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CAPITULO 3. CASO I: PROGRAMA DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO

3.4 AÇÕES DE INCLUSÃO SOCIAL E SUSTENTABILIDADE CULTURAL

3.4.6 Instrução de Tombamento: Sítio Pedra Preta

A criação de bases que apoiem a fundamentação de tombamento do sítio arqueológico Pedra Preta tem respaldo no Decreto-Lei n° 25 de 30 de novembro de 1937, e ampliado pelo Decreto 3551 de 2000 (que insere os livros de tombo de acordo com suas características materiais e imateriais) uma vez que especifica os tipos de patrimônios a serem tombados e qualifica sua inscrição de acordo com sua natureza (DOCUMENTO, 2014d).

No Brasil, as disposições legais mais importantes quanto à preservação do patrimônio cultural estão inseridas no Decreto-lei nº 25 que cria o instituto do tombamento, na lei da arqueologia nº 3.924/61 e nas atribuições contidas na Constituição Federal de 1988 - Art. 215 e 216, e no Decreto nº 3.551/2000 no que diz respeito ao registro.

O tombamento foi o primeiro instrumento legal de proteger o patrimônio material. Para Machado (2005), apud Mendonça (2008):

O tombamento é uma forma de implementar a função social da propriedade, protegendo e conservando o patrimônio privado ou público, através da ação dos poderes públicos, tendo em vista seus aspectos históricos, naturais, paisagísticos e outros relacionados à cultura, para fruição das presentes e futuras gerações. (MENDONÇA, 2008:80).

Montalvo, 2007 completa:

O tombamento inclui um determinado rito que inclui o requerimento formal por um cidadão ou uma instituição, a instrução do processo, incluindo o parecer favorável ou não, a apreciação por parte do Conselho Consultivo do IPHAN, e finalmente, em caso de parecer favorável deste conselho, a inscrição no livro ou nos Livros do Tombo. O processo de tombamento é um conjunto de documentos mediante os quais devem ser satisfeitas exigências de caráter administrativo e conceitual que possibilitem a declaração de um determinado bem como patrimônio nacional, ou que permitam seu arquivamento caso as razões arguidas e os documentos apresentados não sejam suficientes para justificar o tombamento. (MONTALVO, 2007: 50).

No processo de tombamento o bem é inscrito no Livro do Tombo, cujas categorias são: 1) Livro do tombo arqueológico, etnográfico e paisagístico: as coisas pertencentes às categorias de arte arqueológica, etnográfica, ameríndia e popular, bem como os monumentos naturais;

2) Livro do tombo histórico: as coisas de interesse histórico e obras de arte histórica; 3) Livro do tombo das belas artes: as coisas de arte erudita estadual, nacional ou estrangeira;

4) Livro do tombo das artes aplicadas: as obras que se incluírem na categoria das artes aplicadas, nacionais e estrangeiras Mendonça (2008).

Os efeitos jurídicos do tombamento criam obrigações oponíveis contra todos: proprietário, poder público e sociedade, previstas nos artigos 11 a 21 do decreto-lei 25/341, tais como: Não destruir, mutilar ou demolir em caso algum; não restaurar, reformar, pintar, salvo com autorização do IPHAN; é vedada a saída do bem para o exterior, salvo para intercâmbio; restrições de alienações; se for um bem público ele se torna inalienável, com possibilidade de transferência entre os entes federativos. Em caso de bens privados é possível a alienação desde que seja comunicada ao IPHAN (MENDONÇA, 2008:84).

Levando em conta essas determinações foi elaborado o estudo de valoração do Sítio Pedra Preta para o processo de tombamento. Dentro disso, como já citado neste trabalho, foi realizado todo um estudo científico complementar do bem, atestando a sua relevância arqueológica, paisagística e etnográfica.

Além do interesse do município, o sitio está inserido em um amplo complexo de gravuras rupestres, como indicaram os estudos complementares que inserem os painéis em um amplo sistema regional de apropriação simbólica da paisagem.

Embora datações absolutas não sejam possíveis, a apropriação destas gravuras por grupos ameríndios é ainda importante marcado de herança cultural. Registros etnohistóricos permitem indicar que populações Tupi e Jê já ocuparam em períodos diferentes tais regiões e, de alguma forma, se apropriaram das gravuras já existentes e/ou produzidas através de diversas gerações. (DOCUMENTO, 2014d).

Em visitas ao sítio a comunidade Kayabi ressaltou o respeito com as gravuras. Os anciãos (aldeia do Xingu) e (aldeia no Teles Pires) indicaram que se trata de um local com presença de espíritos que deve ser respeitado, mas que somente os pajés (detentores de conhecimentos sagrados) poderiam interpretá-lo. Outra liderança de aldeia do Xingu reconheceu aquele lugar como local de proteção. Embora não tenham indicado que se trata de local tradicional do antigo território de ocupação de sua etnia, reconheceram a importância do sítio Pedra Preta e ressaltaram sua preservação como marco da história indígena local. [ Prancha 1]

A comunidade Apiaká também se mostrou muito respeitosa e admirada com o patrimônio arqueológico e paisagístico do sítio Pedra Preta, embora igualmente não reconheça os grafismos como sendo relativos à sua etnia (DOCUMENTO, 2014d).

O sítio Pedra Preta pode ser considerado como um museu a céu aberto. Localizado no município de Paranaíta, no estado do Mato Grosso, nas dependências de uma propriedade particular (fazenda), integra a bacia Amazônica estando a cerca de 30 km do leito do rio Teles Pires, um dos formadores do rio Tapajós. Este complexo arqueológico é composto por diversos abrigos com vestígios de ocupação humana e painéis gravados a céu aberto. O complexo é formado, ainda, por outros sítios arqueológicos semelhantes (embora de menor tamanho) distribuídos pelo vale do rio Teles Pires, compreendendo formações rochosas que se destacam na paisagem plana da região [ Figura 10 e prancha 1].

Pedra Preta foi identificada no final da década de 1990 tendo recebido, em 2007, um amplo estudo de caracterização ambiental e arqueológica, resultando na proposição de um Plano de Gestão estratégica para seu uso público e medidas de preservação. Este estudo focou, especialmente, na caracterização sistemática deste sítio arqueológico (conformação, delimitação, descrição dos grafismos rupestres, localização dos painéis, estado de conservação, entre outros).

Em 2012 os estudos foram retomados no âmbito do Programa de Preservação do Patrimônio Cultural e Histórico, Arqueológico da UHE Teles Pires, cujo foco recai na inserção científica regional, resultando na identificação dos demais sítios análogos que formam o

complexo arqueológico. Este Programa lança ainda um foco especial na análise da paisagem cultural e na atribuição de significância deste patrimônio para as comunidades indígenas que habitam a região. Como um dos resultados foi instrumentado um processo de reconhecimento federal do sítio arqueológico Pedra Preta através do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

Este sítio também se encontra na lista de patrimônio arqueológico indicado pelo governo brasileiro para reconhecimento, pela UNESCO, como Patrimônio da Humanidade. Igualmente são ampliados os estudos etnográficos e antropológicos, ao lado da inclusão social, da valorização local e da educação patrimonial.

Em tempo, o processo de tombamento está em processo de análise junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-IPHAN Brasília.

PRANCHA 1 Tese de Doutoramento:

A Arqueologia Colaborativa no Tratamento de Acervos Patrimoniais para a Sustentabilidade Cultural das Comunidades no Brasil: Teoria e Estudos de Caso.

Aluna: Marian Helen da Silva Gomes Rodrigues.

Universidade de Trás- Os-Montes e Alto Douro/ UTAD, PT.

Prancha 1: Imagens das Gravuras do Sítio Pedra Preta. Representação zoomórfica, antropomorfa e geométrica. Observa-se a técnica de picoteamento, e alguns geométricos com contorno alisado e polido. Fonte: Acervo Documento, 2014d.