTEMAS NATURAIS E SISTEMAS URBANOS: ESPAÇOS

1.1. MEIO AMBIENTE DO SENSO COMUM AO TÉCNICO-CIENTÍFICO

As definições são importantes, uma vez que, ajuda-nos a fixação de conceitos essenciais, todavia é preciso que tenhamos no plano material, “ideias reais e distintas da composição do meio ambiente interno e da sua complexidade” (COIMBRA, 2004, p. 561). Etimologicamente meio “é um substantivo masculino originário do latim medium que significa ambiente imediato dos seres vivos, ou ainda, em torno de um sistema, em particular dos sistemas sociais” (FERREIRA, 2004); e ambiente é um adjetivo de dois gêneros, originária do latim ambiens que significa:

1) estar em volta de (pessoa ou coisas); 2) é o conjunto de fatores bióticos e abióticos que atuam um organismo ou sobre uma comunidade ecológica; 3) em uma abordagem sociológica, seria o conjunto de condições externas, sendo elas materiais ou sociais que envolvem o indivíduo ou um grupo (FERREIRA, 2004).

Para Brasil; Santos (2010, p. 354) seria o “conjunto de todas as condições físicas, químicas e biológicas, que [...] [cercam e afetam] a existência, o desenvolvimento e o bem- estar de um ser vivo ou de uma comunidade”. Por meio da filosofia Leis interpreta o meio ambiente, como algo imprescindível e de incomensurável valor para os seres vivos, sendo “aquilo que não podemos prescindir, esse é o seu valor” (LEIS, 1998, p. 101).

Meio ambiente, é na verdade uma junção de dois termos que expressa um conceito

originalmente cunhado nas Ciências Naturais (Ecologia/Biologia), mas, que ganha maior visibilidade e importância em outras Ciências, v.g.: Ciências Sociais, especialmente no pós- segunda guerra mundial, quando iniciam os questionamentos sobre a degradação ambiental que vinha ocorrendo na década de 60, e que foi demonstrada em vários trabalhos científicos, citando como exemplo, a publicação de Rachel Carson43 “Primavera Silenciosa” (Silent

Spring) que denunciava os abusos quanto ao uso de compostos químicos na agricultura e consequentemente os impactos ambientais nos sistemas naturais por eles gerados direta e indiretamente.

43 Rachel Carson a bióloga que denunciou o uso excessivo de compostos químicos nas lavouras e seus impactos sobre solo, água e ar, além da contaminação da fauna e da flora terrestre e aquática, desequilibrando os ecossistemas naturais no início da década de 60. O seu trabalho publicado conseguiu sensibilizar inúmeros governantes já que teve como grande diferencial em seu trabalho foi ter explicado ao público em linguagem simples, demonstrando as interações entre seres humanos e outros fatores ambientais, e quais os riscos dessas interações negativas para todo o meio ambiente e consequentemente para todas as sociedades em âmbito local, regional e até globalmente.

Em uma abordagem ecológica, Miller Jr. (2008) define meio ambiente como “todas as condições e fatores externos, vivos e não vivos (substâncias químicas e energia) que afetam um organismo ou outro sistema específico durante seu tempo de vida”, compondo o habitat dos seres vivos. Portanto, temos um gigantesco sistema de vida, composto por um conjunto de

outros “sub‘sistemas’” (DIAS, 2000, p. 223), sendo que “há três níveis ou sistemas distintos de existência: físico, biológico e social; que obedecem às suas próprias leis” e que, se dividem em:

a)o planeta físico, sua atmosfera, hidrosfera (águas) e litosfera (rochas e solos), que seguem as leis da física e da química; b) a biosfera, com todas as espécies de

vida, que obedecem às leis da física, química, biologia e ecologia; c) a tecnosfera e a sociosfera, o mundo das máquinas e construções criadas pelo homem, governos e economias, artes, religiões e culturas, que seguem às leis da física, da química, da biologia, da ecologia e também das leis criadas pelo homem (DIAS, 2000, p.

223-224, grifo nosso).

Por um viés geográfico, “o ambiente ou meio ambiente é [algo] social e historicamente construído” (COELHO, 2011, p. 23). Para a autora, essa construção se faz no processo da interação contínua entre uma sociedade em movimento e um espaço físico particular que se modifica permanente. E mais, complementa que seria este “passivo e ativo, além de ao mesmo tempo servir de suporte geofísico para a transformação da vida social”.

De cunho político-jurídico, temos outra definição, mais especificamente no inciso I do artigo 3º da Lei 6.938/1981 (Política Nacional de Meio Ambiente - PNMA) e no art. 3º, inc. I da Lei 9.509/1997 (Política Estadual de Meio Ambiente - PEMA) como sendo “o

conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.

Pela Constituição Federal de 88 (CF), no caput do art. 225, meio ambiente está compreendido como “bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida”. Esse conjunto legislacional integra o Direito Ambiental Brasileiro44 em nossa sociedade, o

que também pode ser observado como uma reprodução literal de outras legislações do Direito Ambiental Internacional.

44 Para Sirvinskas (2002) o “Direito Ambiental tem status de uma ciência jurídica que estuda, analisa e discute as questões e os problemas ambientais e sua relação com o ser humano tendo por finalidade a proteção do Meio Ambiente e a melhoria das condições de vida no planeta”, porém, para os operadores do direito Pedro; Frangetto (2004,) entendem que seria um extrato de cada um dos ramos da Ciência do Direito, despontando como um ramo autônomo, contudo relativamente dependente dos demais. Portanto, para fins didáticos identificaremos o Direito Ambiental Brasileiro como um conjunto de leis nos âmbitos Federais, Estaduais e Municipais, além de acordos, normas, resoluções, propostas no direito público e privado para garantir a conservação e preservação do Meio Ambiente, não se esquecendo da relação destes com o Direito Ambiental Internacional.

Para Fiorillo (2011, p. 73) meio ambiente é termo polissêmico de muita amplitude e grande abrangência. Trata-se na verdade de um conceito jurídico indeterminado, não sendo possível estabelecer divisões estanques, já que o mesmo é bem comum a todos. Todavia, o mesmo pode descortinar-se em uma divisão a fim de facilitar a identificação, registros e mensuração das atividades degradantes e do bem agredido de maneira imediata, ou seja, apurar os impactos socioambientais.

Segundo Sirvinskas (2002, p. 25) a classificação didática é útil para a compreensão, já que temos um meio ambiente multifacetado, o qual pode ser decomposto da seguinte maneira: natural, artificial, cultural e de trabalho.

Mas, o próprio conceito de meio ambiente abordado por Sirvinkas (2002) e Fiorillo (2011), entre outros, demonstram uma redundância desnecessária pela junção desses dois termos. Tais autores discutem e concordam que seria interessante, mais preciso utilizar um ou outro termo e não a junção destes para explicar algo unívoco, contínuo. Todavia, tanto um como outro autor concordam que o “Meio Ambiente” está convencionado em nossas sociedades, seja “na legislação, doutrina, jurisprudência ou consciência de nossa população” (SIRVINSKAS, 2002, p. 24) e também em outras literaturas nacionais e internacionais especializadas em Ciências Naturais.

Como é possível de se observar, o campo político se intercruza com o campo

científico ao se apropriar do conhecimento científico produzido especificamente neste, e

somente assim cria, elabora seus instrumentos jurídicos. Portanto, os elementos estruturantes de políticas públicas ambientais que organizam e estruturam uma “certa ordem” em nossa sociedade contemporânea, e se embasam naqueles naturalmente oriundos das Ciências Naturais.

Para esta pesquisa, escolhemos então a interpretação literal de uma definição científica-técnico-jurídica previsto na Lei 6.938/1981, focando diretamente o meio ambiente que é classificado por um conjunto de aspectos como: natural, artificial, cultural e trabalho (FIORILLO, 2011, p.73). Em concordância com Coimbra (2004, p. 560) “é preciso fugir ao reducionismo, que é uma visão incompatível com a visão holística e com a natureza sistêmica [...]”.

Para entendermos como os pentecostais observam, percebem e definem o meio ambiente e captar qual seria o grau de entendimento desses sobre o assunto, e assim confrontar suas respostas com as definições teóricas da legislação ambiental, é que fizemos a seguinte pergunta45: o meio ambiente para você pode ser considerado como algo: a) sagrado,

b) profano, c) é tudo a mesma coisa, d) não sabe dizer. Dessa maneira, coletamos as seguintes

respostas: 37% dos participantes afirmaram que o meio ambiente é sagrado, pois, seria a criação divina, 24% não sabem dizer e 33% dizem que é tudo a mesma coisa e os outros 6% responderam que o ambiente é profano.

Quanto aos recursos naturais, observamos que os pentecostais responderam de maneira implícita a importância desses para se morar na cidade. Esse entendimento é reforçado quando cruzamos as respostas dos formulários com as respostas das entrevistas. Como é possível de se observar, existe um conhecimento básico da importância do meio ambiente natural em vários trechos, v.g.:

somos realmente dependentes da natureza, somos realmente dependentes de ações sociais que envolvam o cuidado com o ambiente, principalmente aqui em Rio Grande da Serra (Silas, liderança entrevistada em 27.06.2014).

ah! não com importância né, por que eu acredito que a preservação da natureza é importante pra gente né, tem que se preservado né, aqui a gente tem essa natureza maravilhosa que muitos lugares por aí, sê num acha né, se num vê, não tem mais... é só poluição, aqui nós não temos isso graças a Deus, então eu acho que tem que ser preservado [tem que ser preservado] tem que ser preservado! [e a Sra. acredita que a igreja os pentecostais de uma maneira em geral se preocupariam com essa questão, com o Bioma da Mata Atlântica] É... eu acho que a maioria sim, se preocupa, acho que a maioria sim (Rute, liderança, entrevista realizada em

26.08.2014).

Nas respostas coletadas emformulários e nas entrevistas, observamos que não se têm uma visão holística e sistêmica do meio ambiente, tendo apenas como foco principal, o meio natural, desconsiderando as inúmeras interações entre os outros tipos de ambientes: artificial, cultural e de trabalho. Aliás, o ambiente construído, artificial, para uma pequena parcela seria profano, embora, as igrejas sejam construções sagradas ocupando esses espaços.

45 Procuramos nessa pergunta através de uma abordagem sociológica captar a percepção socioambiental dos participantes.

É possível afirmar, de maneira geral, que os participantes não conhecem efetivamente o conceito fundamental de meio ambiente e suas relações em um sentido mais amplo, o que esses têm sobre o assunto é o senso comum, uma vez que, as informações que nos prestaram são aquelas corriqueiramente difusas pela mídia, com superficialidade. Mesmo nas respostas daquelas pessoas que possuem o ensino médio (in/completo), nota-se uma falta de conhecimento mais amplo sobre o meio ambiente, haja vista, a ausência ou maior aprofundamento das discussões sobre esse assunto nas escolas públicas de maneira geral.

Encontramos em um dos ensinamentos46 ministrados em uma dessas instituições

religiosas pesquisadas, que as praias estão compreendidas como “ambientes mundanos, não

apropriados para o povo de Deus”.

Entretanto, esse mesmo ensinamento postula que “em praias isoladas, como também,

em certas horas do dia em que não há frequência de banhistas, nessas praias é tolerável [os fiéis] irem, principalmente os que têm necessidade devido ao seu estado de saúde”. Dessa

forma, em horários isolados e pela busca em amenizar os problemas de saúde ou a cura através desse ambiente “mundano”, torna-se algo justificável e passível de aceitação.

1.2. AS INTERAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS PREVISTAS EM LEGISLAÇÃO

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