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Interrupção da prescrição

No documento LIVRO PROPRIETARIO direito civil i (páginas 195-198)

Prescrição e decadência

10.2.11. Interrupção da prescrição

Diversamente da suspensão da prescrição, em que o prazo volta a ser contado de onde parou, na interrupção o prazo recomeça a ser contado por inteiro, independentemente do tempo já transcorrido. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a inter- rompeu, ou do último ato do processo para a interromper. Na vigência do Código Civil de 1916, não havia limite para o número de interrup- ções. Atualmente, com a introdução do Código Civil de 2002, a inter- rupção da prescrição somente poderá ocorrer uma vez (Código Civil, art. 202, caput). De acordo com a doutrina, a única exceção a essa regra diz respeito à hipótese em que a prescrição é interrompida por uma das causas previstas nos incisos II a VI do art. 202, e posteriormente é proposta a ação e ordenada a citação (inciso I), devendo ser admitida essa segunda interrupção.

10.2.11.1. Hipóteses de interrupção da prescrição

O Código Civil de 2002 prevê no art. 2002 seis hipóteses em que a prescrição é interrompida. Além dessas, podem ser encontradas diver- sas outras na legislação extravagante: art. 66, V, da Lei n. 6.435/77; art. 174, parágrafo único, do Código Tributário Nacional; art. 17, parágrafo único, do Decreto-lei n. 204/67 etc. Procurando nos ater aos objetivos desta obra, analisaremos detidamente apenas as hipóteses previstas no Código Civil:

a) Por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual (art. 202, I): essa é a hipótese mais polêmica de interrupção da prescrição diante do confl ito existente entre o dispositivo e o art. 219 do Código de Processo Civil, que de- termina que a interrupção da prescrição ocorre com a citação válida, retroagindo à data da propositura da ação. Para tanto, a citação deve ser promovida no prazo de 10 dias subsequentes ao despacho que a ordenar, prorrogáveis até o máximo de 90 dias. Como o autor não é prejudicado pela demora imputável exclusivamente ao serviço judiciário, se a citação não for efe- tuada nos prazos mencionados, haver-se-á por interrompida a prescrição (Código de Processo Civil, art. 240 e Súmula 106/ STJ). Deve ser destacado que, ainda que a norma processual (Código de Processo Civil) estabeleça a interrupção com a cita- ção válida e a norma material (Código Civil) com o despacho do juiz que ordenar a citação, não há um confl ito relevante entre as normas pelo fato de que a efi cácia da segunda hipótese foi condicionada pelo legislador civilista à realização da citação válida (“...se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual”), sempre retroagindo à data da propositura da ação. Por fi m, devemos destacar que a interrupção da prescri- ção ocorrerá ainda que o juiz seja absoluta ou relativamente incompetente.

b) Por protesto, nas condições do inciso antecedente (art. 202, II): o protesto a que se refere esse dispositivo é o protesto ju- dicial, regulado no Código de Processo Civil no art. 719 e se- guintes, utilizado, em regra, para garantir a conservação de um direito. Na ação de protesto, o despacho do juiz, mesmo incom- petente, que ordenar a citação irá interromper a prescrição, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual. c) Por protesto cambial (art. 202, III): o protesto cambiário ou

extrajudicial é aquele realizado no Cartório de Protesto de Tí- tulos e Documentos. Desde o advento da Lei n. 9.492/97, que regulamentou o protesto cambiário, deve ser considerada su- perada a Súmula 153 do Supremo Tribunal Federal, pela qual o “simples protesto cambiário não interrompe a prescrição”. d) Pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário

pessoa que faleceu deve peticionar no juízo do inventário re- querendo o reconhecimento do seu título de crédito. Da mesma forma, em caso de falência ou de insolvência civil o credor deve peticionar requerendo o reconhecimento do seu direito junto ao concurso de credores. Em todas essas situações, a apresentação do título de crédito configura o exercício da pretensão (compor- tamento ativo), justificando a interrupção da prescrição. e) Por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor

(art. 202, V): com redação genérica, o dispositivo abrange todo comportamento judicial ativo por parte do credor que constitua o devedor em mora (em atraso) no cumprimento da obrigação. Como exemplos desses comportamentos, podemos citar as notificações e interpelações judiciais. A propositura de ação pauliana também já foi considerada ato suficiente para interrupção da prescrição. Também com base na redação do inciso, temos que o legislador não quis conferir o mesmo efei- to interruptivo a atos extrajudiciais praticados pelo credor como cartas de cobrança enviadas pelo correio ou notificações extrajudiciais.

f) Por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que im- porte reconhecimento do direito pelo devedor (art. 202, VI): enquanto os incisos anteriores interrompem a prescrição a par- tir do comportamento ativo do credor, o último inciso do art. 202 do Código Civil exige o comportamento ativo por parte do devedor. Qualquer ato realizado por este, judicial ou extraju- dicial, verbal ou por escrito, que importe em reconhecimento do direito (da dívida) será hábil para interromper a prescrição. Exemplos: requerimento de parcelamento da dívida, requeri- mento de moratória (prorrogação do prazo para pagar), reco- nhecimento da dívida, pagamento parcial ou total da dívida ou da cláusula penal etc.

Quem pode interromper? O art. 203 do Código Civil de 2002 determina que a prescrição pode ser interrompida por qual- quer interessado. Assim, além do próprio titular do direito, devem ser considerados interessados: os assistentes dos relati- vamente incapazes, os representantes das pessoas jurídicas, os representantes convencionais (mandatários), os herdeiros do credor, os credores do credor, fiadores, avalistas etc.

10.2.11.2. Efeitos pessoais da interrupção

Os efeitos da interrupção da prescrição são, em regra, pessoais (personalíssimos), logo, a interrupção por um credor não aproveita aos outros cocredores, assim como a operada contra o devedor, ou seu herdeiro, não prejudica os demais codevedores (regra latina: persona ad personam non fit interruptio). Excepcionalmente, o art. 204 do Código Civil apresenta 3 exceções em seus parágrafos:

Credores ou devedores solidários (art. 204, § 1º): a interrupção da

prescrição por um dos credores solidários aproveita aos outros, assim como a interrupção efetuada contra o devedor solidário prejudica os demais e seus herdeiros. Para aplicação da regra, não importa se a obrigação é divisível ou não. Deve ser lembrado também que a so- lidariedade é uma situação excepcional e nunca deve ser presumida (resulta da lei ou da vontade das partes – Código Civil, art. 265).

Herdeiros do devedor solidário (art. 204, § 2º): a interrupção operada

contra um dos herdeiros do devedor solidário não prejudica os outros herdeiros ou devedores, senão quando se trate de obrigações e direitos indisponíveis. O legislador nada dispôs quanto à interrupção da pres- crição promovida por um dos herdeiros do credor solidário, devendo ser compreendido que esta não aproveita aos demais credores.

Fiador (art. 204, § 3º): em decorrência do princípio da gravitação

jurídica, também conhecido como princípio da acessoriedade, a in- terrupção produzida contra o principal devedor (o afi ançado) pre- judica o fi ador (o acessório segue a sorte do principal). O contrário não ocorre: se a interrupção for realizada contra o fi ador, o devedor não será prejudicado. Embora inexista previsão expressa quanto ao

contrato de aval, deverá ser aplicada a regra prevista no § 1º do art.

204, diante da solidariedade obrigacional estabelecida por este (art. 43, Decreto n. 2.044/1908).

10.3 DECADÊNCIA

Vimos que a distinção entre prescrição e decadência pela afi rma- ção de que a primeira põe fi m à ação e a segunda ao direito deve ser tida por superada na atua lidade, diante dos equívocos já apresentados. O elemento que diferencia os institutos é na verdade a natureza do di- reito a que estão vinculados: a prescrição está relacionada aos direitos subjetivos patrimoniais, enquanto a decadência está atrelada a direitos potestativos. Vejamos:

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