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ESPÉCIES DE TRIBUTOS ECOLOGICAMENTE ORIENTADOS (IMPOSTOS E

5 A COBRANÇA DO USO DE RECURSOS HÍDRICOS E A TRIBUTAÇÃO

5.5 ESPÉCIES DE TRIBUTOS ECOLOGICAMENTE ORIENTADOS (IMPOSTOS E

Concluída a constituição dos princípios tributários ambientais, partiremos para análise das diversas espécies de tributos ecologicamente orientados (green taxes ou ecotaxes): a) impostos ambientais; b) taxas ambientais; c) contribuições de melhoria; d) contribuições de intervenção no domínio econômico; e) empréstimo compulsório; h) incentivos fiscais ambientais. Entretanto, é preciso esclarecer que existe grande vacilação na doutrina tributária ambiental, em relação ao estabelecimento de uma classificação uniforme dessa espécie de tributos; pois, enquanto Domingues de Oliveira (1999: 43-44) se baseia na doutrina americana para dividi-los em encargos sobre efluentes, administrativos, incidentes em produtos e adicionais ambientais; José Casalta Nabais (2004) optou por segmentá-los em tributos ambientais exclusivamente orientadores, ou com objetivo financeiroecológico e/ou puramente financeiros, que resultou numa divisão dicotômica: tributos ambientais orientadores e tributos ambientais fiscais ou financeiros.

Em virtude da divergência acima, optamos por analisar as espécies tributárias para identificar nas mesmas as possibilidades e os limites de uma tributação ambientalmente orientada; sendo assim, ao analisar os impostos sobre emissões ou efluentes sobre a água, ar, solo, etc., verificamos que os mesmos objetivam tributar as quantidades médias e estimadas de emissões com o fito de provocar uma mudança quantitativa e qualitativa nos mesmos, por intermédio da internalização de suas externalidades negativas.

Contudo, existe, na prática, uma dificuldade muito grande em medir e fiscalizar essas emissões, fato esse que provoca um aumento brutal dos seus custos administrativos; daí, a ideia de instituírem impostos ecológicos aplicados sobre os produtos considerados sujos, ou seja, cuja produção ou utilização causa impactos ambientais negativos, para que sejam embutidos em seu preço os custos da degradação ambiental do seu descarte futuro e, até,

reduzir o seu consumo ou provocar sua substituição por produtos verdes (CASALTA NABAIS, 2005: 422-428).

Outra possibilidade decorre da ideia de criar um imposto único, geral e finalista, de caráter ambiental, que incida sobre insumos energéticos, no sentido de induzir a mudança da matriz energética, por intermédio da sobretaxação das energias sujas, como as que levam à emissão de gás carbônico; mas que levaria às sérias distorções, em virtude do seu efeito indireto sobre os custos de todas as mercadorias, o que exigiria a construção de um sofisticado mecanismo de compensação para evitar a tributação em cascata.

Por essa razão, tem-se caminhado para uma proposta de reforma tributária com enfoque ambiental, com o objetivo de fazer uma revisão dentro de todos os impostos do subsistema tributário, com o fito de não só estabelecer sanções premiais capazes de induzir um comportamento socioambientalmente responsável, como também de retirar todos os dispositivos que estejam em dissonância com a proteção ambiental (TUPIASSU, 2006: 133 a 138).

Talvez por isso, a última saída, em virtude da possibilidade de aumento da carga tributária, seria de instituir um tributo ambiental com a intenção de onerar direta e imediatamente a capacidade econômica poluente, isto é, visa-se tributar diretamente elementos patrimoniais, voltados para o desenvolvimento de atividades consideradas como de risco ambiental, avaliadas de acordo com o grau de sua capacidade poluente. De igual modo, seria muito importante tributar os rendimentos e lucros auferidos a partir de atividades que ponham o ambiente em risco ou perigo, mas respeitando os critérios de proporcionalidade, anteriormente esposados.

Por sua vez, as taxas são questionadas quanto ao seu grau de eficiência e, em alguns casos, quanto à sua constitucionalidade, nos casos em que o posicionamento do Poder Judiciário tem se pautado exclusivamente na configuração clássica dos serviços públicos, mas que teve um importante avanço doutrinário, a partir da elaboração e aprovação da tese de doutorado do professor Johnson Barbosa Nogueira (2008: 149-175), em outubro de 2008.

Todavia, há autores, como Cláudia Alexandra Dias Soares (2001: 150-172), que defendem a eficácia e a justiça na implementação de políticas ambientais, por meio do uso de taxas (sobre poluição e produtos, devidas por licenças e utilização do domínio público, além daquelas consideradas lato sensu), em face do seu caráter sinalagmático e redistributivo dos custos dos serviços públicos de proteção e reparação do meio ambiente.

Configuram exemplos de taxas ambientais, aquelas devidas por licença que derivam da remoção de determinado obstáculo jurídico, associado a um impacto ambiental negativo, vide

as taxas de licenciamento ambiental. Já as taxas decorrentes da utilização do domínio público, refletem valores pagos pela utilização de bens ambientais que fazem parte do patrimônio público, vide taxa de ingresso à Ilha de Fernando de Noronha. Enfim, não podemos esquecer, também, da taxa de depósito e reembolso, que incide na compra de determinados produtos poluentes, mas que são devolvidas quando da sua entrega a um centro de recuperação ou reciclagem.

Em sentido lato, as taxas administrativas ambientais se referem às prestações de serviços públicos individualizados, como, por exemplo, os pagamentos derivados do uso de depósitos para tratamento ou eliminação de poluentes, bem como do seu respectivo serviço despoluente, ou como melhor explica o texto abaixo:

Na esfera constitucional, as taxas são definidas como contra-prestações pelo poder de polícia ou por serviços prestados pelo poder público. Sabe-se, contudo, serem elas já de longa data utilizadas pela administração pública em razão de contra- prestações de cunho ecológico, principalmente em termos de fiscalização e

licenciamento (em decorrência do poder de polícia) (grifo nosso) (TUPIASSU,

2006: 139).

O uso polêmico das taxas para a tributação ambiental reflete a grande dificuldade de distingui-las do preço público, como também dos problemas específicos de adaptar as suas limitações constitucionais para a resolução eficiente da degradação ambiental, a exemplo da taxa de lixo que tem sido objeto de contestação judicial. Ademais, em face da colidência entre o princípio do poluidor pagador com o da capacidade contributiva, os seus valores são muito baixos para evitar o aumento da carga tributária; de maneira que não seriam capazes de cobrir as despesas decorrentes da poluição dos mananciais hídricos, por exemplo.

Sendo assim, mister se faz que o Estado cubra a diferença entre as receitas arrecadadas com a taxação e os custos reais de recuperação e preservação dos recursos hídricos; logo, termina sendo mais vantajoso para o grande usuário continuar a poluir os rios, ao invés de adotar tecnologias limpas. Haveria, portanto uma flagrante inversão dos objetivos extrafiscais propostos, visto que as taxas terminam se reduzindo ao seu papel fiscal, ou seja, o de arrecadar recursos financeiros, que nem sempre acabam sendo destinados para as bacias hidrográficas nas quais ela foi arrecadada.

Talvez por isso, é que Casalta Nabais (2005), seja incisivo em propor a substituição das taxas, por tributos, haja vista que além das desvantagens antes citadas, ele elenca as seguintes: a) impossibilidade de configurar uma bilateralidade, pois a receita não cobre as despesas nem tampouco se consegue calcular a sua divisibilidade entre os contribuintes; b) dificuldade em estabelecer o nexo de causalidade indispensável para a identificação concreta do verdadeiro

poluidor e que leva ao desrespeito dos princípios da proporcionalidade e da responsabilidade, vez que a poluição é difusa; c) inexistência de uma real atitude preventiva por parte do contribuinte, posto que, ele paga a taxa após a consumação do dano ambiental, o que significa dizer, que ele paga para poluir; como isto configura um fato ilícito, fica clara a total ineficiência das taxas ambientais, inclusive para a prevenção ou redução da degradação ambiental; d) o estabelecimento de alíquotas fixas desincentiva a adoção de um comportamento socioambiental responsável, ao passo em que, a adoção de alíquotas variáveis, ficam expostas a questionamentos judiciais quanto a sua real divisibilidade (CASALTA NABAIS, 2005).