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Previsão legal da prescrição

No documento LIVRO PROPRIETARIO direito civil i (páginas 185-189)

Prescrição e decadência

10.2.7. Previsão legal da prescrição

Os prazos de prescrição estão expressos no Código Civil de 2002 e não podem ser criados nem alterados pela vontade das partes. Des- se modo, ao contrário da decadência, que pode ser legal ou contratual, a prescrição só pode ter origem legal. O art. 206 do Código Civil traz expressos os prazos especiais de prescrição, isto é, os prazos específicos para determinadas situações concretas (prazos de 1, 2, 3, 4 e 5 anos). E o art. 205 do Código Civil traz expresso o prazo geral de prescrição de 10 anos (também conhecido como prazo ordinário ou comum), deven- do ser aplicado subsidiariamente quando a situação sub judice não se encaixar nos prazos especiais do art. 206. O Código atual eliminou a du- alidade de prazos gerais existente no Código Civil de 1916 (um para as ações pessoais/obrigacionais e outro para as ações reais), estabelecendo um prazo geral único.

10.2.7.1. Prazos especiais

O art. 206 do Código Civil contém cinco parágrafos, contemplando

COMENTÁRIO

São imprescritíveis as ações que versem sobre:

l direitos da personalidade: vida,

integridade, honra, nome, ima- gem, intimidade;

l o estado da pessoa: como filia-

ção (p. ex.: investigação de pa- ternidade), condição conjugal, cidadania;

l ações declaratórias de nulidade

absoluta (por envolverem ques- tões de ordem pública);

l direito de família, no que con-

cerne a regime de bens, alimen- tos, vida conjugal, nulidades, separação, divórcio, e reconhe- cimento e dissolução de união estável;

l bens públicos de qualquer natu-

prazos especiais de prescrição que variam de um a cinco anos. Esse rol é meramente exemplifi cativo, pois no ordenamento jurídico são encon- trados diversos outros prazos especiais, como, por exemplo: Constitui- ção Federal, art. 7º, XXIX; art. 27 da Lei n. 8.078/90; Código Tributário Nacional, art. 168; art. 21 da Lei n. 4.717/65 (ação popular – 5 anos) etc. Contudo, iremos nos ater apenas à análise dos prazos previstos no art. 206 do Código Civil:

a) Prescreve em um ano:

I – a pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de víveres desti- nados a consumo no próprio estabelecimento, para o pagamento da hospedagem ou dos alimentos: o Código Civil de 2002 eliminou a dis- tinção existente no Código Civil de 1916 entre as modalidades de hospe- dagem, estabelecendo um prazo único de um ano. Contudo foi omisso quanto ao termo inicial do prazo, apontando a doutrina a necessidade de aplicação das regras previstas para a mora (Código Civil, art. 397) e para o penhor legal (arts. 1.467, I, e 1.470).

II – a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste con- tra aquele, contado o prazo: a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em que é citado para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou da data que a este indeniza, com a anuência do segurador; b) quanto aos demais se- guros, da ciência do fato gerador da pretensão: o Código Civil de 2002 unifi cou o prazo para exercício da pretensão do segurado contra o segu- rador, eliminando a distinção existente no Código Civil de 1916 quanto ao local do fato que deu origem à indenização (se em nosso país ou no exterior). A única distinção existente é quanto ao termo inicial do prazo: no seguro de responsabilidade civil o prazo deve ser contado a partir da citação se o segurado foi demandado por terceiro prejudicado ou da data em que segurado paga o terceiro prejudicado com a anuência do segurador; nos demais seguros o prazo de um ano deve ser contado da ciência do fato gerador da pretensão. Se o titular da pretensão não for o segurado, mas, sim, o benefi ciário, o prazo de um ano não será aplicável. No caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório, o benefi ciário tem prazo de três anos para exercer sua pretensão contra o segurador (art. 206, § 3º, IX).

III – a pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça, serventuários judiciais, árbitros e peritos, pela percepção de emolumentos, custas e honorários: compreende-se que este dispositivo deve ser aplicado tam- bém para a pretensão dos delegatários do foro extrajudicial (Constitui- ção Federal, art. 236). Como o legislador não especifi cou o termo inicial, compreendemos que deve ser considerado o momento da conclusão dos serviços, em analogia ao art. 206, § 5º, II, do Código Civil.

IV – a pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que en- traram para a formação do capital de sociedade anônima, contado da publicação da ata da assembleia que aprovar o laudo: este inciso traz regra restritiva que só deve ser aplicada para regular a pretensão inde- nizatória dos prejudicados em face do perito responsável pela avaliação

dos bens na formação do capital da sociedade anônima.

V – a pretensão dos credores não pagos contra os sócios ou acio- nistas e os liquidantes, contado o prazo da publicação da ata de en- cerramento da liquidação da sociedade: os credores (sócios ou não) da sociedade dissolvida poderão cobrar os valores devidos no prazo de um ano da publicação da ata de encerramento da liquidação da sociedade.

b) Prescreve em dois anos:

I – a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem: o direito a alimentos é imprescritível, podendo ser exercido em qualquer momento que o ser humano passe por necessi- dade. Esse direito de pedir alimentos (ação de alimentos) não deve ser confundido com o direito de cobrar alimentos vencidos e não pagos (execução de alimentos), cuja pretensão prescreve no prazo de 2 anos, contados retroativamente a partir da propositura da ação (prescrição parcelar).

c) Prescreve em três anos:

I – a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos: o Código Civil de 2002 reduziu o prazo de cinco para três anos para que o locador cobre o locatário do pagamento do aluguel. Consoante enten- dimento doutrinário, esse prazo não se aplica à cobrança dos encargos da locação nem à cobrança dos débitos condominiais.

II – a pretensão para receber prestações vencidas de rendas tem- porárias ou vitalícias: o dispositivo estabelece prazo de três anos para cobrança das prestações vencidas de rendas temporárias ou vitalícias (previstas nos arts. 803 a 813).

III – a pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer pres- tações acessórias, pagáveis, em períodos não maiores de um ano, com capitalização ou sem ela: o prazo de três anos para cobrança de juros, dividendos ou quaisquer prestações acessórias referidas nesse inciso deve ser contado a partir do respectivo vencimento.

IV – a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa: de acordo com entendimento doutrinário, o prazo de três anos para o ressarcimento de enriquecimento sem causa deve ser contado a partir da verificação do locupletamento. Como os prazos específicos devem ser interpretados restritivamente, o inciso não deve ser utilizado para a pretensão relativa a pagamento indevido (Código Civil, arts. 876 a 883). V – a pretensão de reparação civil: a pretensão de reparação de da- nos que, durante a vigência do Código Civil de 1916, se submetia a prazo geral, passou a ser hipótese de prazo especial no Código Civil de 2002. Esse prazo, de três anos, é aplicável a toda e qualquer forma de dano (material, moral ou estético), mas deve ser destacado que em algumas situações excepcionais os tribunais têm reconhecido a imprescritibili- dade da pretensão (p. ex.: indenização por danos morais em razão de tortura). Se o dano for causado em virtude de prestação de serviços ou fornecimento de produtos em relação de consumo, deverá ser observa- do o prazo de cinco anos previsto no Código de Defesa do Consumidor

(art. 27). Se o dano for decorrente de acidente de trabalho ou doen- ça profi ssional, o entendimento do TST é no sentido de que deve ser aplicada a prescrição trabalhista, com prazo de dois anos (RR 237200- 96.2006.5.02.0315 – julgado em 2010).

VI – a pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebi- dos de má-fé, correndo o prazo da data em que foi deliberada a distri- buição: o pagamento de lucros e dividendos nas sociedades por ações é regulamentado pela Lei n. 6.404/76, que atribui responsabilidade soli- dária dos administradores e fi scais em caso de pagamento com inobser- vância do disposto no art. 201 da citada lei.

VII – a pretensão contra as pessoas em seguida indicadas por vio- lação da lei ou do estatuto, contado o prazo: a) para os fundadores, da publicação dos atos constitutivos da sociedade anônima; b) para os administradores, ou fi scais, da apresentação, aos sócios, do balan- ço referente ao exercício em que a violação tenha sido praticada, ou da reunião ou assembleia geral que dela deva tomar conhecimento; c) para os liquidantes, da primeira assembleia semestral posterior à violação: o dispositivo estabelece o prazo de três anos para as pretensões exercidas em face dos fundadores, administradores, fi scais e liquidantes fundamentadas na violação da lei ou do estatuto (desvio de valores, des- mandos, excesso de mandato etc.). A matéria também é regulamentada pela Lei n. 6.404/76.

VIII – a pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do vencimento, ressalvadas as disposições de lei especial: o prazo de três anos previsto no dispositivo é para a pretensão de execu- ção do título de crédito. Caso esgotado o prazo, ainda resta ao credor cobrar a dívida por meio da ação monitória (Código de Processo Civil, art. 700), no prazo de cinco anos, consoante entendimento jurispru- dencial do STJ fundado no art. 206, § 5º, I, do Código Civil. Por fi m, deve ser destacado que o prazo de 3 anos previsto nesse inc. VIII, do § 3º, tem aplicação subsidiária: só deve ser invocado se inexistente prazo específi co em lei extravagante. Não se aplica, por exemplo, à execução de cheque, que tem prazo de seis meses contados da expiração do prazo de apresentação (art. 59 da Lei n. 7.357/85 – Lei do Cheque).

IX – a pretensão do benefi ciário contra o segurador, e a do ter- ceiro prejudicado, no caso de seguro de responsabilidade civil obri- gatório: como exemplo de seguro de responsabilidade civil obrigatório podemos citar o DPVAT, que já foi objeto de controvérsia no Superior Tribunal de Justiça quanto à aplicabilidade do prazo de três anos (prazo especial), previsto nesse inciso, ou de dez anos (prazo geral), previsto no art. 205 do Código Civil. Atualmente a jurisprudência daquela Corte está pacifi cada em três anos. O seguro DPVAT é regulamentado pelas Leis n. 6.194/74 e 8.441/92, prevendo cobertura para eventos como lesão corporal ou óbito em acidentes de trânsito.

d) Prescreve em quatro anos:

das contas: o Código Civil impõe aos tutores o dever de apresentar um balanço anual de sua gestão e o dever de prestar contas a cada dois anos e ao fim da tutela (arts. 1.755 e 1.762), sendo estes submetidos à aprovação judicial. A partir desta começa a correr o prazo de 4 anos para exercício de pretensão relativa à tutela.

e) Prescreve em cinco anos:

I – a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de ins- trumento público ou particular: a regra prevista neste dispositivo tem caráter subsidiário e só deve ser aplicada se não existir outra específica nos incisos anteriores ou em leis extravagantes. Além disso, o inciso em comento exige que a dívida a ser cobrada seja líquida, isto é, certa quanto à sua existência e determinada quanto ao seu objeto/valor.

II – a pretensão dos profissionais liberais em geral, procurado- res judiciais, curadores e professores pelos seus honorários, contado o prazo da conclusão dos serviços, da cessação dos respectivos con- tratos ou mandato: o prazo de cinco anos previsto no inciso também tem aplicabilidade quanto às sociedades de profissionais liberais no exercício da respectiva atividade (p. ex.: sociedade de médicos em um consultório médico). Quanto aos advogados, o Estatuto da Advocacia (Lei n. 8.906/94) já previa o mesmo prazo de cinco anos para cobrança dos honorários.

III – a pretensão do vencedor para haver do vencido o que des- pendeu em juízo: este último inciso trata da cobrança dos ônus sucum- benciais, previstos no art. 20 do Código de Processo Civil. O prazo de cinco anos deve ser contado a partir do trânsito em julgado da sentença e deve ser observado tanto pelo vencedor como pelo advogado, que tem direito autônomo de cobrar os honorários sucumbenciais (art. 23, Lei n. 8.906/94).

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