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Série de Lone Sloane (1966-1971) de Philipe Druillet

No documento Trilogia das utopias urbanas (páginas 195-197)

Com histórias complexas e ilustrações impressionantes, Druillet compôs esta série inovando as HQs. É apontado pelos críticos (FINET, 2000; VERSINS, 1984) como o primeiro de sua geração a adotar experimentações gráficas inéditas e a mostrar assim sua singularidade. O tratamento gráfico e a composição dos álbuns são originais e sua “explosão” dos quadros fazendo da página e até da página dupla uma extensa, detalhada e minuciosa composição que parece se espalhar por todo o volume tornou-se sua marca registrada. De acordo com Finet (2000, p. 141), esta explosão formal das obras de Druillet se conjuga a uma força evocativa surpreendente e as imagens criadas pelo artista são as primeiras, sem dúvida, a reunir precisamente uma pintura da estrangeirice e da alteridade. Druillet, nessa série de Lone Sloane, mostra um universo cheio de violência, domi- nado pela corrupção, expõe uma forte crítica aos governantes, caracterizando-os em seus episódios sempre como tiranos despóticos. Produzida em um período de efervescência cultural, a série de Druillet estabelece muitos pontos de conexão com os acontecimentos contemporâneos à sua produção.12

Delirius é um dos planetas visitados por Lone Sloane, um aventureiro intergaláctico, personagem principal da série. Delirius é o centro de diverti- mento de todo o universo, regido por um implacável imperador que instaura um reino do dinheiro, constrói um “lugar de prazer à escala cósmica”. (DRUILLET, 1971, p. 3) Mostrado como um continente completamente urbanizado, esta Duplicata Os elementos

redondos e esféricos se du- plicam na cidade: como os alvéolos, células de isola- mento e compartimentos de decolagem.

Geometria A composição

geométrica dos espaços é explorada ao máximo no Palais

D’Escher e nos acessos ao

continente. A composição das páginas dos álbuns explora possibilidades geométricas com rupturas da regularidade.

Domo Elemento recorrente

e integrante da arquitetura da cidade.

Vertical Minaretes, torres e

colunas pontuam a composi- ção urbana.

Voadores Diferentes naves

seguem as mais variadas formas, tamanhos e estilos.

Trilogia das utopias urbanas 127b

cidade-continente é única em todo planeta. A ocupação é densa, as construções se amontoam em um conjunto diversificado e único, tanto pela composição variada de estilos e formas das edificações, como pelos usos. Cassinos, casas de shows, arenas, cavernas de adivinhação, circos, casas de diversão, brinquedos, tudo se mistura e atrai uma multidão oriunda dos mais diferentes pontos do universo.

São torres, colunas, pórticos, cúpulas sobrepostas, tendas, minaretes, rodas gigantes, edificações esculpidas sob as mais diferentes formas, prédios colossais, escadarias, monumentos ao prazer, pontes, vitrais, arenas, painéis luminosos, letreiros, grandes telas de comunicação, cartazes, o ambiente urbano é caótico. As entradas da cidade são das poucas áreas com algum tipo de ordenamento racional. Grandes plataformas de pouso servidas por torres de comunicação para o embarque e desembarque e separadas por grandes estruturas regulares para a circulação dos visitantes, píeres retilíneos que avançam sobre a água, um imenso prédio recepção formado por domos e volumes orgânicos marcados por elementos lineares, grandes esplanadas de acolhimento de onde partem esteiras e escadas rolantes para o controle de identificação. O prédio do astroporto, muito próximo à estética dos nossos shoppings centers, possui espaços simétricos e ladeados por propagandas e letreiros. Nesse astroporto estão localizadas as células de isola- mento destinadas aos visitantes detidos. Estas células repetem-se e alinham-se lado a lado conformando parte do volume desta edificação como um jogo de armar. São incontáveis as naves e voadores que chegam ao continente e sobre- voam a cidade. Naves-ônibus, naves particulares, grandes espaçonaves, todas seguindo formas muito distintas aproximando-se por vezes das linhas aerodinâ- micas tradicionais dos foguetes espaciais, por vezes aproximando-se de formas animais. O interior do prédio de controle é repleto de máquinas, painéis, telas de vídeo, portas eletrônicas, comunicadores, armas laser... Onde guardas possuem verdadeiras armaduras mecânicas enquanto outros indivíduos são dotados de partes mecânicas e instrumentos acoplados a seus corpos.

Em algumas partes e edificações da cidade, a geometria torna-se evidente, como o Palais D’Escher, uma menção direta ao artista M.C. Escher. Nesse palácio, os espaços seguem os esquemas criados pelo artista como a famosa escada de Ascending Descending mesclada a House of Stairs, combinações isométricas, estruturas matemáticas, poliedros, perspectivas espaciais que exploram a ilusão

Natureza Único território a

apresentar elementos natu- rais e vegetação é a Ilha do Governador, onde o prédio central é rodeado por densa vegetação e a paisagem é marcada por elementos natu- rais, como escarpas e grupos de montanhas.

Imagem Letreiros, painéis

publicitários, telas de co- municação espalham-se na cidade, enquanto telas de controle dominam os espa- ços internos de específicos prédios da cidade.

Tipias em

The Long Tomorrow

Domo Na composição vo-

lumétrica da cidade, muitos domos e formas geodésicas são avistadas.

Máquina Robôs de todos os

tipos e tamanhos estão pre- sentes no cotidiano da cidade.

de ótica. Neste mesmo prédio, alvéolos se multiplicam e se organizam em uma estrutura em semicircular abrigando áreas de privacidade. Outro edifício de destaque em Delirius é o Templo de Kharman, colossal edificação simétrica com quatro grandes torres escalonadas e marcadas pelas altivas colunas e detalhes que lembram minaretes indianos. A Ilha do Governador é a única parte do conti- nente onde há vegetação. Escarpas, pequenas cadeias de montanhas compõem esta paisagem natural. O palácio situa-se no centro da ilha, formado por volumes cilíndricos e formas geodésicas.

Os mundos de Druillet certamente nos colocam em contato com outra coisa: outro mundo, outra cidade, outra sociedade, outra organização... Suas composições nos despertam ao mesmo tempo reconhecimento e estranheza, incentivam ao mergulho em mundos desconhecidos, em ambiências sofisticadas e densamente compostas. Os seus trabalhos lembram muito os desenhos de Piranesi, principalmente da série Carceri. A grandiosidade e monumentalidade da arquitetura e dos elementos que compõem os ambientes são marcantes.

No documento Trilogia das utopias urbanas (páginas 195-197)