ELABORAÇÃO DOS CURRÍCULOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL
3.1 ORGANIZAÇÃO DO CURRÍCULO EM CAMPOS DE EXPERIÊNCIA NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
A organização curricular na Educação Infantil é estruturada pela BNCC (BRASIL, 2017) em cinco campos de experiência, tendo em vista que os eixos estruturantes do trabalho pedagógico são as interações e brincadeiras, de modo que os direitos de aprendizagem sejam assegurados, ou seja, os direitos de conviver, brincar, participar, explorar, expressar-se e conhecer-se. Por meio dos campos de experiência, defi nem-se os objetivos de aprendizagens e
PARTICIPAR De atividades propostas pelo educador, na vida cotidiana, em diversos ambientes, contextos, utilizando e desenvolvendo diferentes linguagens.
EXPLORAR Os movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, em suas diversas modal-idades: as artes, escrita, ciência e a tecnologia.
EXPRESSAR Por meio do diálogo com suas emoções, sentimentos, hipóteses, emoções, dúvidas e descobertas por meio da linguagem.
CONHECER-SE E CONSTRUIR
Sua identidade pessoal, social e cultural, de modo que tenha uma im-agem positiva sobre si e seus grupos, em diversos contextos educati-vos, especialmente em situações de brincadeiras, interações, em seu ambiente escolar, familiar e comunitário.
Os cinco campos de experiência são determinados pelo documento em: “O Eu, o outro e o nós”; “Corpo, gesto e movimento”; “Traços, sons, cores e formas”; “Escuta, fala, pensamento e imaginação” e “Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações”, que serão tratados de forma mais específi ca a seguir.
Antes de abordar os campos de experiência, cabe-nos conhecer a maneira como a BNCC estrutura a organização dos currículos nesta etapa da educação. Cada campo de experiência se organiza em colunas, referentes aos grupos por faixa etária, de forma que estão detalhados os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento. Assim, em cada linha da coluna os objetivos são defi nidos para os diferentes grupos etários em um mesmo aspecto do campo de experiência, conforme ilustra a Figura 4.
FIGURA 4 – ORGANIZAÇÃO CURRICULAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOMENCLATURA NA BNCC
Os cinco campos de experiência são determinados
pelo documento em: “O Eu, o outro
e o nós”; “Corpo, gesto e movimento”;
“Traços, sons, cores e formas”; “Escuta,
fala, pensamento e imaginação” e
“Espaços, tempos, quantidades,
relações e transformações”.
FONTE: Adaptado de Brasil (2017)
Para entender melhor a estrutura apresentada pela BNCC acerca da organização curricular da Educação Infantil, o primeiro par de letras “EI”, como ilustrado na Figura 3, indica a etapa da Educação Infantil, seguido do par de números que indica a faixa etária, por exemplo, “02”, que se destina para crianças bem pequenas, ou seja, de 1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses. O par de letras posterior indica o campo de experiência, “TS” – “Traços, sons, cores e formas”;
e o último par de números refere-se à posição da habilidade na numeração sequencial do campo de experiência para cada grupo/faixa etária (BRASIL, 2017).
Sobre o campo de experiência “O eu, o outro e o nós”, destaca-se a interação com os pares e adultos de maneira com que as crianças vão construindo seu modo de pensar, agir, sentir e descobrem que existem outras maneiras de se relacionar, reconhecem-se e diferenciam-se como seres sociais e individuais, valorizando a si mesmo e aos outros, reconhecendo e respeitando as diferenças.
FIGURA 5 – CRIANÇA SE RECONHECENDO EM FRENTE AO ESPELHO
FONTE: <https://novaescola.org.br/conteudo/17134/campos-de-experiencia-na-pratica-como-trabalhar-o-eu-o-outro-e-o-nos-na-educacao-infantil>.
Acesso: 10 out. 2020.
FIGURA 6 – ATIVIDADES QUE PRIVILEGIAM AS INTERAÇÕES EM GRUPO, A RELAÇÃO ENTRE OS PARES
FONTE: <https://novaescola.org.br/conteudo/17134/campos-de-experiencia-na-pratica-como-trabalhar-o-eu-o-outro-e-o-nos-na-educacao-infantil>. Acesso em: 11 out. 2020.
Já o campo de experiência denominado “Corpo, gesto e movimento” pode ser explorado por meio dos órgãos dos sentidos – pelos gestos e movimentos que permitem desde de muito cedo a criança explorar o mundo, o espaço e os objetivos que identifi cam suas potencialidades e limites. Como já mencionado nesse texto, o desenvolvimento do corpo na Educação Infantil torna-se central no trabalho pedagógico, tendo em vista a promoção da liberdade e emancipação.
Para trabalhar e explorar pedagogicamente este campo de experiência, o professor pode explorar diversas abordagens e estratégias pedagógicas, possibilitando brincadeiras lúdicas, explorando os movimentos “gestos, olhares, sons, mímicas com o corpo” a fi m de descobrir diferentes modos para atuar e se expressar no espaço (BRASIL, 2017, p. 41). As brincadeiras podem explorar todas essas potencialidades como rastejar, engatinhar, escorregar, caminhar, saltar, escalar, correr, dar cambalhotas etc.
Na fi gura a seguir há uma representação de brincadeiras que podem explorar diferentes campos de experiência, especialmente ao valorizar os movimentos, concentração, trabalho em grupo, noção de tempo e espaço, o que são habilidades importantes para todo desenvolvimento humano.
FIGURA 7 – BRINCADEIRA QUE PERMITE INTERAÇÕES E ESTIMULA OS MOVIMENTOS CORPORAIS
FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/515521488584904697/>. Acesso em: 11 out. 2020.
Essas brincadeiras, como na fi gura, por exemplo, podem potencializar aprendizagens, o respeito pelo outro, pela diversidade, esperar sua vez, atenção, companheirismo e outras habilidades e competências que são previstas neste campo de experiência, especialmente ao fato de que na Educação Infantil, os conteúdos não devem ser estanques, uma vez que devem ser compreendidos por meio de uma visão interdisciplinar.
O campo de experiência “Traços, sons, cores e formas” tem por objetivo possibilitar para a criança da Educação Infantil conviver com diferentes manifestações “artísticas, culturais, científi cas, locais e universais” (BRASIL, 2017, p. 41). Tais situações devem permear o cotidiano da instituição escolar através de experiências diversas em que as crianças vivenciam diversas formas de expressão da linguagem, por exemplo: a dança, o teatro, a música, o audiovisual, a pintura, a modelagem, colagem, fotografi a e outros, como na Figura 8.
FIGURA 8 – VALORIZAÇÃO DA LINGUAGEM DA DANÇA E DA MÚSICA
FONTE: <https://br.freepik.com/vetores-premium/criancas-dancando-de-hip-hop-e-um-garoto-detem-um-gravador-vintage_3401083.htm>. Acesso em: 11 out. 2020.
Como direito de aprendizagem, as crianças devem vivenciar diferentes tipos de manifestações culturais, de modo que construam sua identidade, diferenciem-se do outro enquanto sujeito ao mesmo tempo que vivem em um ambiente rico em interações sociais.
Já o campo de experiência “Escuta, fala, pensamentos e imaginação”
considera importante a interação desde o nascimento da criança, especialmente pelo fato de os bebês movimentarem seu corpo, olhos, sorriem, choram, de modo que vão ampliando os movimentos e as interações, o que possibilita maior comunicação com adultos e seus pares. É importante destacar que esse progresso acontece à medida que se relacionam com a língua materna e outras manifestações linguísticas, ao falarem, ouvirem, cantarem, vivenciando situações de participação na cultura oral.
As experiências que permitem a criança o contato com a literatura infantil enriquecem esses momentos, o vocabulário; ainda que na Educação Infantil a criança não esteja em um processo direto de alfabetização, ela encontra-se imersa em um ambiente rico em contato com diferentes tipos de gêneros textuais, suporte, o que contribuem de modo signifi cativo ao desenvolvimento pelo gosto da leitura.
FIGURA 9 – O PROFESSOR DEVE PROPORCIONAR MOMENTOS DE LEITURA E CONTATO COM DIFERENTES TIPOS DE TEXTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
FONTE: <https://maespecialista.com.br/livros-itau-2017-leia-para-uma-crianca/>. Acesso em: 11 out. 2020.
A leitura pode ser estimulada em diversos momentos no contexto da Educação Infantil. Quando a instituição escolar não tem um espaço destinado, como uma biblioteca ou cantinho da leitura, o professor pode realizar esses momentos em rodas de leitura, em momentos de conversa, em ambientes externos, em todo momento que achar conveniente, até mesmo sentados em uma praça etc.
O professor pode utilizar contos, fábulas, histórias ilustradas, cantadas, audiovisuais, fantoches, entre tantos outros recursos que podem ser confeccionados e produzidos até mesmo pelas próprias crianças.
O quinto e último campo de experiência, “Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações”, compreende os diferentes espaços em que as crianças estão inseridas, tendo em vista os fenômenos naturais e socioculturais. Sobre esse aspecto, é importante valorizar os espaços que a criança já está inserida, pois desde o seu nascimento, já está inserida em espaços, tempos, contextos, como a rua, bairro, cidade, sua casa, casa da avó, cada de outros familiares, assim como faz relações com o dia, noite, hoje, amanhã, semana, que podem ser explorados nas intervenções pedagógicas no ambiente da Educação Infantil.
Além disso, a criança também apresenta curiosidades acerca de si, do outro, do corpo, dos fenômenos atmosféricos, dos animais, plantas, chuva, vento e diferentes tipos de materiais físicos que manipulam nas inúmeras experiências da vida cotidiana. As relações de parentesco, ou seja, da mesma família, de outras famílias, pessoas que conhecem, vivem juntos, participam do mesmo ambiente, frequentam a mesma igreja, clube e outros que podem se entrelaçar aos demais campos de experiências, trazendo para a prática pedagógica a caraterística da interdisciplinaridade.
Nesse campo apresentado, os conhecimentos matemáticos devem ser abordados, tendo relações com as vivências, aprendizagens, como a contagem, a relação entre unidades, quantidades, dimensões, medidas, formas geométricas,
medidas, comparação, comprimento, comparar distâncias e outros. Assim, a Educação precisa ser um espaço que promova vivências em que as crianças podem observar, manipular, investigar, explorar e buscar, de modo que ampliem a curiosidade e os conhecimentos do mundo físico e sociocultural (BRASIL, 2017).
Na imagem a seguir, apresenta-se a maneira que se estrutura a Educação Infantil de acordo com a Base Nacional Comum Curricular, ou seja, inicialmente o documento apresenta os direitos de aprendizagem, que serão garantidos por meio dos cinco campos de experiência, conforme já mencionado.
FIGURA 10 – ORGANIZAÇÃO PEDAGÓGICA CURRICULAR DA EDUCAÇÃO INFANTIL DE ACORDO COM A BNCC
FONTE: Adaptado de BRASIL (2017).
Para o professor que atua nesta etapa da Educação, é importante o conhecimento de como se estrutura a nova base curricular que organiza a Educação Infantil no Brasil, especialmente pelo fato de trazer mudanças conceituais, na utilização dos termos, direitos de aprendizagem e campos de experiência. Assim, este documento pode ser consultado uma vez que se deseja conhecer as bases legais para elaboração de currículos no Brasil.
As aprendizagens essenciais, defi nidas na BNCC, compreendem comportamentos, habilidades e conhecimentos que promovam a aprendizagem e o desenvolvimento nos diversos campos de experiência, tendo em vista que as interações e brincadeiras constituem o eixo estruturante da prática pedagógica na Educação Infantil. Desta maneira, as aprendizagens constituem-se como objetivos de aprendizagem e desenvolvimento que devem reconhecer as especifi cidades dos diferentes grupos etários que compõem a Educação Infantil.
2 Sobre a organização curricular na Educação Infantil, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) apresenta cinco campos de experiências que devem ser organizados de modo que garantam as aprendizagens essenciais para as crianças da Educação Infantil. Sobre os campos de experiência, o documento estabelece:
a) ( ) Música; Linguagem Oral; Linguagem Escrita; Matemática e Ciências.
b) ( ) Jogos e brincadeiras; Interações e brincadeiras; Língua Portuguesa, Corpo, gesto e movimento e Matemática.
c) ( ) Linguagem Oral e Escrita; Música; Matemática; Artes e Conhecimento de Mundo; O eu, o outro e o nós.
d) ( ) O eu, o outro e o nós; Corpo Gesto e movimento; Traços, sons, cores e formas; Escuta, fala, pensamento e imaginação; Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações.
e) ( ) Jogos lúdicos; Matemática; Artes e Música; Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações; O eu, o outro e o nós.