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Imagines

As perguntas de Siely em relação aos alunos bem que podiam ter sido feitas por você; tanto em relação aos alunos como aos grandões lá do fundo.

Contudo, essa primeira impressão de ter suas aulas observadas o leva a pensar:

Meus alunos nessa escola serão os jovens do Ensino Fundamental e Médio... vou ensinar matemática a eles... mas, e esses grandões? Vou ensinar a ensinar? Nossa! Ensino Fundamental, Ensino Médio, Ensino Superior... Crianças e jovens da educação básica, adultos estudantes de licenciatura... Conteúdo matemático, ensino de matemática, educação matemática, formação de professores... Lidar com o processo de aprendizagem da matemática dos alunos e lidar com o processo de aprender a ser a professor. Ver os alunos, ver os licenciandos. Quanta coisa pra ver! Eles pensam o quê... que eu tenho uma SUPER VISÃO? É isso?!

(VOCÊ, 2015221)

Supervisão... Você já ouviu essa palavra antes, está dormindo em sua memória222... Visão minuciosa? Inspeção? Você se lembra da figura do Inspetor.

No seu tempo, já era o Inspetor de Alunos, o bedel; aquele cara chato que não te deixava cabular aula, nem permitira “uns três ou quatro alunos fugindo da sala !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

221

2015? Não, não... talvez o ano seja o mesmo da data da leitura.

222

Paráfrase de um trecho da música “I’m a rock”, de Paul Simon:

Don't talk of love,

But I've heard the words before; It's sleeping in my memory.

I won't disturb the slumber of feelings that have died. If I never loved I never would have cried.

I am a rock, I am an island

80 e 90, quando você fez sua Educação Básica no interior do estado de São Paulo. Entretanto, em 1931, a Reforma Francisco de Campos já falava da figura do Inspetor Escolar, donde parece ter surgido o Supervisor Escolar223. E, em 1961, a

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional224 define até a formação do

inspetor de ensino e do orientador educacional. Era o fiscal, mais relacionado à parte administrativa que à pedagógica225.

Mas, na sua época, no estado de São Paulo, a palavra Supervisão era bastante usada. Você se lembra de como o termo causava uma certa apreensão por parte dos professores e administradores, o supervisor vem aí... Você pensa: Nunca entendi aquelas janelas de vidro nas portas das salas de aulas... se uma das funções da porta é fechar, obstruir a luz, escurecer, silenciar, que cargas d’água faz uma janela nela? “É a Portela”, brincava um, mesclando porta com janela. “É

pra deixar a sala mais clara”, falava outro. Uma sala, daquele tamanho, mais clara

por causa daquela janelinha!? Além do mais, havia as janelas janelas mesmo, com persianas, grandes, funcionais. Aquela janelinha de vidro na porta da sala de aula só devia servir para espiar com super visão! Naqueles idos oitenta de redemocratização, bom... super visões eram bem vistas somente no Super Homem. Não havia nada de subversivo naquelas janelinhas. Digo isso por que “Janela” parece ter uma conotação, assim, libertária... abrir-se e ver o mundo. Mas não aquelas janelinhas portáteis.

O provável habitante daquela janela, no estado de São Paulo daquela época, era o Supervisor de Ensino, alocado nas Regionais de Ensino paulistas. Parece que isso era diferente em outros estados226, até mais interessante e com caráter mais

pedagógico. Contudo, para mim, isso não fazia diferença, pois a supervisão que conheci era a do Super Homem e a do cara da janelinha, raramente visto, mas se fazia presente o ano inteiro como a face que melhor se enquadraria ali para dar

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 223 Silva (2005)

224 Lei n. 4024/61, disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1960-1969/lei-4024-20-dezembro-1961-353722-publicacaooriginal-1-

pl.html.

225 Saviani (apud SILVA, 2005) 226 Silva (2005)

Imagines

uma espiadela na aula. Outras faces tentavam se enquadrar, como a do coordenador e do diretor, mas não com tanto sucesso.

Você deveria inspecionar alguém? Examinar o estágio de alguém? Você deveria dar pitacos nas aulas deles? E se os alunos não lhe derem trégua? E se os alunos preferissem eles a mim? E eles, poderiam ou deveriam me dizer alguma coisa? Poderiam eles ajudar os alunos? Deveria eu dar-lhes alguma função específica? Seria abuso meu pedir-lhes para averiguar se os alunos fizeram a tarefa? Poderiam eles escolher qual parte do programa ministrariam? Poderia eu indicar qual parte do programa eles deveriam ministrar? Pairavam muitas dúvidas em você. Pois sua posição tinha mais relação com a de um coordenador pedagógico do que com isso de supervisão. Porque é que eles me chamam de supervisor?, você se perguntava.227 Poderia chamá-los pra participar de nosso planejamento? Quero,

dizer, eles teriam carga horária para isso? Eles poderiam aceitar isso? Seria interessante, se eles pudessem discutir como seria o plano daquela disciplina? E se eles sugerissem coisas que eu não tivesse ideia de como realizar? Sei lá, as coisas mudam muito rápido, daí eles vão querer trabalhar com softwares e outras tecnologias dessa monta... e eu, o que faria? Bom, eu sou da década de 80, né... eu não conseguiria aprender com eles? Saberiam eles trabalhar com bons problemas e com investigação matemática? Será que eu poderia ensiná-los, talvez até fazer juntos? E o que acontece, se os alunos nos surpreenderem e percebermos a necessidade de mudar o planejamento? Serei eu a decidir? (“Vocês agora vão

lecionar isso e isso e eu aquilo e aquilo... vão trabalhar nessas dificuldades dos alunos e tal e tal.. e isso e aquilo...”) Será que poderíamos pensar essas coisas

juntos? Será que poderíamos estudar juntos? Seria possível estabelecer uma relação em que pudéssemos ajudar uns aos outros?

Esses questionamentos te levavam a um supervisor bem distante daquele que você havia alimentado durante anos em sua memória. “Por que cargas d’água

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

227

Eu não fui atrás disso, de ver como o termo chegou assim aí em Goiânia, no Instituto de

Matemática e Estatística, na UFG, no CEPAE, enfim. Como se deu isso dentro do estado de

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