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A Modern Utopia de H.G Wells (1905)

No documento Trilogia das utopias urbanas (páginas 107-109)

H.G. Wells mostra nessa obra não só a criação de uma cidade utópica, como também importantes reflexões sobre as utopias. O autor cria um planeta-irmão ao planeta Terra, como um mundo paralelo onde tudo é como uma repetição (diferente) do nosso planeta, inclusive os habitantes, que possuem seu ser cor- relato neste outro lugar. A visão de Wells nessa obra é positiva, diferentemente de The Time Machine, por exemplo. Não menos crítica, A Modern Utopia mostra um caminho diferente tomado por um planeta inteiro.

Pesquisa e desenvolvimento técnico produzem máquinas avançadas, resultando no desaparecimento das classes operárias. A aviação desenvolvida encontra-se plenamente presente nos céus das cidades, que na verdade são descritas como uma planetária conurbação, fazendo de todo o planeta uma só cidade. Utopia de Wells é uma cidade planetária. Wells ainda descreve uma total liberdade de movimento dos habitantes, promovendo um “verdadeiro nomadismo mundial”, possível também pela unificação do mundo descrita pelo autor. O Estado Mundial se consolidou após uma revolução promovida pelo Partido Revolucionário, que, tomando o poder, estabelece, evitando um sistema de controle, uma luta contra as fraquezas humanas. A Modern Utopia mostra a transformação do ser humano em outro homem, no homem utópico.

As residências seguem proporção agradáveis com móveis bem desenhados e funcionais. Os compartimentos são autolimpantes com descrições que se asse- melham às atuais casas automatizadas e computadorizadas. Wells descreve as habitações deste planeta utópico como clubes e hotéis, que se repetem em qual- quer parte do planeta, um retrato muito próximo dos atuais empreendimentos imobiliários implantados nas nossas cidades.

A autonomia do grupamento familiar foi reduzida muito abaixo das condições terrestres por hotéis e clubes e por todos os tipos de expedientes cooperativos. As pessoas que não moram em hotéis costumam morar em clubes. [...] Um boudoir agradável, uma biblioteca e estudo privados, uma horta privada, estão entre os mais comuns de tais luxos. Dispositivos para proteger jardins, galerias, varandas e privacidades semelhantes ao ar livre para o mais sumptuoso destes apartamentos, dão interesse e variedade à arquitetura utópica.35 (WELLS, 1998, p. 129, tradução nossa)

Tipias em

A Modern Utopia

Máquina Avanços técnicos

promoveram o fim do ope- rariado, fazendo com que a população passasse a ter uma vida melhor tendo máquinas fazendo tarefas duras e su- bumanas.

Massa diversa Diversas em

todos os aspectos, as dife- renças entre indivíduos são vistas como positivas e cons- tituintes de uma totalidade (segmentária).

Duplicata Hotéis e clubes

se repetem por todo o glo- bo, construídos seguindo os mesmos planos e sendo destinados à habitação.

Geometria Há uma regulari-

dade de traçado e predomi- nância da ortogonalidade no desenho urbano.

Trilogia das utopias urbanas 39b

Os estilos arquitetônicos dessa cidade planetária são os mais diversos. Templos gregos, edifícios de estilo romano, palácios italianos, entre outros, são todos construídos com pedras artificiais, mas uma morfologia é predominante: a quadrangular. Em algumas localidades da cidade, este tipo de construção chega a cortar o território do início ao fim, fazendo com que suas colunatas se prolonguem até os portões de saída e de entrada. Nestas colunatas, distribue-se todo tipo de pequeno comércio. Wells (1998, p. 5) defende e retrata uma utopia cinética, indo contra o que ele chama de cidade estática. Ele descreve o processo de demolição de prédios escolhidos por voto popular. Num planeta totalmente ocupado, as construções são postas abaixo para que novas construções mais modernas sejam erigidas em seu lugar, fazendo com que a cidade esteja sempre se modificando. As chamadas “entradas e saídas” das localidades descritas por Wells alcançam as estradas principais compostas por pistas de rodagem, trilhos de bonde e ciclo- vias. Essas estradas convergem para os centos urbanos, onde estão localizados os edifícios públicos, teatros, grandes lojas e estações centrais dos trens rápidos, que justamente fazem a ligação entre centros. Os trens rápidos são descritos como hotéis sobre trilhos, devido à comodidade de suas instalações. A cidade planetária utópica de A Modern Utopia possui vários centros urbanos dispersos pelo globo, não mais uma centralidade, como em várias utopias anteriores. Wells se refere a este tipo de ocupação como “cidades difusas”. (WELLS, 1998, p. 130)

Todo o globo é conectado. Não há parte alguma de toda a extensão plane- tária que não receba eletricidade, água e telefonia e ainda uma espécie de tubo pneumático que liga todas as unidades residenciais aos correios, por onde livros, pequenas mercadorias e correspondências são enviadas e recebidas.

Wells (1998, p. 143-144) acreditava que uma realização próxima à Utopia, referin- do-se ao seu planeta, só seria possível quando “O engenheiro for suficientemente educado para ser um artista e a inteligência artística tiver sido estimulada para complementar a de um engenheiro”.36 Para Wells, arte e ciência, arte e tecnologia

devem agir de forma complementar por um mundo melhor. As antigas utopias, segundo o próprio Wells, pecavam por enxergar os homens como iguais, não os viam como diferentes e, para refletir sobre isso, ele se debruçou sobre A Modern

Utopia, onde os homens são vistos como diferentes, onde as diferenças em todas

as escalas e sob todos os aspectos são assumidas como tal. Cada um, cada indi- víduo é uma pequena e única adição à totalidade de Utopia. (WELLS, 1998, p. 200)

Diverso Padrões de moradia

se repetem, mas os estilos arquitetônicos adotados nas construções são variados, fazendo com que as cidades tenham uma estética diver- sificada.

Veículo Trens, bondes e bi-

cicletas movimentam as pis- tas, ciclovias e trilhos que interligam todos os centros de Utopia.

Voadores A aviação em Uto-

pia é altamente desenvolvida, fazendo com que o tráfego aéreo seja muito maior que o terrestre.

Conector As casas são todas

conectadas, assim como as cidades. Os elementos conec- tores em Utopia são os tubos pneumáticos e os trilhos e pistas que cortam e ligam todos os centros urbanos do globo.

Para um mundo moderno, uma nova visão, uma nova criação de utopia, de outro mundo utópico imperfeito e incompleto, onde tudo muda e estará sempre mudando, se adequando e mantendo as diferenças.

No documento Trilogia das utopias urbanas (páginas 107-109)