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O CONSUMO LOCAL ARTICULAÇÕES PARA O (IN)SUSTENTÁVEL?

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CAPÍTULO II – PENTECOSTALISMO(S) – PRÁTICAS RELIGIOSAS, IMPACTOS

2.7. O CONSUMO LOCAL ARTICULAÇÕES PARA O (IN)SUSTENTÁVEL?

Como já mencionado anteriormente, a cidade de Rio Grande da Serra, possui uma economia e a empregabilidade pautada no comércio e serviços, além daquelas ocupações agrícolas, já que possui poucas indústrias. Logo, o consumir algum tipo de produto industrializado ou de prestadores de serviços, torna-se comum entre os riograndenses, sendo assim, o mote econômico local.

Nesse contexto de consumo, observamos que nos bairros periféricos pesquisados, onde estão os pentecostais, vem ocorrendo o crescimento populacional e consequentemente o aumento das demandas por bens consumíveis. Quando consideramos a concentração dos indivíduos em determinada região e o atendimento de suas demandas, isso requer proporcionalmente “uma grande variedade de recursos do ambiente para sustentar o seu intenso metabolismo ecossistêmico” (DIAS, 2002). Ainda, como exemplos, podemos citar aqueles que não são produzidos in locus, mas são “importados” de outras localidades que os produzem conforme afirma Dias:

água, combustíveis, eletricidade, alimentos (principalmente carne, leite e seus derivados, feijão, arroz, frutas, óleos, açúcar, sal, massas e outros), metais, madeiras, fibras, plásticos, tecidos (roupas, cama, mesa, banho, cortinas, estofados, asfalto, vidros, cerâmicas, tijolos, cimento, areia, pedras, papel, solventes, tintas e uma grande variedade de outros produtos petroquímicos), entre tantos outros fatores (DIAS, 2002, p. 114).

Nota-se inicialmente, que a demanda por produtos, não se trata somente de bens ditos “supérfluos”, mas, também dos bens de gênero de primeira necessidade. Entretanto, a cidade na atualidade possui um intenso apelo ao consumo de bens materiais já que o foco no crescimento da economia local (numa visão linear) se daria a partir do fortalecimento das instituições comerciais ou de serviços.

Todavia, não observarmos uma motivação voltada para os negócios sustentáveis, uma vez que, a cidade está inserida em APRM, o que certamente implica, exige um maior comprometimento com as questões socioambientais.

Como se não bastasse, à mídia estimula o consumo de maneira geral, pois, como afirma Dias (2000, p. 96) [esta seria] “especialista em criar ‘necessidades desnecessárias’ o que torna as pessoas amarguradas ao desejarem ardentemente algo que não podem comprar, sem perceber que viviam muito bem sem aquele objeto de consumo”.

Ainda existe uma pressão em criar eventos comerciais na região central de Rio Grande da Serra, com o intuito de ampliar a oferta de produtos para a população local. Segundo Ferré (2013, p. 16) “o ‘Líquida Rio Grande da Serra’ [...] tem como base promover a cidade e movimentar a economia. Outro fator importante é incentivar os moradores da região [a consumir] e mostrar que vale a pena comprar em Rio Grande da Serra”.

Essa ideia surge como uma forma de gerir oportunidades econômicas para comerciantes e moradores, contudo, a ênfase está em que os moradores da região possam consumir maior diversidade de produtos, e que os comerciantes da região possam equilibrar os seus gastos, entretanto tal justificativa é discutível. Seria mesmo equilibrar os gastos, ou render mais lucros? Afinal, se existe um fracasso no comércio local, como é possível baixarem ainda mais os preços e fazerem promoções, liquidações?

Muito tem se discutido por entre aqueles que administram a cidade, por comerciantes e até por uma parte significativa de moradores-consumidores, que essa interação entre comerciantes e os demais consumidores precisa ser mais dinâmica e ativa, incentivada para a “melhoria da cidade”, já que tem-se a ideia de que melhorar o comércio em geral, resultaria diretamente em gerar mais receitas para a administração pública, um dos inúmeros desafios a serem enfrentados pela cidade, já que parte da arrecadação municipal vem dos impostos de produtos industrializados e comercializados. Porém, esse tipo de pensamento também é discutível.

Portanto, afirma Marcelino que “comerciantes querem mais eventos para Rio Grande da Serra”. Por isso, buscam-se alternativas quanto essas relações econômicas, sendo essas alternativas de interesses comuns por parte dos comerciantes e administradores da cidade, pois:

Os comerciantes [...] relataram problemas como a falta de segurança, incentivo ao comerciante e a falta de eventos que atraiam mais público para a região central. Os comerciantes dizem que a cidade é parada e pouco atrativa para os moradores que dificilmente fazem compras na região. Em 2009 houve uma ação

por parte da prefeitura [...] com a decoração de natal que atraiu a população para o centro, mas depois dessa ocasião, não aconteceu mais. [“...] Segundo o representante da Associação Comercial de Rio Grande da Serra, Noel Horácio os comerciantes não são muito unidos para lutar em prol da melhoria de investimentos no município”. “Houve uma iniciativa da Prefeitura em trazer a Feira da Madrugada para atrair o público, mas os empresários foram contrariados dizendo que isso diminuiria mais as vendas” (MARCELINO, 2013, p. 09, grifo nosso).

Também, têm se discutido informalmente alternativas para a melhoria da economia na cidade. Entre os administradores da cidade, é comum a informação sobre a necessidade de incentivos fiscais para atrair aquelas empresas que respeitam a legislação ambiental, que geram seus produtos com o menor grau de impactos sobre o meio ambiente e que estejam preocupadas, comprometidas com as responsabilidades socioambientais focando dessa maneira o desenvolvimento sustentável local.

O turismo parece ser uma dessas alternativas, já que é uma atividade econômica e cultural promissora na cidade. No turismo existe uma real potencialidade de usos sustentáveis dos espaços naturais, integrando os vários eventos históricos na cidade, como é o caso da antiga pedreira desativada na década de 60, próximo a Vila Niwa, entre outros pontos turísticos, principalmente a Capela São Sebastião, verazmente, o cartão de visita da cidade, porém, de maneira tímida e ainda pouco explorada.

O circuito gastronômico do Cambuci (ainda em processo de fortalecimento) pode ser citado como uma busca de incrementar a economia local. Todavia, esse merece ressalvas quanto ao processo de produção dessa matéria-prima na confecção das iguarias, já que o Cambuci é fruto silvestre, nativo, originário da Mata Atlântica do Sudeste, logo, fruto endêmico dessa região, um dos símbolos desse bioma, fato que impõe e exige cuidados e restrições legais quanto ao seu cultivo, especialmente em escala produtiva para fins comerciais. Aliás, Rio Grande da Serra tem uma “cooperativa que está inserida na Rota do Cambuci, um circuito maior atrelado a outras cidades do Grande ABC e de São Paulo”138.

138 Segundo informações prestadas pela Sra. Cláudia atendente da Cooperativa do Cambuci de Rio Grande da Serra situada a R. Prefeito Cido Franco, nº 245. Também, recebemos um pequeno folder explicativo produzido pelo Instituto Auá que fomenta esse tipo de empreendimento.

Mas, só o consumo nessa região não é capaz de trazer comprometimento local por aqueles que estão envolvidos nesse processo, nem mesmo resoluções dos problemas socioeconômico, sociocultural e socioambiental da cidade. De acordo com Santos (2000, p. 41) “consumidor não é cidadão”, já que em tal prática, não se tem nenhuma demonstração de exercício de cidadania. Embora esse(a) ou aquele(a) consumidor(a) de bens materiais e imateriais, que tenham suas ilusões, seus desejos atendidos, transformados em realidades como seria o caso: da casa própria, o automóvel, e demais coisas que lhes dê status social, todavia, esses(as) não possuem cidadania plena, já que cidadania exige um conjunto de outros direitos civis, sociais, políticos, etc., que estão implícitos nesse jogo e precisam ser avaliados nessas interações socioeconômicas.

Aliás, para Santos, ter desenvolvimento não significa ampliar as ofertas e formas de consumo e sua exacerbação, pois:

o consumo é o grande emoliente, produtor ou grande encorajador de imobilismos. Ele é, também, um veículo de narcisismos, por meio de seus estímulos estéticos, morais, sociais; e aparece como o grande fundamentalismo do nosso tempo, por que alcança e envolve toda gente (SANTOS, 2004, p. 49).

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