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Projetos educativos na Educação Infantil

CONSTRUÇÃO E RECONSTRUÇÃO DOS SABERES

4.2 O PROFESSOR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

4.2.1 Projetos educativos na Educação Infantil

O registro, observação, planejamento e avaliação do trabalho pedagógico são instrumentos importantes para a implementação da proposta curricular pedagógica. A ideia de construção de um projeto educativo coletivo é sempre de um processo inacabado, provisório e historicamente contextualizado, tendo em vista que precisa refl etir os desafi os diários da prática do professor e toda comunidade escolar.

Diferentes momentos organizam o cotidiano de uma instituição de Educação Infantil que podem se transformar em oportunidades de aprendizagens: o recebimento, a acolhida, a separação, as refeições, a organização para entrar nas sala de aula, no parque e nos demais espaços, a ida ao banheiro, situações de jogos, organização dos materiais pedagógicos, a utilização de brinquedos, encontros e reencontros, que devem ser parte da proposta pedagógica, de modo que as ações não sejam apenas idealizadas com objetivo de manter a ordem e a calma. Toda atividade no ambiente educacional da Educação Infantil deve ser planejada, projetada para atingir os objetivos pedagógicos do desenvolvimento e das aprendizagens.

Projetos educativos consistem em planejamento de práticas pedagógicas que consideram cada criança em suas características individuais. Pensar em atividades em grupos, situações que estimulem a comunicação, expressão corporal, o pensar, articular diversas áreas do conhecimento, bem como propor uma mistura das idades em contextos extraclasse ou escolar. Os jogos podem caracterizar situações educativas que permitem a construção do conhecimento, utilizando diversos materiais didáticos pedagógicos que permitam a manipulação, o interesse e as descobertas.

Esses materiais são de extrema importância para estimulação e desenvolvimento cognitivo, pois as crianças podem manifestar seus interesses, aptidões, por exemplo, em situações de jogos sociais, jogos motores, atividades que envolvam o raciocínio lógico-matemático, considerando uma organização fl exível para adaptação das atividades de acordo com o desenvolvimento de cada criança.

Em uma perspectiva construtiva, o adulto observa as manifestações de interesse e comportamentos da criança para que compreenda o pensamento e proponha intervenções desafi adoras e signifi cativas. Destaca-se a importância de uma formação consistente por parte do professor, pois ele vai interpretar e elaborar hipóteses de acordo com a concepção teórica que possui. O professor também desempenha um papel ativo ao interpretar as atividades das crianças, estando presente em cada situação (KEFTA, 2011).

A criança quando se depara com algumas difi culdades que possam ser intransponíveis em determinados momentos, o professor pode ajudar, especialmente a construir novas soluções, organizando e propondo novas tarefas.

As atividades lúdicas, por exemplo, a utilização de jogos e brincadeiras são importantes para o processo de desenvolvimento como ferramenta para auxiliar a aprendizagem. Os jogos são tradicionalmente transferidos de geração em geração e tornam o ambiente escolar mais divertido, ao jogar amarelinha, pedrinhas, empinar pipas, correr, pegar, esconder e pular (KISHIMOTO, 2002).

O lúdico na Educação Infantil e anos iniciais deve ser visto como ferramenta didática para tornar as experiências de aprendizagens mais signifi cativas, buscando romper com práticas muito tradicionais que fazem as crianças fi carem sentadas em carteiras enfi leiradas, ouvindo e recebendo informações do professor. A presença dos jogos e brincadeiras no cotidiano escolar torna o ensino e a aprendizagem mais agradável e efi caz, fazendo com que as crianças tenham melhor desempenho, melhorem suas capacidades cognitivas, potencializando habilidades psicomotoras, sociais, de interação e comunicação.

Dito isso, Carvalho (1992, p. 14) pondera que

[...] desde muito cedo o jogo na vida da criança é de fundamental importância, pois quando ela brinca, explora e manuseia tudo aquilo está a sua volta, através de esforços físicos e mentais e sem se sentir coagida pelo adulto, começa a ter sentimentos de liberdade, portanto, dão real valor e atenção as atividades vivenciadas naquele instante.

O professor não apenas repassa informações ou revela caminhos, é algo muito mais amplo e complexo, que consiste em auxiliar na tomada de consciência de si mesmo, do outro e da sociedade. Desse modo, o professor utiliza de várias ferramentas, formas e estratégias para que as crianças possam escolher seus caminhos. O professor, de acordo com RCNEI, é o mediador entre as crianças e os objetos de conhecimento, sendo o organizador de espaços e situações de aprendizagem que articulem com diferentes recursos pedagógicos e capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas nos diferentes campos do conhecimento (BRASIL, 1998).

Para Vygotsky (1998), a utilização de jogos, brincadeiras, histórias e outras estratégias didáticas permitem ao professor desafi ar cognitivamente as crianças, especialmente ao propor situações problemas, em que a criança crie, recrie as regras em diferentes situações de jogos. Kishimoto (2002) destaca que os jogos são motivadores de situações de construção de conhecimentos, gerando prazer nas descobertas; a criação de esquemas mentais estimula o pensamento, a

aquisição de conceitos de tempo, espaço, explorando várias dimensões da personalidade, como exemplo: afetividade, socialização, coordenação motora e cognitiva.

Vale citar o que Antunes (2002, p. 31) afi rma acerca do ato de brincar:

[...] é no ato de brincar que toda criança se apropria da realidade imediata, atribuindo-lhe signifi cado. Em outras palavras, jamais se brinca sem aprender e, caso insista em uma separação, esta série de organizar o que se busca ensinar, escolhendo brincadeiras adequadas para que melhor se aprende.

Os momentos de brincadeira sempre se tornam mais envolventes, signifi cativos e podem até minimizar o cansaço e a fadiga física, explorando diversas habilidades, sobretudo na Educação Infantil. Para Kishimoto (2002), a ludicidade é um fator importante para saúde mental humana, que precisa ser considerada, e necessita de maior atenção para que as expressões do ser se tornem mais genuínas, as relações mais afetivas, tanto com as pessoas como com os objetos.

Para Cunha (2005), as atividades lúdicas permitem uma vivência plena, integrando aspectos do pensamento, ação e sentimentos. Por isso, tais atividades precisam permear os projetos pedagógicos das instituições de Educação Infantil e Ensino Fundamental, especialmente porque são instituições responsáveis pela aprendizagem de conteúdos, conceitos e valores que serão base para construção dos cidadãos e de uma sociedade melhor.

As atividades lúdicas podem envolver diversas maneiras de ensinar e aprender nas instituições escolares: recortar, colar, cantar, dançar, pular, jogar, dramatizar, relaxar, movimentar, realizar atividades rítmicas, em que as crianças aprendem a respeitar as regras, trabalhar em equipe, tomar consciência do certo e errado, bem como dos seus direitos e deveres. Ensinar e aprender dessa maneira, além de divertido, é motivador, desafi ador, especialmente na formação do sujeito para aprender a enfrentar e superar desafi os. Tais relações imbricadas nos momentos lúdicos propiciam amadurecimento emocional que aos poucos vão se constituindo como sujeitos de direito, autônomos, experimentando o mundo ao seu redor e desenvolvendo diversas habilidades enquanto brinca (CUNHA, 2005).

3 A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2017) traz uma nova proposta de organização curricular para a Educação Infantil, propondo cinco campos de experiências. Contudo, o documento base não vem anular os documentos anteriores, como por exemplo o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (RCNEI), Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, e sim reformular as propostas e torná-las mais signifi cativas à realidade educacional brasileira. Desta maneira, podemos afi rmar:

a) ( ) O documento base traz uma nova abordagem de ensino na Educação Infantil, excluxindo a Língua Portuguesa e Matemática dos currículos da Educação Infantil.

b) ( ) A BNCC não tem o compromisso com os saberes acumulados ao longo dos anos pela humanidade, especialmente por ser um documento elaborado em pleno século XXI, com perspectivas de uma Educação para o futuro.

c) ( ) A BNCC é um documento ofi cial para orientar a elaboração de currículos em todo território brasileiro nas etapas da Educação Básica, reforça o que foi determinado pelas Diretrizes Nacionais Curriculares para a Educação, que o eixo do trabalho pedagógico são as interações e brincadeiras.

d) ( ) As interações e brincadeiras não são mais eixos estruturantes do trabalho pedagógico na Educação Infantil, especialmente porque requer novas práticas de ensino, visto as mudanças e transformações tecnológicas.

e) ( ) A BNCC é um documento inovador ao afi rmar os direitos de aprendizagem para a Educação Infantil, destacando as dez competências básicas para o desenvolvimento infantil e os dozes campos de experiências.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Refl etir sobre o currículo da Educação Infantil requer conhecer as bases teóricas e legais que fundamentam as práticas pedagógicas desta etapa da Educação Básica. Assim, é importante lembrar que a Educação Infantil deve ser um espaço de múltiplas interações e que toda ação do professor deve considerar as especifi cidades da criança, a idade, o desenvolvimento cognitivo, afetivo e

Geralmente é nesse espaço escolar que a criança tem seus primeiros contatos com outras pessoas que não são da própria família, portanto, toda proposta de intervenção deve ser feita com intencionalidade, tendo em vista que a criança já está inserida em um ambiente que recebe informações, conhecimentos e saberes que são informais. A escola, nesse sentido, precisa assumir a sua função social de ensinar os conteúdos científi cos, sociais, culturais e os conhecimentos formais que foram produzidos ao longo dos anos pela humanidade.

Produzir a humanidade no outro é função da escola e esta não deve ser negada, especialmente por uma prática pedagógica desqualifi cada e sem intencionalidade. Por isso, é importante compreender a Educação Infantil como espaço de produção de conhecimento, como instituição escolar responsável pela formação integral do sujeito em seus aspectos físicos, psíquicos, sociais e motores. A Educação Infantil é um espaço de inúmeras aprendizagens, de desenvolvimento da criança, da formação do sujeito histórico, de direitos e que produz novos saberes.

A Base Nacional Comum Curricular é o documento balizador de aprendizagens, habilidades e competências que os sujeitos devem ter acesso em todos os anos e etapas da Educação Básica. Assim, organiza a Educação Infantil para que todos aprendam dentro da perspectiva dos cinco campos de experiência.

Ao professor cabe articular sua prática de ensino para que as crianças vivenciem e experimentem diferentes formas de saber, conhecer, ser, brincar, interagir, respeitar, explorar, participar, se expressar, conviver e valorizar as diferenças.

REFERÊNCIAS

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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/

L11274.htm. Acesso em: 10 maio 2020.

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C APÍTULO 3

POLÍTICAS PÚBLICAS DE IMPLEMENTAÇÃO