• Nenhum resultado encontrado

mas até nos casos nos quais há apenas uma relativamente curta sessão de entrevista, o informante acaba sendo, ativamente e (sugerimos) conscientemente, um participante colaborativo] [Tradução

minha]

investigação, mas não podia ser coautor no relatório final, pois o TFC tem os estagiários como autores.

Por fim, os estagiários cooperam comigo e, durante a conversa, juntos observamos os registros que ficaram desse passado recente e (re)contamos as histórias do estágio. Hoje, eles cooperam comigo para a realização de minha pesquisa.

Entretanto, tanto ontem como hoje, nosso intuito foi o de compreender a nossa prática, sempre numa busca na qual não existe compreensão definitiva, mas proativa. Na época do estágio, era proativa em relação ao próprio estágio. Agora, é talvez mais proativa para mim, como supervisor, professor, mas também para eles, seja para procurarem se definir ao rever sua história profissional, ou seja para procurarem definir o professor que cada um é hoje, que se tornou. É proativa na construção de nossas identidades.

Por exemplo, os que continuaram em sala de aula, quase sempre, refletiam sobre sua prática atual diante da lembrança do estágio. Essas foram as conversas mais produtivas em relação a esse modo de condução com os trechos dos cadernos: as duplas Daniel e Marciene e Thieza e Siely. Já Bruna e Eva, estagiárias em 2008, nunca exerceram a profissão depois da formatura. A conversa com elas tomou um tom mais nostálgico e prazeroso, rimos muito, mas, muitas vezes, a resposta foi “não lembro” ou, após a leitura de um trecho do caderno, aquilo parecia até novo, e o silêncio perdurava alguns segundos, como se nada ali fosse preciso ser dito.

O primeiro papo agendado foi com Thieza e Siely, em 18/01/2013, às 14h, numa sexta-feira calorenta de Goiânia. Sensação intensificada devido à sala de aula em que estávamos, onde havia um ventilador pouco eficiente, a não ser em

barulhar cortantemente. Levamos a conversa gravada por duas horas e vinte

minutos. Na terça-feira da semana seguinte (22/01/2013), consegui um encontro com Marciene e Daniel, às 17h30, horário em que fica mais tranquilo utilizar a sala da subárea de Matemática, onde tantas vezes nos reunimos para ler os cadernos, para orientar os trabalhos, para pegar materiais, enfim. Saímos de lá depois de finalizado o áudio, que durou duas horas e dezoito minutos. Por fim, no dia seguinte, encontrei Bruna e Eva às 16h30 e também usamos umas das salas de

aula do CEPAE. Mas a sala parecia diferente, pois as carteiras azuis, novas e maiores, davam a sensação de que o CEPAE havia melhorado do tempo delas para cá, como elas mesmas notaram. Mas o ventilador era ainda aquele, o do barulho. Nossa conversa durou uma hora e cinquenta e sete minutos.

Sobre o anonimato e os termos de consentimento, minha primeira ideia era não revelar os nomes deles na tese. Mas, ao começar a escrever as histórias em que figurávamos e lidar com elas no texto e na leitura, soava muito falso o uso de outros nomes. Eles também estranharam isso, ao ler as histórias. Sugeri o uso do primeiro nome verdadeiro de cada um, sem divulgação dos outros nomes. E levei dois termos de aceite90, um autorizando o uso do primeiro nome e outro

autorizando o uso de um codinome.

– Por que não perguntou aos estagiários a história de vida deles, onde e quando nasceram, onde cresceram etc.? Ou sobre a trajetória educacional deles, onde estudaram, quando ingressaram no curso, por que ingressaram no curso? Que lenga-lenga é essa de modo de nomear Marquinhos, de sala calorenta e mais não sei o quê!?91

– Não é que os aspectos biográficos da vida deles não me interessassem. Os aspectos biográficos são importantes, pois eles contariam como temos experienciado as coisas que aconteceram conosco e mostrariam ou não a relevância daquele processo formativo para nossas vidas pessoal e profissional92.

Por isso procurei trazer, aqui e acolá nesta tese, alguma coisa sobre mim mesmo. Mas o fiz porque era a história que eu queria contar aqui, que eu tinha para contar aqui. Não é a história que me demandaram.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

90

Termos de aceite: APÊNDICE D.

91

Resposta alternativa: Sei lá, fale com Darnton:

As variedades mais instigantes e inovadoras da história são as que tentam escavar sob os fatos, para descobrir a condição humana tal como foi vivida por nossos antepassados. Essas variedades podem receber vários nomes: história das mentalidades, história social das idéias, história etnográfica ou apenas história das culturas [...] Seja qual for o rótulo, porém, a pretensão é a mesma: entender o sentido da vida, não numa vã tentativa de dar respostas últimas aos grandes enigmas filosóficos, mas oferecendo acesso a respostas dadas pelos outros, tanto nas rotinas diárias de suas vidas quanto na organização formal de suas idéias [...] (DARNTON apud GARNICA, 1998, p.33)

Com os seis, procurei continuar uma relação honesta, como sempre. Difícil entender isso, não é? Honestidade não é um critério assim muito usado em relações científicas. Mas veja assim: imagine reencontrar um velho conhecido depois de alguns anos. A gente troca abraços e conta o que tem feito, como estão as crianças, quem casou ou descasou, como estão as empreitadas profissionais, o que fez, onde entrou, de onde saiu, quem morreu, quem nasceu etc. De repente você pede a seu amigo: por favor, sente-se aqui e agora me conte como foi a sua educação básica ou como foi a sua infância.

Seria uma peripécia muito discordante. Claro, não sou um velho amigo deles e não procurei, em nenhum momento, colocar-me como alguém que queria somente papear. Mas acontece que eles não eram meus sujeitos de pesquisa na época do estágio, eles eram alunos da graduação, estagiários em minhas classes, parceiros. Muita relação profissional foi construída aí e também alguma pessoal, afinal a profissional é uma relação entre pessoas também. Impossível separar as coisas. Mas o importante é que me portar agora como pesquisador da história de vida deles, da história educacional deles soaria desonesto com nossa relação, seria mudar totalmente minha postura em relação a eles, de um modo abrupto. Eu não estava fazendo jornalismo ou atuando como detetive policial. Eu não era e não sou um pesquisador alheio a tudo que se passou, pois tudo se passou também comigo. Por isso não consigo chamá-los de sujeitos, de elementos, de depoentes, de informantes, de objetos de pesquisa! Eram, e são, pessoas, colaboradores, parceiros, palavras indicativas de uma relação entre pessoas, não coisas.

Se algum aspecto biográfico tivesse que vir à tona, que viesse voluntariamente. Como de fato aconteceu um pouco, cada um contando as novidades de lá pra cá e um ou outro se lembrando de momentos do início de sua escolaridade, de momentos da universidade e até de aspectos familiares e pessoais. Mas eu não fui lá com essa intenção. É por isso que pedi a eles para me ajudarem a contar as histórias do estágio. Se para contá-las alguém se remeteu a aspectos da sua própria história de vida, é porque assim considerou que a história deveria ser contada, assim encadeou o seu enredo. Porque o passado se fez presente diante do que se falava na conversa. Porque o passado mudou, porque o presente está colocando outro olhar sobre ele. Eu posso ter causado isso e estava aberto às

histórias potenciais, mas sempre respeitando o narrador. Busquei que me ajudassem a contar a história, porque isso era sensato pedir, pois eles passaram por essa história junto comigo93. Ou seja, para mim, a narrativa do outro tem que

ser respeitada como a História do outro.

Ciente também de que eles contavam a mim, assim como eu contava a eles. O outro faz parte do conhecimento de si. Não dá para contar uma história a si mesmo, como se fosse um autoconhecimento, isolado, interno. Mesmo na autobiografia, a questão da alteridade aparece. Em Memórias do subsolo, de Dostoiésvski, em que o personagem se diz escrevendo um diário, uma autobiografia, algo que não mostraria a ninguém, o outro grita – é como se tudo fosse escrito para o outro, em função do outro. Bakhtin me ajuda a afirmar isso. Conhecimento de si, mas para o outro, ajudar a contar para o outro a história que vivemos uns com os outros.

Também isso não significa que pesquisas de cunho biográfico seriam desonestas com os sujeitos. Estou pensando especialmente em meu caso. Quando falo em honestidade, penso também em legitimidade, ou seja, por que eu teria legitimidade para, porque doutorando, inquirir a biografia deles e estabelecer !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

93

Goodson e Sikes (2001, p.92-93) fazem um comentário nesse sentido, porém estão a se referir

à “História de Vida” como método de pesquisa. Para eles, a História de Vida requer a ativa

Outline

Documentos relacionados