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Taxa Municipal Turística de Lisboa

No documento Desafios da gestão atual (páginas 106-108)

MUNICIPAL TOURISM TAXES IN PORTUGAL

4.1. Taxa Municipal Turística de Lisboa

Em 2014, foi proposta à Assembleia Municipal de Lisboa uma alteração ao Regulamento Geral de Taxas, Preços e outras Receitas do Município de Lisboa, tendo em vista a obtenção de receitas para financiar investimento estratégico, em especial na própria actividade turística. A ideia subjacente era a de que o próprio turista deveria financiar (pelo menos em parte), os investimentos que o Município de Lisboa tem realizado ao nível da oferta turística. (Câmara Municipal de Lisboa, 2014a) Numa formulação algo ousada, a Proposta afirmava

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cobrança de tributos turísticos quando estes tenham por finalidade regular os efeitos negativos dos fluxos turísticos.

As taxas aplicadas pelos entes locais estão sujeitas ao princípio da equivalência, previsto no art. 4.º/1 do RGTAL, segundo o qual «o valor das taxas das autarquias locais é fixado de acordo com o princípio da proporcionalidade e não deve ultrapassar o custo da actividade pública local ou o benefício auferido pelo particular». Quer isto dizer que a taxa não pode estar desligada do benefício obtido ou do custo incorrido – como nos diz Sérgio Vasques:

«o princípio da equivalência, enquanto critério de igualdade tributária, resulta lesado não apenas quando se introduzem entre os contribuintes, diferenciações sem fundamento nos custos ou benefícios que estes tributos visam compensar mas também quando se exige dos contribuintes um montante uniformemente acima desses custos ou benefícios, sacrificando-os em proveito da comunidade» (Vasques, 2008, p. 436).

Assim, sob pena de nulidade, as taxas turísticas devem observar estas limitações.

3.

METODOLOGIA

Tendo em vista a natureza jurídica deste trabalho, não podemos deixar de recorrer às metodologias típicas do Direito: a análise comparativa e a análise normativa.

A análise comparativa tem por objecto as taxas municipais turísticas vigentes em Portugal, designadamente em Lisboa, Cascais e Santa Cruz.5 A taxa turística proposta para o Município

do Porto, apesar de já aprovada, ainda não entrou em vigor, mas será igualmente objecto de estudo tendo em conta a relevância da cidade do Porto enquanto destino turístico.

A análise normativa consiste na análise dos regimes estudados à luz dos princípios constitucionais e legais vigentes em Portugal.

4.

ANÁLISE DAS TAXAS TURÍSTICAS MUNICIPAIS

4.1. Taxa Municipal Turística de Lisboa

Em 2014, foi proposta à Assembleia Municipal de Lisboa uma alteração ao Regulamento Geral de Taxas, Preços e outras Receitas do Município de Lisboa, tendo em vista a obtenção de receitas para financiar investimento estratégico, em especial na própria actividade turística. A ideia subjacente era a de que o próprio turista deveria financiar (pelo menos em parte), os investimentos que o Município de Lisboa tem realizado ao nível da oferta turística. (Câmara Municipal de Lisboa, 2014a) Numa formulação algo ousada, a Proposta afirmava

5 Vide (Andrade, 2017; Lusa, 2017)

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que a contribuição se fundamenta «na relação sinalagmática que se estabelece por via do benefício individualizado auferido por cada turista nomeadamente pelos serviços de informação e apoio aos turistas, pela utilização de produtos criados para facilitar a visita, pelo usufruto da oferta de animação, pela utilização e usufruto do espaço público e dos equipamentos de vocação turística que envolvem um investimento público de criação, realização, construção e manutenção, que justifica a sujeição destes ao pagamento de uma taxa turística». (Câmara Municipal de Lisboa, 2014a) A proposta original veio a ser substituída por uma outra, de teor praticamente idêntico, mas que teve em consideração os inputs da consulta pública. A proposta final inclui um relatório onde o legislador autárquico aborda, ponto por ponto, as objecções e observações colocadas pelos intervenientes na consulta pública. (Câmara Municipal de Lisboa, 2014c)

A proposta final, aprovada em 16 de dezembro de 2014, aditou a secção VI ao Regulamento Geral de Taxas e prevê três “modalidades” de taxa turística: taxa de dormida, taxa de chegada por via aérea e taxa de chegada por via marítima. Estas “modalidades” mais não são do que três taxas distintas, assentes em diferentes factos geradores e incidentes sobre um universo potencialmente sobreponível de sujeitos passivos. De qualquer modo, o legislador municipal não deixou de prever expressamente o fundamento sinalagmático da taxa municipal no artigo 68.º:

«As taxas municipais turísticas previstas no presente regulamento são devidas em contrapartida do singular aproveitamento turístico proporcionado pelo conjunto de actividades e investimentos relacionados directa e indirectamente com a actividade turística, designadamente, obras de construção, de manutenção, de reabilitação e de requalificação urbanas e das demais benfeitorias efectuadas em bens do domínio público e privado municipal em zonas de cariz potencialmente turístico, prestação do serviço público de dinamização cultural e recreativa da cidade e do serviço público de informação e apoio aos turistas.»

Esse singular aproveitamento turístico realizado pelos turistas é então tributado por três vias: a dormida, a chegada por via área e a chegada por via marítima.

A taxa de dormida vem regulada nos artigos 70.º e 71.º. O primeiro destes artigos estatui que é devida uma taxa por cada hóspede com idade superior a 13 anos que fique alojado em empreendimento turístico ou alojamento local, até ao máximo de 7 noites por pessoa. O segundo isenta desta taxa «os hóspedes cuja estada seja motivada pela obtenção de serviços médicos».

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Por seu turno, a taxa de chegada por via área é devida por cada passageiro que desembarque no Aeroporto Internacional de Lisboa, estando isentos aqueles que estejam apenas em trânsito ou transferência, que tenham residência fiscal em território nacional ou em relação aos quais não tenha sido emitido bilhete autónomo.

A taxa de chegada por via marítima é devida por cada passageiro «que desembarque de navio de cruzeiro em escala, nos terminais de navios de cruzeiro localizados no Município de Lisboa».6

O Regulamento prevê igualmente como se deve fazer a liquidação e pagamento desta taxa. A taxa de dormida deve ser liquidada pelas entidades que explorem empreendimentos turísticos e estabelecimentos de alojamento local. A liquidação das taxas de chegada por via área e por via marítima compete, respectivamente «à concessionária do serviço público aeroportuário de apoio à aviação civil no aeroporto internacional de Lisboa e às entidades incumbidas da exploração dos terminais de navios de cruzeiro»7. Para tal, as entidades

responsáveis pela liquidação devem fazer inclui o valor da taxa nas facturas que emitam e são obrigadas a rejeitar o pagamento por parte dos hóspedes sem que seja somado o valor da taxa de dormida8. Não é admitido o pagamento em prestações desta taxa.

As isenções previstas a esta taxa vêm explicadas em anexo à Proposta 743/CM/2014, que implementou a taxa municipal turística. Quanto à isenção prevista no artigo 71.º do Regulamento, o anexo avança que esta tem como fundamento «não sobrecarregar financeiramente a pessoa que visita a cidade de Lisboa para obtenção de serviços médicos de saúde, na medida em que se considera que o principal motivo da estada em Lisboa difere dos motivos normalmente atribuíveis aos turistas». (Câmara Municipal de Lisboa, 2014b). De igual modo, a isenção prevista para passageiros em trânsito e residentes em território nacional tem em vista isentar do pagamento da taxa aqueles que não se encaixam no conceito de turista. Relativamente à isenção prevista no artigo 73.º/1/c) («Passageiros em relação aos quais não seja emitido bilhete autónomo»), o legislador autárquico fundamentou a isenção com base na onerosidade do procedimento de cobrança naquelas situações em que não tem lugar a emissão de bilhete9

No documento Desafios da gestão atual (páginas 106-108)