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Capítulo IV: Construção da Problemática e Opções Metodológicas

4.2 Constituição do corpus de análise

Com a intencionalidade geral de perceber o modo como a INO foi interpretada nos média e em particular na imprensa escrita, tomou-se como objeto da pesquisa os textos do género jornalístico de caráter informativo, como a notícia ou a notícia breve e a reportagem, e de caráter opinativo como os editoriais, os artigos de opinião e as cartas do leitor ou ao director/a, e os comentários

online90, publicados entre 2005 e 2013, em torno do tema INO, pelos seguintes jornais: (a)

PÚBLICO, diário que se enquadra nos jornais de referência em Portugal (Faustino, 2004)91; (b)

Correio da Manhã, diário de imprensa popular (Faustino, 2004, p. 73) com maior tiragem em

Portugal92; e (c) Expresso, semanário de referência93 em Portugal.

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Alguns comentários feitos pelos leitores às notícias são reproduzidos na publicação em papel e foram integrados no nosso corpus.

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De acordo com este autor, “o jornal Público posicionou-se durante alguns anos como o diário de circulação nacional líder junto dos leitores de classe A/B” (p. 180), tendo como “mais direto concorrente” (p. 89) o Diário de Notícias que se dirige a um perfil de leitores “mais ou menos semelhante” (p. 133).

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Segundo os “Indicadores Anuário da Comunicação” publicado pela OberCom (http://www.obercom.pt/

client/?newsId=12&fileName=imprensa_11_12.pdf, consultado em 29.09.2013)

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Barriga (2007, p. 32) caracteriza da seguinte forma a imprensa de referência portuguesa: “[…] persegue o seu papel tradicional: interessar-se por temas políticos; privilegiar, de entre os géneros jornalísticos, os comentários e os estudos, a reflexão; ter critérios distintivos, ao nível do estilo, a sobriedade e o distanciamento”

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105 Maria Benedita Portugal e Melo (2009, p. 112) realça o facto de a imprensa continuar a “constituir um importante meio para a formação de uma ‘opinião pública’” e “potenciar a prática da reflexividade social” pois, na sua opinião,

o campo da imprensa escrita constitui, pois, um espaço simbólico de debate onde um conjunto mais ou menos alargado de actores sociais, detentores de poderes simbólicos distintos, competindo entre si na produção de opiniões passíveis de serem consideradas as mais legítimas, constroem e difundem determinadas representações da realidade a partir de um conjunto de valores ideológicos, que se complementam ou sobrepõem aos valores que os indivíduos constroem no decurso das suas realidades ‘vividas’. (p. 133)

Nesta ordem de ideias, a opção pela imprensa escrita prende-se com um conjunto de fatores, de entre os quais se sublinham os seguintes: (a) a imprensa escrita reforça o vínculo existente entre o sujeito e a sociedade (Wolf, 1985/2009); (b) a leitura de um jornal implica a seleção da informação e responde a uma necessidade da pessoa, predispondo-a para uma receção ativa, e, neste sentido, promove a reflexividade (Wolf, 1985/2009); (c) os indivíduos têm um controlo razoável sobre o meio de comunicação, na medida em que podem gerir com eficiência a leitura dos artigos que selecionam, favorecendo assim a prática reflexiva e, por conseguinte controlar também a própria representação da realidade (Collins, Abelson, Pyman, & Lavis, 2006); (d) a imprensa jornalística tem a capacidade para determinar o perfil alto da agenda, ou seja, tem perícia para focar temas e assuntos precisos, delimitados, e estabelecer uma ordem do dia hierarquizada, em conformidade com a hipótese do agenda-setting (Wolf, 1985/2009); (e) na hipótese de a informação escrita se organizar em torno da memória dos acontecimentos, a imprensa pode ter um papel acentuado na informação tematizada que amplia a notícia, contextualizando-a e aprofundando-a (Wolf, 1985/2009); (f) a imprensa de referência, continua a “sugestionar fortemente os outros media”, particularmente em questões de política, e tem capacidade de influenciar a agenda decisional (Barriga, 2007, p. 30); e, por último, mas sem pretender esgotar os motivos que levaram a tomar a opção pela imprensa escrita, destaca-se um fator assinalado por Bekkers, Beunders, Edwards, e Moody (2011) que se relaciona com (g) o papel importante que a imprensa escrita exerce na mediação dos protestos políticos, ao ampliar e estimular a mobilização social em torno de assuntos que despoletam ou decorrem nas redes sociais de comunicação horizontal, atraindo novos grupos para as causas e, consequentemente, propiciando a abertura de “policy window”.

Segundo Bourdieu (1998) a informação circula circularmente, cabendo aos jornais de maior prestígio definir o que é notícia, aspeto que, em parte, justifica também o facto de “journalistic products are much more alike than is generally thought” (Bourdieu, 1998, p. 23). Ora, sendo o

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PÚBLICO e o Expresso considerados jornais generalistas de referência, esta característica confere- lhes um significativo capital simbólico que aumenta a sua capacidade de influenciar a restante imprensa. M. Melo vai até um pouco mais longe na influência que os jornais de referência têm sobre outros média; segundo esta autora, “a imprensa escrita, nomeadamente a que possui um capital simbólico mais elevado no interior do campo jornalístico, influencia também a agenda noticiosa da televisão” (Melo, M., 2009, p. 113), residindo neste aspeto um motivo que reforça a opção por dois jornais de referência.

Tendo à partida a seleção dos jornais sido limitada aos jornais generalistas com publicações ininterruptas entre 2005 e 2013, procurou-se também que a diversidade abarcasse o critério do perfil de leitor. Segundo a fonte de dados Media Facts, Tempo OMD, utilizada por Faustino (2004, pp. 64, 65), em 2004 os jornais Expresso e Público já se encontravam entre os mais lidos pela classe alta (A/B), enquanto o jornal Correio da Manhã se situava entre os mais lidos por parte das classes média, média baixa e baixa (C1/C2/D)94. Assim, na escolha efetuada dos três jornais conseguiu-se a diversidade procurada em termos de idade e de classe social95 dos leitores;

A pesquisa incidiu sobre uma amostragem recolhida principalmente do caderno principal de cada um dos três jornais, publicados entre 1 de janeiro de 2005 e 31 de dezembro de 2013. Assim, do corpus de análise fazem parte todos os artigos que abordam a INO, no âmbito das tipologias atrás referidas, os quais foram publicados: (a) semanalmente, pelo semanário Expresso; (b) nos dias de número par, pelo jornal Público; (c) nos dias ímpares, pelo Correio da Manhã96; e (d) ainda um número reduzido de artigos que foi publicado noutros dias ou num suplemento destes jornais e que se consideraram particularmente relevantes para o estudo; por exemplo, uma entrevista em profundidade sobre a INO, uma reportagem ou artigo de opinião que versa especificamente o tema e que, em alguns casos, foram anunciados no caderno principal; assim, os respetivos textos foram incorporados no corpus de pesquisa a título extraordinário97 (Anexo A). O facto de se ter recorrido a uma recolha de artigos publicados num dos diários em dias pares e no outro diário em dias ímpares permitiu ter uma visão integral das publicações em cada um dos dias do período temporal

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Apesar destes dados contarem já com alguns anos, a realidade na segunda metade da primeira década deste século pode não ser muito diferente; a Internet veio abrir portas a novos leitores e intervenientes no espaço público e qualquer destes jornais, desde meados dos anos 1990, apostou bastante numa presença na Web. Por exemplo, em 2005, o Público.pt e o Correio da Manhã eram os únicos a disponibilizar um sistema de comentários às notícias publicadas (Silva, A., 2006).

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Veja-se, por exemplo, “Indicadores Anuário da Comunicação” edições OberCom, acessível em http:// www.obercom.pt/client/?newsId=12&fileName=imprensa_11_12.pdf

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Não se consultaram as edições do Correio da Manhã correspondentes aos dias 15.10.2005, 25.02.2007, 03.06.2007, 03.07.2007 e 11.08.2007 por não constarem do arquivo da Biblioteca Nacional, local onde se efetuou a recolha de dados deste jornal.

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Está-se a referir a 15 artigos do PÚBLICO—cinco deles publicados no mesmo dia (07.07.2010)—e três artigos do Correio da Manhã. Na totalidade, a pesquisa foi feita em 1625 edições do PÚBLICO, 1679 edições do Correio da Manhã e 468 edições do Expresso.

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107 estabelecido; simultaneamente possibilitou diversificar os dias da semana, de maneira a que os artigos do corpus recolhidos do Correio da Manhã ou do PÚBLICO não dissessem respeito a publicações de cada jornal sempre nos mesmos dias da semana; pelo contrário, contemplam os vários dias da semana, permitindo abranger as diversas rubricas e autores que, por vezes, têm um dia fixado para divulgação desses artigos, como acontece por exemplo com os artigos de opinião de determinados comentadores regulares que, por norma, são publicados em cada jornal no mesmo dia da semana.

A pesquisa dos artigos no interior de cada jornal foi efetuada da seguinte forma:

─ No PÚBLICO, a pesquisa foi feita nos jornais em PDF, os quais constam do acervo electrónico do jornal (http://www.publico.pt/jornal)98, usando como motor de pesquisa a expressão “Novas Oportunidades”;

─ No jornal Expresso, a pesquisa foi solicitada à GESCO – Gestão de Conteúdos e Meios de Comunicação Social, com base em informação fornecida sobre o objetivo da pesquisa e subordinada à expressão “Novas Oportunidades”99. Este procedimento deveu-se ao facto deste semanário, no período de 2005 a 2013, só estar acessível para consulta do público em papel;

─ No jornal Correio da Manhã, face à inexistência ou indisponibilidade para consulta ao público à data da pesquisa do acervo eletrónico do jornal e da fraca funcionalidade do motor de pesquisa do seu site, a pesquisa foi feita em papel, mediante consulta do arquivo existente na Biblioteca Nacional. Na realização da pesquisa utilizou-se a mesma expressão (“Novas oportunidades”) e deu-se a máxima atenção durante todo o processo de pesquisa de modo a não enviesar a recolha de dados; aspeto que, em boa verdade, acabou por se revelar menos complexo do que à partida se fazia crer, pois este jornal tem uma estrutura simples e previsível que permaneceu sensivelmente igual entre 2005 e 2013.

Apesar de no Correio da Manhã e no PÚBLICO se terem identificado vários artigos que versam medidas da INO sem contudo recorrerem à expressão “Novas Oportunidades” (por exemplo, conteúdos respeitantes a cursos profissionais ou a aspetos da educação e formação de adultos), optou-se por não os integrar no corpus de pesquisa, pois considerou-se que esta foi uma opção ponderada pelo seu autor ou pelo jornal que decidiu não associar o seu conteúdo à INO. Este aspecto será também alvo de reflexão da nossa parte.

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Atualmente acessível aos assinantes do jornal digital.

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Este pedido foi formulado em setembro de 2013, pelo que nos restantes meses posteriores à pesquisa efetuada pela GESCO (outubro, novembro e dezembro de 2013) a consulta foi efetuada por nós recorrendo às publicações impressas.

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