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Só para constar, diante de várias realidades diferentes, cada qual ocultando-se a seu modo perante meu olhar, eu então via crises.

próprios pareciam anuviar-se, mas ainda são, assim, olhos cheios d’ilusão; você até podia guarnecer-se deles. A carga horária de trabalho é distribuída em ensino, pesquisa e extensão.

Isso é realmente bem distante de sua terral natal.

Você está agora concursado, emprego estável. Você não vai ter mais que aventurar-se dando aulas em cinco ou seis escolas por semana, atingindo até 60 horas de trabalho semanais, manhã, tarde e noite, pé na estrada, praticamente sem tempo para preparar uma aula... Será um novo tempo como professor. Imagine!

Abre a porta pra noite passar E olha o sol

Da manhã Olha a chuva

Olha a chuva, olha o sol, olha o dia a lançar Serpentinas

Serpentinas pelo céu Sete fitas

Coloridas Sete vias Sete vidas Avenidas

Pra qualquer lugar Imagina

Imagines

Recebe-as em suas aulas

Há tempos você não ficava tão ansioso com uma primeira aula, como naquele fevereiro de 2010. As coisas estavam muito diferentes dos inícios anteriores. Por um lado, estava confiante no trabalho que faria com os estagiários; por outro, preocupavam-no o seu próprio modo de estar professor205 naquele

momento e, em consequência, o fato de receber estagiários em suas aulas.

Siely e uma colega o procuraram em meados de novembro de 2009, surpreendendo-o, ao pedir que as recebesse em suas aulas e fosse orientador do TFC no ano seguinte. Sua surpresa devia-se ao fato de ser a primeira vez que recebia um convite e também pelo adiantado do tempo, novembro ainda, quando normalmente essas coisas eram acertadas em janeiro e fevereiro. Siely e sua colega contaram sobre uma banca de TFC que presenciaram – possivelmente de Bruna e Eva – e, por isso, gostariam de trabalhar com você durante o estágio do ano seguinte. A colega de Siely, por algum motivo, acabou não aparecendo no ano seguinte, quando então apareceu Thieza em seu lugar. Portanto, após esse convite, Siely, Thieza e você trabalharam num 9o ano durante o ano de 2010.

Esse reconhecimento entre os graduandos do modo como conduzia o estágio foi muito gratificante e, por outro lado, aumentava a sua responsabilidade. E esse primeiro contato, no qual já indicou leituras e trocaram emails, deixou-o mais tranquilo em relação a já ter alguns encaminhamentos para o ano seguinte e receber uma dupla já com alguma expectativa em relação ao trabalho. Porém, o professor Marquinhos estava mudado. A responsabilidade de ter um filho, de já estar esperando o segundo, as madrugadas mal dormidas, a atenção agora a outros aspectos da vida familiar que, até então, nem imaginava existirem, o fato de voltar a lecionar matemática para um 9o ano, após tanto tempo, faziam-no

diferente.

Como se vê, não era somente o professor que estava mudado, mas... seu pensamento o leva a rememorar em voz alta:

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de eletrônicos que fazia soldas para conectar minha caixa a esse toca discos. Era um lugar minúsculo, típica lojinha da imensa concentração de comerciantes do bairro chamado Setor Campinas, em Goiânia. Cheirava a fio queimado o interior daquele lugar de calor insuportável, em que a entrada de um cliente, ao invés de bem-vinda, parecia até um transtorno. Uma mulher aparentava ter passado o dia ali e velava o sono de um bebê dentro de um carrinho ao seu lado. Não notaria aquele bebê, caso isso se desse alguns meses antes, quando eu ainda não era pai. Mas, naquele então, a cena chocou-me, a ponto de quase fazer vômito, a exposição daquele indefeso naquele ambiente inóspito. Mesmo não entendendo direito o que acontecia, eu já não via as crianças como antes, por isso, aquele 9o ano parecia se encaixar bem na história. Para aquelas

crianças que (re)nasciam, pessoal e profissionalmente falando, passei a olhar de outros pontos de vista.

(Marquinhos, 2009) E, se a vida pessoal trazia novidades, a profissional também. Somente em 2004, quando já era mestre em Educação, você assumiu um cargo de professor na rede estadual de São Paulo, na cidade de Ribeirão Preto. Antes disso, havia trabalhado em escolas particulares, com carga horária baixa. Em Ribeirão, as 40 horas semanais, e até 60 horas durante certo tempo, permitiram experimentar todos os anos do Ensino Fundamental II e Ensino Médio. Mas durou pouco. Abandonou o cargo e foi trabalhar na UNIOESTE206, em agosto de 2005,

lecionando no curso de informática e na licenciatura em matemática dessa universidade. Tratava-se de um contrato de trabalho por um período curto de tempo e, devido a essa transitoriedade, você se lembra de ser um período no qual !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Imagines

participou de alguns concursos públicos. Assim, em agosto de 2006, acabou ingressando no CEPAE e, desde então, tem atuado somente no Ensino Médio. Portanto, em 2010, você se viu outra vez atuando num 9º ano do Ensino do Fundamental, no qual havia trabalhado de forma rápida havia seis anos. Parece pouco tempo, mas em 2004 ainda chamávamos os nonos anos de oitavas séries. E, além de professor, você também se viu agora exercendo o papel de formador de professores, como na UNIOESTE, mas num outro papel agora, que lhe dava um ponto de vista radicalmente outro.

Você se lembra que, desde seu ingresso no CEPAE, em 2006, na primeira turma em que entrou como professor, um 3o ano do Ensino Médio, já havia uma

dupla de estagiários observando suas aulas, anotando sabe-se lá o quê sobre elas207.

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207

– Mas já havia os diários?

– Não como foram os próximos. Alguns estagiários, de fato, anotavam algo sobre as

aulas, mas não vi nenhum fazendo um diário. Havia, claro, aqueles diários de aula tradicionais a

serem preenchidos com a presença dos alunos, o conteúdo ministrado, notas e outras

observações. Ensinei muitos dos estagiários a trabalhar com esses diários, pois, durante a fase da

regência, deixava o preenchimento por conta deles. Havia até o canhoto a ser entregue na

Secretaria do CEPAE ao fim de cada bimestre. Lembro-me do incômodo de carregar aquele

monte de diários, com diversas folhas enfiadas entre as páginas; eram provas, trabalhos de

alunos, bilhetes, fotocópias de questões, até réguas. E, acredite, havia um quebra-cabeça com o

teorema de Pitágoras que vivia em minha mochila, pulando de diário em diário.

– Mas você está sendo bem displicente contando essas coisas de memória!

– Por quê?

– Você poderia fazer uma simples investigação nesse mesmo computador em que você

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