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Capítulo V: As Vozes dos Agentes e os Contextos de Produção

5.4 Os textos dos jornalistas em torno da INO: A notícia e a reportagem

5.4.3 A INO no jornal Público

Integram o corpus de pesquisa 65 notícias e reportagens, sobre assuntos em torno da INO e com uma dimensão não inferior a 150 palavras, publicadas no PÚBLICO entre 2005 2013. Dos 65 artigos, 55 são do género jornalístico notícia, seis são reportagens e quatro são artigos que contêm as duas componentes (veja Tabela 5.19). Contrariamente ao que sucedeu no semanário Expresso, este jornal manteve uma atenção relativamente regular a este tema. Registam-se apenas dois anos, 2007 e 2012, com maior número de publicações, 13 e 10 artigos, respetivamente.

Tabela 5.19: Número de artigos do corpus de pesquisa por tipo jornalístico e ano de publicação

Ano Notícia Reportagem Notícia e

Reportagem Total 2005 3 0 1 4 2006 3 0 0 3 2007 11 0 2 13 2008 7 1 0 8 2009 5 2 0 7 2010 2 2 1 5 2011 8 0 0 8 2012 9 1 0 10 2013 7 0 0 7 Total 55 6 4 65

Os 65 artigos foram escritos por 31 autores. Dois artigos não estão assinados, 11 são da autoria da jornalista Clara Viana e 10 de Isabel Leiria. Esta última jornalista a partir de 2009 começou a publicar com regularidade artigos sobre Educação no Semanário Expresso, deixando de o fazer no PÚBLICO. Clara Viana escreveu ainda um outro artigo, também do género notícia, em parceria com Graça Barbosa Ribeiro, a qual assinou quatro artigos. O corpus desta pesquisa inclui também quatro artigos da agência Lusa e três da jornalista Bárbara Wong. As reportagens são da autoria de Isabel Leiria (24.08.2008), André Jegundo (07.07.2010), Natália Faria (05.09.2010), João Pedro Pereira (08.02.2009), Maria Antónia Zacarias (08.02.2009) e Ana Cristina Pereira (08.09.201). Veja-se a Tabela 5.25, no final da secção, onde se apresentam sucintamente os descritores de superfície, a organização estrutural e os temas/objetos centrais destes 65 artigos.

Quarenta e três artigos (66%) foram publicados na secção Portugal, sete foram pulicados na secção Economia e outros sete na secção Destaque, um artigo foi publicado na revista PÚBLICA e outro no caderno P2, e os restantes surgiram numa das secções: Sociedade, Nacional e Cultura.

Os textos desta amostragem têm uma dimensão média de 618 palavras; o extremo inferior e extremo superior da distribuição do número de palavras dos artigos são respetivamente, 150 e 2878 palavras; a mediana é 470 e o primeiro e terceiro quartis são 330 e 765, respetivamente; noutros termos, estes dados mostram que pelo menos 50% dos artigos têm uma dimensão não superior a 470 palavras e, no máximo, 25% têm uma dimensão superior a 765 palavras, contendo o menor

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150 palavras e o maior 2878 palavras. Trinta e quatro artigos contêm pelo menos uma fotografia. Das 10 fotos que mostram uma imagem de atores governamentais, sete são de José Sócrates. Trinta e um artigos contêm informação destacada sob a forma de caixa de texto ou uma representação gráfica de dados.

À semelhança do Expresso que destacou a INO na primeira página, o PÚBLICO fez manchete do tema em quatro edições (16.04.2007, 07.09.2010, 30.07.2011 e 20.08.2013), destacou-a nove vezes na primeira página (08.03.2007, 08.02.2009, 07.07.2010, 18.05 e 06.08 de 2011, 01.02 e 22.02 de 2012, 07.02 e 12.09 de 2013) e quatro na última página (18.04.2007, 12.01.2008, 14.01 e 06.08 de 2011). Duas das notícias realçadas na primeira página no ano 2007 são da autoria da jornalista Isabel Leiria e favoreceram a política educativa do XVII Governo. O artigo de 08.03.2007 teve como pano de fundo o abandono escolar; a autora divulgou a estratégia do XVII Governo na prevenção e recuperação de situações de abandono escolar, designadamente o aumento da oferta profissionalizante de dupla certificação para os jovens e o papel dos CNO no processo de RVCC. O outro artigo, publicado a 16.04.2007, fez manchete do dia e abordou a educação de adultos, particularmente o RVCC de nível secundário, mostrando, em particular, os elevados níveis de adesão dos adultos à INO. Esta referência à elevada afluência dos adultos à INO fez, uma vez mais, notícia de primeira página a 07.07.2010; este número do jornal dedicou um conjunto de notícias, reportagens e artigos de opinião à INO, incluindo o seu editorial. A 7 de setembro deste mesmo ano, 2010, a INO voltou a ser manchete do PÚBLICO; desta vez tratou-se de divulgar a redução do número de turmas do ensino recorrente, apresentando-o como uma via em extinção mas que teve na década de 1980 um propósito e um papel considerável na educação de adultos. A partir de setembro de 2010, todos os artigos que compõe este corpus de pesquisa e que mencionaram a INO na primeira página, fazendo-a ou não manchete do dia, são da autoria da jornalista Clara Viana116 e reportam-se, na sua maioria, a medidas tomadas pelo XIX Governo ou aos seus efeitos e consequências.

Dezoito artigos (28%) mencionaram no título o Governo, os Ministérios ou os seus governantes como agentes de determinada ação ou intenção. Dez artigos (15%) reportaram-se explicitamente, no título, a agentes que apresentaram um ponto de vista crítico da ação governativa; em seis destes últimos artigos os agentes são Partidos políticos. Estes dados indiciam que uma boa parte das notícias girou em torno da ação governativa. Doze dos 20 artigos publicados entre 2005 e 2007 abordaram a estratégia e a ação do XVII Governo e, de entre estes, seis divulgaram o estabelecimento de protocolos de formação ou de cerimónias de entrega de diplomas a adultos. Na verdade, este foi o período com maior concentração de artigos que deram enfase à divulgação da ação governativa relacionada com a INO. As questões de liderança e personalização foram a

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167 tónica em sete artigos (11%) e o jogo político e o posicionamento de atores sobre a ação governativa, particularmente sobre questões relacionadas com a INO, foram formas de abordagem principal em 19 (29%) dos 65 artigos. Sete artigos (11%) abordaram, como um dos temas principais, questões relacionadas com economia, tais como o financiamento da INO e a responsabilidade social das empresas na qualificação dos trabalhadores; estes dois tópicos específicos foram tratados, entre 2005 e 2006, em quatro artigos. Em 15 artigos (23%) foram tratadas questões que se identificaram como de política (educativa), as quais abarcaram essencialmente diagnósticos, objetivos, intencionalidades da INO, metas e balanços. Três artigos de 2005 discutiram a questão do défice de qualificação dos adultos e do insucesso e abandono escolar; este quadro “negro” de insucesso escolar e de baixas qualificações dos portugueses voltou a ser tema de debate mais uma vez em 2006, duas vezes em 2007 e apenas uma outra vez em 2010. De um modo geral, a maioria dos jornalistas abordou questões de substância, no sentido em que não se limitaram ao jogo político ou a tratar questões relacionadas apenas com liderança/personalização como sucedeu numa boa parte dos artigos do C.M.. No entanto, um conjunto de textos destaca-se pelo facto dos seus autores terem dado relevo significativo à substância das problemáticas abordadas. Estão nestas condições 34 artigos, ou seja, 52% dos textos analisados. Na Tabela 5.20 sintetizam-se os dados que se acabaram de referir.

Tabela 5.20: Tipo e frequência de assuntos abordados em torno da INO

Assuntos Frequência

Estratégia e ação 21 (32%)

Liderança e personalização 7 (11%)

Jogo político e posicionamento de atores 19 (29%)

Economia 7 (11%)

Política, Diagnósticos, Objetivos , Metas, Balanços 15 (23%)

Substância 34 (52%)

TOTAL 65

Em 26 dos 28 artigos publicados entre 2005 e 2008 foi veiculada a voz do XVII Governo e dos respetivos Ministérios quer sob a forma de citações dos seus representantes quer indiretamente pelos jornalistas. Não obstante, na maioria dos artigos deste período foram apresentados mais do que um protagonista e diversas perspetivas mas, de um modo geral, convergentes com a política do XVII Governo consubstanciada nos diversos normativos associados à INO (veja Tabela 5.21).

A reportagem (24.08.2008) e as componentes de reportagem de três artigos publicados entre 2005 e 2008 (02.10.2005; 06.06.2007; 22.07.2007) tiveram como protagonistas adultos que concluíram um processo de RVCC num CNO que funcionava no seio da empresa onde trabalhavam ou que haviam comparecido numa cerimónia promovida pela tutela para receberem o seu diploma, e alunos, diretores de escolas públicas e coordenadores de CNO chamados a apresentar o seu ponto de vista sobre algumas iniciativas no âmbito do PT da Educação. O recurso a pequenas reportagens como forma de complementar uma notícia funcionou por vezes

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(02.10.2005 e 22.07.2007) como reforço positivo relativamente às medidas implementadas no âmbito da INO, influenciando a opinião pública a percecioná-las de forma otimista.

Tabela 5.21: Agentes e o respetivo número de artigos, publicados no período de 2005 a 2008, em que as suas vozes se fizeram ouvir

Agentes ni

XVII Governo, Ministérios e Atores governamentais 26

Escolas Públicas, CNO e Câmaras Municipais 6

ANQ, Direções Regionais de Educação, IEFP 5

Cidadãos comuns 4

Empresas e Associações Empresariais 3

Partidos políticos 3

Organizações não-governamentais, Movimentos 2

Sindicatos 2

Comissão Europeia 1

Professores, Técnicos, Formadores, Júris 1

Figuras públicas não incluídas nos itens anteriores 3

Outros atores 2

(𝑛𝑖: número de artigos)

Esta estratégia também se verificou na publicação de reportagens independentes e mais longas, nomeadamente numa boa parte da reportagem de Isabel Leiria (24.08.2008) ou na reportagem levada a efeito por Maria Antónia Zacarias (08.02.2009) sobre o impacto da utilização das TIC na vida pessoal de dois idosos que haviam concluído um processo de RVCC. Por conseguinte, as reportagens, independentemente de darem voz a um setor da população que não tem um acesso privilegiado aos meios de comunicação de massa, parecem ter funcionado também como uma estratégia, talvez mais eficaz do que uma notícia, para influenciar a opinião pública. Com efeito, quer seja a respeito de determinada política pública, passando a ideia de que foi a solução adequada encontrada para um problema real, quer como forma de construir uma problemática em torno de uma questão―como sucedeu, por exemplo, no caso da reportagem realizada pela jornalista Isabel Leiria (22.07.2007) no âmbito de iniciativas do PT, onde o objetivo principal da jornalista foi nitidamente chamar a atenção para diversos problemas com que os diretores, professores e alunos se deparavam nas escolas públicas, nomeadamente, a degradação do parque informático―, a forma de reportagem parece destacar-se como uma estratégia mais eficaz de passar a mensagem. A razão subjacente a esta ideia reside no facto de que, desta forma, as políticas e os assuntos apresentam-se relacionados com os contextos e com os problemas das pessoas e, portanto mais próximos de cada um; além disso, o recurso à reportagens é uma estratégia que apresenta alguns traços que se assemelham a técnicas características de outros meios de comunicação, como a televisão, e portanto bastante apelativas ao público.

Foram vários os assuntos abordados em torno da INO, durante os primeiros quatro anos da sua implementação, designadamente o PT e o Programa TII da responsabilidade da Microsoft, a lei orgânica que criou a ANQ, e a questão dos designados “recibos verdes” e dos atrasos no

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169 pagamento de salários dos técnicos e formadores dos CNO. O PT e o Programa TII foram vistos como uma forma de modernização tecnológica do país, mas também como um meio de combate à infoexclusão e de requalificação dos trabalhadores (10.05.2008). Deste modo, a ausência de conhecimentos em TIC emergiu como um fator impeditivo da (re)aquisição de emprego. Por sua vez o destaque na divulgação da lei orgânica da ANQ foi essencialmente para a sua liderança. Neste sentido, foi acentuado, de forma positiva, o currículo profissional da sua presidente e realçado o capital e a coesão da equipa que iria liderar esta agência (10.02.2007 e 30.03.2007), aspetos que do ponto de vista comportamento organizacional são considerados extremamente importantes para a eficiência e eficácia de uma organização. A problemática em torno dos vencimentos dos formadores surgiu neste jornal em 18.05.2008 num artigo, não assinado, que dá voz à ministra da Educação. Trata-se de um texto que surge na sequência do artigo (notícia/reportagem) publicado na véspera no semanário Expresso que despoletou uma reação do PÚBLICO concedendo ao poder político a possibilidade de argumentar sobre o assunto.

No entanto, a ênfase, no período de 2005 a 2008, foi basicamente para três grandes temas, abordados (também) recorrentemente em discursos de José Sócrates: (a) diagnósticos de insucesso, abandono escolar e défice de qualificação dos portugueses; (b) objetivos e intencionalidades da INO, as medidas do eixo Jovem e do eixo Adultos da INO e as respetivas metas a atingir até 2010; e (c) os protocolos estabelecidos com vista à oferta de formação profissionalizante e o papel das empresas na formação dos trabalhadores.

Os diagnósticos que sublinharam o défice de qualificação dos portugueses, o elevado insucesso e abandono escolar e as comparações com dados homólogos da média dos países da OCDE e da UE117 que acentuaram esse défice, foram os assuntos a que foi dado maior relevo, quer enquanto notícia quer no âmbito de reportagens. Sob a forma de reportagem, a questão do abandono escolar foi abordada em situações concretas e ligadas a contextos motivacionais, familiares ou socioeconómicos, numa perspetiva de compreensão e de apelo à resolução do problema; apresentaram-se casos de sucesso, onde foram referidas as experiências de vida e o empenho dos personagens da história na melhoria das suas qualificações, designadamente no âmbito do RVCC, os sentimentos de autorrealização dos adultos, as expectativas na melhoria das suas vidas profissionais e a predisposição para aprenderem mais. Outros artigos publicados neste jornal sublinharam este quadro negro comparado da Educação em Portugal. No entanto, uma vez que não fizeram qualquer referência à INO, optou-se por não integrarem o corpus de pesquisa Estão nesta situação artigos que foram publicados antes da divulgação da INO e outros já após se

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Isabel Leiria, no seu artigo de 12.07.2008 “Progressos na educação insuficientes para tirar Portugal da cauda da Europa” apresentou os resultados do relatório de 2008 da Comissão Europeia em matéria de Educação e Formação e o posicionamento de Portugal no ranking dos 27 países da UE nos indicadores de referência que foram acordados pelos Estados-membros. Mas, já nessa data, a autora realçou que as metas definidas na Estratégia de Lisboa eram de difícil alcance.

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ter iniciado a sua implementação. Neste último caso, considerou-se que foi uma opção do jornalista, do autor ou da direção do jornal não os associar à INO. Contudo, pela pertinência do assunto na construção de um enquadramento que foi utilizado pelo XVII Governo para legitimar a implementação de programas, planos e outras medidas há que os tomar em consideração referenciando pelo menos alguns. Assim, a título de exemplo, destacam-se quatro de entre os mais recentes relativamente ao período que se está a reportar: um artigo da Agência LUSA, publicado neste diário a 24.01.2005, um artigo da ministra da Educação do XVII Governo, publicado a 18.11.2005, e os dois artigos de Isabel Leiria de 26.12.2005 e 10.01.2006.

Um segundo grande tema que foi alvo de destaque por parte dos jornalistas nestas publicações que se reportam ao período de 2005 a 2008 diz respeito aos objetivos e metas da INO, às medidas preconizadas no eixo Jovem e no eixo Adultos e às intencionalidades que estiveram subjacentes a esta política. Um dos enfoques principais foi colocado na formação técnica e profissionalizante; as vias de dupla certificação de básico e de secundário foram apresentadas quer como forma de aumentar o sucesso escolar, prevenir e diminuir o abandono escolar e responder às necessidades económicas e de competitividade do país, quer como uma maneira de cumprir as recomendações da OCDE. Um outro ângulo da INO igualmente bastante sublinhado neste período foi a educação de adultos, que a partir de 2008 começou a ser tema recorrente sempre que o assunto era a INO; neste âmbito, a atenção foi dirigida principalmente para questões em torno do RVCC e do papel dos CNO na qualificação dos adultos. A educação e formação de adultos tanto foi alvo de uma abordagem superficial, como a que se pode encontrar no artigo de João Manuel Rocha (24.02.2007) como de formas mais completas de olhar para estes processos, como no caso do artigo de Isabel Leiria (16.04.2007). No primeiro caso, a propósito da proposta de Reforma da Formação Profissional o jornalista refere o RVCC como um mecanismo “para ajustar a ‘oferta formativa’ às necessidades das pessoas, valorizar as aprendizagens por via da experiência e procurar o envolvimento das empresas na qualificação dos trabalhadores”. Já no segundo caso, os assuntos são abordados numa perspetiva pedagógica: a autora destacou os vários passos por que um adulto tinha de passar após fazer a sua inscrição num CNO de modo a validar as aprendizagens adquiridas pela experiência de vida; referiu a triagem, a elaboração do portefólio, as três áreas que compõem o referencial de competências, a eventual necessidade do adulto fazer um programa de formação—o qual poderia assumir a forma de um curso EFA ou uma formação de curta duração—e a prova pública de apresentação e discussão do portefólio reflexivo de aprendizagem. Isabel Leiria voltou a trabalhar o tema da educação de adultos, nomeadamente quando divulgou o balanço feito pela ANQ e destacou o facto de serem os adultos mais jovens, que haviam abandonado precocemente os estudos, os que mais se candidatavam a uma certificação de nível secundário (10.09.2008). Neste artigo a jornalista deu suporte aos objetivos do XVII Governo subjacentes à política de educação de adultos, designadamente em relação à necessidade de investir na certificação de nível secundário da população adulta, legitimando-a pela necessidade de melhorar o desempenho de Portugal nos

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171 indicadores da OCDE e da UE, se outro motivo não houvesse. Por sua vez, nos artigos de Bárbara Wong (02.10.2005) e de Bárbara Simões (22.07.2007) o RVCC surgiu no âmbito das reportagens levadas a efeito por estas jornalistas, tendo sido apresentada a perspetiva de adultos que haviam abandonado os estudos ainda jovens e concluído recentemente um RVCC. Desta forma, ambas as jornalistas deram a conhecer causas do abandono escolar, a forma como aquelas pessoas encararam a oportunidade de fazer um processo de RVCC, os receios, o esforço e o sacrifício para retomarem o processo educativo, o sentimento de autorrealização, a vontade de saberem mais e continuarem a estudar, a perceção do contributo da qualificação na facilitação do processo de integração na sociedade e as expectativas colocadas no benefício que isso traria para as suas vidas profissionais.

Um terceiro tema que se destacou neste conjunto de artigos liga-se com o cenário da reportagem da jornalista Bárbara Wong e prende-se com o papel de responsabilidade social das empresas no processo de qualificação dos seus trabalhadores. Já em 2005 vários artigos divulgaram o estabelecimento de protocolos, nomeadamente entre o MTSS e a Associação Empresarial de Portugal, no sentido de colaborarem no âmbito da formação dos trabalhadores no seio das próprias empresas, designadamente através da criação de CNO; os artigos da autoria de Lurdes Ferreira (02.02.2005), de João Manuel Rocha (24.10.2006), de Manuel Assunção (25.11.2006) e uma entrevista com Fernando Medina publicada a 08.02.2007 que não integram este corpus, entre vários outros que também não o integraram (pois como atrás se referiu, não fizeram referência explícita à INO), reforçaram a ideia de que o défice educacional é um fator impeditivo da produtividade e afeta a competitividade. Sendo assim, a ALV surgiu, num quadro em que a formação contínua e técnica é algo a que nem os trabalhadores nem as empresas se podem furtar, sob pena de não conseguirem acompanhar o ritmo de mudanças nos processos de trabalho e a competitividade numa economia globalizada; ou seja, sublinha-se a importância da ALV, mas esta emerge num contexto em que se vê subjugada às necessidades do mercado e da responsabilidade de cada empresa e de cada indivíduo, numa lógica modernizadora de qualificação de recursos humanos.

Tal como sucedeu no C.M., embora com menor frequência, os discursos de José Sócrates foram divulgados neste diário, designadamente a 24.02.2007 e 28.09.2008; particularmente nestes textos, esteve também presente a ideia de que INO era (também) uma política que promovia a igualdade, particularmente a igualdade de oportunidades, estimulava a melhoria do nível de vida das pessoas, especialmente dos adultos que haviam abandonado o seu processo de educação formal sem concluir o secundário, e, portanto, auxiliava na diminuição das desigualdades sociais do país.

Durante este período, 2005-2008, as vozes menos otimistas manifestaram-se quer em relação à estratégia de comunicação adotada pelo XVII Governo, designadamente a crítica de Manuel Alegre à campanha publicitária da INO com slogan Aprender Compensa (18.04.2007), quer quanto ao grau de concretização dos objetivos estabelecidos pelo Governo no setor da Educação, os quais, na opinião do movimento Compromisso Portugal não foram alcançados (28.06.2007), e na opinião da jornalista Isabel Leiria (16.04.2007) não foram cumpridos no eixo Adultos. Não obstante as

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críticas apontadas, tanto Manuel Alegre como o movimento Compromisso Portugal salvaguardaram uma visão otimista relativamente à INO, justificada, por este último agente, por ter sido “bem concebida e estruturada” e pelo impacto que certamente iria ter na qualificação da