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(1898) de Ebenezer Howard

No documento Trilogia das utopias urbanas (páginas 126-130)

A obra de Ebenezer Howard,7 um estenógrafo que se considerava um

inventor, permanece como uma das mais influentes dentro do campo do Urbanismo. Editada pela primeira vez em 1898 sob o título Tomorrow – A Peaceful

Path to Social Reform, ficou mais conhecida sob o título de sua edição de 1902, Garden Cities of Tomorrow.8 Segundo Mumford (1959), essa obra fez mais do que

qualquer outra ao indicar caminhos ao movimento moderno sobre planejamento das cidades. Howard foi um revolucionário ao considerar o desaparecimento das

Tipias de Garden-cities

Geometria O diagrama da ci-

dade limita a área urbana cer- cada por anel agrícola. As ave- nidas são anéis concêntricos e as ruas, radiais. As edificações acompanham a circularidade da armadura verde e da estru- tura de circulação.

Natureza Está por toda a ci-

dade em jardins, parques, praças e como anel externo constituído por campos agrí- colas e florestas.

Elemento central É o parque

central circular.

Duplicata As cidades-jardim

se repetem constituindo uma rede de cidades. A forma cir- cular é recorrente em todos os esquemas e diagramas.

Conector As cidades-jardim

se conectam a outras através de vias férreas.

grandes cidades9 e criar a cidade-jardim. Howard cria um conjunto composto por

seis pequenas cidades planificadas, com 30 mil habitantes cada, agrupadas em torno de uma cidade central de 50 mil habitantes, conformando assim o que ele nomeava de Social City. As cidades de Howard invalidavam o sistema capitalista ao serem baseadas sobre sociedades cooperativas e na ajuda mútua, conformadas com centro de cultura. Ele acreditava no progresso através das palavras coope- ração, democracia e liberdade. A sua ideia de que uma nova cidade, a concepção de outro lugar, seria o ato inicial para a criação de uma nova sociedade o levou à criação da cidade-jardim.

Howard defendia a tese de que as grandes cidades de seu tempo já haviam cumprido o seu papel e nada mais podiam proporcionar às suas populações (de maneira positiva). Essa tese de total ruptura com o existente o fez defender sua utopia urbana como outra cidade, outro espaço, e não como cidades-satélites de uma metrópole existente. A cidade-jardim poderia, segundo o autor, pertencer a qualquer lugar.

Centenas de cidades-jardins deveriam abrigar a população das metrópoles, mantendo a escala pequena dos núcleos urbanos, traço essencial defendido por Howard, para assegurar a sobrevivência e ambiente favorável ao pequeno homem, ou seja, o pequeno agricultor, o pequeno comerciante e o artesão, por exemplo. A utopia urbana de Howard traz a conciliação entre campo e cidade, escapando da rivalidade reduzida a duas possibilidades: vida no campo ou vida na cidade. Esquematizou, em dois grupos, os valores essenciais presentes na cidade e no campo, considerou os dois ambientes como ímãs, mas nenhum dos dois sendo capaz de satisfazer completamente as necessidades do ser humano. Eis que aí Howard criou um terceiro ímã, uma forma de união das vantagens de cada polo. Howard fez de sua utopia um entre: nem cidade, nem campo, mas cidade-campo ou campo-cidade. Com as vantagens da vida ativa citadina e a beleza e delícias de vida no campo, a cidade-jardim foi criada. É uma nova forma de vida em outro espaço criado entre a cidade e o campo.

Os diagramas desenhados por Howard são perfeitamente simétricos e circulares. Para ele, essa “unidade de desenho e proposta” e a forma geométrica perfeita, eficiente e bela só seriam alcançadas através do posicionamento à frente do interesse comum. O desenho do diagrama principal mostra o zoneamento e a

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organização programada da cidade sob a forma de anéis concêntricos cortados por radiais. Em seu centro, Howard localizou um jardim (primeiro anel) contor- nado por teatros, bibliotecas, prefeitura, museus, salas de concerto e leitura (segundo anel). Estes prédios estariam reunidos como materialização dos mais importantes valores desta outra sociedade. Um terceiro anel foi concebido como Central Park, delimitado por uma arcada em vidro nomeada de Cristal Palace. Sob essa arcada, estariam as pequenas lojas nas quais os bens manufaturados produzidos pela própria comunidade seriam expostos e vendidos. Os dois anéis seguintes estariam destinados à ocupação residencial e jardins, sendo separados pela Grand Avenue. Cercando a área residencial, mas separado por uma avenida, seria o anel fabril adjacente a uma ferrovia circular, pontuada por estações nos encontros das radiais com este anel ferroviário e ligada a uma linha principal que se dirige a outras cidades-jardim. Envolvendo este anel urbano de mil acres,10

outro extenso anel de 5 mil acres11 estaria reservado para as fazendas e florestas,

impedindo o crescimento do espaço urbano e a invasão do campo pela cidade. De certa forma, as cidades-jardim funcionariam como partes de um conjunto maior, de um agrupamento de cidades, como células urbanas conectadas, como mostra o primeiro diagrama da publicação de 1898. Neste diagrama, são mostradas seis cidades-jardim seguindo o mesmo partido circular e dispostas equidistantes de uma cidade central.

O próprio Howard trabalhou entre 1889 a 1902 sobre seus esquemas e dia- gramas e transpôs a teoria ao transformá-los em um plano básico. Neste plano, Howard manteve a forma circular, tão cara às utopias urbanas, e limitou áreas, dimensionou lotes e ruas. Mas rapidamente a cidade-jardim distanciou-se de seus propósitos iniciais ao ser financiada por burocratas e pela elite. (FISHMAN, 1984, p. 62) Em 1902, a Garden City Association já possuía 20 mil libras em recursos e, no ano seguinte, adquiriu 3.800 acres12 em Hertfordshire (a nordeste de Londres),

começando em seguida a construção da primeira cidade-jardim, conhecida como Letchworth. Dependente de detentores do capital, Howard viu suas ideias iniciais sendo drasticamente transformadas e as terras de sua cidade sendo objeto de especulação, distanciando-se de uma de suas prerrogativas mais importantes: o direito à terra, mas tolerou todos os contratempos e distorções por acreditar que a construção de uma primeira cidade-jardim seria o primeiro e importante passo

para pôr em prática suas ideias. O desenvolvimento e adaptação do desenho original pelos arquitetos Barry Parker e Raymond Unwin, apesar de serem os dois partidários de Howard, fizeram de sua cidade circular e simétrica, com áreas exatas e setorização das funções, uma cidade de traçado orgânico estendido à própria arquitetura da cidade. Os arquitetos desenvolveram uma interpretação livre de todos os seus desenhos e diagramas com o objetivo de atualizar os prin- cípios do planejamento vitoriano e ainda associar suas próprias contribuições. Apesar de ter sido concluída com todas as mudanças e adaptações de desenho e mostrar-se próspera, Lechworth, após conflitos, não conseguiu concretizar os ideais de igualdade, liberdade e justiça social almejados por Howard, mas mos- trou-se como uma alternativa bem-sucedida na criação de novas cidades. No início do século XX, as ideias de Howard ganharam importância e foram disseminadas com a edição de sua obra em diversos países. Indiscutivelmente, como apontam muitos teóricos e historiadores do Urbanismo, a teoria de Ebenezer Howard foi uma das mais influentes desde o século XX.

Após Letchworth, a cidade-jardim de Welwin foi construída seguindo os planos elaborados por outro arquiteto, Louis de Soissons. Este seguiu as ideias principais do plano de Parker e Unwin com adaptações e modificações. Howard, então com 70 anos, acompanhou o desenvolvimento de Welwin e conseguiu ainda implantar uma loja de departamentos, próxima à ideia do Cristal Palace. Nos anos 1920, Howard viu sua cidade, sua criação revolucionária, esperança de transfor- mações sociais, ser subvertida a um movimento de planejamento urbano, em seu sentido mais estrito (FISHMAN, 1984, p. 80), sem qualquer comprometimento com os objetivos de transformação social. Mas as ideias de Howard associadas às consideravelmente bem-sucedidas experiências, fizeram das cidades-jardim fonte de inspiração a muitos urbanistas e base para o desenvolvimento de novos bairros e cidades em várias partes do mundo13 e base de importantes leis urba-

nísticas na Inglaterra.14 Tipias de Cité Industrielle

Vanguarda Arquitetura sim-

ples marcada por planos e volumes, pilotis e terraços, faz da cité industrielle uma das primeiras cidades que seguem composições características da arquitetura moderna.

Duplicata As casas se repe-

tem, todas brancas e construí- das com as mesmas formas. As quadras seguem as mesmas dimensões e repetem-se com- pondo um desenho regular.

Geometria O plano da cidade

segue trama regular e ortogo- nal com jogos simétricos. As construções são composições com volumes primários e organização linear.

Ilha Interpretamos livre-

mente a organização das

habitações na cidade indus- trial como ilhas. São agrupa- mentos de casas circundadas extenções de verde.

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No documento Trilogia das utopias urbanas (páginas 126-130)