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2 CONCEPÇÕES NORTEADORAS E PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

Pensar sobre as concepções teóricas que norteiam o currículo na Educação Infantil se faz necessário para causar refl exões acerca das concepções de desenvolvimento, aprendizagem, educação, de modo que se esclarecem e norteiem o trabalho do professor, uma vez que deve atender às necessidades específi cas da criança pequena, em seus aspectos de cuidar e educar, assim como as determinações legais que organizam e regem a Educação brasileira.

É importante destacar ao leitor que essa discussão se baseia na concepção de que a criança é sujeito sócio-histórico pautado em estudos da psicologia do desenvolvimento, de autores como: Vygotsky, Piaget, Wallon; bem como um cidadão de direitos, que possui uma natureza específi ca em seu desenvolvimento que deve ser respeitada, tendo em vista os seus aspectos biológicos e culturais, que geram necessidades de interações específi cas e planejadas.

Considerar a criança como um sujeito histórico de direitos é levar em conta suas opiniões, desejos, capacidades de decidir, criar, inventar, manifestar desde muito cedo suas necessidades, vontades, desejos e opiniões nas relações.

Nesse sentido, a criança tem um lugar de fala que precisa ser valorizado, uma vez que sua relação com o adulto é dialógica, ou seja, construída nas interações, modifi cações que essas relações causam no sujeito e no ambiente, o que possibilita construção e reconstrução da criança e do adulto enquanto sujeitos.

Acrescentar os adjetivos sócio e histórico na palavra sujeito, é afi rmar que a maneira com que cada um compreende o mundo são construídas historicamente, de modo que cada ser humano que chega ao mundo traz consigo a história da humanidade que foram construídas e produzidas ao longo do tempo (SAVIANI, 2011).

A criança constrói sua história pessoal na relação com seus pares, sua classe social, família, espaço geográfi co, em suas vivências culturais, produzindo e partilhando ideias, valores, formas específi cas de compreensão da realidade,

que permitirão construir e ressignifi car o mundo em que vivem.

Desta maneira, a criança também é compreendida como um sujeito de direitos, uma vez que independentemente de sua história, origem ou meio social, há direitos legalmente garantidos inalienáveis que garantem igualdade para todas as crianças, conforme preceitua a Constituição Federal (1988) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990). Viver e conviver em sociedade requer observar e aprender princípios e valores éticos que permitem relações harmoniosas e saudáveis. Do mesmo modo que fazemos parte do planeta Terra, temos uma dimensão biológica humana, o que nos diferencia de outros animais, dos quais compartilhamos o mesmo planeta e dependemos mutuamente.

As crianças são parte desta natureza, que precisam conviver harmoniosamente, aprendendo a respeitar, conservar e preservar seus bens.

Portanto, cabe ao educador compreender as características biológicas e físicas do desenvolvimento infantil que os diferem das demais fases da vida. O modo como essas especifi cidades são compreendidas pelo professor, ou pelos responsáveis pela educação

das crianças pequenas, vão impactar na maneira de organizar as situações de aprendizagens, especialmente a seleção e organização intencional das experiências culturais nos currículos da Educação Infantil.

As pesquisas na área da Psicologia do Desenvolvimento, de autores como:

Piaget, Vygotsky e Wallon, assim como das Neurociências, que se debruçam sobre a infância, compreendem que o período de 0 a 5 anos é uma das fases mais importantes para o desenvolvimento humano. Nesta etapa do desenvolvimento humano, as pesquisas da Neurociência destacam este ser um período em que a criança está mais aberta para as aprendizagens, de modo que o sistema nervoso, em especial o cérebro, apresenta uma plasticidade que permite estabelecer inúmeras conexões neuronais, por meio das sinapses, o que possibilita maiores chances de desenvolvimento e aprendizagem (COSENZA; GUERRA, 2011).

A plasticidade cerebral está presente em todas as fases da vida, contudo, na fase da Educação Infantil as crianças saem de um estado de absoluta heteronomia para uma progressiva conquista da autonomia física, moral, intelectual e emocional, de modo que as experiências vivenciadas, mediadas por outros sujeitos, possibilitem ampliar de forma progressiva as possibilidades de aprendizagem.

Cabe destacar que é por meio das experiências que as crianças vão se conhecendo progressivamente, primeiro o seu corpo e posteriormente a relação com o meio. Assim, vão construindo signifi cados em relação ao seu corpo,

à medida que vão explorando o mundo por meio de movimentos, utilizando as múltiplas linguagens, sobretudo, o brincar.

Ao tratar da corporeidade na Educação Infantil, é preciso considerar aspectos que envolvam os laços afetivos e sociais, de modo que o corpo é “espaço de comunicação e expressão de sentimentos, de ideias, do pensamento” (SALLES;

FARIAS, 2012, p. 58).

É importante lembrar que antes mesmo de falar as primeiras palavras, o bebê estabelece trocas que revelam o seu desenvolvimento, por exemplo: o sorriso, balbucio e outros gestos que vão se constituindo em signifi cados com as respostas do outro.

Para Lima (2001), essas relações se dão nos atos de educar e cuidar que são presentes na Educação Infantil, de modo que as interações que envolvem afetos, toques no corpo, são oportunidades de socialização e aprendizagens que permitem para a criança a construção do seu eu e do seu desenvolvimento. Desta maneira, cabe ao professor da Educação Infantil estar sensível e aberto para construções afetivas, de forma que utilizem uma linguagem adequada, toque-as, transmita carinho e segurança.

A intencionalidade do trabalho pedagógico desenvolvido pelos educadores na Educação Infantil está intimamente ligada à formação humana, à identidade das crianças. As interações com o mundo e as experiências mediadas pelos outros sujeitos permitem a construção e a descoberta como sujeito. Assim, a formação e construção do conhecimento estão ligadas às possiblidades de relações e interações que fazem no contexto social e educacional.

Constituir-se como sujeito nas relações com o outro é um processo gradativo, progressivo, à medida em que mobiliza saberes e conhecimentos de forma crítica, ativa, questionadora e refl exiva em busca de uma autonomia moral.

Essa autonomia construída na Educação Infantil requer do professor possibilitar e oferecer referências que permitam às crianças tornarem cada vez mais protagonistas de suas ações. Como exemplo: ir ao banheiro sozinho, à medida em que aprende a se limpar e cuidar, retirar comida, comer usando talheres, organizar os brinquedos que foram utilizados, recolher os materiais que foram utilizados nas atividades, jogar o lixo no lixo; guardar a mochila escolar no local adequado etc.

À medida em que as crianças se desenvolvem e se apropriam das múltiplas linguagens, elas constroem um sistema simbólico que possibilite representar o mundo por meio dos signos e símbolos. Por meio dessa capacidade de É importante

compreender e representar o mundo por meio dos símbolos, a criança age sobre o mundo não apenas de forma física, mas também de maneira simbólica. Nesse processo de interações biológica e cultural ocorrem construções marcantes no desenvolvimento dos sujeitos, de modo que passam a verbalizar e compartilhar os signifi cados. Salles e Faria (2012) destacam que por meio da linguagem, as crianças chegam a:

[...] construir narrativas mais estruturadas, por meio das quais conseguem falar do passado ou do futuro, além de estabelecerem relações causais entre os fatos; de movimentos difusos, as crianças vão se apropriando de gestos, posturas e ritmos próprios de sua cultura; de bebês que apenas exploravam seu corpo e as características físicas dos objetos, passam a transformar uma coisa em outra, usando a imaginação nas brincadeiras de faz de conta; de rabiscos involuntários, passam a representar suas ideias e sentimentos, de maneira cada vez mais estruturada, por meio do desenho ou de outras formas de linguagem plástica; se têm acesso ao mundo letrado, começam a se apropriar das funções sociais da linguagem escrita, de seus diversos gêneros textuais e de seu sistema de representações (SALLES; FARIAS, 2012, p. 60).

Dessa forma, é importante ressaltar a primeira infância no desenvolvimento das crianças, especialmente pela aquisição da linguagem, do pensamento verbal, o que para Vygotsky (1998) se inter-relacionam no momento em que o pensamento se torna verbal e a linguagem racional. Assim, na Educação Infantil a aquisição da linguagem tem estreita relação com o desenvolvimento do pensamento da criança, de modo que se estabelecem à medida que os indivíduos participam de experiências concretas, adquirindo aos poucos a capacidade de generalização do pensamento, ou seja, utilizar um momento vocabulário em diferentes contextos. Assim, não podemos falar de desenvolvimento da linguagem sem relacionar ao desenvolvimento do pensamento.

As contribuições de Vygotsky (1998) em sua teoria do desenvolvimento confi rmam a importância das interações sociais em todas as fases no desenvolvimento infantil, especialmente ao desenvolvimento das funções psicológicas superiores, formadas pela mediação simbólica e interações sociais, por exemplo, a atenção e a memória desde os primeiros meses de vida, o que inclui situações de amamentação, estimulação do bebê com imagens, fi guras, sons, movimentos, ações, sensações e vivências.

As experiências culturais selecionadas para o currículo da Educação Infantil devem mobilizar a atenção e a percepção em suas variadas situações de aprendizagem, de modo que favoreça o desenvolvimento da

imaginação, a capacidade de resolver problemas, superar perdas e atuar de forma consciente em todas as esferas sociais.

2.1 CORPO HUMANO EM

MOVIMENTO NA EDUCAÇÃO