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CAPITULO 2. A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL NO ÂMBITO DO

2.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: ANTECEDENTES E EVOLUÇÃO

Há milênios o homem vem ocupando e transformando o planeta conforme as suas necessidades de sobrevivência, acarretando mudanças radicais na relação entre homem e meio ambiente. Todavia, com a revolução industrial15 e a invenção da máquina a vapor, nos séculos XVIII e XIX, iniciou-se uma transformação significativa na maneira de a sociedade pensar, sentir e se organizar (SERRÃO et al., 2012:07).

Com uma sociedade cada vez mais consumista, começa-se a questionar o aumento na produção industrial, pois, com o esgotamento dos recursos naturais e os desequilíbrios ambientais locais e globais, percebe-se que havia limites físicos, ambientais, sociais e culturais

15 “A Revolução Industrial caracterizou a passagem de um sistema técnico baseado no trabalho de artesões para outro, apoiado no trabalho

para o modelo de desenvolvimento que vinha ocorrendo desde a revolução industrial (SERRÃO et al., 2012).

Quanto mais consumimos, mais se precisa de energia para fabricar os produtos que fazem parte dos nossos padrões de vida, e, portanto, mais tecnologias foram sendo aprimoradas, por vezes causando impactos nefastos ao meio ambiente, ocasionando uma exploração desordenada e não planejada e provocando a chamada “crise ambiental”.

Diante deste cenário, a preocupação com os problemas ambientais e a consciência de que os recursos naturais são limitados cresce, e pessoas de todo o mundo começaram a protestar e a se organizarem, chamando a atenção do mundo para o problema.

Dentro desta abordagem elencam-se os momentos mais importantes desse novo olhar para a crise ambiental – do nascimento da proposta de sustentabilidade aos avanços atuais.

Historicamente, o primeiro grande marco para discutir os problemas ambientais se deu na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano, intitulada de Conferência de Estocolmo, em 1972. O evento reuniu 113 países com representantes governamentais e não governamentais em prol de um objeto comum: “preservar o meio ambiente”. Portanto, foram estabelecidas normas referentes às responsabilidades e comportamentos, vistas na época como ideais para servir de guia às questões relativas ao meio ambiente. Dá-se, portanto, início ao alerta mundial acerca dos problemas ambientais, ocasionando posteriormente novas conferências em torno do tema.

Dez anos após a Conferência de Estocolmo foi criado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a mais importante autoridade global em meio ambiente, tendo como responsabilidade principal promover a conservação do meio ambiente e o uso eficaz de recursos no contexto do desenvolvimento sustentável (ONU, 1972).

O termo desenvolvimento sustentável surge pela primeira vez em 1987 por meio do Relatório Nosso Futuro Comum (Our Commmon Future), conhecido como Relatório Brundtland (nome da coordenadora da equipe que o elaborou, no quadro da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU). Nele foi apresentado o conceito de desenvolvimento sustentável, convidando as pessoas a mudarem seus modos de vida para evitar desigualdades sociais e degradação ambiental. Entre as determinações de desenvolvimento sustentável, o seu conceito é concebido e disseminado como: “É aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades” (NOSSO FUTURO COMUM, 1991, p. 46).

Dentre os principais resultados dessa iniciativa destaca-se a realização de sucessivas conferências internacionais, tais como:

1. 1992: Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e o Desenvolvimento – Rio/92 ou Cúpula da Terra. Reuniu mais de 18 mil pessoas, de 199 países, além de 400 mil visitantes. Seu resultado mais importante foi a Agenda 21, propondo ações para um novo modelo de desenvolvimento com o uso sustentável dos recursos naturais e a preservação da biodiversidade, garantindo a qualidade de vida das futuras gerações por meio da educação e da formação profissional.

2. 1997: Conferência Rio+5: Aconteceu no Rio de Janeiro, onde foi realizado o primeiro ciclo de avaliação dos avanços da Agenda 21. Uma das pautas da discussão foi como traduzir o conceito de desenvolvimento sustentável em ações.

3. 2002: Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio+10. Realizado em Johanesburgo, na África do Sul, para avaliar os encaminhamentos da Agenda 21 e fortalecer suas iniciativas locais.

4. 2007: Conferência Rio+15. Realizada no Rio de Janeiro, com o objetivo de debater as consequências da Rio-92, o que avançou e o que precisava ser fortalecido e/ou modificado.

5. 2012: Conferência Rio+20 que aconteceu no Rio de Janeiro com o objetivo de assegurar o compromisso político das nações com o desenvolvimento sustentável, isto é, para decidir como o mundo enfrentará os desafios que afetam o crescimento econômico, o bem-estar social e a proteção ambiental nos próximos anos. Esta conferência constatou as falhas das metas da Eco-92 e, de certa forma, alterou o foco da sustentabilidade, destacando as pessoas e a pobreza (e não realidades exteriores a nós) como o foco da sustentabilidade.

Deste modo, o desenvolvimento sustentável, conforme definido no relatório da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – Nosso Futuro Comum (1991), centra-se nas preocupações ambientais – pedra angular do desenvolvimento sustentável, apoiada na tríade: econômico, ambiental e social, devendo ser, portanto, economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto.

O que falhou nessa visão foi, no entanto, a não compreensão da importância da cultura, não apenas como um “apêndice” do chamado “tripé da sustentabilidade”, mas como o elemento integrador dos outros três (OOSTERBEEK, 2006). É um elemento integrador especial porque não existe “uma cultura”, existem várias, e com isso existem diversos entendimentos do que é desenvolvimento sustentável. Apesar dos avanços formais nos textos das convenções, não houve os mesmos avanços na prática porque diferentes culturas estavam lendo coisas diferentes nos mesmos textos. Apesar de suas boas intenções, o discurso do desenvolvimento sustentável é, de certa forma, a última versão do “pensamento único”, que não enxerga a diversidade cultural (SINGLETON, 2010).

Esta é uma questão fundamental para os debates neste momento e, apesar destas e de outras críticas em relação à eficácia desses eventos em termos de soluções práticas no que tange ao desenvolvimento sustentável, não se pode negar que houve um avanço considerável em termos de consciência ambiental, lastreado pelo compromisso de engajamento social assumido por organizações governamentais, não governamentais e sociedade em geral.

Dentre os aspectos apontados para a eficácia do modelo de desenvolvimento sustentável destacam-se os programas de engajamento comunitário por meio de projetos de socioculturais e educacionais em escala local, regional e global, visto que a inserção da cultura no âmbito dos diálogos de sustentabilidade é emergente e está agrupado em torno de diferentes focos.

2.2 A SUSTENTABILIDADE DO PATRIMONIO CULTURAL DAS COMUNIDADES NO