• Nenhum resultado encontrado

XIX Dinastia

No documento HISTÓRIA GERAL DA ÁFRICA (páginas 125-129)

Horemheb pertencia a uma linhagem de nobres provinciais oriundos de uma pequena cidade do Médio Egito. Sua longa carreira como comandante do exército egípcio e administrador permitiu -lhe avaliar a corrupção política, que crescia perigosamente desde o início do reinado de Aquenáton. Assim que ascendeu ao trono, iniciou uma ampla série de reformas que beneficiaram o país. Promulgou também um decreto para ativar a arrecadação dos impostos nacionais e acabar com a corrupção dos funcionários civis e militares.

Horemheb demonstrou acentuada predileção por um oficial do Exército chamado Pa -Ramsés, a quem nomeou vizir, escolhendo -o como seu sucessor ao trono. No entanto, Pa -Ramsés já estava velho e só reinou dois anos, sendo substituído por seu filho e co rregente Séti I, o primeiro de uma linhagem de guerreiros que concentraram todos os esforços no restabelecimento do prestígio do Egito no exterior. Logo que subiu ao trono, Séti I teve de fazer frente à perigosa coalizão de cidades -Estado sírias, encorajada e até mesmo mantida pelos hititas. Conseguiu desbaratar a coalizão, devolvendo ao Egito o controle sobre a Palestina. Após repelir um ataque líbio, Séti I penetrou novamente na

36 A descoberta sensacional, em 1926, do túmulo praticamente inviolado do jovem faraó suscitou numerosos artigos, incluindo particularmente CARTER, H. & MACE, A. C. 1963; DESROCHES- -NOBLECOURT, C. 1963.

37 Ver DRIOTON, E. & VANDIER, J. 1962. pp. 349 -56, Cap. 9, pp. 418 -22, Cap. 10; FAULKNER, R. O. 1975.

63

O Egito faraônico

Síria setentrional, onde pela primeira vez as tropas egípcias entraram em conflito aberto com os hititas. Conseguiu subjugar Kadesh, mas, embora obrigados a se retirar temporiamente, os hititas mantiveram sua influência na Síria setentrional. A guerra prosseguiu com seu sucessor, Ramsés II.

Durante o reinado de Ramsés II, a residência real e o centro administrativo foram transferidos para Pi -Ramsés, cidade situada na parte nordeste do Delta, onde se estabeleceu uma base militar adequada às manobras de grandes corpos de infantaria e carros de guerra. No quinto ano de seu reinado, Ramsés II parte à frente de quatro exércitos contra uma poderosa coalizão de povos asiáticos reunidos pelo rei hitita Mutawallis, dando continuidade às tentativas de seu pai de recuperar as possessões egípcias na Síria setentrional. Na célebre batalha ocorrida perto de Kadesh, à margem do rio Oronte, a vanguarda das forças de Ramsés cai numa armadilha inimiga e um de seus exércitos é derrotado pelos carros hititas; o próprio rei é obrigado a combater, mas consegue reagrupar suas forças e transformar o que poderia ter sido uma derrota numa vitória um pouco duvidosa. Representações e relatos minuciosos dessa batalha, assim como de algumas campanhas mais gloriosas na Palestina e na Síria, ocorridas antes e depois desse conflito, foram gravados nas paredes dos templos de Ramsés II, esculpidos na rocha em Abu Simbel e em el -Derr, na Baixa Núbia, em seus templos de Abidos e Carnac, no pilar que ele anexou ao templo de Lúxor e também em seu templo funerário, o Ramesseu.

As hostilidades entre os dois países prosseguiram por vários anos. Na verdade, só depois do vigésimo primeiro ano de seu reinado é que Ramsés II concluiu a paz, assinando um famoso tratado com o rei hitita Hattusilis. A partir daí as duas potências mantiveram relações cordiais, e Ramsés desposa a filha mais velha de Hattusilis, numa cerimônia anunciada em todos os lugares como símbolo de “paz e fraternidade”. Em consequência desse acordo, a influência egípcia estendeu -se ao longo da costa até Ras Shamra (Ugarit), cidade da Síria setentrional. Embora os hititas ainda conservassem seu poder no interior, perdiam influência no Vale do Orontes. Com a morte de Hattusilis, um novo perigo surgiu: a migração dos Povos do Mar38. Essa

migração em massa propagou -se dos Balcãs e da região do mar Negro para todo o mundo mediterrânico oriental e não tardou a submergir totalmente o reino hitita. O idoso Ramsés, que governou 67 anos após a assinatura do tratado, não deu a devida atenção aos sinais inquietantes vindos do exterior,

64 África Antiga

figura 2.7 Tesouro de Tutancâmon. Interior da antecâmara, lado oeste. O leito de Hátor.

figura 2.8 Howard Carter, o arqueólogo que descobriu o túmulo de Tutancâmon, precisou abrir um sarcófago de pedra e três ataúdes embutidos um no outro antes de atingir o último, que continha a múmia. A máscara funerária em ouro maciço colocada sobre seu rosto é uma das peças mais espetaculares da exposição

65

O Egito faraônico

e seu vigoroso sucessor Merneptah deparou -se com uma situação crítica quando subiu ao trono.

Um grande contingente dos belicosos Povos do Mar havia penetrado na região costeira a oeste do Delta e, aliando -se aos líbios, ameaçavam o Egito. Merneptah enfrentou -os numa grande batalha, no quinto ano de seu reinado, infligindo -lhes esmagadora derrota. Nas estelas de Merneptah registraram -se suas atividades militares na região sírio -palestina e enumeram -se as cidades e Estados conquistados, incluindo Canaã, Ascalon, Gezer, Yenoan e Israel – este último mencionado pela primeira vez nos documentos egípcios.

A XX Dinastia

39

Após a morte de Merneptah, travou -se uma luta dinástica e o trono foi ocupado sucessivamente por cinco soberanos, cuja ordem de sucessão e grau de parentesco ainda não foram estabelecidos com precisão.

A ordem foi restaurada por Sethnakht, primeiro rei da XX dinastia, que ocupou o trono durante três anos. Sucedeu -lhe seu filho Ramsés III, que, num reinado de 31 anos, se empenhou no sentido de reviver as glórias do Novo Império. No quinto e no décimo primeiro anos de seu reinado, infligiu uma derrota decisiva às hordas invasoras da Líbia ocidental e, durante o oitavo ano, repeliu uma invasão sistemática, por mar e terra, dos Povos do Mar. É significativo que essas três guerras fossem defensivas e ocorressem, à parte uma operação terrestre contra os Povos do Mar, nas fronteiras ou mesmo no interior do Egito. Uma única derrota teria significado o fim da história do Egito como nação, pois essas invasões não objetivavam apenas o saque ou a dominação política, mas a ocupação do rico Delta e do vale do Nilo por nações inteiras de povos ávidos de terras, compreendendo os combatentes, suas famílias, rebanhos e bens.

Ramsés III foi mais feliz na defesa contra os invasores estrangeiros do que na solução dos problemas internos que afligiam o país. O Egito estava arruinado pela desorganização da força de trabalho, pelos motins dos trabalhadores do governo, pelo aumento inflacionário dos preços do trigo e pela desvalorização do bronze e do cobre. A decadência aumentou nos reinados seguintes, de Ramsés IV a Ramsés XI. A frágil autoridade do casal real tornou -se ainda mais precária devido ao poder crescente dos sacerdotes de Âmon, que finalmente elegeram para o trono um sumossacerdote, Herihor. Iniciava -se uma nova dinastia.

66 África Antiga

No documento HISTÓRIA GERAL DA ÁFRICA (páginas 125-129)