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2010, ou seja, Thieza e Siely Aula 8 indica que estávamos na altura da 8 a aula do ano de 2010 Ainda, numerei as páginas dos cadernos para ficar mais fácil trabalhar com eles.

Imagines

uma aula com investigação matemática e por ser uma boa maneira de prender a atenção dos alunos.

(Thieza, Caderno 1, Aula 2, 2010, p.5). Esses comentários logo no início foram motivadores para você, talvez até tranquilizadores em relação a ter sido um professor exemplar, porém alguns aspectos ainda incomodavam. Sua expectativa era que elas vissem algo mais. Estão na íntegra os comentários que elas fizeram nesse dia. Como se pode ver, elas relataram nada mais que surpresa. Um pouco isso se deve ao fato de serem os primeiros comentários delas e, por isso, ainda são sucintos. Mas também, você não deixava de pensar, talvez nada mais tivesse saltado aos olhos delas ... e a concepção de aprendizagem envolvida em tal aula? E o papel dos alunos, o papel do professor sobremaneira diferenciado de uma aula expositiva?

Entretanto, o que você faria na terceira aula? Nas aulas vindouras lhe aguardavam as propriedades da potenciação e da radiciação. Que fazer com esse conteúdo normativo?, você angustiava. Optou, então, por aulas mais expositivas, nas quais imperou o paradigma do exercício. Era tudo o que não queria passar como exemplo para as estagiárias. Por isso seu comentário na aula 8, depois de uma sequência de aulas com exercícios e explicações: “Nas próximas aulas, farei uma atividade mais dinâmica...”, é sintomático do que você sentia. A atividade anunciada aí seria com um quebra-cabeças envolvendo o Teorema de Pitágoras. Foi quase como dizer: “Olha, minhas aulas não são assim, não, vai vir coisa melhor”. Talvez elas não tenham tido essa impressão, mas isso é o que você rememora vivamente, ao escrever essas linhas.

Você mesmo disse isso um dia. Quem diria...

Você enfrentou uma barra numa escola da rede estadual de São Paulo, na cidade de Ribeirão Preto. Lembra? Foi praticamente sua primeira vez como professor.

E, se hoje escreve isso até com uma certa tranquilidade, naquela época você vivia uma angústia momentânea, porém incisiva, aguda, ao adentrar em sua primeira turma naquele colégio. Passados uns cinco minutos já, e ninguém havia notado sua entrada naquela quinta série. Talvez um ou outro, mas você se sentia invisível! Um grupinho de meninas se maquiava, ao fundo da sala, e o espelhinho que usavam parecia até refletir o maior sol do mundo direto na sua cara, pois você já não via nada, embora enxergasse. Havia também um baralhinho e uns gritos de truco em algum lugar ao fundo. Possivelmente, devia haver alunos nas primeiras carteiras, mas você não os viu, pois um grupo de meninos, à direita da sala, parecia o mais extravagante, ao arremessar uma carteira para o alto. Nem boa tarde você havia dito ainda. Na verdade, você permanecia calado, parado, encostado na lousa e olhando sério pra eles.

Um velho professor para quem contou que iria começar no estado transmitiu-lhe a sua sabedoria: entre, cumprimente-os, coloque suas coisas sobre a mesa, olhe atentamente para todos e aguarde o silêncio, sem precisar dizer uma palavra. Se o silêncio não vier, reforce o olhar, encoste-se na lousa e cruze os braços ... é infalível.

Precisa reencontrar-se com esse professor, pois realmente a técnica é infalível, usou-a milhões de vezes perfeitamente, com exceção daquela quinta série. Agachou-se. Sim, de cócoras. Talvez aí, sim, alguém lhe desse atenção, achando que estivesse botando um ovo ou sei lá. Kabrummm!!!!! Mágica? Não. Uma estante de ferro encostada no canto direito cai abruptamente sobre um pequeno garoto que parecia, agora, deitado, desmaiado! Das cócoras pra corrida, rapidamente levantou o armário e chamou o menino, preocupado com ferimentos. Risos. De quem? Do garotinho... havia adorado o kabrummm! Ia perguntar quem

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havia derrubado aquilo, mas escutou uma porta se abrir e apenas viu o vulto de uns três ou quatro alunos fugindo da sala para o corredor.

Kabrummm! Esse último você sente até hoje arder em sua mão direita, devido ao som seco e oco do veloz encontro de sua mão com a mesa do professor. Você se viu “tentando calcular que região subasiática remota estaria ao maior número possível de quilômetros de distância daquele ponto preciso naquele momento preciso”212. Pôde começar a aula. Não comentou um A – qualquer que

fosse A, se é que existisse um A tal que explicasse alguma coisa – sobre a sequência de fatos, nem se importou com os que haviam saído da sala. Os alunos esperavam algo de você e ouviram: “Sistema de numeração: vamos ver um pouquinho da história”. Copiou algumas páginas do livro do Dante213 na lousa, e

os alunos apressaram-se a copiar. Nem você acreditava. Seguiram mais ou menos assim até o final. Nunca mais boto o pé numa sala de aula!, jurou a você mesmo.

No dia seguinte, pôde começar a aula naquela quinta série, mas nunca o ensino e a aprendizagem como gostaria. “É, você pegou a pior quinta série da

escola”, disse-lhe o coordenador.

Talvez seja o mesmo coordenador genérico que disse isso a Marciene. Em toda escola deve haver um alguém que diz isso aos novatos. “E como foi?”, perguntou a ela. “Foi a maior decepção da minha vida”.

Ma – Cheguei lá cheia de vontade de trabalhar, igual como vim

aqui. Mas, quando cheguei lá... foi tudo inútil. Nem apagador para todo mundo havia disponível, tinha que chegar primeiro para pegar um! [risos].

M – E em qual ano você lecionou?

Ma– Ensino médio: primeiro, segundo e terceiro ano. Desde

quando eu comecei, no primeiro mês, eu falei: “Vou pedir exoneração!” O pessoal me respondia: “Não, você está

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 212 David Foster Wallace, em Graça infinita (2014).

213

O autor é Luiz Roberto Dante. Possivelmente, a coleção que eu usava na época é uma que

ainda tenho aqui em casa, intitulada Tudo é Matemática. A Professora usava essa coleção

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