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Os vizinhos do sul: os egípcios, as bacias do alto Nilo e suas relações com a África

No documento HISTÓRIA GERAL DA ÁFRICA (páginas 167-175)

As mais recentes escavações arqueológicas, cujas descobertas muitas vezes ainda permanecem inéditas, revelaram semelhanças entre a região de Cartum e o baixo vale do Nilo no período neolítico, semelhanças essas difíceis de explicar.

Com o Antigo Império, porém, essa aparente similaridade deixou de existir. Já na I dinastia, fortificações protegiam o sul do Egito contra os vizinhos meridionais. Cada vez mais, no decorrer de toda a sua longa história, diferenças políticas e culturais e interesses conflitantes separaram os territórios ao norte da Primeira Catarata daqueles que se situavam ao sul da Quarta Catarata. Apesar disso, as complexas e variadas relações entre os egípcios e os povos do sul, a quem chamavam de nehesi, nunca foram inteiramente rompidas.

De qualquer maneira, a Baixa Núbia interessava aos egípcios pelo ouro que produzia, e as regiões nilóticas localizadas mais ao sul, pelas rotas que conduziam ao interior africano através do Nilo Branco, dos vales saarianos ou do Darfur. O acesso ao sul foi uma preocupação constante por toda a história do Egito, o que provavelmente também explica a importância atribuída ao controle dos oásis ocidentais, outra rota de acesso paralela ao Nilo.

Desde o início do Antigo Império, o Sudão, assim como a Líbia, representou para os egípcios uma fonte de mão de obra14, de animais e de minerais15. Os

núbios, famosos pelos seus arqueiros, ocupavam uma posição de destaque no exército egípcio. Empregados igualmente como trabalhadores agrícolas (no Faium do Médio Império, por exemplo, as aldeias dos colonos núbios eram chamadas de “aldeias dos núbios”), eram rapidamente assimilados pela vida socio cultural

14 O faraó Snefru declarou ter trazido consigo 7 mil homens do sul, de uma terra chamada Ta -Séti (Seti: tipo arcaico de arco. GARDINER, A. H. 1950. p. 512. Ta -Séti: terra dos homens que carregam o arco Séti.) É interessante notar que todas as tribos sudanesas da bacia do Congo carregam o mesmo arco. 15 A partir de - 2500, fornalhas destinadas a fundir o cobre local foram instaladas pelos egípcios em Buhen,

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egípcia. Ao final da I dinastia, é bem possível que tenham ocorrido na Núbia mudanças que perturbaram suas relações com o Egito. A lenta emergência do Grupo C, que parece só se ter constituído plenamente na V dinastia, deixa uma lacuna de cinco séculos no nosso conhecimento sobre essas relações.

O final da V dinastia marca o início das relações do Egito com o Sudão. Nesse mesmo período, criou -se um novo cargo político e econômico conhecido como “governador do sul”. O detentor era responsável pela defesa da entrada meridional do Egito, pela organização dos intercâmbios comerciais e pelo favorecimento da circulação das expedições mercantis. Esse cargo requeria certas qualificações, tais como o conhecimento do comércio e das línguas faladas pelos habitantes da região. Uni, um governador do sul na VI dinastia, tinha sob seu comando recrutas vindos de diferentes partes da Núbia: nehesi (núbios) de Irtet, Madja, Yam, Wawat e Kau.

No final do Antigo Império as relações comerciais entre o Egito e o Sudão interromperam -se. O príncipe de Edfu, entretanto, relata na parede de seu túmulo em Mealla que tinham sido enviados cereais a Wawat com o propósito de evitar a fome. Fato que vem provar a continuidade das relações entre o Egito e a Núbia naquela época. Além disso, os soldados núbios desempenharam um importante papel nas batalhas do Médio Egito durante o Primeiro Período Intermediário. Miniaturas em madeira pintada representando um grupo de vigorosos arqueiros núbios mostram a importância que os egípcios atribuíam ao soldado sudanês.

Nessa época, porém, o desenvolvimento do Grupo C na Baixa Núbia talvez tenha sido responsável, ao lado dos conflitos ocorridos durante o Primeiro Período Intermediário, pelo declínio das relações entre egípcios e sudaneses.

Pouco se sabe, no momento, sobre os povos do Grupo C. Durante muito tempo pensou -se que se haviam infiltrado lentamente no vale do Nilo; atualmente, porém, são considerados simples. sucessores dos povos do Grupo A. Seja qual for a razão, o fato é que as relações entre esses povos e os egípcios sempre foram difíceis. Diversas peças de cerâmica, descobertas perto de Djebel Kekan, junto de Khor Baraka em Agordat (Eritreia), hoje no museu de Cartum, assemelham -se a cerâmicas do Grupo C encontradas na Baixa Núbia. Isso nos leva a perguntar se os povos desse grupo não teriam sido forçados, por alguma razão (seca, presença de forças egípcias na Núbia), a abandonar a Baixa Núbia, provavelmente durante a XII dinastia. Esses povos teriam então deixado suas habitações no vale do Uadi el -Alaki, rumando para as montanhas do mar Vermelho, onde vivem hoje as tribos Beja. Da mesma maneira, alguns povos de língua núbia vivem hoje nos montes Nuba, no sul do Kordofan. Pode -se admitir,

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então, que o Sudão tenha testemunhado uma migração do Grupo C, partindo do norte em direção ao sul e oeste.

O Império de Kerma, no sul, menos diretamente afetado pela invasão egípcia, sofreu influência do Egito no plano cultural desde -2000, mas conservou identidade própria até o seu término, por volta de -1580. Os egípcios acabariam por dar a essa cultura, conhecida desde -2000, o nome de Kush; termo que empregavam para caracterizar o reinado que se estabeleceu ao sul da Segunda Catarata após -1700.

No início do Médio Império, os reis do Egito, ameaçados pelos beduínos asiáticos, ao que tudo indica, pediram ajuda aos habitantes do Sudão. Mentuhotep III, fundador da XI dinastia, talvez fosse negro, fato que poderia explicar o reatar de relações entre Egito e Sudão, interrompidas durante o Primeiro Período Intermediário. É bem provável que alguns egípcios tenham chegado ao interior do Sudão. Pelas estelas16 encontradas em Buhen, sabemos

que várias famílias viveram por longo tempo na Núbia durante o Médio Império; tinham nomes egípcios e cultuavam os deuses locais17. Os reis desse período

construíram catorze fortificações na Núbia a fim de proteger as fronteiras e as expedições comerciais.

Quando os hicsos tomaram as regiões setentrional e central do Egito, Kush reforçou sua independência e seu poder. O reino de Kush constituía um perigo em potencial para os faraós. Um texto egípcio recentemente descoberto revela que durante a batalha contra os hicsos, Kamósis, o último faraó da XVII dinastia, foi informado da captura de um mensageiro enviado pelo rei dos hicsos para propor ao soberano de Kush que se aliasse a ele contra os egípcios. Com a XVIII dinastia, a pressão contra o Sudão uma vez mais se fortaleceu, e as relações ampliaram -se numa escala sem precedentes18. Simultaneamente, tomou impulso

a egipcianização das regiões entre a Segunda e a Quarta Catarata. No reino de Tutmósis III modificou -se a forma dos sepulcros da região. Em lugar de túmulos, construíram -se sepulcros com formas egípcias, e, em vez de sepulcros de pedra, construíram -se pequenas pirâmides semelhantes às encontradas em

16 VERCOUTTER, J. 1957. pp. 61 -9. A datação adotada por J. VERCOUTTER neste artigo foi recentemente colocada em discussão: para J. VERCOUTTER, as estelas pertencem antes ao Segundo Período Intermediário e são praticamente contemporâneas dos hicsos.

17 POSENER, G. 1958. p. 65: “Esse reino [Kush] foi colonizado pelo Estado faraônico. Durante muitos séculos esteve sob o domínio da civilização egípcia, de seus hábitos, linguagens, crenças e instituições. Toda a história da Núbia carrega a marca dos seus vizinhos do norte”.

18 Trata -se do período em que, por razões ainda hoje não esclarecidas, a iconografia egípcia mostra uma grande alteração na maneira de representar os negros africanos. Muitas hipóteses foram levantadas, inclusive a de que os contatos com o restante do continente se expandiram naquela época.

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Deir el -Medina. Daí a semelhança das cidades de Buhen e de Aniba com as cidades do Egito. Do mesmo modo, localizaram -se ushabtis e escaravelhos nos sepulcros do Sudão. Os desenhos e os nomes dos túmulos dos príncipes foram gravados em estilo tipicamente egípcio. O sepulcro de Heka -Nefer19, príncipe de

Aniba no reinado de Tutancâmon, lembra os túmulos de pedra egípcios. Simpson chegou a supor que sobre esse sepulcro tivesse sido erguida uma pirâmide no estilo daquelas de Deir el -Medina. O túmulo de Dhuty -Hetep, príncipe de Debeira no reinado da rainha Hatshepsut, assemelha -se aos de Tebas.

A Núbia e o Egito até então nunca estiveram tão próximos. Em -1400 foi construído o templo de Soleb. O papel militar, e por vezes administrativo, exercido pelos sudaneses tornou -se mais importante do que nunca, culminando com a ascensão da dinastia etíope. Mas, embora egipcianizados, os habitantes dos altos vales não se tornaram egípcios: uma cultura distinta continuava a se expressar, se bem que em moldes egípcios, mesmo na época da XXX dinastia.

Esta dinastia restabeleceu para o Egito uma dimensão africana que está registrada em duas passagens da Bíblia: quando Deus protege os hebreus contra o ataque dos assírios, ao incutir no rei, durante um sonho, o temor de que viesse a ser atacado por Tir -Hakah20, rei da Etiópia, e quando o rei dos hebreus,

Ezequias, propõe uma aliança entre o faraó e o seu povo21.

São esses os últimos grandes momentos de unidade.

A conquista de Tebas pelos assírios coincidiu com a ascensão do Império Meroíta no sul. A defesa dessa região contra os ataques do norte tomou -se indispensável, visto que os exércitos egípcios, a partir dessa época, passaram a incorporar enormes contingentes de mercenários hebreus, fenícios e gregos. Por falta de investigações suficientes, pouco se sabe sobre as relações, por certo difíceis, entre o Novo Império nilótico e o Egito.

Punt

A exemplo do que ocorre com outros problemas da história africana, gastou- -se muita tinta, nem sempre de boa qualidade, com o propósito de se localizar o legendário reino de Punt, com que os egípcios mantiveram relações pelo

19 SIMPSON, W. K. 1963. 20 2 Reis, 19:9, e Isaías, 37:9.

21 REICHHOLD, W. O autor oferece uma tradução interessante de uma passagem do capítulo 17 do Livro de Isaías, a do envio de um mensageiro ao faraó negro: “Vai, mensageiro veloz, até o povo alto e bronzeado, ao povo sempre temido, à nação poderosa e conquistadora cuja terra os rios dividem”.

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menos durante o Novo Império, e que aparece nas imagens de Deir el -Bahari. Foram feitas tentativas para localizar essa nação no Marrocos, na Mauritânia, no Zambeze e em outras regiões22. Hoje existe quase um consenso quanto à

localização de Punt no Chifre da África, embora ainda persistam muitas dúvidas com relação a seus limites precisos23. Há uma teoria instigante segundo a qual

Punt se localizaria na parte da costa da África que se estende do rio Poitialeh, ao norte da Somália, até o cabo Guardafui. Trata -se de uma região montanhosa com plantações dispostas em terraços que lembram aqueles representados em Deir el -Bahari e onde as árvores crescem em abundância, incluindo -se o bálsamo, de que se extrai o incenso.

Os navios da rainha Hatshepsut teriam atracado numa enseada da região hoje conhecida como Goluin, de onde o antigo rio Elephas corria em direção ao oceano. Essa localização e a referência aos navios da rainha Hatshepsut que rumavam para Punt sugerem que os egípcios utilizavam uma rota marítima para chegar à terra estrangeira. Recentemente R. Herzog tentou mostrar que isso não correspondia aos fatos e que as relações egípcias com Punt se davam por terra. Essa teoria provocou fortes reações em contrário24.

Uma pesquisa recente25 levou à descoberta, na costa do mar Vermelho – ao

norte de Quseir, na desembocadura do Uadi Gasus – de vestígios de ligações egípcias com Punt. O pesquisador assim transcreveu uma das inscrições: “Rei do Alto e do Baixo Egito, Kheperkare26, amado do deus Khenty -Khety, filho de Rá,

Sesóstris, amado de Hátor, senhora de Pwenet [Punt]”. Outra inscrição contém a seguinte passagem: “(...) a Mina de Punt, para alcançá -la em paz e retomar em paz”. Essas inscrições, respaldadas por outras, confirmam que as expedições a Punt se faziam por mar. Lamentavelmente, devido ao local em que foram encontradas, não oferecem indicações referentes à posição geográfica de Punt.

Assim, ao que parece, já se chegou virtualmente a um acordo quanto ao fato de os navios egípcios irem a Punt em busca do valioso incenso e de diversos

22 R. HERZOG (1968. pp. 42 -5) apresenta uma lista completa das teorias sobre o assunto. 23 Id., ibid.

24 Ver, por exemplo, KITCHEN, K. A. 1971. No entanto, descobertas arqueológicas recentes em países localizados entre Punt e o Egito não podem justificar a rejeição, sem um estudo aprofundado, da hipótese de R. HERZOG.

25 SAYYD, Abd el -Halim. (Mana’im). 1976.

26 A inscrição refere -se a Sesóstris I (cerca de - 1970 a - 1930), e textos egípcios mencionam expedições a Punt bem anteriores a essa data, durante o Antigo Império.

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outros produtos antes fornecidos pela Arábia do Sul. Houve até mesmo uma tentativa de reconstituição da rota percorrida por esses navios27.

Há quem afirme que vários faraós tentaram alcançar regiões mais distantes. Uma expedição a Punt no reinado de Ramsés III é descrita no papiro de Harris: “A frota ( ...) cruzou o mar Muqad”. Os navios alcançaram o sul do cabo Guardafui, chegando talvez até o cabo Hafun no oceano Índico. Mas essa rota era bastante perigosa devido às tempestades que se abatiam sobre a área. Talvez possamos concluir que o cabo Guardafui era, ao sul, o ponto extremo alcançado pelos navios que se dirigiam a Punt, e que os limites meridionais de Punt ficavam próximos do cabo Guardafui. Quanto aos limites setentrionais, pode -se dizer que se foram modificando com o correr dos séculos.

Segundo P. Montet, o problema pode ser considerado sob um outro ângulo. Escreve ele28: “(...) o país de Punt situava -se certamente na África – segundo

uma estela do período saíta, o regime do Nilo era afetado quando chovia nas montanhas de Punt – mas se estendia até a Ásia, conforme a expressão geográfica Punt da Ásia, da qual o único exemplo (ainda inédito) foi encontrado em Soleb. A luz dessas indicações, temos condições de identificar nas duas praias da terra do deus as margens do estreito de Bab el -Mandeb. Mais uma prova é o fato de a árvore da qual se extrai o incenso crescer tanto na Arábia Felix como na África”29.

Podemos distinguir etapas sucessivas nas relações entre Egito e Punt. A primeira antecedeu o reinado da rainha Hatshepsut. Naquela época, os egípcios possuíam muito poucas informações sobre Punt. Obtinham incenso através de intermediários, que multiplicavam as lendas sobre esse país distante com a intenção de aumentar o preço do produto. Os poucos egípcios que, ao que se sabe, concluíram a viagem a Punt eram homens arrojados. Um habitante de Assuã, no Antigo Império, diz: “Parti onze vezes em expedição com meu senhor, mais os príncipes e tesoureiros do deus Khui e do deus Téti, em direção a Kush, a Biblos e a Punt” 30.

A segunda etapa começou com a rainha Hatshepsut. Uma frota de cinco navios, segundo o artista que ornamentou o templo de Deir el -Bahari, foi enviada com ordens para trazer árvores que produziam incenso. Perehu e sua esposa –

27 Pesquisa realizada por K. A. KITCHEN, 1971. 28 MONTET, P. 1970. p. 132.

29 K. A. KITCHEN (1971. p. 185) observa que a teoria é inaceitável, já pela simples presença da girafa entre os animais característicos de Punt.

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que era disforme31 –, a filha e um grupo de nativos são representados recebendo

a expedição e trocando cumprimentos, presentes e produtos sabidamente provenientes de Punt. Três grandes árvores foram plantadas no jardim do deus Ámon e atingiram uma altura tal que o gado podia passar por debaixo delas.32

Sob as árvores aparecem, amontoados, outros presentes, tais como marfim, cascos de tartaruga, gado com chifres longos e curtos, “mirras com as raízes envoltas na terra de que foram arrancadas (como faz hoje um bom jardineiro), incenso seco, ébano, peles de pantera, babuínos, chimpanzés, galgos, uma girafa, etc.”.

Numa câmara do mesmo templo há uma representação do nascimento divino de Hatshepsut, em que sua mãe, Amósis, é despertada pelo aroma do incenso originário da terra de Punt. Nesse caso, a associação do nome de Punt com a origem divina da rainha é um indício da amizade que a rainha do Egito mantinha com Punt, cujos habitantes adoravam Âmon.

As pinturas que retratam essa expedição fornecem -nos informações sobre a vida na terra de Punt, seus habitantes, suas plantas e seus animais, suas cabanas de forma cônica construídas sobre estacas, em meio a palmeiras, ébanos e mirras.

A julgar pelas pinturas de Punt encontradas nos templos, nada há de novo para ser registrado após o reinado da rainha Hatshepsut. Os textos mencionam a chegada dos habitantes de Punt ao Egito. A partir de então, Punt aparece nas listas de povos vencidos, o que, em vista da grande distância que separa os dois países, parece bastante improvável. Exigia -se que os chefes de Punt levassem presentes ao faraó. Este encarregava um dos seus subordinados de receber os chefes e os presentes. Há alguns indícios de comércio, nos portos do mar Vermelho, entre habitantes de Punt e egípcios, assim como de transporte de mercadorias de Punt, por via terrestre, entre o mar Vermelho e o Nilo (tumba de Âmon -Mósis em Tebas e tumba n.º 143).

Pouco antes do final do reinado de Ramsés IV, cessaram as relações com Punt. Mas a lembrança desse país ficou gravada na memória dos egípcios.

31 Principalmente por sua esteatopigia.

32 D. M. M. DIXON (1969. p. 55) é da opinião de que o êxito da plantação da mirra que a expedição de Hatshepsut trouxe para o seu templo foi apenas temporário. “Apesar do êxito parcial e temporário, as experiências de transplantação foram um fracasso. As razões exatas desse fracasso só serão esclarecidas quando se estabelecer a identidade botânica da(s) árvore(s) que produz(em) o incenso – o que não poderá ser feito com base nas representações egípcias convencionais. Enquanto isso, tem -se sugerido que, devido a interesses comerciais próprios, os puntitas teriam frustrado deliberadamente a experiência egípcia”. Se o êxito tivesse sido de curta duração, os reis que sucederam Hatshepsut não teriam prosseguido com a importação das árvores, como fizeram, por exemplo, Amenófis II (tumba n.° 143, em Tebas), ou Ramsés II e Ramsés III, que ordenaram sua importação.

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Talvez devêssemos incluir entre os testemunhos dessas relações antigas o fato de um “encosto para cabeça” receber, em somali moderno, o nome de barchi ou barki, semelhante à designação que recebia em egípcio antigo. Além do mais, os somalis denominam o ano -novo “Festa do faraó”.

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