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CAPITULO 3. CASO I: PROGRAMA DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO

3.1 CONTEXTO HISTÓRICO DA REGIÃO

O local de implantação do empreendimento está situado na região do médio Teles Pires (figura 08 e 09), na divisa dos estados de Mato Grosso e do Pará, 330 km de distância da junção com o rio Juruena, ponto onde se forma o rio Tapajós. O barramento localiza-se na divisa dos estados de Mato Grosso e Pará, a 46 km acima da foz do rio Apiaká. O reservatório ocupa áreas dos municípios de Jacareacanga- PA e Paranaíta – MT. (EIA/RIMA, 2010). [Figura 8]

A bacia hidrográfica do rio Teles Pires situa-se na região Centro-Oeste brasileiro, com clima típico de cerrado, para a região climática que caracteriza a Amazônia brasileira. A região apresenta grande variação de temperatura, em função dos contrastes entre suas vastas superfícies baixas (inferiores a 200 m de altura em relação ao nível do mar), as extensas chapadas (entre 700 a 900 m de altura em relação ao nível do mar) e as elevadas superfícies localizadas nas nascentes do rio Teles Pires (900 a mais de 1.200 m de altura em relação ao nível do mar). (op. cit., 2010).

A presença humana na região onde se localiza a UHE Teles Pires pode ser notada desde épocas remotas, anteriores aos períodos de exploração do século XVI, quando desbravadores castelhanos e portugueses partiram em expedições pelos grandes rios que cruzam o centro da América do Sul.

Outros importantes períodos de fluxo pela região ocorreram com a penetração das bandeiras paulistas, que buscavam indígenas e minerais; e mais tarde com a circulação dos exploradores de origem europeia, como Henri Anatole Coudreau (COUDREAU, 1978), Karl von den Steinen (STEINEN, 1942 apud DOCUMENTO, 2011a) e o príncipe Adalbert da Prússia (ADALBERT, 1977 apud DOCUMENTO 2011a).

É certo que a região esteve ocupada por grupos indígenas, como os Kayabi, que ora foram pressionados pela expansão da fronteira agrícola mato-grossense, ora foram dizimados no confronto direto com os colonizadores. Isso fez com que se refugiassem nas terras xinguanas, deixando para trás uma memória difusa de sua existência na região (FERREIRA, 2001: 427). Tendo parte de seus territórios situada nas bordas do rio Teles Pires, os municípios de Paranaíta/MT e Jacareacanga/PA compartilham de um mesmo processo de ocupação mais recente do solo, que estaria inscrito no movimento de povoamento das terras que hoje são designadas como microrregiões de Alta Floresta-MT (formada pelas cidades de Alta Floresta, Apiacás, Carlinda, Nova Bandeirantes, Nova Monte Verde e Paranaíta) e Itaituba-PA (composta pelos municípios de Itaituba, Aveiro, Jacareacanga, Novo Progresso, Rurópolis e Trairão) (EIA/RIMA, 2010).

Esse movimento migratório tem suas origens nas iniciativas políticas dos governos militares, postas em prática a partir dos anos 60, quando o Estado procurou desenvolver programas que visassem um alcance mais integrado entre os setores, ao tentar unificar de forma mais sistemática o mercado nacional, com a implantação de novas redes de estradas (como o projeto da Transamazônica), de telefonia e de comunicação de massas (EIA/RIMA, 2010).

Nesse contexto, regiões como o Centro-Oeste e Norte surgiam para o Estado brasileiro como um espaço a ser ocupado e modernizado. Tais regiões ofereciam condições favoráveis para a aplicação de medidas que tinham, entre outros objetivos, o aumento da produtividade do setor agropecuário. (DOCUMENTO, 2011a)

O caráter descentralizado do aparelho estatal brasileiro após a constituição de 1988 desencadeou uma onda de municipalização em todo o país. Localidades como a Itaituba não conseguiram se estabilizar em decorrência de sua insipiência econômica e da falta de apoio do governo estadual e federal.

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Jacareacanga surge nesse contexto, elevada à condição de município em 13 de dezembro de 1991, por decreto do então governador do Pará, Jader Fontenelle Barbalho. Sua instalação se deu, todavia, apenas em 1º de janeiro de 1993, com a posse do prefeito, vice- prefeito e vereadores eleitos para o pleito municipal de 3 de outubro de 1992.

A economia do município se direcionou para a agricultura (abacaxi, arroz, cana-de- açúcar, feijão, mandioca, melancia, abacate, mamão e limão), extrativismo vegetal (copaíba, buriti, carnaúba, açaí, castanha-do-pará e diversos tipos de madeira), extrativismo mineral (Diamantina e Turmalina) e a pecuária (sobretudo bovina, de corte e leiteira).

Em termos gerais, Jacareacanga não se diferencia das demais localidades situadas no sudoeste do Pará, uma das regiões menos povoadas e desenvolvidas desse Estado. Atualmente sua população é de 14.103 habitantes (IBGE, 2010), todavia a região vem sofrendo um relativo crescimento econômico por conta do escoamento de produtos agrícolas – sobretudo a soja – produzidos no Mato Grosso por meio da hidrovia Tapajós-Teles Pires e da rodovia Santarém- Cuiabá. Tais carregamentos são transportados até o porto de Santarém, de onde seguem diretamente para o mercado internacional por via marítima. (DOCUMENTO, 2011a).

A história recente de Paranaíta remonta a sua fundação, enquanto distrito de Alta Floresta em 29 de junho de 1979. O município ganhou emancipação administrativa em 13 de maio de 1986 pela Lei n˚ 5004, passando a categoria de Município do Estado do Mato Grosso. A aproximadamente 800 km da capital estadual, Cuiabá, a cidade fez uso das experiências já adquiridas em Alta Floresta para pensar a sua estruturação. Seu primeiro morador foi Antônio Campanharo, que em junho de 1979 construiu uma residência onde atualmente localiza-se o município19.

O principal agente da ocupação de Paranaíta foi o colonizador Ariosto da Riva, através da sua empresa de colonização, a INDECO – Integração, Desenvolvimento e Colonização. A ideia inicial era transformar a região numa potência agro econômica para suprir a demanda local, mas a descoberta de jazidas de ouro nas décadas de 1980/90 mudou o caráter econômico do local. Com o fim do ouro, já no início da década de 90, Paranaíta sofreu um forte impacto em sua economia, com isso se desenvolveram outros setores como o madeireiro, a pecuária de corte e de leite.

Atualmente a população do município é de 10.690 habitantes (IBGE, 2010). Paranaíta possui um dos maiores assentamentos rurais do INCRA, o Assentamento São Pedro, distante

40 km do núcleo urbano, com 800 famílias, cerca de 3.000 Pessoas e 22 Comunidades. Em torno do núcleo urbano são 12 comunidades e 1 Assentamento do INTERMAT, Projeto Nossa Terra Nossa Gente, com 49 famílias, e fica a 7 km do núcleo urbano (EIA/RIMA, 2010).

A partir deste macro contexto arqueológico e histórico, a região da UHE contém diversificados vestígios relacionados e estas diferentes ocupações humanas que, ao longo do tempo, ali se desenvolveram. Estes vestígios ocorreram na forma de sítios arqueológicos/ históricos como pequenos acampamentos, sítios cemitério, extensas aldeias habitacionais, ruínas históricas, entre outros. Por outro lado, esta região ainda é arqueologicamente pouco pesquisada, fazendo com que novos estudos tragam dados relevantes para o melhor conhecimento de seu contexto humano de ocupação. Portanto, estima-se um alto médio/baixo grau de conservação dos vestígios arqueológicos, considerando a intensa ocupação agropastoril e intervenção da sociedade nacional, especialmente nos últimos 30 anos. (DOCUMENTO, 2012a)

No que tange à ocupação tradicional dessas terras, é conhecida a ancestralidade da presença de povos Tupi na região que intermedeia os rios Madeira e Xingu. Ao menos três mil anos nos separam das primeiras ocupações desses povos na região, quadro que se reflete no momento da chegada do europeu à América. Graças à efemeridade das penetrações coloniais na região central da América do Sul – sobretudo nesta área entre as calhas do Xingu e do Madeira – o modo de vida autônomo desses povos permaneceu sem grandes interferências até períodos bem mais recentes. É claro que a pressão sobre os povos indígenas das áreas mais suscetíveis à colonização, como as calhas dos grandes rios amazônicos – Amazonas, Pará, Tocantins, Negro, Jaú, Tapajós, etc. – promoveu deslocamentos populacionais em direção a áreas tradicionais de outros povos, o que certamente exigiu uma reorganização cultural, inclusive em seus aspectos territoriais e materiais (LEONARDI, 1999).

Figura 6: Localização regional do empreendimento, com destaque aos municípios da área diretamente afetada. Fonte: Documento Cultural, 2011a