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Constituição das fundações

No documento LIVRO PROPRIETARIO direito civil i (páginas 97-99)

4.5 rePresentaÇÃo Da Pessoa JUríDiCa

UNIÃO, ESTADOS, DISTRITO FEDERAL, TERRITÓRIOS E MU NICÍPIOS: a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios

4.11.1. Constituição das fundações

Para que uma fundação possa ser regularmente constituída, é necessário percorrer quatro etapas. Vejamos:

1ª ETAPA – Manifestação de vontade do instituidor: para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamen- to, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la (art. 62, parágrafo único). Da norma extrai-se que a fundação pode ser instituída mediante manifestação de vontade em vida (inter vivos) por escritura pública ou mediante declaração de última vontade (causa mortis) por testamento de qualquer espécie (público, cerrado ou particular). Essa manifestação de vontade possui dois requisitos essenciais (dotação de bens e indicação da finalidade) e um dispensável (a forma de administração). Vejamos, então, os requisitos essenciais:

a) Finalidade: as fundações têm como finalidade um bem social,

de interesse da própria sociedade, não podendo ter fins lucrati- vos. Compete ao instituidor definir a finalidade a ser cumprida e, uma vez determinada, esta é imutável. Nos termos do art. 62, parágrafo único, “a fundação somente poderá constituir-se para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência”.

O uso do termo “somente” conduz a uma interpretação de que o rol presente no dispositivo é taxativo (numerus clausus), contudo o enten- dimento majoritário na doutrina é no sentido de que ele é meramente exemplificativo (numerus apertus). Nesse sentido, Maria Helena Diniz defende que a finalidade da fundação deve apenas ser nobre, isto é, lícita, social (interesse público) e não lucrativa.

Corroboram esse entendimento: o Enunciado 8 da I Jornada de Di- reito Civil do Conselho da Justiça Federal: “a constituição de fundação para fins científicos, educacionais ou de promoção do meio ambiente está compreendida no CC, art. 62, parágrafo único”; e o Enunciado 9 da mesma Jornada: “o art. 62, parágrafo único, deve ser interpretado de modo a excluir apenas as fundações de fins lucrativos”.

b) Dotação de bens livres e suficientes: a escritura pública ou o

testamento devem especificar os bens livres e suficientes que irão constituir a fundação: podem ser móveis, imóveis, fun- gíveis, infungíveis, créditos etc. Bens livres são aqueles sobre os quais não se apresenta qualquer constrição jurídica (p. ex.: penhora, arresto, hipoteca etc.). Também devem ser observa- das as regras que protegem a legítima dos herdeiros necessários (descendentes, ascendentes e cônjuges). Bens suficientes são os exigidos para que possa ser cumprida a finalidade da fundação, pois a ideia é de que esses bens possam produzir renda mensal suficiente para que sejam alcançados os objetivos da fundação. Se os bens forem insuficientes para constituir a fundação, deverão ser incorporados em outra fundação que se proponha a fim igual ou

semelhante, salvo se o instituidor dispuser de forma diversa. Constituída a fundação por negócio jurídico entre vivos, o instituidor é obrigado a transferir-lhe a propriedade, ou outro direito real, sobre os bens dota- dos, e, se não o fi zer, serão registrados, em nome dela, por mandado judicial (Código Civil, art. 64).

A norma supracitada estabelece que nas instituições inter vivos o instituidor não poderá revogar a sua doação, pois os bens serão adjudi- cados compulsoriamente à fundação que está sendo instituída. Se ins- tituída mortis causa (por testamento), a manifestação de vontade pode- rá ser revogada. Não haverá a compulsoriedade do registro, pois nada impede que o testamento (cerrado, público ou particular) venha a ser revogado por qualquer motivo, ocasionando assim a revogabilidade dos bens doados para a constituição da fundação.

2ª ETAPA – Elaboração do estatuto: a celebração do estatuto pode ser direta ou própria, quando feita pelo próprio instituidor, ou fi duciária, quando o instituidor destina terceira pessoa de confi ança, para que esta realize a elaboração do estatuto. Nos termos do art. 65, caput, do Código Civil, “aqueles a quem o instituidor cometer a apli- cação do patrimônio, em tendo ciência do encargo, formularão logo, de acordo com as suas bases (art. 62), o estatuto da fundação projetada, submetendo-o, em seguida, à aprovação da autoridade competente, com recurso ao juiz”.

Caso o estatuto não venha a ser elaborado no prazo estabelecido, ou quando o instituidor não designar pessoa de sua confi ança para rea- lizá-lo, transcorrido 180 (cento e oitenta) dias competirá ao Ministério Público realizar a sua elaboração.

3ª ETAPA – Aprovação do estatuto: para que o estatuto da funda- ção possa ser registrado, é necessário que seja devidamente aprovado pelo Ministério Público estadual (ou distrital) da localidade em que será registrado. O Ministério Público, no prazo de 15 (quinze) dias, poderá adotar uma das seguintes medidas: a) aprovar o estatuto, dando a devi- da autorização para seu registro; b) indicar as modifi cações que com- preender necessárias; ou c) denegar a aprovação.

Se o interessado na instituição da fundação entender como inca- bíveis as modifi cações propostas ou a denegação da aprovação, poderá solicitar o suprimento do magistrado. Devemos destacar que o juiz tam- bém tem poder para requerer as alterações ou para diretamente alterar as cláusulas do estatuto, requerendo modifi cações. Da decisão de proce- dência ou improcedência caberá recurso de apelação. Quando o estatuto é elaborado pelo Ministério Público também deverá ser submetido à homologação judicial.

4ª ETAPA – Registro: o registro da fundação deverá ser realizado no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas. É considerado como ato essencial, pois somente com o registro é que a fundação adquirirá a personalidade, passando a ter existência legal (arts. 114 a 121 da Lei de Registros Públicos).

VoCaBUlÁrio

mandado judicial: ordem judi-

cial expedida por meio de um despacho em processo, para que alguém faça, entregue ou deixe de fazer algo.

compulsoriedade: obrigatorie-

dade.

denegação: recusa, negação,

indeferimento.

homologação judicial: valida-

ção judicial, aprovação por um juiz que torna válido ou ofi - cial determinado ato ou docu- mento.

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