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Conclusão: Implicações para a educação de ambos os sexos

A modificação dos factores familiares, sociais e culturais responsáveis pe- la diferenciação de género tem escapado aos professores. Contudo, se estes conhecerem melhor os mediadores psicossociais, através dos quais o meio exerce a sua influência, será possível esperar ter alguma capacidade de inter- venção no domínio das diferenças (Reuchlin, 1991, p. 18), nomeadamente no sentido de minorar o papel de algumas das diferenças com impacto mais ne- gativo.

A pedagogia procura fixar objectivos educativos e propor múltiplas vias para os atingir, contudo, nenhum método pedagógico poderá ser “o melhor” para todos os alunos simultaneamente, pois terá sempre efeitos diferentes em crianças e adolescentes com níveis de funcionamento distintos. Assim, a solu- ção será a de usar métodos pedagógicos plurais e estratégias variadas, de mo-

do a que cada aluno possa encontrar nessa pluralidade o que melhor convier ao seu estilo pessoal, podendo também experimentar modos de funcionamento diferentes daqueles que tende a adoptar espontaneamente (Reuchlin, 1991).

A questão de como educar melhor para a transformação social é um de- safio sem respostas fáceis. No entanto, os resultados de inúmeras investiga- ções demonstram que, a par da pluralidade de métodos pedagógicos, é fun- damental, para mulheres e homens, desenvolver ambientes de aprendizagem que enfatizem a ligação entre o ensino e a aprendizagem, em que os alunos tenham a possibilidade de pensar de forma independente e crítica e de che- gar às suas próprias conclusões, isto é, de chegar a reconhecer e a ouvir a sua voz (Tisdell, 1993).

As estratégias de ensino devem incluir actividades de resolução de proble- mas e de investigação, devem diversificar as formas de interacção em aula, criando oportunidades de discussão entre os alunos e fomentando o trabalho de grupo e de projecto (Associação de Professores de Matemática – APM, 1998). Os professores devem procurar utilizar situações de trabalho que unam a teoria à prática e que envolvam contextos diversificados, nomeada- mente pela utilização de experiências que se relacionem com a realidade e com a vida dos alunos, ou seja, as situações e os contextos de aprendizagem devem fazer apelo à reflexão e devem facilitar o envolvimento de todos os alu- nos na aprendizagem, através da manipulação de materiais e do uso flexível dos manuais, como fontes importantes de estimulação da auto-aprendizagem e do espírito crítico dos alunos (APM, 1998; Tisdell, 1993).

A avaliação de conhecimentos, competências, atitudes e valores deve também encontrar formas diversificadas para além dos tradicionais testes, apelando à avaliação formativa, através do registo do desempenho dos alu- nos em vários indicadores ao longo do ano (APM, 1998).

Por sua vez, estando a construção dos curricula eivada de considerações políticas, qualquer material relacionado com grupos minoritários, que seja in- cluído no currículo, deverá analisar a desigualdade nas relações de poder com as minorias, onde não se podem deixar de incluir, ainda, as mulheres (Tisdell, 1993).

Só assim os professores poderão proporcionar a todos os alunos, rapari- gas e rapazes, actividades intelectualmente estimulantes, experiências educati- vas ricas e plenas de significado e conduzir todos à promoção da possibilida- de de exercer uma acção social, presente e futura, mais autónoma, responsável e eficaz.

Finalmente, os educadores deverão também desafiar as suas crenças, re- presentações e teorias implícitas acerca das diferenças e analisar a forma co-

mo estas afectam diariamente a sua acção (Faria, 2002b; Faria e Fontaine, 1993; Tisdell, 1993): tomar consciência do que nos leva a agir de determina- do modo é o primeiro passo para podermos intencionalizar as mudanças que nos são exigidas.

Assim, sabendo que todos nós internalizamos as premissas da cultura e da ideologia dominantes, devemos questionar a forma como isto afecta a nos- sa conduta diária na sala de aula - Quem são os heróis dos exemplos que da- mos na sala de aula? Com quem mantemos contacto ocular? Quem questiona- mos mais frequentemente? A quem prestamos mais atenção? Como avaliamos? (Tisdell, 1993) -, tendo bem claro para nós que a reprodução das desigualdades sociais e sexuais se faz, sobretudo, através de mecanismos in- conscientes, que conseguem manter tudo na mesma, apesar dos discursos de mudança e de mudanças: por isso mesmo, vale a pena este desafio em prol da construção, com cada um de nós, de um percurso social e escolar promo- tor de mais e melhores oportunidades de igualdade entre homens e mulheres.

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COGNITIVE AND MOTIVATIONAL DIFFERENCES BY GENDER: