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Da (i)legalidade das taxas turísticas municipais

No documento Desafios da gestão atual (páginas 116-119)

12 Art 2.º/1 do Regulamento.

5.5. Da (i)legalidade das taxas turísticas municipais

Como vimos, as taxas impostas pelas autarquias locais devem seguir determinados requisitos. Devem, desde logo, obedecer ao princípio da equivalência e estar suportadas por uma fundamentação económico-financeira que permita averiguar do cumprimento deste princípio.

No que diz respeito à taxa turística de Lisboa, esta parece estar bem fundamentada. Contudo, essa fundamentação perde solidez quando se consulta o Relatório de Gestão e se verifica que a contabilidade que se depreende da fundamentação económico-financeira da taxa não é compatível com a contabilidade constante do Relatório de Gestão. Os 4 milhões de euros gastos com Comércio e Turismo em 2013 não se compaginam com os 14 milhões de euros de receitas previstas para a taxa turística. Aqui, o princípio da equivalência encontra-se claramente desrespeitado, estando o Regulamento Municipal em clara violação da lei, por um lado, e em violação da Constituição, por outro, ao criar um tributo verdadeiramente unilateral.

Ora, no que concerne à taxa turística de Cascais, não é possível perceber qual o fundamento económico-financeiro da taxa, uma vez que a fundamentação se faz tendo como referência uma tabela contendo uma fórmula cujo significado parecer ser o de que a autarquia quer desincentivar o turismo, e que despendeu 17 minutos e o envolvimento de dois funcionários. Deve também entender-se que este regulamento é ilegal, por violação do disposto no art. 8.º/2/c) da RGTAL.

Quanto à ecotaxa turística de Santa Cruz, esta encontra-se indevidamente fundamentada, sofrendo do mesmo vício que a taxa turística de Cascais, nos moldes expostos acima, mas também se deve ter em conta a ilegalidade da consignação da receita da taxa municipal turística prevista no artigo 5.º do Regulamento n.º 3/2017.

A taxa turística prevista para o Porto encontra-se devidamente fundamentada, tendo em conta as estatísticas do INE para a elaboração da imputação dos custos com o turismo.

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6.

IMPLICAÇÕES DA INVESTIGAÇÃO

A nossa investigação apresenta profundas implicações para a tributação municipal turística em Portugal. De acordo com a análise realizada, apenas o Município do Porto seguiu os trâmites legais na adopção da taxa turística, tendo os demais Municípios exorbitado das suas competências ou ignorado abertamente requisitos legais.

As autarquias que pretendam enveredar pela tributação do turismo devem ter em conta a devida fundamentação das taxas turísticas (ainda que não sejam verdadeiras taxas, mas apenas contribuições) e o nexo entre a contribuição e a (grupal e, possivelmente, presumida) contraprestação pública.

BIBLIOGRAFIA

Andrade, P. (2017, agosto 21). Taxa turística: saiba o que é e onde é cobrada. Obtido 18 de Novembro de 2017, de http://www.e-konomista.pt/artigo/taxa-turistica/

Câmara Municipal de Lisboa. (2013). Relatório de Gestão. Obtido de http://www.amlisboa.pt/documentos/1405508909G7hWS7sn9Pj33EQ6.pdf

Câmara Municipal de Lisboa. (2014a, novembro 20). Proposta 729/CM/2014 - Taxa Municipal Turística (TMT). Obtido de http://www.am-lisboa.pt/301000/1/001439,000002/index.htm Câmara Municipal de Lisboa. (2014b, dezembro 16). Alterações à Fundamentação das isenções e reduções de taxas. Obtido de http://www.am- lisboa.pt/documentos/1418220887Z7bLN8sh7Yp92OQ3.pdf

Câmara Municipal de Lisboa. (2014c, dezembro 16). Proposta 743/CM/2014 - Taxa Municipal Turística (TMT). Obtido de http://www.am-lisboa.pt/301000/1/001665,000002/index.htm Câmara Municipal de Lisboa. (sem data). Normas de execução da taxa municipal turística de

dormida. Obtido dehttp://www.cmlisboa.pt/fileadmin/MUNICIPIO/Camara_Municipal/Financas/Taxas_Municipai

s/Normas_de_ execu%C3%A7%C3%A3o_da_TaxaTur%C3%ADstica_de_dormida.pdf

Câmara Municipal de Santa Cruz. (2016, outubro 18). Projeto de Alteração do Regulamento Municipal da Ecotaxa Turística. Obtido dehttp://www.cm-

santacruz.pt/index.php/component/phocadownload/category/207-projecto-deregulamento- eco-taxa-2016?downlad=1512:projeto-de-alteracao-do-regulamentomunicipal-da-ecotaxa- turistica

Câmara Municipal do Porto. (2017, outubro 3). Regulamento da Taxa Turística do Porto. Obtido de http://www.cm-porto.pt/assets/misc/Edital_I_310849_17.pdf

Costa, J. M. C. (2006). Sobre o princípio da legalidade das taxas e das demais contribuições financeiras. Em Estudos em homenagem ao Professor Doutor Marcello Caetano (Vol. I, pp. 789–807). Coimbra: Coimbra Editora.

Delise, E. (2006). Impatti ambientali negativi del turismo: eco-tassa, una soluzione? Annali Italiani del Turismo Internazionale, 1, 31–52.

Ferreira, R. M. F. (2007). Regime geral das taxas locais: notas dispersas. Tourism & Management Studies, 3, 208–211.

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O exposto não se aplica, contudo, à taxa de chegada por via área ao aeroporto de Lisboa. De facto, entre a chegada ao aeroporto de Lisboa e a prestação de serviços por parte do Município de Lisboa aos turistas não há qualquer nexo. O passageiro pode muito bem chegar a Lisboa e dirigirse a uma qualquer outra cidade portuguesa, sem nunca ter pernoitado uma única noite em Lisboa. Assim sendo, não poderemos estar perante um tributo bilateral, mas perante um imposto disfarçado. Quanto a este ponto, pela falta de nexo entre o facto gerador e a contrapartida presumivelmente oferecida pelo Município de Lisboa, cremos que a taxa turística municipal é organicamente inconstitucional.

5.5. Da (i)legalidade das taxas turísticas municipais

Como vimos, as taxas impostas pelas autarquias locais devem seguir determinados requisitos. Devem, desde logo, obedecer ao princípio da equivalência e estar suportadas por uma fundamentação económico-financeira que permita averiguar do cumprimento deste princípio.

No que diz respeito à taxa turística de Lisboa, esta parece estar bem fundamentada. Contudo, essa fundamentação perde solidez quando se consulta o Relatório de Gestão e se verifica que a contabilidade que se depreende da fundamentação económico-financeira da taxa não é compatível com a contabilidade constante do Relatório de Gestão. Os 4 milhões de euros gastos com Comércio e Turismo em 2013 não se compaginam com os 14 milhões de euros de receitas previstas para a taxa turística. Aqui, o princípio da equivalência encontra-se claramente desrespeitado, estando o Regulamento Municipal em clara violação da lei, por um lado, e em violação da Constituição, por outro, ao criar um tributo verdadeiramente unilateral.

Ora, no que concerne à taxa turística de Cascais, não é possível perceber qual o fundamento económico-financeiro da taxa, uma vez que a fundamentação se faz tendo como referência uma tabela contendo uma fórmula cujo significado parecer ser o de que a autarquia quer desincentivar o turismo, e que despendeu 17 minutos e o envolvimento de dois funcionários. Deve também entender-se que este regulamento é ilegal, por violação do disposto no art. 8.º/2/c) da RGTAL.

Quanto à ecotaxa turística de Santa Cruz, esta encontra-se indevidamente fundamentada, sofrendo do mesmo vício que a taxa turística de Cascais, nos moldes expostos acima, mas também se deve ter em conta a ilegalidade da consignação da receita da taxa municipal turística prevista no artigo 5.º do Regulamento n.º 3/2017.

A taxa turística prevista para o Porto encontra-se devidamente fundamentada, tendo em conta as estatísticas do INE para a elaboração da imputação dos custos com o turismo.

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6.

IMPLICAÇÕES DA INVESTIGAÇÃO

A nossa investigação apresenta profundas implicações para a tributação municipal turística em Portugal. De acordo com a análise realizada, apenas o Município do Porto seguiu os trâmites legais na adopção da taxa turística, tendo os demais Municípios exorbitado das suas competências ou ignorado abertamente requisitos legais.

As autarquias que pretendam enveredar pela tributação do turismo devem ter em conta a devida fundamentação das taxas turísticas (ainda que não sejam verdadeiras taxas, mas apenas contribuições) e o nexo entre a contribuição e a (grupal e, possivelmente, presumida) contraprestação pública.

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Krapf, P. K. (1963). Tourisme et finances publiques. Revue de Tourisme, 18(3), 91–97.

Lusa. (2017, maio 22). Dormidas - Taxa turística é aplicada em menos de 1% dos concelhos. Obtido 1 de Novembro de 2017, de https://www.dn.pt/dinheiro/interior/taxa-turistica- semadesao-em-portugal-e-aplicada-em-menos-de-1-dos-concelhos-8494999.html

Morgado, R. (2017). A Tributação Turística Municipal: o caso do Município de Lisboa. Coimbra: Almedina.

Município de Cascais. (2017, março 30). Aviso n.o 3654/2017 - Taxa Municipal Turística. Obtido de http://www.cm- cascais.pt/sites/default/files/anexos/gerais/new/aviso_n.o_3654_2017__taxa_turistica.pdf Nabais, J. C. (2012). Algumas considerações sobre a figura dos tributos. Em Estudos em Homenagem ao Prof. Doutor Aníbal de Almeida (pp. 733–759). Coimbra: Coimbra Editora. Nabais, J. C. (2014). Direito Fiscal (7a edição). Coimbra: Almedina.

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Vasques, S. (2008). O princípio da equivalência como critério de igualdade tributária. Coimbra: Almedina.

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ASSÉDIO MORAL E SEXUAL DIREITO E PROTEÇÃO: ASPECTOS

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