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DA PRINCIPIOLOGIA ESPECÍFICA DA TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL

5 A COBRANÇA DO USO DE RECURSOS HÍDRICOS E A TRIBUTAÇÃO

5.4 DA PRINCIPIOLOGIA ESPECÍFICA DA TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL

Após estas breves considerações, podemos partir para a construção de uma principiologia específica da tributação ambiental calcada naquilo que se denominou de processo de esverdeamento das constituições, ou seja, no reconhecimento tanto da função tributária ambiental como da função ambiental tributária, objetivando de conciliar política ambiental com as limitações ao poder de tributar (CANOTILHO; LEITE: 2007).

Nesse sentido, configuram como princípios comuns, a saber: suficiência, capacidade de adaptação, simplicidade administrativa, capacidade de reação política, transparência, generalidade, proporcionalidade, justiça, igualdade, equidade, redistribuição, flexibilidade ativa e passiva, coerência do sistema, capacidade econômica, solidariedade, não confisco, cooperação, subsidiariedade, recuperação, responsabilização, poluidor pagador, permissividade, liberdade e dignidade da pessoa humana.

Por uma questão didática, iremos agrupar esses princípios em cinco grandes grupos (SOARES, 2001: 326-378): a) os eminentemente fiscais (suficiência, eficiência, capacidade de adaptação ou flexibilidade, simplicidade administrativa, capacidade de reação política e transparência); b) os de tributação politicossociais e éticos (generalidade, proporcionalidade, justiça, igualdade, equidade e redistribuição); c) os de tributação politicoeconômicos (flexibilidade ativa e passiva e coerência do sistema); d) os ambientais subjacentes à tributação (cooperação, subsidiariedade, recuperação, responsabilização, poluidor pagador e permissividade); e) os de tributação universal (liberdade e dignidade da pessoa humana, capacidade econômica, solidariedade e não confisco).

Sendo assim, iniciamos a nossa análise com o princípio da suficiência (SOARES, 2001: 327), cujo objetivo principal seria o de internalizar as externalidades ambientais para promover a mudança comportamental do contribuinte de forma eficiente, ou seja, visa-se evitar que o Estado tenha que intervir diretamente na recuperação do dano ambiental, por meio do uso dos recursos arrecadados pelo montante do sistema tributário, pois se acredita que é mais econômico evitar o dano preventivamente do que corrigi-lo a posteriori, isto porque haveria uma redução dos gastos públicos com a conservação do meio ambiente.

Já o princípio da capacidade de adaptação (SOARES, 2001: 327) exige que os ecotributos sejam elaborados de maneira a adaptá-lo a certas e determinadas alterações da realidade ambiental que os mesmos pretendem resolver de forma a proporcionar a sua aplicação de acordo com a evolução dos danos, que eles pretendem corrigir ou evitar, bem como levar a uma maximização do tempo de resposta para a sua respectiva solução.

Em relação ao princípio da simplicidade administrativa (SOARES, 2001: 328), podemos dizer que o mesmo recomenda que os tributos ambientais, assim como os demais tributos, tentem se pautar por uma construção legislativa simplificada e de fácil compreensão e administração, tanto pelos contribuintes como pelos agentes arrecadadores.

No caso do princípio da capacidade de reação política (SOARES, 2001: 328), pretende- se averiguar se existe ou não uma simetria ideológica entre a resposta esperada do sistema fiscal ambiental às convicções políticas da sociedade em um dado momento histórico.

No tocante ao princípio da transparência (SOARES, 2001: 328), o enfoque se volta para a destinação dos recursos arrecadados, como também da informação aos seus destinatários sobre os seus objetivos, distribuição da carga fiscal e funcionamento.

Quanto ao princípio da generalidade (SOARES, 2001: 329), dizem que um imposto ecológico deve gravar, de igual modo, todos os sujeitos que causem um mesmo dano ambiental com a sua conduta, só se admitindo que se abram exceções a essa regra quando valores superiores o justificam. Todavia, cabe frisar que existem pessoas que usufruem de forma lucrativa o meio ambiente, enquanto que outras apenas o usufruem de maneira; logo, caberia o uso do princípio da proporcionalidade, de modo que a carga fiscal possa ser distribuída de acordo com a capacidade poluente do sujeito passivo, para que possamos equalizar eficientemente essas duas situações distintas.

O princípio da justiça (TORRES, 2005: 26), por sua vez, traz a ideia de que a tributação ambiental deve pautar-se por uma distribuição equitativa (MACHADO, 2008: 60) da carga tributária de acordo com os valores predominantes naquela sociedade, no sentido de tratar desigualmente os diversos sujeitos passivos, na medida em que os mesmo se desigualam no

comportamento de poluição ou conservação do meio ambiente. Entretanto, quando os mesmos se encontrarem exatamente na mesma situação, deverão, de acordo com o princípio da equidade, ser tratados de igual modo, ao passo em que aqueles que por ventura estejam em situação diversa deverão ser tratados de maneira diferente; dessa forma, mesmo que haja comportamento poluente de dois agentes econômicos, ainda assim haverá de se apurar se, por acaso, um deles optou ou não por correr o risco da agressão ambiental.

De acordo com o princípio da redistribuição (SOARES, 2001: 330), teríamos que, por ocasião da aplicação do tributo ambiental, garantir que a afetação dos respectivos recursos arrecadados fosse realizado de modo a que houvesse o máximo benefício possível para aquela dada sociedade, no sentido de que estivessem incorporados os seus valores.

Conforme o princípio da flexibilidade ativa (SOARES, 2001: 330), a tributação ecológica deve estar alinhada com a política macroeconômica de sustentabilidade ambiental e resguardada por incentivos aos setores que tiverem de suportar os custos mais pesados com a mudança do modelo de crescimento adotado, bem como aos que, por sua fragilidade econômica, não possam arcar com os custos dessa mudança de paradigma desenvolvimentista. Porém, há de se observar a ideologia presente na respectiva constituição, de forma a verificar a dimensão, tanto do princípio da mínima intervenção estatal, como da livre concorrência.

Em se tratando do princípio da flexibilidade passiva (SOARES, 2001: 330), o foco está em assegurar uma transição sustentável e gradual entre o modelo desenvolvimentista anterior e o projetado de forma a garantir que as alterações econômicas no sistema de produção não venham a comprometer a sua própria sustentabilidade, ou seja, trata-se de calibrar e avaliar os efeitos no curto prazo para projetá-los no longo prazo.

Quando se fala no princípio da coerência do sistema (SOARES, 2001: 331), objetiva-se resolver as antinomias do sistema, no sentido de afastar os dispositivos legais fiscais incentivadores da degradação ambiental, para que eles não venham a comprometer a sustentabilidade do novo modelo de desenvolvimento a ser implantado.

Por outro lado, o princípio da cooperação (DERANI, 2008: 141) prima pela necessidade de participação de todos os agentes sociais, tanto em nível local como internacional, na estruturação, implementação e efetividade das políticas ambientais. Em resumo, sugere a atuação conjunta do Estado e sociedade na determinação das prioridades da política ambiental, a exemplo do que ocorre nos comitês gestores de bacias hidrográficas.

Pelo princípio da subsidariedade (SOARES, 2001: 373-374), recomenda-se que o zelo pela preservação dos recursos naturais não fique adstrita apenas aos Estados, mas que quando da distribuição das competências tributárias e ambientais, não se concentre toda ela na União;

haja vista que, muitas vezes, são os municípios que possuem maior capilaridade para resolver com maior celeridade e eficiência as consequências dos desastres ambientais.

O princípio da recuperação objetiva (SOARES, 2001: 374) que a tributação ambiental garanta os recursos necessários, não só para diminuir ou cessar os processos de degradação em curso, como, também, para recuperar áreas já atingidas.

Para o princípio da responsabilização (ANTUNES, 2008: 48), existe uma necessidade imperiosa de fazer com que os poluidores venham a suportar os custos decorrentes da sua atividade poluidora, com o fito de evitar injustiças sociais, isto é, privatizar seus lucros e socializar os prejuízos. Nesse caso, pode-se optar por uma postura preventiva, por intermédio da adoção do princípio do poluidor pagador (PALAO TABOADA, 2005), o único capaz de associar responsabilização com tributação, em uma diretriz política de prevenção; entretanto, se o objetivo for o de evitar, corrigir, recuperar o ambiente, deve-se estimular a adoção de comportamentos ambientalmente responsáveis, por meio do princípio do usuário pagador (MACHADO, 2008); muito embora, em casos extremos, possa-se também optar pelo princípio do produtor eliminador.

Enfim, quando falamos do princípio da permissividade (SOARES, 2001: 378) estamos nos referindo à ideia de que a preservação do meio ambiente estaria diretamente ligada à qualidade de vida e, em alguns casos, a própria manutenção ou não da vida; sendo assim, o meio ambiente não pode ser dissociado dos demais direitos fundamentais, posto que faz parte do rol dos direitos humanos (SIRVINKAS, 2008: 55), o que possibilita a sua associação direta ao princípio da dignidade da pessoa humana37, tanto no sentido da preservação do mínimo existencial da sanha arrecadadora (princípio do não confisco), como pela garantia de um meio ambiente saudável para as gerações atuais e futuras.

Tendo-se em vista o princípio da capacidade econômica (SEBASTIÃO, 2007: 239), a doutrina tem se posicionado no sentido de associá-la à capacidade de poluir, vez que, apesar da contribuição estar restrita às possibilidades econômicas do contribuinte, não podemos dissociá-la da sua maior ou menor capacidade de poluir, ou seja, da potencial e efetiva capacidade de deterioração do bem ambiental. Entretanto, não podemos nos esquecer que esse princípio tem sólidas inter-relações com os critérios de solidariedade e de justiça social.

A questão principiológica da solidariedade está pautada no fato de que a defesa da natureza e a sua utilização sustentável configuram um dever de todos (União, estados,

37 Trata-se de um princípio muito criticado em face do seu cunho antropocêntrico, que não se coaduna com o

paradigma biocêntrico indispensável para a interpretação do Direito Ambiental (GORDILHO, 2008), em todos os seus aspectos, sobretudo no tributário.

municípios, cidadãos), até porque se objetiva que os recursos naturais possam ser assegurados, tanto para as gerações atuais, como para as futuras. Daí, é que decorre a ideia subjacente da existência de um princípio da solidariedade coletiva no sentido de que todos devam contribuir para os gastos públicos decorrentes da prevenção, preservação e recuperação da natureza; na proporção de suas possibilidades e de sua parcela de degradação tolerável dos recursos naturais (FIORILLO, 2009: 53).

5.5 ESPÉCIES DE TRIBUTOS ECOLOGICAMENTE ORIENTADOS (IMPOSTOS E