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Capítulo V: As Vozes dos Agentes e os Contextos de Produção

5.1 Panorâmica geral sobre os dados recolhidos

Dos 368 artigos recolhidos, a maioria, 218 (59,24%), foi publicada pelo jornal Público; 77 (20,92%) artigos foram publicados pelo Correio da Manhã e 73 (19,84%) pelo Expresso. Ainda assim, o Expresso parece ter sido, de entre os três jornais, o que, proporcionalmente, maior importância deu à INO103. A Tabela 5.1 apresenta a respetiva distribuição por género jornalístico e jornal.

Tabela 5.1: Número de textos por jornal e por género jornalístico

Género jornalístico PÚBLICO C.M. Expresso Totais

Notícia Breve/Notícia/Reportagem 148 57 38 243

Opinião (opinion makers)/ Entrevistas104 51 9 27 87

Cartas (leitores) 19 11 8 38

Totais 218 77 73 368

103

Considerando o número de edições de cada jornal em que a pesquisa incidiu encontramos a seguinte relação respeitante às razões entre o número de textos recolhidos e o número de edições pesquisadas por jornal: 73 468(Expresso) > 218 1625(PÚBLICO) > 77 1679(Correio da Manhã) 104

Do corpus de pesquisa fazem parte 14 entrevistas: duas publicadas no Correio da Manhã, cinco no Expresso e sete no PÚBLICO (Veja-se anexo A). A única que versa a INO como assunto principal foi da responsabilidade do PÚBLICO.

As Vozes dos Agentes e os Contextos de Produção 118 67,9% 23,4% 8,7% 74,0% 11,7% 14,3% 52,1% 37,0% 11,0%

Notícia/Reportagem Opinião (opinion makers/comentadores) e entrevistas Cartas (leitores) PÚBLICO Correio da Manhã Expresso

Os géneros notícia e reportagem constituem a maior parte (66,0%) dos artigos que integram o corpus de pesquisa, registando-se no Correio da Manhã a maior percentagem (74%); apesar das notícias e reportagens corresponderem à maior parte das publicações que se encontraram no Expresso em torno da INO (52,1%), esse valor é o menor dos três jornais (veja Gráfico 5.1). Por sua vez, o Correio da Manhã foi o jornal que contribuiu com uma maior percentagem de cartas de leitores, ou seja, 14,3% dos artigos deste jornal são da autoria de leitores, ao passo que nos jornais Público e Expresso esses valores são 8,7% e 11,0%, respetivamente. Por outro lado, o Correio da Manhã foi o que menos publicou artigos de opinião em torno da INO, e o que mais privilegiou a publicação de artigos do género notícia (apenas um artigo é do género reportagem).

Gráfico 5.1: Percentagem de artigos que integram o corpus de pesquisa publicados por género dentro de cada jornal

O Expresso, em relação ao total de artigos que publicou em torno da INO, foi o jornal que apresentou um maior peso (37,0%) de artigos de opinião quer de opinion makers quer de atores entrevistados; estes dados parecem refletir a tendência que os leitores do Expresso vinham manifestando desde 2002: “No ‘Expresso’ as páginas de opinião são as mais lidas, […], de acordo com os dados do Bareme Imprensa da Marktest, de Julho de 2002” (Barriga, 2007, p. 23). Contudo, estes artigos constituem apenas 31,0% do número total de artigos de opinião (incluindo as entrevistas concedidas aos jornalistas, regra geral, por figuras públicas) que integraram o corpus; 58,6% dos artigos destes dois géneros pertencem ao PÚBLICO (incluindo-se também os editoriais) e apenas 10,3% foram publicados no Correio da Manhã.

Os artigos de opinião exclusivamente de opinion makers (ou seja, as designadas colunas de opinião) do Expresso que foram publicados em 2011 e 2012 perfazem mais de 50% (exatamente 63,6%), à semelhança do que sucedeu no Correio da Manhã, embora neste jornal a concentração nesse mesmo período—que coincidiu com a fase de transição de legislatura e início da governação do XIX Governo Constitucional—tenha sido maior (85,7%), mas menos significativa em valor absoluto; já os opinion makers no PÚBLICO mantiveram o assunto em agenda de forma mais regular entre 2007 e 2013 (veja Gráfico 5.2).

As Vozes dos Agentes e os Contextos de Produção

119 Gráfico 5.2: Número de artigos de opinião exclusivamente de opinion makers que

integraram o corpus de pesquisa, publicados por ano em cada jornal

De entre os atores que na qualidade de opinion makers argumentaram, em maior ou menor profundidade sobre a INO, no espaço reservado ao efeito por estes jornais, encontra-se um conjunto personalidades bem conhecidas do público português. Assim, assinam artigos de opinião pelo PÚBLICO Ana Benavente (secretária de Estado da Educação nos XII e XIII Governos Constitucionais105), António Barreto (ministro do Comércio e Turismo do VI Governo provisório e ministro da Agricultura e Pescas no I Governo Constitucional), António Correia de Campos (ministro da Saúde no XVII Governo), António José Seguro (Secretário-geral do PS entre 2011 e 2014, deputado ao Parlamento Europeu entre 1999 e 2001, ministro Adjunto do Primeiro ministro do XIV Governo Constitucional entre 2001 e 2002), Carlos Zorrinho (Coordenador do PT), Graça Franco (jornalista), Helena Matos (jornalista), Hugo Mendes (sociólogo), João Sebastião (académico), Jorge Moreira da Silva (ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia do XIX Governo), José Pacheco Pereira (deputado pelo PSD em quaro legislaturas), Luís Capucha (presidente da ANQ), Luís Vidigal (docente do ensino superior Politécnico), Rui Baptista (professor e co-autor do blogue "De Rerum Natura"), Rui Fiolhais (gestor do POPH), S. José Almeida (jornalista), Santana Castilho (professor do ensino superior) e Vital Moreira (deputado à Assembleia Constituinte entre 1975-1976, deputado à Assembleia da República de 1976 a 1982 e de 1996 a 1997, deputado ao Parlamento Europeu entre 2009 e 2014).

Assinam artigos de opinião pelo Correio da Manhã (C.M.) Emídio Rangel (jornalista), Eduardo Cabrita (deputado pelo PS), José Eduardo Moniz (jornalista), Leonardo Ralha (jornalista, repórter), Mário Nogueira (secretário-geral da Federação Nacional de Professores) e Pereira Coutinho (jornalista, escritor, historiador). O corpus de pesquisa integra ainda, pelo Expresso, um artigo de opinião de grupo, António Carrapatoso (empresário, membro da comissão instaladora do

105

Não se pretende definir um perfil completo de cada opinion maker; o objetivo é situar cada um destes protagonistas em função do lugar que ocupam no “jogo político”, ou do “chapéu” que utilizam quando assinam o artigo, pelo que, sempre que possível, privilegiou-se o perfil político.

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Público Correio da Manhã Expresso

As Vozes dos Agentes e os Contextos de Produção

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movimento Compromisso Portugal), Joaquim Goes (ex. administrador do Banco Espírito Santo) e Rui Ramos (historiador), e outros artigos de opinião de Cristina Figueiredo (jornalista), Daniel Oliveira (jornalista), Fernando Marinha (jornalista), Maria de Lurdes Rodrigues (ministra da Educação do XVII Governo Constitucional), Mário Crespo (jornalista, repórter), Miguel Sousa Tavares (jornalista), Pedro Adão e Silva (sociólogo, académico), Poul Nyrup Rasmussen (presidente do Partido Socialista Europeu e antigo Primeiro-ministro da Dinamarca) e José Vieira da Silva (ministro do Trabalho e da Solidariedade Social no XVII Governo Constitucional, ministro da Economia, Inovação e Desenvolvimento no XVIII Governo), de Ricardo Costa (jornalista e diretor do Expresso), Roberto Carneiro (secretário de Estado da Educação do VI Governo Constitucional, secretário de Estado da Administração Regional e Local no VIII Governo Constitucional, ministro da Educação no XI Governo Constitucional), e Valter Lemos (secretário da Estado da Educação do XVII Governo). Desta longa lista verificamos que, salvo uma ou outra exceção, alguns destes atores ocupavam ou já haviam ocupado cargos de elevada responsabilidade em instituições públicas, em governos, partidos políticos ou nos meios de comunicação social e, de um modo geral, intervêm no espaço público nestes e noutros jornais, na televisão e na rádio, com maior ou menor regularidade, sobre uma diversidade de assuntos que consideram ser do interesse público.

A INO foi uma política que se manteve em discussão no espaço público durante os anos em que o programa esteve em vigor (veja Gráfico 5.3). Em 2009 e 2011 localizam-se os anos de maior incidência de artigos sobre o assunto, os quais coincidem com duas mudanças de legislatura.

O número de artigos publicados na vizinhança do processo eleitoral relativo às eleições legislativas que tiveram lugar a 5 de junho de 2011 é bastante significativo da importância política atribuída à INO. Dos 65 artigos publicados em 2011, cerca de metade 50,8%, situaram-se em maio e junho. À partida poderemos estar perante uma situação designada metaforicamente por janela de

oportunidade (Kingdon, 2011), contudo é prematuro decidirmo-nos por esta hipótese pois só

perante uma análise do tipo de artigos, notícia ou opinião, quer dos seus autores e do conteúdo dos mesmos poderemos retirar alguma conclusão para além da evidência que mostra que a INO foi tema de debate durante o período de propaganda eleitoral.

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121 Gráfico 5.3: Visibilidade dada à INO por cada jornal e pelo conjunto dos três jornais, com destaque para

o período correspondente à vizinhança de 5 de junho, data das eleições legislativas de 2011.

Como atrás se referiu, muitos destes artigos ou versam a INO pontualmente ou são de tamanho bastante reduzido. A estes foi aplicada uma análise de conteúdo, ao passo que a análise dos restantes foi feita mediante o método de análise do discurso. As Tabela 5.2 e 5.3 mostram o número de artigos, por género e por jornal, a que foi aplicado cada um dos métodos de análise.

Tabela 5.2: Número de artigos que foram analisados mediante o método de análise do discurso, distribuídos por jornal e por género jornalístico

Método de Análise Género jornalístico PÚBLICO C.M. Expresso Totais

Análise do discurso

Notícia/Reportagem 65 20 11 96

Opinião (opinion makers)/

Editorial/Entrevista 11 1 6 18

Cartas (leitores) 12 0 0 12

As Vozes dos Agentes e os Contextos de Produção

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Tabela 5.3: Número de artigos que foram analisados mediante o método de análise de conteúdo, distribuídos por jornal e género jornalístico

Método de Análise Género jornalístico PÚBLICO C.M. Expresso Totais

Análise de conteúdo106 Notícia/Notícia breve/Reportagem 83 37 27 147 Opinião (opinion makers)/Entrevista 40 8 21 69 Cartas (leitores) 7 11 8 26 Totais parciais 130 56 56 242